Hayes Albuquerque

Sento na tampa do vaso e vejo a Madison mexer com ansiedade na necessaire.

— Achei – ela me entrega alguma coisa que nem fiz questão de saber o que eram, eu odeio remédios na maior parte do tempo – vai se sentir melhor logo.

— Obrigado – sorrio fraco e ela me ajuda a tomar o remédio.

Olho para meu corpo e grunho frustrado, minha blusa e meu short estavam meio sujos de vomito, de quando eu vomitei na Kayla.

— Precisa de um banho – Mad anuncia, parecendo notar para onde eu olhava.

— Me ajuda a tirar pelo menos a roupa? – pergunto constrangido e ela assente, sem se incomodar muito.

Estávamos em seu quarto e consequentemente, dentro do seu banheiro, por isso, sei que ninguém vai me procurar ali. Levanto os braços e ela tira minha camisa, logo me ajudando a levantar, ela apenas tira meu short e me deixa de cueca.

— Eu te espero lá fora – ela avisa e eu assinto, indo para o box com um pouco mais de cuidado para não me machucar, já que estou um pouco tonto.

Não demorei demais no banho, logo sai dali com uma toalha enrolada na cintura. Assim que abri a porta vi a Mad sentada na poltrona, mexendo no celular.

— Peguei umas roupas para você no quarto – ela aponta para a cama e eu agradeço, logo a pegando e voltando ao banheiro, mas não antes de notar que ela parecia vidrada no celular como se sua vida dependesse disso, ou seja, está com vergonha.

— Madison – chamo, e ela grunhe, me fazendo rir fraco – já me viu nu, até me ajudou a tirar a roupa agora a pouco, porque a vergonha? – pergunto me aproximando da poltrona.

— Vai vestir a roupa Hayes – ela ri nervosa e eu agacho em sua frente, mirando seus olhos.

Segurei sua mão e deixei um leve carinho ali com meu polegar, logo depositando um beijo em seu dorso, a fazendo sorrir fraco.

— Obrigada – digo baixinho e volto para o banheiro, para vestir minha roupa.

Assim que sai do banheiro, a Mad não estava mais ali, então eu voltei para o meu quarto, vendo a Kayla tirar a toalha do cabelo no momento em que entrei.

— Foi mal – murmuro e estendo a toalha no parapeito da janela.

— Tudo bem – ela caminha até mim e beija minhas costas – parece melhor, o que acha de...

— De o que? – a afasto e lhe olho sério.

— Fazermos o que pretendíamos fazer, antes de você passar mal.

— Não íamos fazer nada Kayla, eu não estou a fim e não é uma boa hora – digo me afastando por completo e saio do quarto, batendo a porta com um pouco mais de força do que o necessário.

Jack Colucci

Hayes desceu as escadas e se jogou no sofá ao meu lado, parecendo um pouco chateado.

— Se sente melhor? – pergunto o vendo de cabelos molhados, provavelmente tomou banho, ele afirma com um murmuro e eu volto minha atenção a TV.

— Onde está a Mad? – ele pergunta olhando por ali.

— Aqui – ela vem da cozinha e deposita uma bandeja com o que parecia ser uma sofá recém-feita, no colo dele – é para você tomar e ficar de estomago cheio.

— Obrigada – ele sorri embasbacado e eu nego.

Voltei minha atenção para o filme e não demorou muito para que eu caísse no sono.

[...]

Não sei em que momento foi, mas acordei deitado em minha cama, provavelmente alguém me guiou até aqui, porque eu estava com sono demais para lembrar disso. Foi quando meus olhos se abriram um pouco mais e a dormência passou, que senti alguém dedilhando meu abdômen, e quando mirei a mão, vi as unhas grandes, pintadas de preto, me fazendo sorrir.

— Skyler – murmuro sonolento e me viro para ela, fazendo ela franzir o cenho e abrir os olhos lentamente – vai me deixar excitado.

Seu sorriso é mínimo, mas o suficiente para saber que viria alguma gracinha em forma de comentário.

— Não é como se eu não quisesse, ou não desse conta – ela se aconchega nos meus braços e deixa um beijo carinhoso no meu peito.

Sorrio e a aperto, sentindo seu corpo relaxar, ficamos apenas dando carinho um no outro, até que voltei a dormir.

[...]

Acordei um pouco mais tarde, assustado com uma gritaria no andar de baixo.

