Abri os olhos afobada, senti minha perna fisgar e meu braço chamava minha atenção por estar dormente. A noite entrava, na casa repleta de plantas, junto com o vento frio e úmido que me fez estremecer. Meu coração estava tão acelerado que podia senti-lo quase pular por minha boca, estava apavorada e incompreendida.

Pisquei os olhos diversas vezes me dando conta de que estava no apartamento de Hera Venenosa novamente, as plantas não me deixavam nenhuma dúvida disso. Mas dessa vez estava livre, minhas mãos e pernas não estavam enroladas em plantas e eu podia me mover para onde quisesse. Meu braço estava em uma tipoia azul clássica e não conseguia senti-lo, tentava mexer os dedos das mãos, mas tudo o que conseguia era tremer com tamanha força que estava fazendo, soltei o ar pesado e sentei-me, com uma dificuldade tremenda, no sofá mergulhado em plantas.

Minhas pernas estavam esticadas pelo sofá, que era maior que os sofás normais, em cima de minha perna machucada havia um pano úmido e manchado de verde, tentei tirá-lo para ver como estava a ferida, mas o pano queimou meus dedos como fogo, resmunguei batendo a mão ardente, no sofá.

Escutei um barulho oco vindo de dentro de um dos cômodos, fitei atentamente o local desejando que fosse algum conhecido e não o psicopata do Coringa, ele era um maníaco e para aparecer ali, correndo perigo de ser sufocado pelas plantas de Hera, não mediria esforços, talvez até se divertisse mais, ou não. Ninguém era capaz de entender sua mente doentia. Andando majestosamente vi a silhueta de uma mulher, seus longos cabelos iam até a cintura e mesmo no escuro sabia que era Hera.

Assim que ela sentou-se na mesa de centro de sua sala, esta repleta de plantas e flores, sorriu com os olhos fixos em mim, não sorri, não movi um músculo para tentar falar, sorrir ou levantar, apenas fiquei parada, sentada no sofá com as pernas esticadas desviando o olhar da vilã.

– Minhas plantas avisaram que você está consciente novamente.

Virei meu rosto para ela, Hera cruzou as pernas e apoiou os braços nas mesmas, ainda sorrindo. O que conhecia sobre ela era escasso. Já tinha ouvido falar dela pelos noticiários de Gotham, ela causava o caos com suas plantas, mas a maioria das vezes por alguma causa ambiental o que, de certo modo, fazia sentido. Ela queria o bem o ambiente e não media esforços para salvá-lo de quem quer que fosse a qualquer preço. Ela era uma assassina e agora eu estava sob os cuidados dela a preço de que? De ajudar o asiático com algo que nem faço ideia do que seja, e ela parece tranquila até demais por causa disso. Talvez para ela não fizesse mais diferença cuidar das pessoas, só me perguntava se ela fazia isso regularmente, se cuidava de outras pessoas desconhecidas e porquê.

– Eu sou Hera, você deve saber – ela passou a língua nos lábios ainda sorrindo – e você?

– Natalie – respondi olhando para minha perna.

– Essa era a pior – ela disse se referindo a minha perna – o corte estava realmente profundo. Você se meteu em uma grande encrenca, não foi garota?!

– Sim.

– Você não fala muito, não é verdade? – ela soltou uma breve risada ficando de pé – mas veja só – uma breve pausa, ela apoiou as mãos no sofá em volta do meu corpo – Você está na minha casa, te salvei e queria apenas um pouco de gratidão.

– Obrigada – sussurrei tentando manter meu rosto o mais afastado dela possível.

– Não quero obrigados, querida – ela sussurrou com a boca próxima a minha – quero respostas, porque basta um toque do meu lábio para que você volte pro mundinho em que estava e, vendo de fora, não pareceu muito agradável, não foi?

Não respondi nada. Flashes de Jess caída no chão de olhos abertos e imóveis vinham em minha mente.

– Ótimo – ela sorriu se afastando, novamente sentou-se na mesa ao meu lado e, enquanto brincava com algumas folhas verdes, perguntou – Onde arrumou esses machucados?

– Eu os fiz – sussurrei como resposta.

– Por quê?

– Fui obrigada.

– Por quem? – seus lábios formavam uma linha reta, Hera estava séria esperando minha resposta. Mas não a respondi de imediato, não podia falar a verdade ou ela me mataria naquele exato momento.

