Malina

Ainda me custava a acreditar que o goleiro tinha parado o nosso remate, mas tudo se tornou mais real ao vê-lo passar a bola para um companheiro de equipa que estava no ar e a recebeu sem qualquer problema, rematando em direção à baliza. O Kabeyama não pensou duas vezes em fazer a The Wall, mas o extraterrestre fez de forma a que acertasse na face do nosso defesa e obrigasse o Mamoru a desviar-se para não levar com o Kabeyama em cima, deixando-o bater contra as redes da baliza. Os rapazes correram até ele. Tinha a cara vermelha e parecia estar bastante mal, mas via-se que tentava sorrir e acalmar-nos a todos. Foi difícil para eles levanta-lo, ainda que acabaram por conseguir e ele voltou para sua posição. Parecia estar um pouco atordoado, mas bem.

Respirei fundo e esperei que o Mamoru nos entregasse a bola. Era novamente a nossa vez de atacar.

Infelizmente, nós é que acabamos atacados. A equipa adversária voltou-nos a tirar a bola e lança-la contra nós. Literalmente. Faziam-nos de alvo e acabávamos no chão com o impacto. Tinha acontecido o mesmo com a Zeus, agora eles? Não conseguiríamos aguentar tanto.

Acabamos por conseguir chegar à área deles, sem que um dos defesas se mexesse para nos travar. O Someoka não pensou duas vezes em fazer a Dragon Tornado God.

Também foi parada.

O próprio Reize parou-a com um remate, o qual voou para a outra ponta, para a nossa baliza, juntamente com o Jin, marcando assim o seu décimo sétimo golo.

O Mamoru foi ter com o Jin, verificar como ele estava e não parecia nada bem. Estava agarrado à barriga, onde lhe tinham acertado e estava encolhido de dor.

—As nossas técnicas não têm o menor efeito contra eles. – O Someoka estava certo. O que podíamos fazer? Nada funcionava.

—Isso eram técnicas?

—Tens algum problema isso? – o capitão adversário sorriu. Vi-a como nos considerava inferiores.

—Técnicas de tão baixo nível? – riu-se - Indicam que as vossas forças são muito limitadas. – Infelizmente não tinha uma resposta para lhe dar já que ele tinha parado uma das nossas técnicas com o próprio pé.

—Someoka! – mas o nossa atacante parecia prestes a responder-lhe de outra forme e rapidamente tive de lhe agarrar o braço para o deter.

—Nós não somos limitados! – olhei para trás. Todos estavam de pé. Cada um dos meus companheiros apoiados uns nos outros. Vi que o Max entrara no lugar do Jin, que estava no banco a descansar. O Reize não parecia estar feliz com isso.

—Não sabem dar-se por vencidos? Esses latidos vão provocar a vossa destruição. – Vi-a que ele não nos conhecia.

—Nunca nos damos por vencidos. Essa é principal técnica da nossa equipa. – O Kidou não podia estar mais correto. Era uma que só nós possuíamos e eles nunca a iria conseguir travar.

—A equipa da Raimon joga sempre no final. No final sempre conseguimos ganhar. – O Shido dizia era verdade. Foi sempre assim que vencemos os nossos jogos. Não iria mudar agora.

—Não nos assustam, mesmo que sejam extraterrestres. – Era bom ver o Kurimatsu com tanta coragem, mesmo assustado. O Reize limitou-se a voltar-nos as costas.

—Então vamos assegurar-nos de que não poderão voltar a jogar contra nós.

Só quando se retomou a partida, é que entendi as palavras dele. Eles estavam a jogar com imensa força e violência, levando qualquer um que se colocasse no seu caminho, ao ar, para o chão, o importante era usar a força. Nenhum de nós escapava aquela fúria. Nenhum. Cada um de nós foi atirado ao chão, acertado com a bola, gritamos todos de dor e nem o Mamoru escapou à fúria deles. O Kazemaru ainda tentou ajudar o nosso capitão, mas acabou por empurra-lo, evitando que fosse novamente acertado com a bola. Queria ajudar os meus companheiros, levantar-me e ajudar-me a levantar, mas doía-me tudo. Sentia-me sem forças e sentia como doença se estava a apoderar de mim pouco a pouco e só os podia ouvir… Só ouvia o sofrimentos dos meus companheiros enquanto me sentia completamente inútil.