— Que merda é essa agora? – resmungo e percebi a Sky ainda dormindo no meu braço – meu amor – acariciei seu rosto – acorda.

A sacodi de leve até que ela despertasse, percebendo só então a gritaria das meninas. O que é completamente estranho, devido ao fato da Skyler sempre acordar com tanta zoada, franzo o cenho e abro a boca para falar, mas ela já estava se levantando e saindo do quarto, me restando apenas a seguir.

— Que merda tá acontecendo? – a ouço gritar e as meninas se calarem – alguém?

— Tem um urso no porão de casa, porque a Coelhinha largou a porta dos fundos aberta – Angel fala raivosa, indicando a Clara que parecia culpada.

— Aonde estão os meninos? – pergunto confuso, por só ver as garotas ali.

— Tentando colocar o urso para fora – Lydia responde e Skyler solta um resmungo, que definitivamente parecendo com “eles provavelmente vão morrer”.

— Cadê o tranquilizante? – Skyler pergunta irritada.

— Na mão do Chris – Madison responde.

— Já volto – ela sai e as meninas me encaram franzindo o cenho.

— Nem me olhem assim – dou de ombros – vocês sabem que ela foi escoteira.

[...]

Passei pela porta e lá estava a Skyler muito dispersa e mexendo aleatoriamente em coisas que eu duvido que ela vá usar no momento.

— Okay – respiro fundo e me sento na cama, fazendo-a prestar atenção em mim – o que está acontecendo?

Cruzo os braços e espero, mas ela só me encarava, como se houvesse um conflito muito grande dentro de si, se passou pelo menos dois minutos naquele silêncio absurdo, até ela suspirar e largar a prancha de cabelo na bolsa, me encarando séria.

— Porque acha que tem algo acontecendo? – pergunta de cenho franzido e eu nego.

— Sky, eu te conheço o suficiente para saber que tem algo errado – digo impaciente e suspiro – vou perguntar de novo, o que está acontecendo?

Seu suspiro foi cabisbaixo, então ela caminhou até mim e sentou no meu colo, olhando para sua mão que estava entrelaçada a minha.

— Eu tenho duas coisas importantes para dizer, mas... não sei como contar – seu olhar era triste.

— Sky – seguro sua cintura com a mão livre e deixo um carinho ali, fazendo a se aconchegar no meu colo – sou eu, o seu Jack, aquele mesmo que esteve ao seu lado todo esse tempo, não precisa ter receio ou medo, só porque agora somos namorados.

Ela assente, enquanto assimilava minhas palavras da melhor maneira que podia.

— Eu ganhei um estágio em um hospital muito importante de Boston, logo depois de finalizar a faculdade, com um passe permanente para a residência em psicologia – ela diz e eu estendo um sorriso enorme de feliz – eu farei o estágio em uma rede daqui e depois irei para lá.

— Meu Deus amor, isso é incrível – a abraço animado, mas ela permanecia com aquele olhar triste, apesar do sorriso – mas, espera, você não está feliz.

— Jack... eu não sei se devo aceitar – murmura escondendo o rosto entre as mãos – minha vida está toda aqui, minhas amigas, minha família, você, e agora... – franzo o cenho e ela me olha, com os olhos cheios de lagrimas – Jack, eu... eu to grávida.

Eu gelei na hora, estava sem palavras, tantos sentimentos surgiram no meu peito que eu achei que fosse infartar. E novamente lá estava a Skyler com o rosto escondido entre as mãos, chorando, como se estivesse frágil demais para me encarar.

— Quanto tempo? – abaixo suas mãos e levanto seu rosto, para olhar nos seus olhos – está gravida de quanto tempo?

— Uma semana – ela dá de ombros cabisbaixa – fiz o exame admissional do estágio na quarta e deu positivo, eu...

— O que você quer fazer? – pergunto, por mais que eu queira tanto esse filho, não a forçarei a ficar com ele, caso não seja da sua vontade.

— Ele é nosso Jack, eu... – sua postura virou melancólica e seus olhos derrubaram as lagrimas por seu rosto – eu não posso fazer mal a ele, nem que eu quisesse – suas mãos inconscientemente foram para a barriga, enquanto parecia proteger a recém-vida que era gerada nela – é o nosso frutinho, eu desistiria de tudo por ele.

