Recomeços

Capítulo 7 - Aliados inesperados


Alex despertou completamente desorientada. Ouviu, ao longe, uma voz masculina chamando-a por seu sobrenome. A jovem não lhe deu muita atenção, sua mente estava cansada demais para isso. Apenas ajeitou-se a fim de dormir mais um pouco, porém foi impedida por alguém que a chacoalhava levemente pelos ombros.

— Senhorita White! - a voz estava mais próxima, o que acabou obrigando-a a abrir os olhos. Quando o fez, assustou-se, afinal quem a sacudia era o sr. Gold.

A garota de cabelos acinzentados sentou-se rapidamente, o que lhe causou uma forte tontura, porém não tombou graças ao homem que ainda a segurava pelos ombros.

— Ai... - disse ela com a voz fraca. Gold a encarou de maneira reprovadora e, sem dizer nada, ofereceu-lhe a mão para que a garota pudesse erguer-se do chão. Um tanto anestesiada pela sensação nauseante, Alex aceitou e se colocou de pé, meio cambaleante.
— Entendo perfeitamente que a senhorita tenha um certo... Apreço por livros, mas dormir de maneira desconfortável no chão de uma biblioteca empoeirada rodeada por eles é exagerado até para a senhorita, concorda? - o homem indagou em tom sarcástico com um pequeno sorriso. A jovem corou, resmungando algo completamente ininteligível no mesmo instante em que um ronco muito alto saiu da região de seu abdômen. Gold ergueu a sobrancelha de maneira questionadora. A cor do rosto de Alex tomou um intenso tom de carmim e ela xingou-se mentalmente por ter-se permitido pegar no sono onde estava e ter ficado tanto tempo sem comer.

— Perdi a noção do tempo e aparentemente de meu corpo também. - a garota falou com desgosto. Ela olhou ao redor, notando estar próxima a uma das prateleiras uma mulher que nunca havia visto antes olhando-a de maneira curiosa. A de cabelos acinzentados acenou para ela, um tanto envergonhada, e a moça acenou de volta com um sorriso zombeteiro, porém leve. O estômago de Alex roncou novamente, fazendo com que ela corasse mais uma vez e a estranha começasse a rir.

— Rumple, é melhor levá-la até a lanchonete. Aparentemente tem alguém que também ficaria feliz de comer um hambúrguer. - falou ela, piscando para a jovem, que sorriu, ainda muito vermelha.

— Um hambúrguer cairia bem, com bastante batata frita. - disse. Rumpeltiltskin acabou por sorrir também, aparentemente divertido com as duas.

— Vamos, senhorita White, antes que a criatura em seu estômago resolva devorar a todos nós. Te acompanharei. - falou o homem em tom sereno. Alex assentiu, não retorquindo pois sabia que era verdade e, com um movimento de cabeça, despediu-se da mulher que ali se encontrava.

Os dois caminharam de maneira silenciosa por um tempo, enquanto a mente de Alex desanuviava aos poucos e ela finalmente voltava à consciência do porque estivera naquela situação. Uma ideia a qual achava brilhante se formou e, antes que pudesse pensar nas consequências, indagou:

— O senhor sabe como viajar entre dois mundos sem usar um feijão mágico?

Gold parou de andar, olhando desconfiado para a garota.

— Por que o interesse repentino nisso? - ele perguntou e ela se colocou a explicar o que acontecera com Dany, Emma e Snow. O homem se manteve impassível durante o relato da jovem, e ao final, voltou a caminhar antes de tornar a falar. - É uma grande falta de sorte da parte de sua irmã, receio que será muito mais difícil do que a senhorita pensa. Quase nenhuma magia é capaz de fazer isso. - ele respondeu de forma enigmática e Alex notou, ao fundo de sua fala, que havia mais coisas além do que o homem falava.

A jovem soltou um longo suspiro; a notícia não era boa, afinal Gold era o Dark One e se tinha alguém capaz, seria ele.

— Então elas não têm como voltar? - ela perguntou, a tristeza evidente em sua voz.

