Recomeço

Por que ele não reage?


O tal do Robert parecia um cara extremamente ocupado, pois nunca tinha tempo de vir em nossa casa. Eu já estava começando a achar aquilo tudo muito estranho. Mas a pior parte era esconder meus pensamentos do meu pai. Não queria que ele sofresse, que é o que aconteceria se ele soubesse agora desse novo vampiro nas redondezas. Eu precisava pensar num bom plano para que meus pais se falassem pelo menos uma vez. Eu tinha que fazer com que se dessem uma oportunidade de tentar esclarecer as coisas. Sabia que pela parte do meu pai não haveria problemas, mas pela minha mãe... Talvez houvesse alguém que pudesse me ajudar, e tinha nome e sobrenome: Alice Cullen, a irmã preferida do meu pai, a cunhada preferida da minha mãe.

À tarde, minha tia Alice viria me pegar para o final de semana em Forks e eu ainda tinha algumas horas sozinha. Eu deveria aproveitar este momento para pensar em algo que convencesse minha tia a se envolver no relacionamento dos meus pais, algo que ela estava terminantemente proibida pela minha mãe.

Resolvi ir à biblioteca que ficava a algumas quadras de casa. Quando virei a esquina, vi que o Porsche da tia Alice e a Ferrari da mamãe estavam estacionados na rua. Fiquei feliz que não demoraríamos tanto para ir para Forks. Pelo menos, longe da mamãe, eu poderia conversar a vontade com minha tia.

- Nessie, Nessie, Nessie! – e mais um forte abraço eu recebi. De surpresa, mal respondi. Apenas pude buscar por meu fôlego perdido entre o primeiro e o terceiro \"Nessie\". – Oh, desculpe, flor. É que eu estava com tantas saudades de você...

- Eu adoro suas recepções calorosas, tia. Não se preocupe. – passei a mão em seu braço. – Nós já vamos? – perguntei enquanto trazia minha mochila do quarto.

- Vamos sim. – tia Alice estava mais séria.

O que será que houve no curto espaço de tempo entre eu entrar no meu quarto e sair com a mochila? Que droga! Eu estava perdida.

Notei que a mamãe estava chateada.

- O que está acontecendo? – a curiosidade foi maior.

- Nada, meu anjo. Me dê um abraço...

E eu o fiz. Como negaria isso a minha mãe? Nem em mil anos.

- Você vai se encontrar com o tal Robert enquanto eu estiver fora? – sussurrei em seu ouvido, durante o abraço.

A mamãe só me respondeu depois que me soltou. – Sim, planejamos algumas coisas juntos. – Ela abaixou o olhar.

Pus as mãos em suas bochechas. \"Ele é apenas um amigo, não é?\"

- É sim.

Tia Alice nos olhava já sabendo de tudo o que estava se passando. Obviamente ela tinha tido visões com a mamãe e o tal Robert, mas prometeu não se intrometer. Conhecendo minha tia como eu conhecia, imaginava o quanto ela devia estar se sentindo impotente. Mas isso ia mudar.

Continuei a conversa silenciosa com minha mãe. \"Promete que não vai fazer nada para se arrepender depois?\"

Minha mãe arregalou os olhos e não me respondeu. Tirou minhas mãos de seu rosto e beijou as palmas. Sentiu o aroma dos meus punhos profundamente de olhos fechados e encerrou o assunto.

- Vocês vão chegar tarde em Forks. É melhor se apressarem.

Como se ela não soubesse que tia Alice dirigia quase tão rápido quanto o papai. Acho que ela queria se livrar das minhas perguntas.

- Te amo, mãe. Para sempre. – a beijei no rosto e entrei no Porsche a tempo de ver um olhar acusatório da minha tia para a minha mãe.

Já estávamos longe o suficiente para que ninguém que, além de nos duas, pudesse nos ouvir. Como um estranho bloqueio não permitia que minha tia visse meu futuro ela teve de perguntar o que eu estava planejando.

- Agora desembucha, Ness.

Ri com sua maneira de falar. – Bom, você já deve ter visto um vampiro novo no futuro da mamãe, não é?

- Estou proibida de falar sobre isso. – Ela desviou o olhar de mim.

- Tudo bem – comecei. - Você não precisa falar, basta me ouvir e depois me ajudar agindo.

- Sua mãe vai arrancar minha cabeça – ela me encarou. – E você vai ser a única responsável por isso.

A situação era tão estranha que não pude perder a oportunidade de fazer uma piada – E como te amo, vou me certificar que sua cabeça vai voltar para seu corpo, ok? – eu ri – Vamos lá, tia. Me ajude. Não vou conseguir juntar meus pais sozinha.

- Nessie, você sabe que eles não querem que ninguém se intrometa.

- Tudo bem. Você tem razão. Mas você acha justo ficar de fora enquanto eles não conseguem nem sentir o cheiro um do outro sem tristeza? Está partindo meu coração ver os dois tão tristes...

Enfim, tia Alice se rendeu aos meus argumentos – E o que você quer que eu faça? – foi fácil demais.