Assinto, alisando sua mão por cima da barriga e deixando um beijo em seu ombro, abrindo meu sorriso de quem ganhou na loteria.

— Então daremos um jeito meu amor, você vai aproveitar a oportunidade que lhe foi oferecida e nós ficaremos bem, vamos fazer isso funcionar – digo, enquanto arrasto meu nariz por sua bochecha, sentindo um sorriso brotar em seus lábios – eu te amo Skyler, e nenhuma distância ou situação pode mudar isso – sorrio e ela vira seu rosto para mim, me beijando.

Christian Colucci

Caminhamos pela rua grega e vários caras de máscara de fumaça entravam e saiam de uma das fraternidades do campus, não demorou muito para a Kayla sair correndo exasperada. Enquanto eu e o outros paramos na frente da KKT.

— O que acha que aconteceu? – pergunto confuso.

— É do controle de pragas Chris – Clover ri negando – com certeza deve ter insetos por aí.

— Okay, o que vocês aprontaram? – Hayes se vira para as quatro que pareciam espantadas com tal acusação.

— Eu não sei de nada – Lydia cruza os braços.

— Pare de acusar minha namorada – Cameron aponta para ele.

Hayes semicerra os olhos e as quatro pareciam realmente inocentes, mas vi o relance de um sorriso cínico surgir nos lábios da Loli, foi bem rápido, mas eu a conheço muito bem para saber que sim, elas aprontaram alguma coisa. Por isso, apenas nego e volto a olhar para frente.

— Senhorita Rinaldi e senhorita West? – um homem de terno cinza apareceu do nada.

— Sim? – Lydia o olha séria.

— Podem me acompanhar por favor?

— E porque ela deveria ir com você? - Cameron pergunta, se pondo na frente da Lydia.

— É um assunto de extrema importância e interesse delas.

— Tomás, o que houve? – Sky pergunta e nós a olhamos, nem a Lydia parecia saber quem era o homem.

— Você o conhece? – Madison pergunta curiosa, acho que como todos nós.

Skyler assente breve e deixa um beijo no Jack sussurrando um “te ligo mais tarde”, ele parecia preocupado, mas ao mesmo tempo apenas assentiu sério, a vendo sair com a Lydia sendo arrastada ao lado do homem alto.

— Quem é o cara? – Cameron pergunta confuso.

— É o detetive particular da família Rinaldi – Jack diz, ainda tinha o cenho franzido em clara preocupação.

— Acha que tem algo errado acontecendo? – pergunto.

— É obvio.

Skyler Rinaldi

Tomás estacionou o carro e antes mesmo de sair do carro, pude ver os carros de polícia ao redor da propriedade. Lydia me lançou um olhar preocupado e apertou minha mão, eu apenas murmurei um “está tudo bem”, e saímos do carro. Mas eu sabia que não estava, Tomás estava ali, então definitivamente tinha algo de errado.

Entramos em casa e o clima ali era de tristeza profunda, olhei ao redor e vi minha mãe e a tia Jade se afundando em lágrimas, papai e o tio Beck estavam conversando com um policial, talvez detetive, pela falta de farda. E Angel estava parada na janela, olhando para o nada. Outros policiais andavam por ali, parecendo analisar cada canto da casa, pericia, havia escrito nas suas costas.

Assim que o olhar da minha mãe caiu sobre mim, ela correu para os meus braços, me apertando, enquanto suas lagrimas molhavam minha blusa. Engoli em seco e me mantive em silencio, eu não tive coragem de perguntar, ninguém ainda havia dito do que aquilo se tratava, mas eu sei que não gostarei da notícia. Volto com ela para o sofá e a ponho sentada, Angel agora havia notado minha presença, por isso acenou com a cabeça, indicando a cozinha e eu assenti.

— Vou lhe fazer um chá – digo para minha mãe e ela assente, vendo meu pai se sentar ao lado dela e a aconchegar.

Caminho até a cozinha e a Lydia vinha atrás de mim, Angel já estava por ali, preparando as coisas para o chá. Ly se sentou no balcão e eu me escorei na soleira da porta.

— O que houve Annie? – pergunto, atraindo sua atenção para mim.