Rumpelstiltskin não respondeu de imediato, seguiu andando em silêncio durante alguns segundos, até que falou:

— A melhor chance delas é que encontrem uma maneira no local onde estão. A magia em Storybrooke é bastante escassa. - pararam de andar e ele a encarou - Eu sugiro que a senhorita se alimente e descanse. Aguardarei sua presença amanhã em minha loja, talvez possamos encontrar algo que ajude sua irmã. - com isso dito o homem se afastou sem esperar resposta e a jovem adentrou a lanchonete, um tanto aturdida com a atitude de Gold.

Alex procurou Ruby dentro do recinto e, quando seus olhares se cruzaram, a garçonete deixou de lado o que estava fazendo e se aproximou dela, envolvendo-a em um abraço apertado. Palavras, naquele exato instante, não eram necessárias.

A morena de mechas vermelhas encaminhou a mais nova até um dos bancos próximos ao balcão, dizendo que prepararia o melhor chocolate quente que ela já tomara na vida. Alex sorriu cansada e agradeceu, dizendo que estava com muita fome. Ruby revirou os olhos, dizendo que isso não era novidade alguma, com o agravante de que a jovem havia "desaparecido" por dois dias. A de cabelos acinzentados arregalou os olhos, dizendo que não havia notado o quanto o tempo tinha passado.

A garçonete balançou a cabeça negativamente e se colocou a contar o que acontecera nos dias quem que Alex estivera longe, falou sobre ninguém poder atravessar a linha da cidade, caso contrário a pessoa perderia as memórias verdadeiras e ficaria apenas com as da maldição, contou também sobre a maneira que a prefeita ameaçara a cidade pois queria Henry, fato que fez com que a mais jovem sentisse um aperto grande no coração.

Regina certamente não era má pessoa, apenas aparentava revolta com muitas coisas e certamente a rejeição do garotinho não ajudava. A garota de cabelos acinzentados fez uma nota mental sobre ter uma pequena conversa com Henry assim que tivesse oportunidade e seu estômago logo a trouxe para o presente quando Ruby colocou um grande prato de lasanha à sua frente juntamente de uma xícara de chocolate quente. Alex comeu em silêncio e com muita pressa, acabando tudo em menos de dez minutos. Agradeceu a amiga e levantou-se para ir até o apartamento, porém hesitou; não queria ficar naquele lugar sem sua irmã, afinal era a casa delas.

Ruby aparentemente notou a hesitação da garota e perguntou o que ela faria. A jovem deu de ombros, dizendo que não sabia, mas que não queria ficar sozinha no apartamento. A garçonete assentiu e não questionou o motivo, se oferecendo para lhe fazer companhia até que Dany voltasse. A de cabelos acinzentados sorriu levemente, tocando a mão da amiga em agradecimento. A morena de mechas vermelhas afastou-se, dizendo que procuraria sua avó para avisar-lhe que iria passar a semana com Alex e a garota concordou, falando que a esperaria fora da lanchonete e assim o fez. Não demorou para Ruby chegasse, carregando uma mochila. Sob o olhar questionador da mais nova, ela respondeu que precisava ao menos de pijamas. A mais nova riu e as duas seguiram para o apartamento em meio a conversas leves e risadas e assim continuaram quando chegaram a seu destino, seguindo dessa maneira noite adentro até o momento em que Ruby bocejou, dizendo que precisava de algumas horinhas de descanso até o momento em que precisasse voltar ao trabalho.
Alex concordou com o semblante um tanto triste, não queria ficar sozinha e aparentemente sua amiga percebeu, se oferecendo para dormir junto dela. A de cabelos acinzentados corou ao balançar a cabeça afirmativamente, dizendo que tomaria um banho rápido e já voltaria. Correu para o banheiro após pegar seu camisão de dormir e as roupas íntimas, deixando uma Ruby divertida para trás. Ligou o chuveiro na temperatura mais fria e apressou-se ao tirar o salgado do mar que estava colado à sua pele e cabelos. Assim que se satisfez com a limpeza, rapidamente secou-se e vestiu-se, voltando ao quarto, com os cabelos ainda um tanto úmidos. Pegou uma toalha limpa e entregou à amiga, que logo se retirou ao banheiro também. Quando a morena retornou, Alex já estava na cama coberta apenas por um lençol. A mais velha não perdeu o momento da piada, perguntando se aquilo tudo era fogo, ao que a jovem apenas revirou os olhos em resposta, feliz por estar escuro, do contrário Ruby teria visto o tom escarlate em seu rosto. Após isso a morena também deitou-se, pegando no sono logo em seguida, ao contrário de Alex, que lutava contra a insônia e não era capaz de parar de se mexer. Em certo ponto da noite Ruby acordou, resmungando que a garota parasse quieta e, com uma das mãos, puxou-a para mais perto, abraçando-a e a impedindo de continuar se mexendo. A jovem de cabelos acinzentados novamente sentiu o rosto esquentar, porém ao mesmo tempo sentiu o corpo relaxar e aconchegou-se mais à amiga, também sendo envolvida pelo sono em seguida.

