Os meses que se seguiram foram os mais estranhos de suas vidas. Enquanto Bruno se afundava nos casos do escritório e passava mais tempo na casa de Ana do que no seu próprio apartamento, Fatinha tentava se acostumar com a rotina que havia estabelecido: casa, academia, trabalho e casa. E o principal: não pensar em Bruno. Essa última parte era impossível, nos primeiros dias, ela saia o mais cedo possível para não ter que dar de cara com ele, nem encontra-lo no elevador. Depois de quase dois meses nessa rotina, ela descobriu através de Severino, o porteiro que sabia de tudo e de todos, que Bruno só passava ali para pegar roupas.
– Acho que vamos ter um apartamento vazio no seu andar, Dona Fatinha.
– Só Fatinha, Sevê. Deixa o Dona pra daqui uns vinte anos! E quem vai se mudar?
– O seu.. - O porteiro foi interrompido pela moça.
– Já sei, já sei! É aquele senhor do 803? Me diz que sim! Semana passada não consegui dormir, ele colocou Roberto Carlos no último volume! Até reclamei com o porteio do turno da noite!
– Não, Dona Fatinha! Ops, Fatinha! Eu acho que quem vai se mudar é o seu Bruno. Ele só aparece aqui a tardinha, quando a senhorita tá no hospital. E sempre sai com uma mochila cheia de roupa. Ontem, saiu com uma mala! - Fatinha ficou atordoada ao ouvir o que Severino havia dito. Parte dela queria acreditar que era mentira. Ele também estava a evitando? Será que ele realmente vai se casar?
– E como você sabe que estava cheia de roupa, Sevê? Tem visão de raio-x agora?- Ela tentou brincar para disfarçar a tristeza que estava sentindo.
– Quem dera! Ele contou que veio pegar mais roupas, porque estava usando as mesmas peças todos os dias. E parece que a namorada dele não gosta muito de lavar roupa. Deixou um cesto cheio lá na casa da Dona Ju.
– O que você não sabe não é, Severino? Deve ter escutas em todo o prédio, além das câmeras é claro!
– Que nada! Só gosto de estar por dentro do prédio mais animado do Rio de Janeiro!
– Você está com o dia ganho! Deixa eu ir, que meu plantão só acaba às 21h!

Em outro bairro da cidade, Bruno pensava em como fugir dos compromissos que a irmã insistia em marcar. E todos, é claro, incluíam um certa loira, que ele fazia de tudo pra esquecer.
– Doutor Bruno, sua irmã está na linha 2 querendo falar com o senhor. Posso passar a ligação? - A voz da secretária se fez presente.
– Pode sim, Joana. Não tenho mais pra onde fugir! - disse resmungando, enquanto atendia o telefone.
– Olá, irmãozinho! Já estava pensando em ligar pra polícia e fazer uma queixa de exploração contra o seu chefe! É impossível que você viva em reuniões e fóruns em 24h por dia. Você ainda tem família e seu afilhado está morrendo de saudades! Daqui a pouco, ele vai esquecer de você!
– Bom dia, Juliana! Estou bem sim, obrigado pela preocupação. Prometo aparecer, as coisas estão corridas no escritório.
– Mas isso não é motivo pra não fazer uma ligação. Até a Fatinha que tá fazendo plantões malucos, aparece todos os dias pra falar com o afilhado e liga quando não dá tempo de vir até aqui!
– Plantões malucos? - ele se interessou.
– Sim! Hoje, ela chegou 5h manhã e saiu agora pouco para outro plantão.
– Ela deve saber o melhor para ela, Juliana. - A estilista percebeu a mudança de tom na voz do irmão.
– Não sabe não. Desde o aniversário de Davi ela está estranha! E por incrível que pareça, você também está! Acha que não percebi? Quando marco um jantar aqui em casa, se um aparece, o outro não vem. Nem na apresentação do Davi, mês passado, você foi! E não pensa que não sei, que você ligou para o papai pra saber quem estava lá. Ele me contou! E quero saber o motivo de vocês estarem tão estranhos!
– Não tem motivo nenhum, Jubs. - Ele falou tentando acalma-lá. - Eu liguei pra avisar que não poderia ir, e perguntei ao papai pra saber se eu faria ou não falta. Pelo que ele disse, até seus colegas do ensino médio foram.
– É verdade! A turma toda estava lá! - A moça concordou. - Mas isso não justifica, você, padrinho do Davi, ter faltado!
– Prometo que na próxima, eu vou! E o jantar depois será por minha conta.
– Ok, Bruno. Só mais uma pergunta! Você decidiu morar com a Ana e não ia me contar?- Ele sabia que mais ou mais tarde, ela viria com essa pergunta. Maldito Severino!
– Não, Ju. Tenho ficado na casa dela por esses dias, mas não estamos morando juntos. Pretendo casar antes disso. Hoje eu passo ai. E obrigada por levar minha roupa para lavanderia. Fico te devendo essa, mas agora preciso desligar! Fui! - Bruno nem deu tempo da irmã se despedir, o que a deixou com outra pulga atrás da orelha. Preciso entrar em ação! Esses dois estão estranhos por demais!, Juliana falava pra si mesma!

(...)

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.