Por volta das dez da noite saí do quarto para ver se Ethan já tinha aparecido. E no exato momento em que saio, dou de caras com ele.

–Ethan! – abraço-o.

–Pequena! Isto são tudo saudades, ainda hoje me viste.

–Mas estive três anos sem te ver. – argumento.

–Por falar nisso tenho uma novidade para ti.

–Conta, conta.

–Vou duas semanas a casa. - Após Ethan se alistar no exército, ele nunca teve oportunidade de voltar a casa. Consequência disso, estava há três anos sem ver a família e agora, finalmente, ele poderia matar as saudades que tinha dela.

–Boa! Eu sei que é algo que desejas há muito tempo porque três anos é muito tempo. Gostava tanto de ir contigo.

–Verdade. E porque não vens? Não és tu que estás toda amiguinha da princesa? – Ethan provocou-me. Contei a Ethan, aliás só contei mesmo a ele nem a Malia eu contei, sobre o meu primeiro encontro com Selena e como nos estamos a tornar amigas após isso e Ethan sempre que tem oportunidade provoca-me insinuando que agora que estou amiga da realeza poderei ter privilégios.

–És mesmo parvo. – dou-lhe um soco no ombro. - Até posso ser amiga da Selena mas nunca me aproveitaria disso. A minha folga só é daqui a três semanas.

–Mas podias pedir-lhe assim virias comigo.

–Ethan, eu adorava ir contigo mas só uma razão muito forte me faria pedir isso à princesa. Além do mais, para a semana vem uma família real qualquer e Selena está uma pilha de nervos por causa do príncipe.

–Não me digas que temos casamento real nos próximos tempos?

–Nada disso, Selena odeia-o, disse que ele está sempre atrás dela cada vez que vem cá ou vice-versa e até está a tentar convencer o pai que um casamento arranjado com a princesa de Lusitana seria muito proveitoso.

–Que príncipe imbecil. Mas o rei adora a filha e acho que se ela dissesse que não queria casar com esse príncipe, o pai fazia-lhe a vontade.

–Sinceramente não sei, mas espero bem que ela não case com ele.

–Pois. Pequena, eu tenho de ir andando, daqui a pouco dão pela minha falta. Tens mais alguma coisa para me contar?

–Não. – ter eu até tinha mas preferi, para já, não lhe contar o que ouvi sobre o príncipe.

–Então eu vou andando. Se mudares de ideias e quiseres vir comigo estás à vontade. – abraçou-me e eu correspondi. Claro que se pudesse ir, eu iria, mas eu tenho um compromisso com o palácio e com a princesa e se a minha folga está estipulada para daqui a três semanas, será nessa altura que eu irei.

Ethan foi-se embora e eu regressei ao meu quarto onde Malia, Yara e Alison já dormiam.

No dia seguinte acordei às sete, arranjei-me, tomei o pequeno-almoço e fui para os aposentos de Selena. Quando cheguei, Selena ainda dormia. Acordei-a. Ela fartou-se de reclamar comigo a dizer que queria dormir, mas também tinha completa noção que tinha compromissos.

–Alexia, preciso que encontres o meu irmão e lhe digas que preciso de falar com ele. Pede-lhe para vir cá. – Selena pediu-me e eu congelei. Eu não queria ter de voltar a falar com o príncipe, não depois do que eu ouvi Alison falar. Recordo-me dos dois momentos em que falei com ele, mas lembro-me principalmente do que acho que ouvi na nossa segunda conversa, “Não me importava de volta a esbarrar em si”. Há dias que estas palavras não me saiam da cabeça porque se realmente o príncipe disse isto qual seria a intenção dele com tais palavras.

–Claro Selena, com licença. - saí em procura do príncipe.

Perguntei a um guarda que encontrei no caminho e ele disse-me que o príncipe se encontrava nos seus aposentos. Era o pior sítio que ele poderia estar, quanta sorte a minha. Segui até ao quarto do príncipe que eu sabia exatamente onde era porque, aquando a formação, todos nós teríamos de saber onde se localizava cada um dos compartimentos do palácio.

Cheguei ao pé da porta e bati. Rapidamente a porta foi ligeiramente aberta por um senhor com cerca de cinquenta anos, provavelmente o assistente pessoal do príncipe.

–Senhorita, deseja alguma coisa? – perguntou-me o senhor.

–Sim. Sou a dama de companhia da princesa Selena. Tenho um recado da princesa para o príncipe Killian.

–Espere um momento. – fechou a porta e provavelmente deve ter ido falar com o príncipe para ver se me podia receber. Rapidamente a porta voltou a ser aberta e o senhor “assistente pessoal” deixou-me entrar.

Em termos de estrutura, o quarto do príncipe é semelhante ao de Selena. Paredes brancas que, com o sol dão uma luminosidade maravilhosa ao quarto. Uma cama enorme de madeira branca, com uma mesinha de cabeceira de cada lado. No lado esquerdo estava uma secretária com um computador portátil e montes de pastas e documentos, com certeza neles estavam escritos os problemas do reino com que o futuro rei se iria deparar. Perto da secretária um piano. Tal como a irmã, também o príncipe gostava de tocar. Também como o dela, do lado direito encontravam-se duas portas, a do closet e a da toilet. E era a sair do closet que eu o vi. Muito elegante, como de todas as vezes que o vi, mas também a vez que o vi mais bonito, talvez por ainda não estar vestido tão formalmente e os seus cabelos estarem levemente despenteados.

–Alexia, Thomas disse-me que tinhas um recado da minha irmã. – então era Thomas o nome do “assistente pessoal”.

–Sim alteza. A princesa Selena pediu que comparecesse logo que possível nos seus aposentos, necessita de falar consigo. – respondo automaticamente. Não consigo estar perto do príncipe sem me lembrar do que Alison disse.

–Alexia está tudo bem? Estás pálida! – não, não está tudo bem, descobri que o futuro rei de Lusitana é um mulherengo mesmo estando comprometido com uma princesa estrangeira.

–Está tudo ótimo. – mentira, está tudo péssimo.

–Não parece. – o príncipe aproximou-se de mim e eu automaticamente dei um passo atrás. Ele dava um passo para a frente e eu continuava a recuar. Tanto recuei que acabei caindo em cima da cama do príncipe. Boa Alexia, não podias ter mais azar que este. Ele continuava a aproximar-se cada vez mais e eu não sabia o que fazer.

–Não se aproxime. – consegui dizer.

–Alexia, qual é o problema? – agora aproximava a mão dele de mim e eu instintivamente dei-lhe uma sapatada na mão. Ele olhou-me incrédulo com a atitude que eu tive, onde já se viu uma criada agredir o príncipe, mas eu não queria saber, eu precisava de sair dali. E foi o que fiz. Levantei, corri até à porta e saí, ouvindo o príncipe chamar pelo meu nome.