~~

Na Floresta Encantada, o estranho grupo formado por Dany, Emma, Snow e Mulan caminhava pelas estradas sinuosas e rodeadas por altas árvores. Não demorou para que iniciassem uma discussão e o assunto foi: acender ou não uma fogueira. Emma questionou a ideia e o perigo disso, porém Snow disse que estava tudo bem, que ogros eram cegos e se orientavam pelo som. Ela e a loira mais velha começaram a discutir entre si e a mais nova não foi capaz de entender o porquê, então simplesmente abstraiu e em seguida Mary pediu que Emma e Dany ficassem ali enquanto ela e Mulan fossem buscar água. A jovem não protestou, afinal queria um pouco de paz para que pudesse pensar no que fazer para sua magia funcionar e foi isso que ficou fazendo, sabendo que Swan não se importaria.

Passou um tempo e a loira mais nova, a qual estava quase conseguindo seu objetivo com os encantamentos, escutou vozes um tanto alteradas e olhou para Emma, que acenou com a cabeça e ambas foram ver o que estava acontecendo. Andaram em direção aos sons e notaram a princesa que haviam tido contato mais cedo. A moça estava deitada ao chão e ela, Mulan e Snow White gritavam sem parar uma com as outras. Dany levou um susto ao escutar um estampido e virou-se para entender o que havia acontecido, percebendo que a loira mais velha estava com sua arma na mão e tinha acabado de atirar. Antes que qualquer uma das mulheres pudesse dizer algo, um estrondo muito alto foi ouvido, seguido de um rugido. A loira mais nova levou uma das mãos à testa e deu um tapa, não acreditando que Swan pudesse ter sido tão estúpida depois de Snow ter acabado de explicar que os ogros eram atraídos pelo som, e gritou que corressem.

Quando alcançaram uma clareira, a criatura derrubou Emma no chão e a jovem White tentou pensar em alguma magia que pudesse ajudar, porém Mary foi mais rápida e atirou uma flecha no olho esquerdo do monstro, fazendo com que o mesmo caísse morto no chão. Dany encarou a mulher com espanto, afinal havia pelo menos 28 anos que a mesma não pegava em um arco. A loira mais velha fez o mesmo comentário e a morena respondeu que achava que era como andar de bicicleta, era impossível esquecer. Após esse momento o grupo seguiu caminho pela floresta até o antigo castelo de Snow e Charming.

Uma vez dentro do castelo, a mais jovem se manteve bastante distante das outras duas e tentava focar sua mente em outra coisa, afinal estar em um castelo remetia a um tempo que ela gostaria muito de deixar para trás.

Logo um movimento foi ouvido à entrada do quarto e Lancelot se revelou, avisando que deveriam passar a noite ali e retornar na manhã seguinte pois, segundo ele, era muito perigoso e começou a dizer algumas coisas bastante estranhas, como citar o nome de Henry, e começou a observar o armário mágico com ferrenho interesse. Dany franziu a testa, Emma não havia dito ao cavaleiro o nome do filho; a única pessoa que sabia era Cora. Aparentemente Mary também chegou à mesma conclusão pois puxou a espada e a apontou na direção do pescoço do homem.