– Um criminoso de Gotham.

– Típico – ela deu uma fraca risada jogando a cabeça para trás – Quem foi? Deixe-me adivinhar: Cobblepot, ele é um cara vingativo – ela fez uma breve pausa e ergueu as mãos balançando-as de um lado para o outro fora de sincronia – não, ele te mataria de uma vez. Já sei – novamente uma breve pausa seguida de um dedo levantado ao ar – Harvey Dent! Claro, ele surtou depois que se tornou o Duas Caras... Mas por que ele te deixaria viva, depois da tortura?

– Meu pai me obrigou a fazer isso – a interrompi antes que ela chegasse a uma conclusão.

– Típico papai maluco, certo? - ela umedeceu os lábios sorridente, não esperava por uma resposta – de fato, sei como é.

"Não, você não sabe" pensei.

– Vamos ao que interessa então – ela ficou de pé e caminhou lentamente até a janela aberta em silêncio. Acariciou uma de suas plantas e a mesma mexeu como se fosse um cachorro precisando de mais carinho – Nicco trouxe-a até mim para que eu ajudasse nas suas feridas, mas ele também perguntou por Harley, sim Harley Quinn, onde ela estava e onde poderia encontrá-la. Isso é engraçado porque ele nunca havia perguntado por ela antes, mesmo ela sendo jogadora do seu estúpido time – ela virou-se em minha direção encostando as costas no parapeito da janela enquanto sorria – o que você quer com ela?

– O que? – fiz de conta que não estava compreendendo enquanto pensava em alguma resposta para não morrer ali.

– Não se faça de boba, porque só vai doer mais – ela estendeu um braço para frente comandando uma de suas plantas.

Seguindo sua ordem a planta veio rápida em minha direção enquanto eu pensava em desviar, mas obviamente em vão. Senti algo em volta do meu pescoço e levantei meus braços tentando me soltar daquela planta que apertava meu pescoço deixando-me sem ar. Me debati no sofá e um pouco tarde demais notei que estava sendo levantada pelo pescoço pela planta que estava sob o comando de Hera. Senti as pontas dos meus dedos dos pés encostarem nas plantas do sofá e então olhei para baixo, enquanto me contorcia na planta, notando que estava presa no alto, cada vez mais alto e mais sufocante.

– Hera... Eu... – tentava falar algo enquanto sentia a planta cada vez mais apertada em volta de meu pescoço.

– Falar só vai piorar – ela ergueu as mãos em minha direção enquanto sorria adorando o que estava vendo.

Tentava me mexer e tudo ficava apenas pior, estava difícil puxar algum ar dos meus pulmões e tudo o que eu conseguia fazer era me apavorar. Tudo acabaria ali? Com um mal entendido? Uma pedra no meio do caminho? Não podia desistir, não por Jess. Juntei todo meu ar restante e gritei sentindo minha garganta arder:

– Vim dar um aviso à... Harley.

– Conte-me sobre este aviso – ela manteve as mãos erguidas enquanto ordenava, silenciosamente, para que outras plantas se enrolassem em volta de meus pulsos.

– Eu não... – puxava o ar com mais dificuldade ficando cada segundo mais apavorada. Senti mais plantas em volta das minhas pernas.

– Ah, perdão – ela revirou os olhos mexendo sua mão esquerda.

A planta que estava em volta do meu pescoço soltou-se em um passe de mágica. Recuperando o ar à meus pulmões tossi tão secamente que senti minha garganta pegar fogo e minha cabeça doer como se eu tivesse sofrido algum grave acidente. Não consegui controlar a tosse enquanto puxava o ar para meus pulmões cada vez mais apavorada e esperançosa por poder respirar novamente.

– Não temos o dia todo, doçura – ela falava enquanto eu mantinha a cabeça abaixada e o queixo encostado perto de meus seios.

– Eu... – comecei a falar ofegante tentando juntar palavras que não faziam sentido algum em minha cabeça – Coringa... Ele... Quer matar... Ela.

– Ele te mandou pra cá?

– Não – sussurrei levantando meu pescoço.

– Foi ele quem te machucou, não foi?

– Não - neguei lentamente - eu mesma... Fiz.

– Sob o comando de seu pai, é você já disse. Quem é seu pai?