- Não sei bem, tia. Fico pensando em um milhão de coisas para fazê-los reatarem, mas nada muito bom. Só tenho certeza de uma coisa: eles deviam conversar. O papai pode convencê-la a voltar para ele se ela der a oportunidade de ele chegar perto.

- Este é o problema, minha sobrinha preferida. Bella não deixa Edward se aproximar. Eles nunca se falaram depois que vocês vieram embora.

- E o que nós podemos fazer, tia? Você vê alguma coisa?

- Bom, vejo o tal vampiro de Seattle e sua mãe se beijando. – Não!

Eu estava com um nó na garganta. – Por isso ela estava com aquela cara antes de sairmos?

- Também por isso. Provavelmente mais pelos meus comentários como, por exemplo, \"Você não pode fazer isso com o meu irmão\" ou \"Eu nunca vou te perdoar por não tentar mais uma vez\" ou \"Você só está fazendo isso para se vingar\".

Eu estava pasma. Para alguém que não devia se intrometer, tia Alice estava se saindo muito bem.

- Ela respondeu alguma coisa?

- Basicamente repetiu o mesmo de sempre: \"Não é mais da sua conta, Alice\".

Realmente, não ia ser fácil. Mas quem disse que seria?

Encostei a cabeça no banco e fiquei assim até entrarmos na estrada sinuosa depois da rodovia que levava direto a casa dos meus avós. Por falar neles, eles nos esperavam na porta de entrada, junto com meus tios Rosalie, Emmett e Jasper.

Olhei para tia Alice, preocupada. – E o papai?

Ela disparou de seu acento para fora do carro e parou ao lado da minha porta, abrindo-a em menos de um segundo.

- Ele disse para que, assim que você beijar e abraçar a todos, você vá para a cabana porque ele tem uma surpresa. – Tia Alice saiu da frente e eu corri para dar um abração em todos que já me esperavam ansiosamente. Como eles já sabiam que o papai estava me esperando, nem me mantiveram ali por muito tempo.

Corri o mais rápido que pude até chegar na cabana. Apesar do curto caminho até lá, eu tinha pensado em várias possibilidades de o meu pai me surpreender. A porta estava apenas encostada e eu ouvia meu pai na cozinha. Instantaneamente senti cheiro de queijo... macarrão com queijo... Ah, essa era a surpresa.

Entrei na cozinha no momento em que o meu pai colocava uma grande travessa com a comida em cima de nossa pequena mesa. O engraçado foi vê-lo descalço, sem camisa e de avental.

- Você cozinhou para mim? – eu ri.

- Eu prometi, não prometi?

Fui até perto dele. – Sim, prometeu.

- Sei que você estava esperando qualquer outra surpresa, menos isso. Então, você pode fazer todo o planejamento do final de semana como presente. Nem eu nem suas tias vamos dar qualquer sugestão, dica, nada...

Me sentei à mesa. Eu realmente estava com fome. – Não ligo que vocês escolham tudo. De verdade.

O papai sentou-se ao meu lado.

- Só tem uma coisa que eu quero. – Pensei nele e a mamãe juntos novamente e ele abaixou a cabeça.

- A decisão é dela, Renesmee. Não posso fazer nada.

Aquele não parecia meu pai. Me virei pretendendo fazê-lo reagir. – Lute! Lute como você lutou para não matá-la, lute como você lutou para se afastar, lute como você lutou para que ela se decidisse por você e não por Jake... Lute como você lutou para que o coração dela não parasse e bombeasse o veneno que a salvou. Apenas lute, pai.

Ele estava em choque. Na verdade, eu também estava. De onde eu tirei tanta determinação?

- Você é muito parecida com a sua mãe – meu pai respondeu ao meu pensamento. Ele estava se recompondo. Segurou minha mão e me olhou nos olhos. – Filha, pode parecer que eu não quero lutar, mas eu já estou lutando. Lutando para respeitar a vontade da mamãe, para não sair daqui agora mesmo e ir para Seattle. Tudo que eu quero é que sua mãe me ouça. Eu poderia obrigá-la, mas não vou fazer isso. Ela também está sofrendo. Estou lutando a cada segundo do meu dia para não levá-la para longe de tudo e falar até que ela me ouça.

Acho que meu pai e eu nunca conversamos tão francamente. Não um conversa séria. - Até que ponto isso é válido, pai? A única coisa que vejo é que a mamãe morre a cada dia e por mais que ela tente disfarçar perto de mim, eu sei que as noites dela, principalmente, são um inferno. E eu sei também que as coisas para você vão de mal a pior. Você não me engana. Ela não me engana. – pousei a mão em seu rosto. \"Eu te amo, pai\". Ele não precisava que eu o tocasse para saber dos meus pensamentos, mas muitas vezes eu fazia questão de que ele soubesse que eu estava ali, do lado dele, com ele.

- Eu sei disso, meu amor. – Meu pai segurou a minha mão e beijou a palma e, assim como a mamãe, sentiu meu cheiro profundamente e de olhos fechados. Eles eram tão parecidos.

O papai não respondeu este pensamento.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.