Como em um passe de mágica, a mulher da qual desconfiavam tomou sua verdadeira forma, revelando que Lancelot estava morto havia muito tempo e não tardou em atacar Snow White, colando-a em uma das paredes do castelo. Emma tentou proteger a mãe, porém foi jogada longe. A loira mais nova não atacou, ficou quieta ao vasculhar sua mente atrás de algum encantamento que lhe pudesse ser útil naquele momento, como um feitiço-escudo. A jovem fechou os olhos por alguns instantes, concentrando-se nas instruções que havia lido e traduzido.

Um cheiro bastante forte de fumaça entrou em suas narinas e ela viu o guarda-roupas em chamas, Emma Swan encarando a bruxa que, em cólera, tentou atacá-las novamente, porém foi parada por um fino escudo de cor rosa o qual havia sido formado por Dany no último segundo, e fez a magia de Cora se voltar contra ela própria. A mulher teve seu rosto transformado em uma máscara de puro ódio, dizendo que o entrave entre elas não havia acabado, e desapareceu dali.

A jovem White respirou fundo, tentando não entrar em desespero ao ver sua esperança de retornar a Storybrooke para junto de sua irmãzinha em chamas bem à sua frente. Ela até tentou apagá-las, porém fora em vão; o armário havia sido completamente consumido. A garota começou a pensar em outra solução, porém não chegou a conclusão alguma, uma vez que sabia que aquele era o último portal naquela terra. Suspirando, virou-se para as outras mulheres ali presentes pois de nada adiantaria ficar se lamentando, e ergueu ambas as sobrancelhas em surpresa ao notar um abraço carinhoso entre Emma e Snow. Logo sorriu, afinal família era famíla.

~~

Alex despertou lentamente, espreguiçando-se. Havia tempos desde a última vez que dormira tão bem. Abriu os olhos, notando a claridade do dia e por fim resolveu levantar-se e fazer sua higiene matinal. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, tomando a nota mental de que precisava cortá-los. Assim que terminou, voltou para o quarto e logo trocou de roupa, substituindo o camisão por uma camiseta preta, uma calça jeans e seu par favorito de Adidas nos pés.

A garota pegou o celular que se encontrava sobre o criado-mudo e espantou-se ao notar que passava do meio dia. Droga! Havia marcado de ir até a loja do sr. Gold e com toda certeza estava atrasadíssima. Guardou o celular no bolso e saiu novamente do quarto, descendo as escadas de maneira apressada. Chegando ao andar de baixo, Alex notou que havia um prato com panquecas e um copo grande de achocolatado sobre a mesa.

Sorriu ao se aproximar e notou um bilhete ao lado do prato, o qual dizia: "Tenha um bom dia, pequena. Aproveita o café da manhã, sei que vai acordar com fome.

Xoxo Ruby"

O sorriso da garota de cabelos acinzentados se alargou e ela sentiu o coração aquecer. Ninguém além de sua irmã havia feito algo assim por ela em sua vida. A jovem negou com a cabeça, ainda sorrindo, e dobrou o papel cuidadosamente, guardando-o no bolso traseiro da calça e sentou-se, deliciando-se com o "presente".

Quando terminou, tratou de lavar a louça e deixou a mesma no escorredor. Correu ao quarto para buscar sua carteira, pegando uma nota de 20 dólares, também guardando-a no bolso. Faria um jantar caprichado para a amiga como forma de agradecimento e para isso precisava ir ao mercado. A jovem aproveitou para pegar seus óculos escuros antes de sair do apartamento, trancando-o e se dirigindo à loja de Gold após enviar uma mensagem de agradecimento à amiga pelo café.

Após 20 minutos de caminhada, Alex alcançou seu destino e abriu a porta, ouvindo o tilintar do sino que anunciava sua chegada. Êxtase. Esse foi o único sentimento descritível para a jovem ao se deparar com a quantidade de coisas naquele estabelecimento; nunca antes havia visto tantos objetos diferentes e estranhos dos quais ela não tinha a mínima certeza da serventia. A jovem virou-se de sobressalto para o balcão ao ouvir a voz do dono do local, que dizia:

— Aprecio muito sua curiosidade, senhorita White. Com certeza irá longe, desde que não deixe de ter ao mínimo um pouco de cautela. - Alex não notou traço algum de sarcasmo ou ironia nessa colocação, percebeu a sinceridade.