É como se ela já soubesse a resposta e apenas estivesse me testando. Naquele momento um pouco de clareza passou por minha mente confusa, Hera Venenosa estava me testando o tempo todo para saber o que eu realmente estava fazendo por ali. Ela era de Gotham, uma assassina que já cumpriu pena no Asilo Arkham e amava sua cidade tanto quanto amava suas plantas, não interessava o quanto ela negasse. Ela sabia quem eu era, quem era meu pai e parte do porquê de estar em Coney Island, ela apenas queria confirmar sua ideia: A filha do Coringa, foragida de Gotham por matar o ex-namorado, fora mandada pelo pai para a cidade da ex-namorada e parceira de crime, Harley Quinn, para matá-la.

Mas se dependesse de mim, ela não saberia da última parte, não posso arriscar a vida de Jess contando para Hera todo o plano do Coringa, ele era esperto, provavelmente tinha olhos e ouvidos em todos os cantos ao meu redor e não aceitaria ser traído.

– Você já sabe – sussurrei.

– O que? – ela sorria abertamente com os braços cruzados – eu não sei de nada, querida.

– Isso tudo foi um teste – a fitei – posso apostar que o asiático é seu cachorrinho.

– Nicco? – ela balançou a cabeça negativamente enquanto fechava os olhos – Não. Ele é só um asiático imbecil que se importa com as pessoas. Ele simplesmente precisa de você.

– Por que eu?

– Converse com ele – ela abriu os olhos me fitando diretamente - não me interessa. Se Coringa não mandou você, por que está procurando Harley... E mais do que isso: como conseguiu enganá-lo?

– Eu fugi.

– Simples assim? – ela cruzou os braços me fitando no ar.

– Não foi nem um pouco simples. Ele achou que eu estava no porão me recuperando das merdas que ele fez comigo e as que ele me fez fazer – tossi novamente, ainda estava ofegante, mas a respiração começava a normalizar.

– E você simplesmente fugiu sem ele nem ver?

– Ele não estava lá – comecei a inventar uma história o mais rápido possível – ele tinha saído com Toff, um de seus capangas palhaços, para encontrarem com alguém... Ouvi ele dizer que era o assassino de Harley. Apenas um capanga ficou tomando conta de mim, quando ele veio trazer comida eu consegui fugir, mas ele provavelmente está a minha procura por todo o mundo.

– E você achou – ela falava lentamente andando até mim – que vir até Coney Island procurar Harley era a melhor escolha? Com o Coringa e sua corja de palhaços atrás de você?

– Não consegui ter ideia melhor – novamente tossi sentindo minha garganta arder, cada engolida de saliva minha garganta ardia e doía como se eu estivesse resfriada.

– E o que você ganha com isso? Avisando Harley que o Coringa, novamente, está atrás dela? – Hera puxou uma cadeira do canto da sala escura e sentou-se na minha frente, abaixo de mim.

– Não ganho nada, Hera. Não quero ganhar nada. A única razão pela qual vim procurar Harley é em uma troca de favores – a fitei sentada na cadeira brincando com uma planta enquanto me fitava nos olhos, me analisando – eu não posso procurar o Morcego ou qualquer um desses Heróis espalhados pelo mundo. Sou uma criminosa, uma foragida, não quero abrir mão da minha liberdade enquanto não salvar uma amiga. Jessica é o nome dela, mas chamo-a de Jess. Nos conhecemos no Orfanato de Gotham, para onde fui mandada bem pequena logo após a morte da minha mãe, viramos amigas, melhores amigas, tanto que quando completamos dezoito anos pudemos sair do orfanato e viver nossas vidas livres, como sempre quisemos. Dividíamos um apartamento em Gotham, pequeno e barato, nada luxuoso, mas éramos felizes lá. O Coringa pegou ela e agora a tortura sem eu nem saber onde, eu sequer sei que ela está viva, mas tenho que acreditar que está, ou tudo isso que passei foi em vão.

– Por que deveria crer nisso? – ela perguntou imponente.

– Porque Harley, além de tudo, é sua melhor amiga e você iria até o inferno para salvá-la – a fitava completamente séria – e é exatamente isso que estou fazendo pela minha melhor amiga.