— A Rubi e o Nathan foram sequestrados – ela olha da Lydia para mim, seu olhar era vazio, e apesar do meu coração apertado, eu também fiquei sem demonstrar nenhuma reação, igualmente a Lydia, em uma coisa eu tinha certeza, nós sempre fomos frias o suficiente, até mesmo em uma situação como essa, sei que agora não vai ser o momento para nós chorarmos – eles estavam brincando no jardim de trás, a mamãe e a tia Jade estavam conversando na cozinha – Angel engoliu em seco, parecia que ia chorar, eu sei que ela não está aguentando mais – tia Jade me pediu para eu chama-los para lanchar, mas quando cheguei lá, não os achei, procurei em todos os esconderijos, quando eu voltei para casa, mamãe já estava desesperada com o celular na mão, me implorando para que eu dissesse que havia achado a Rubi.

Suas lagrimas caíram e eu caminhei até ela, a abraçando com cuidado, deixando que ela chorasse no meu ombro.

— Será que eu cheguei tarde demais Sky? – ela me olha com os olhos cheios de lagrima.

— Isso não é culpa sua Annie – digo simples – nós vamos acha-los.

[...]

Esfrego o prato, como se ele fosse a minha mente e como se tirar toda a sujeira, fosse me fazer ficar bem. Minhas lagrimas pingavam no chão da cozinha, terminei de enxaguar o prato e o coloquei no escorredor, mas uma tontura tão forte se apossou de mim, que precisei segurar no tampo da pia para me manter de pé. Respiro fundo, tentando controlar meu próprio corpo, e um corpo quente me abraçou por trás, permitindo que eu fechasse os olhos, tendo a certeza de que teria alguém para me segurar.

— Porque isso está acontecendo? – pergunto, derrubando mais lagrimas.

— Não sei meu amor – ele me aperta um pouco mais, o suficiente apenas para me fazer ficar confortável.

Me viro em seu abraço, agarrando seu tronco e deitando a cabeça em seu peito. Quase dez horas já haviam se passado desde que eu cheguei, e passei quase todas aquelas horas sem chorar, até que meu pai levou minha mãe para descansar, e Lydia levou a tia Jade para o quarto de hospedes, foi aí que consegui chorar, longe de todos, lavando os pratos do jantar.

Jack afagou meu cabelo e minhas pernas cederam, tendo o moreno como meu apoio. Ele me pegou no colo e me levou para a varanda, me pondo sentada no banco.

— Desde que horas você não come? – ele pergunta preocupado.

— Não sei, eu fiz o jantar, mas fiquei enjoada e não consegui comer – deito em seu colo, enquanto ele alisava meu cabelo.

— Eu já volto – ele beija minha cabeça e volta para a cozinha, logo trazendo um copo de suco e um sanduiche, acho que de presunto, meu favorito – por favor, pelo nosso brotinho.

Assinto e pego o alimento que ele me ofereceu, mesmo sem nenhuma fome, eu comi e depois de terminado, voltei a deitar no colo do Jack, que continuava ali, em silêncio.

Olho para a frente e vejo os brinquedos ali espalhados, do mesmo jeito que eles haviam deixado.

— Eles estavam brincando aqui – suspiro – porque alguém os levaria? Eles... Jack, e se fosse nosso bebe? Eu... – me calo, deixando mais lagrimas caírem.

— Ei – Jack aproxima seu rosto da minha bochecha e deixa um beijo – pare de pensar nisso, não é o nosso bebê e os dois logo vão aparecer, só... – ele suspira e deixa outro beijo no meu rosto – só não perca as esperanças.

— Eu nunca sonhei em ser mãe, sabe... – começo a dizer, sentindo toda sua atenção sobre mim – mas, quando a Rubi nasceu, eu me senti tão feliz, ela era tão pequena, eu ajudei muito a mamãe na criação da Rubi, a Angel foi ausente na vida dela, mas ela sabia que eu tinha uma gêmea, Rubi não a conhecia, mas a amava como me amava, por isso quando fui para a faculdade, pedi a Angel que viesse, pelo menos uma vez, e conhecesse a Rubi – fungo e suspiro – a Angel não falava comigo, mas aceitou vir – abro um sorriso mínimo com a lembrança – uma semana depois, Rubi ligou, dizendo que havia finalmente conhecido a Angel – um bolo surgiu na minha garganta e eu engasguei, me desabando em um choro compulsivo – eu quero minha irmã de volta.

— Você vai tê-la amor, logo eles estarão aqui – ele me deixa um beijo na testa e continua ali, apenas me dando apoio.