A jovem deu um sorriso largo, encarando o homem.

— Dany sempre dizia que a curiosidade matou o gato. - falou, lembrando de quantas vezes Dany ralhara com ela quando as duas eram mais novas. Negou com a cabeça, o sorriso não deixando seus lábios - Como o senhor soube quais livros chamariam nossa atenção, sr. Gold? - ela indagou - Quer dizer... As capas estavam dispostas como se tivessem sido criadas exatamente para nós!

O homem não respondeu verbalmente de imediato, sorriu de maneira enigmática e por fim falou:

— A magia não se engana.

A garota abriu a boca para responder, porém logo a porta se abriu novamente, porém desta vez de maneira estrondosa, revelando um dr. Whale muito agitado, carregando no ombro o que parecia ser uma caixa térmica. Alex abriu a boca, completamente surpresa, ao notar que lhe faltava um braço. O homem pareceu não ter notado sua presença ao colocar a caixa sobre o balcão e dali tirar o membro que aparentemente fora amputado.

A jovem manteve-se calada, apenas ouvindo e observando a interação entre Gold e o médico, arregalando os olhos quando ouvira Whale confessar que havia ressuscitado o ex-namorado de Regina, porém que o mesmo havia se tornado um monstro e fora ele quem lhe arrancara o braço. Droga! Precisava alertar a mulher de que tivesse cuidado. Alex ouviu o dono da loja questionar se o doutor realmente havia trazido o garoto dos estábulos de volta dos mortos e aconteceu um estalo em sua mente: os estábulos de Storybrooke. Novamente a garota nem pensou muito, apenas saiu apressada da loja, correndo em direção ao local no qual havia pensado, fazendo uma nota mental de que precisava começar a se exercitar mais se continuasse a ter a necessidade de sair correndo dessa forma.

Assim que chegou à entrada dos estábulos, notou que o pequeno Henry se encontrava ali e sua expressão era de bastante pavor. A jovem aproximou-se dele, que rapidamente se jogou em sua direção, apertando-lhe o quadril em um abraço forte, e contou como o homem estranho havia assustado os cavalos apenas por ter aparecido ali e que seu avô e sua mãe estavam lá com ele. Alex acariciou os cabelos do garotinho e prometeu-lhe que os ajudaria. Henry a soltou e apontou com a mãozinha a direção na qual ela deveria seguir. A jovem assentiu e respirou fundo, reclamando mentalmente sobre a quantidade de confusões nas quais havia mergulhado desde que a maldição fora quebrada.

A primeira coisa que Alex ouviu foi a voz de David dizendo que o mataria e a voz suplicante de Regina pedindo que ele não o fizesse, que ela cuidaria disso. Novamente agindo completamente por impulso, a garota aproximou-se com o intuito de puxar o príncipe dali, porém estagnou por alguns instantes ao trocar olhares com o ressuscitado. A expressão do homem suavizou e ele voltou a atenção à prefeita, enquanto Alex saiu de seu torpor e se postou à frente de David, encarando-o e dizendo que aquele era um momento de Regina e que nenhum dos dois deveria interferir sem existir necessidade.

O loiro reclamou com ela, perguntando sobre sua insistência em proteger a Rainha Má e Alex respondeu que era contra qualquer tipo de injustiça, independente a quem se dirigisse. O homem soltou um longo suspiro e perguntou onde seu neto estava, ao que a jovem respondeu que o acompanharia até lá. Ele concordou com a cabeça e pediu que ela indicasse o caminho. Assim ela o fez, e logo desculpou-se pelo rompante que tivera com ele alguns dias antes, mas que odiava injustiças. Disse entender que o que a mulher havia feito à família dele era algo bastante grave, porém vingança não levaria a nada, muito pelo contrário; apenas os destruiria. Eles supostamente deveriam ser os heróis da história, portanto deveriam agir como tal, mesmo que a raiva às vezes os cegasse. David concordou, ainda que a contragosto, e disse que ela e Dany eram pessoas bastante especiais, completamente diferentes daqueles com quem ele fora obrigado a conviver durante algum tempo. Confidenciou a ela que por vezes se esquecia de quem realmente era e também se desculpou por ter agido mal. A jovem sorriu, dizendo que o que mais queria era que as pessoas conhecessem umas às outras antes de fazerem seus pré-julgamentos e logo emendou, dizendo que Regina Mills ainda possuía algo bom em seu coração, que isso era notável quando a mesma estava perto do filho, e que era a ela que ele devia desculpas.