Hera ficou um tempo em silêncio me fitando, logo em seguida abaixou o olhar até o mini cactos que segurava em mãos dentro de um pequeno vaso cheio de terra. Ficar na expectativa não era um dos meus momentos favoritos, seja qual for a ocasião, e especialmente naquela estava me deixando muito nervosa. Eu poderia morrer ali agora como poderia tê-la enganado, em partes, apelando para o sentimental. Nem tudo naquela história era mentira, Jess estava realmente em perigo iminente nas mãos do Coringa e sei que ele jamais hesitaria em matá-la.

– Bem, isso é verdade. Quando foi...

– Hera, ouvi mais de uma voz aqui – a porta se abriu – a garota... Hera!

Virei meu rosto em direção à porta no instante em que escutei a voz diferente. O asiático chamado Nicco estava parado na porta, perplexo, me fitando no ar, eu apenas o fitava com meu olhar apavorando ansiando para que ele fosse meu salvador e me retirasse das garras de Hera.

– Oi, Nicco – ela sorriu desanimada.

– O que você tá fazendo? – ele bateu a porta apontando em minha direção.

– Perguntas – ela continuava a acariciar seu cacto.

– Você precisa fazer isso com ela?

– Sim, eu preciso – ela sequer o fitava.

– Solte-a agora – ele ordenou com a voz mais imponente que havia feito até então.

– Não.

– Não? – ele foi andando até ela – você tá louca?

– Ela não vai sair daqui viva – ela dizia calmamente.

Ele me fitou assustado, apenas arregalei meus olhos tentando pedir alguma ajuda mentalmente, como se ele fosse capaz de comunicar-se comigo por telepatia. Mas não era preciso, ele sabia que eu estava apavorada e que, obviamente, não queria morrer.

– Hera – ele foi andando calmamente até ela – você não tá falando sério né?

Ela apenas soltou uma risada breve e fraca voltando a olhar para o cacto em seu colo.

– O que ela fez para você? Você não é assim.

– Assim como? – ela ergueu o rosto até ele com um sorriso largo em seus lábios – uma assassina? Sim, eu sou.

– Hera, você já passou disso – ele dizia tão cautelosamente como se estivesse tentando não pisar em espinhos, ou seja, não falar merda.

– Sim, mas isso é tudo culpa sua Nicco – ela ficou de pé o que fez com que Nicco parasse de andar lentamente até ela – Você trouxe para dentro do nosso prédio – ela então deu um grito na última parte de sua frase – a filha do Coringa!

– Ela precisava de ajuda.

– Não Nicco, você precisava dela! Você precisa dessa garota bem para que ela possa jogar no seu estúpido time de patinadoras!

Nicco soltou um breve grito no instante em que fora posto de cabeça para baixo. Uma das plantas, da mesma espécie das que me prendiam pelos pés e pulsos, puxou Nicco pelo pé fazendo com que ele ficasse de cabeça para baixo perto da porta. Sua blusa azul caiu em seu rosto e enquanto ele mexia os braços tentando, sem sucesso, retirar a blusa gasta de onde ela estava caída, pois provavelmente estava atrapalhando sua visão. Mesmo que a visão não fosse o maior de seus problemas naquele momento, morrer sufocado pela blusa poderia ser uma das hipóteses que não poderia deixar passar.

– Você sabe o que Harley e eu passamos com aquele psicopata! – Hera tornou a falar, desta vez furiosa enquanto andava, descalça, em direção a Nicco – Ele infernizou a vida dela, ele transformou-a no que ela é! Ele acabou com a vida dela e a usou de maneira inimagináveis! E ainda sim, você, por puro egoísmo, coloca dentro do prédio em que nós três, e mais algumas pessoas, vivemos a filha do Coringa?! Que porra tem de errado com você?!

– Ela...

– Cala a boca! – ela gritou erguendo sua mão até seu rosto – que pena Nicco, você é tão lindo.

Ela retirou a blusa do rosto de Nicco quem se assustou ao vê-la com o rosto tão perto, ela passou a língua entre seus lábios pronta para beijar Nicco quem se debatia sem retirar os olhos dela.

– Shhhh – ela sorria – fica calmo Nicco, prometo que não vai doer.

Tão apavorada quanto ele recolhi todas as minhas forças e puxei o máximo de ar possível e gritei, como uma criança mimada sem ter o que lhe é de desejo:

– Solta ele, Hera!