Abri os olhos e vi o Mamoru tentar rastejar até à bola. Nem ele tinha forças para se manter de pé. O Reize passou por todos e aproximou-se dele. Encarou o meu primo antes de dar um leve remate na bola, fazendo-a entrar na baliza. Estava feito o 20-0, com toda a Raimon caída… Derrotada.

—O jogo terminou. – A bola negra foi de encontro com a sua mão – Acho que os terrestres têm um ditado que diz: “Pela boca morre o peixe”.

Levantou a bola para o ar, girou sobre si e rematou, atirando-a em direção à escola… Destruindo-a.

Gritei.

Gritei para que parasse, para que não o fizesse… Foi quando me apercebi que o som não havia saído da minha garganta. O meu grito ficara preso. Em vez disso, foi uma questão de segundos para que tudo ficasse negro.

*

Doía-me todo o corpo e a minha cabeça parecia que ia rebentar a qualquer momento. Abri os olhos e o meu quarto estava escuro, com tudo fechado, mas com o cheio a chá quente pelo ar. Ouvi passos ao meu lado e vi o meu irmão a aproximar-se, possivelmente depois de pousar a chávena de chá na minha secretária. Estava com uma cara de preocupado, mas não demorou muito para que sorrisse ao ver-me desperta. Fiz o mesmo, mas perdi logo a vontade ao ver a minha bola de futebol no chão, junto à parede. As imagens do que acontecera passaram por mim como uma doloroso memória, fazendo todo o meu corpo reagir como se tivesse acabado de levar novamente com a bola.

—Como é que tu estás?

—Vou ficar bem. – Queria sentar-me, mas agarrei-me logo ao eu próprio corpo e caí na cama com uma tontura por me levantar de repente.

—Não exageres. Depois do que aconteceu tens que descansar. – Ergui-me com a ajuda do meu irmão.

—Já descansei o suficiente, Hayato. Preciso de me levantar, sair e ver como está toda a gente.

—Malina, está tudo na mesma. O jogo foi ontem. – Só? Sentia que tinha perdido imenso tempo ali deitada, que já se haviam passado dias, provavelmente não fazia 24 horas desde o jogo contra os aliens.

—E os rapazes? O Mamoru?!

—Ele está bem. Está em casa a descansar, assim com a maior parte dos teus companheiros.

—Como assim, maior parte?

Acabei por ficar a saber que alguns deles acabaram no hospital e não pude evitar que as lágrimas me viessem aos olhos. Eles estavam mal e tinha tido a sorte de poder ter ido para casa, de não ter preciso de ir para aquele local e ter apenas algumas dores musculares e umas quantas nódoas negras por todo o corpo, bem como vários cortes nos braços e mãos cobertor por band-aid, também tinha um sobre o nariz e uma compressa por baixo da bochecha direita, bem como no joelho esquerdo. Ele disse que todos estavam bem, dentro do possível. Estiveram conscientes ao contrário de mim e do Mamoru, mas por outro lado, não poderiam voltar a jogar futebol por um bom tempo, visto que acabaram com graves lesões. A equipa estava desfeita sem todos os seus membros presentes.

Conseguir levantar-me sozinha e beber o chá que o meu irmão me trouxera. A minha mãe juntou-se a nós, preocupadíssima comigo e não parava de me apertar, até se aperceber de que me estava a magoar e que quase me partia ao meio. Fui obrigada a comer, mas no final, expulsei-os do meu quarto. Queria ficar sozinha. Olhei para o meu celular e não vi quaisquer mensagens. Talvez eles estivessem à espera que eu acordasse e dissesse algo. Foi então, quando ia voltar para a cama, que a sua luz se acendeu. Vi que era uma mensagem do meu primo. Dizia que ele ia para o hospital ver os nossos amigos e que se estivesse a ler, para ir ter com ele.

Vesti-me sem pensar duas vezes.