Novamente, aparentemente contra sua vontade, o loiro concordou, dizendo que Snow também acreditava na bondade da mulher. Alex sorriu e falou que acharia uma maneira de trazê-las de volta, que no dia seguinte voltaria à biblioteca para seguir com suas pesquisas. Charming assentiu, dizendo que ela o chamasse se precisasse de algo, palavras às quais a garota sorriu, concordando.

Assim que chegaram ao local onde o pequeno Henry se encontrava, a jovem virou-se para o local de onde viera, dizendo que voltaria para ajudar a prefeita caso as coisas saíssem do controle. David assentiu, pedindo que tomasse cuidado. Ela também assentiu e fez o caminho de volta. Quando se aproximou, ouviu a súplica na voz do homem que fora trazido dos mortos, pedindo que Regina o deixasse ir, e a mesma respondendo que o amava. Mais uma vez o olhar dele cruzou com o da jovem White antes de o mesmo pedir à prefeita que amasse novamente e não se prendesse a ele.

Nesse instante Alex virou-se de costas, ela sabia o que viria a seguir e não se sentia confortável em assistir. Alguns instantes se passaram e a voz de Regina foi ouvida novamente, um tanto fraca pela emoção que com certeza queria esconder:

— Se eu não soubesse de seu aparente complexo de herói, diria que está me seguindo, senhorita White.

A de cabelos acinzentados sentiu o rosto esquentar e virou-se de frente para encarar a mulher, que estava com o semblante bastante abatido, sem dúvidas pela situação que acabara de ocorrer. Deu um sorrisinho amarelo e ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Pensei que pudesse precisar de ajuda. - respondeu ela sinceramente, correndo todos os riscos, porém com certo receio, afinal esperava que a mulher fosse responder com ironia, entretanto não foi o que aconteceu. Regina apenas a encarou em silêncio e Alex sustentou o olhar, não sendo capaz de "ler" o que se passava na mente da mais velha. Alguns instantes se passaram com a interação das duas exatamente daquela forma, Mills parecia estar estudando a mais nova e foi a própria quem voltou a quebrar o silêncio.

— Acho bastante curioso que você sempre aparece em momentos nos quais existe a possibilidade de eu correr algum risco. - a mulher concluiu, fazendo com que o rubor na face de Alex seguisse para as orelhas. A jovem não teve tempo de responder, foi salva pelo pequeno furacão Henry, o qual apareceu e abraçou a mãe, que ficou sem reação por alguns segundos antes de retribuir o abraço do filho. White sorriu, sabendo o quanto aquilo era importante para a mulher e virou-se com leve pressa para sair dali, porém não concluiu seu intuito, uma vez que a voz do menino a impediu:

— Alex, obrigado por sempre aparecer quando a mamãe precisa.

A garota virou-se novamente para os dois e não conteve o largo sorriso que se formou em seu rosto ao ouvir as palavras de Henry. Notou a surpresa estampada no rosto da prefeita e logo respondeu, com o olhar fixo ao dela:

— Sua mãe é uma pessoa muito especial e eu faço questão de estar por perto sempre que ela precisar. - a jovem não esperou para ver os efeitos do que dissera, uma vez que dirigiu sua atenção ao garotinho - E você, como um pequeno príncipe tem a missão de cuidar dela também. Nós sabemos que ela é uma mulher forte que sabe se cuidar muito bem, mas teve uma coisa que meu pai e minha irmã sempre me ensinaram. - parou para respirar um pouco percebendo que tinha a completa atenção do jovem Mills em si e o mesmo tinha uma expressão interrogativa no rosto - Nunca abandonar aqueles que amamos, independente do que tenha acontecido no passado.