Por um mísero segundo tudo o que conseguia ouvir era a respiração ofegante e abafada de Nicco, ele virou-se na minha direção e pude ver a confusão tomar conta de seu rosto. Também me perguntava porque estava fazendo aquilo, mas ele havia me ajudado, por isso, nada mais justo do que ajudá-lo, ou pelo menos tentar, afinal, não poderia fazer muita coisa.

– Querida, você é a próxima.

– Seja justa, Hera. Seu problema é comigo. Ele só quis ajudar, ele não tem culpa de nada.

– Você sabia – ela novamente virou seu rosto para Nicco – que eu sempre quis, mas nunca beijei essa boca? Porque eu tive medo de verdade, de te colocar em transe.

– Eu não dou a mínima - resmunguei atraindo a atenção dela novamente - Eu sou seu problema, me mata.

Ela sorriu lentamente me fitando.

– Vamos, Hera! – gritei tentando atrasá-la – me mate!

Ela soltou o rosto de Nicco. Sabia que tudo o que eu havia conseguido era adiar a morte de Nicco, mas talvez ele pudesse fazer algo para se soltar, eu não sabia dizer. Há um tempo eu tentava soltar minhas mãos e pernas, mas foi completamente em vão já que me mantinha presa e agora, certamente, seria vítima da fúria de Hera. Nicco tentou argumentar algo, mas ela sequer o escutou e confesso que também não prestei muita atenção, meus olhos estavam fixados nos lábios de Hera, que formavam uma fina linha curva enquanto ela sorria. O mesmo sorriso de quando havia me ameaçado alguns minutos atrás.

Ela apenas ergueu suas mãos em minha direção, antes que eu pudesse me dar conta a planta estava novamente em volta do meu pescoço, desta vez apertava bem mais forte do que antes, pois eu podia sentir a dor em meu pescoço. Abria a boca em vão enquanto tentava puxar algum ar para meus pulmões, remexia as mãos e as pernas enquanto escutava Nicco gritar Hera pelo nome. Só conseguia pensar em algum modo milagroso de me soltar, mas não tinha nenhuma ideia.

Foi quando senti minha vista ficar embaçada e então me apavorei, a planta apertava mais ainda meu pescoço de modo que minha cabeça doesse de uma maneira inimaginável. À esta altura eu mal me recordava dos machucados no braço e na perna, minha cabeça e meu pescoço doíam mil vezes mais.

Hera disse algo em tom audível, mas não a escutei. Tudo começou a chiar e ficar cada segundo mais embaçado e escuro. Escutei uma voz mais alta vindo do meu lado direito, mas sequer tinha força para mover meu rosto, antes que pudesse me dar conta Hera não estava mais na minha frente.

Um barulho oco e quase inaudível atingiu minha audição do lado direito. Senti um baque em meus joelhos e obtive uma incrível sensação de poder respirar novamente, a tosse subiu queimando pela minha garganta e comecei a tossir incontrolavelmente. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes foram poucas até que perdi minha conta mental quando notei folhas de plantas enterrarem minhas mãos pálidas.

O barulho em minha cabeça estava menos insuportável, o chiado parecia cessar enquanto eu piscava meus olhos diversas vezes olhando na direção das plantas que pareciam me fitar de volta, o que era assustador.

Senti algo quente em meus ombros, virei-me assustada tentando afastar-me do que pensei ser alguma planta úmida e quente. Consegui ver, entre borrões, os olhos puxados de Nicco, ele me fitava assustado e ofegante enquanto perguntava quase inaudível, em meio a chiados, se eu estava bem. Apenas fechei os olhos com força sentindo minha garganta arder enquanto voltava a respirar, e confesso que ter ar nos pulmões depois de quase morrer enforcada por plantas da Hera Venenosa era algo confortante.

– Harley – Nicco virou seu rosto para o outro lado enquanto sua voz ficava cada vez mais alta em meus ouvidos – você pode pegar um pouco de água?

Alguns segundos se passaram até que vi uma silhueta na minha frente, via apenas as pernas cobertas por meias até o joelho, uma vermelha e outra preta e assim que levantei meu olhar para fitar quem estava parada em minha frente rapidamente vi um rosto pálido. Água escorria pelo meu rosto como se estivesse tomando banho, fechei os olhos e tomei um breve susto estremecendo, logo escutei uma voz fina e feminina:

– Aqui está sua água. Agora precisamos conversar, filha do Coringa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.