A expressão de Henry tornou-se pensativa e Alex teve a certeza de que tinha chego ao ponto que queria com ele. Sem dizer mais nada, saiu andando novamente e dessa vez sem olhar para trás. Encontrou David encostado à caminhonete e disse a ele que tudo estava sob controle, que a própria Mills havia resolvido o assunto. O loiro suspirou, dizendo imaginar o quanto aquilo havia sido difícil para a ex-Rainha, uma vez que Daniel fora seu primeiro e único amor. A garota, curiosa, perguntou a ele o que acontecera e o mesmo suspirou, dizendo apenas que o homem havia morrido pois Snow não soubera guardar um segredo e por conta disso Regina declarara guerra a ela.

A jovem decidiu, por ora, que aquela resposta lhe era suficiente e começou a entender um pouco melhor as razões para o amargor da mulher. Ela respirou fundo e não soube o que responder ao loiro, que tocou seu ombro e encerraram o assunto por ali mesmo.

~~

Na Floresta Encantada, o grupo formado pelas cinco mulheres caminhava e discutia sobre contar ou não para os refugiados sobre a morte de Lancelot e que Cora os enganara. Acabaram se decidindo por contar, mas deixariam de lado os detalhes “sórdidos”, uma vez que não gostariam de incitar o pânico na população. Ao chegarem, porém, à entrada do refúgio, Mulan pediu que esperassem, dizendo que sempre havia sentinelas na entrada. Dany estranhou que não havia nenhum na torre e a guerreira pediu que ficassem perto. A loira mais jovem sentiu que algo de muito ruim acontecera ali sem nem precisar passar o olhar pelo local; a energia estava muito pesada, completamente diferente de quando saíram dali.

Os corpos de todos os habitantes dali jaziam espalhados pelo refúgio, todos com um buraco grande e sangrento no peito exatamente onde o coração deveria estar. A jovem White sentiu o estômago revirando, porém olhou para cima e respirou fundo, não queria vomitar e ser chamada de fraca. Os olhos dela marejaram, também, por conta da tristeza de tantas vidas terem se esvaído e questionou em voz alta como os ogros encontraram aquele lugar que supostamente deveria ser protegido. Mary respondeu que não haviam sido os ogros, mas sim Cora e colocou que os corações foram arrancados e que essa era a magia da bruxa em questão, perturbada e má.

Dany sentiu o sangue ferver, o sentimento de tristeza dando lugar à raiva. Não era à toa que Regina era tão revoltada! Com um monstro desses como mãe, era certo que a filha não poderia deixar de ter algum “problema”. A loira disse que precisavam fazer algo para impedir a mulher e Mulan respondeu que era tarde demais, que todos estavam mortos, que Cora os havia matado. Snow entrou na discussão tomando o lado da jovem White, dizendo que precisavam parar a bruxa antes que a mesma machucasse mais gente.

Emma chamou a atenção das mulheres ali presentes, dizendo que havia alguém vivo ali sob um cadáver. As outras quatro correram para ajudar e tiraram o corpo de cima de quem quer que fosse, revelando um homem moreno de olhos azuis aparentemente assustado. Dany franziu a testa pois teve uma sensação grande de déjà vu pois estava certa de que já o havia visto em algum lugar. Esse sentimento não se demorou, foi apenas o tempo de a garota vasculhar na memória e resgatar o momento em que se encontraram: o dia do incêndio no castelo.

Ela ficou tanto tempo perdida em seus pensamentos e memórias que não percebeu que Emma e Mary já haviam ajudado o homem a se levantar e se sentar na cadeira em uma mesa um tanto mais distante de onde ela se encontrava. Notando que as duas heroínas já estavam questionando o moreno, ela franziu a testa, se aproximando e escutando a conversa.

O homem agradeceu a bondade das mulheres e disse que a sorte estava a seu favor. Mulan atualizou a mais jovem, dizendo que ele era um ferreiro e que havia chego ao acampamento alguns meses antes. Swan indagou como o moreno era o único sobrevivente em uma ilha cheia de corpos, ao que ele respondeu que Cora havia atacado durante a noite e que ela matara todos com um único golpe. Falou também que quando a bruxa começou a arrancar os corações, ele se escondera sob um corpo com o qual ela já o havia feito, fingindo estar morto. A loira mais velha apenas disse de maneira sarcástica que a sorte favorecia os corajosos, ao que o homem respondeu - muito dramaticamente na opinião de Dany - que foi tudo o que pudera fazer para sobreviver.

A loira então chegou mais perto e encarou o homem (lindo e maravilhoso, ela acrescentou mentalmente) seriamente, que a olhou por um instante confuso com sua aparição repentina, para uma rápida expressão de choque antes de voltar a sua cara de coitado.

— Você está mentindo. - disse Dany com confiança tentando fazer com que a máscara dele caísse, porém a única resposta da parte do moreno foi uma expressão falsamente triste, muito parecida com a de um cão que caiu do caminhão de mudança.

— Dany! - White escutou a voz surpresa e quase escandalizada de Snow e ergueu o olhar para encará-la, esperando que a mulher dissesse mais algo, porém foi Swan quem falou.

— Como pode ter tanta certeza? - questionou ela não em tom de acusação, mas sim com pura curiosidade.

A jovem então puxou ambas as mulheres para um pouco mais longe e falou em voz baixa.

— Eu o reconheço. Lembro dele claramente no dia que o castelo de Thomas e da Ella pegou fogo, graças à Rainha Má. - ela explicou e ao perceber a cara meio cética de Snow, complementou. - Não sei para você, mas minhas memórias de 28 anos atrás estão mais claras que as da semana passada... Por isso tenho certeza, vi ele lá, e ele estava com a Rainha, tenho certeza disso.

Mary franziu a testa, parecia estar um tanto perdida em pensamentos, antes de responder:

— Não lembro de tê-lo visto naquela noite... Achei que Regina estava trabalhando sozinha. - a morena virou-se para onde o homem estava sentado sob a supervisão de Mulan antes de voltar a atenção para a jovem - Quem é ele?

— Isso... eu não sei. - disse a garota soltando um suspiro e então olhou para o moreno determinada. - Mas faremos ele falar, certo?

— Certo! - disse Emma concordando na mesma hora. Parecia que concordava com Dany que o homem não era o que dizia, e acreditava na menina sobre sua informação.

A loira mais nova notou que Mulan fazia um sinal discreto para que o trio voltasse até onde o homem estava sentado, e assim o fizeram.

— Precisamos ir embora, caso Cora decida voltar. - falou a guerreira em tom sério, ao que as mulheres concordaram.

— Devemos procurar um novo portal para voltar a Storybrooke. - falou Mary, recebendo olhares de aviso por parte de Dany e Emma que claramente diziam para ela se calar, porém não pareceu dar atenção - Fiquei apenas cinco minutos com meu marido, sem falar no meu neto.

O moreno, que até aquele momento apenas escutava a conversa, ergueu uma das sobrancelhas àquela informação e um sorriso de canto de boca se formou em seu rosto.

— Você tem um neto? - indagou de maneira zombeteira e logo se apressou em acrescentar - Eu conheço bem este reino. Posso guiar vocês.

A jovem White, não engolindo aquela atitude, sentiu a raiva ferver em seu âmago e puxou a espada que carregava, encostando sua ponta no pescoço do homem de maneira perigosa.

— Você não vai a lugar algum, muito menos nos guiar, até começar a falar a verdade. - ela falou em tom irritado, fazendo com que o moreno soltasse uma gargalhada.

— O quê uma donzela sabe fazer com esse tipo de espada? - perguntou ele com malícia.

Ela estreitou os olhos, com suas lições de luta frescas em sua memória, sentiu coragem e confiança para falar:

— Experimenta. - Dany falou em um tom seco, não gostando nem um pouco da insinuação, e apertou mais a espada no pescoço dele. - Tente a sorte para ver o que eu sei fazer com uma espada.

O sorriso do homem desvaneceu e ele engoliu em seco, aparentemente notando que estava em grande desvantagem ali, porém não deu a resposta que as mulheres estavam buscando. Emma sorriu à jovem em aprovação, recebendo um sorriso quase imperceptível em resposta.

— Acho que precisamos de um método mais arcaico para que ele comece a abrir a boca e pare de desperdiçar nosso tempo. - falou Mulan - Sugestões?