Realeza em tanto

Capítulo 24


Acordei com a claridade que vinha das janelas. Espreguicei-me e o meu braço tocou noutro braço. Espera aí…voltei-me e encontrei Killian ao meu lado. Nós adormecemos. Merda! Tivemos uma sorte em não termos sido apanhados. Abanei-o para ele acordar, mas nada, apenas resmungou qualquer coisa que eu não conseguia entender.

–Killian acorda. – chamei.

–Desaparece Thomas, eu quero dormir. – falou Killian voltando-se para o outro lado.

–Killian não é o Thomas. É a Alexia. Acorda! – pedi. Killian voltou-se para mim, ainda de olhos fechados e sorriu.

–Isto só pode ser um sonho. Acordar ao lado da minha princesa. – disse Killian. Abriu os olhos e roubou-me um beijo. Eu claro, não resisti. Quer dizer, afastei-me quando me lembrei que podíamos ser apanhados a qualquer momento. – Nos meus sonhos, tu não te afastas. – resmungou Killian fazendo um beicinho.

–Para… - calei-me porque ouvi barulhos do lado de fora. Era agora, era agora que íamos ser apanhados. Não sei como, mas consegui reagir escondendo-me debaixo da secretária. Killian não percebeu o que eu estava a fazer até ver alguém a abrir a porta do escritório.

–Estás aqui Killian. – falou a Rainha Isabella quando entrou. Ainda pior do que ser apanhada com o príncipe era ser apanhada com o príncipe pela Rainha. É verdade que o Killian me disse que contaria sobre nós mas que primeiro prepararia a mãe para isso. – Eu já disse ao teu pai que ele te anda a subcarregar com o trabalho. Onde já se viu dormires no escritório.

–Mãe a culpa não é do pai, eu é que me descuidei e acabei por adormecer.

–Querido, tu sabes bem que agora tens de descansar mais afinal estás noivo. O que me lembra que a Eva anda à tua procura, ela disse-me que combinaram um passeio.

–Sim combinamos, mas só é mais tarde.

–Espero que esteja tudo a correr bem Killian e que estejas a tratar a Eva da melhor forma possível. – repreendeu a Rainha Isabella – A Eva é uma menina encantadora.

–Sim é. Vejo que já se tornaram amigas…

–Amigas e confidentes, querido. – interrompeu a Rainha Isabella – Nós estamos muito próximas. – continuou a Rainha. Não sei porquê mas custou ouvir aquelas palavras. Confesso que não gosto lá muito da Rainha por causa do que aconteceu no dia em que a Selena foi envenenada mas mesmo assim ela é a mãe do Killian. Inconscientemente (ou conscientemente) pode influenciar o filho, ao falar muito bem da princesa, ainda pra mais que agora andam amiguinhas. Custa admitir mas sinto um pouco de inveja por a princesa Eva ter o apoio dos pais de Killian (porque de certeza que o pai de Killian também apoia este casamente a cem por cento).

–Ainda bem. – disse Killian, mas pelo que conhecia dele, notei que ele estava tão incomodado quanto eu pela proximidade que existia entre a princesa e a mãe dele. – Agora preciso de ir tomar um banho para depois começar a trabalhar. Com licença, mãe. – aproximou-se da Rainha e deu-lhe um beijo na bochecha. De seguida saiu.

A Rainha ainda ficou um bocado no escritório. Parecia pensativa. Olhou a todo o seu redor como se procurasse algo. Estranhei. Afinal o que é que ela tanto procurava ali. Parecia até que…não isso é impossível.

–Este casamento tem de acontecer o mais rápido possível. – sussurrou a Rainha para ela própria mas mesmo assim consegui ouvir. E aquele incómodo de há pouco voltou. A Rainha queria tanto aquele casamento…não sei se ouvirá Killian quando ele contar sobre nós, não sei o que irá acontecer. Só espero que no fim dê tudo certo.

A Rainha saiu pouco depois. Esperei cerca de dez minutos para dar tempo de a Rainha estar bem longe dali. Não queria ser apanhada. Saí sem ser vista e fui o mais rápido que consegui até ao meu quarto. Já estava atrasada para o trabalho. O que vale é que a Selena não se importa. Mas antes que consiga entrar no quarto, sinto alguém a agarrar-me. Olho e vejo que é apenas Ethan. Ethan abre a porta do meu quarto e entra comigo para lá.

–Onde é que te meteste? – perguntou Ethan aflito – Pensei que te tinha acontecido alguma coisa.

–Estás a exagerar Ethan. O que é que poderia ter acontecido? – perguntei. Eu sabia que Ethan sempre fora muito protetor comigo mas agora ele estava a exagerar.

–O que é que podia ter acontecido? Estás a brincar? Talvez alguém ter apanhado tu e o príncipe juntos? Achas que isso não seria grave? Achas que estou a exagerar? Achas que não valia a pena ficar preocupado? – perguntava Ethan. Notava-se perfeitamente o desespero na voz dele com medo que alguma coisa tivesse acontecido comigo. Eu fiquei sem saber o que dizer. Sabia que Ethan tinha razão para ter ficado preocupado.

–Desculpa. – pedi.

–Ah, então afinal achas a situação grave. Deixaste toda a gente preocupada contigo. Isso não se faz, Alexia.

–Já percebi Ethan. – respondi alto demais para chamar a atenção de Ethan. – Desculpa. Eu não percebi a gravidade da situação. Eu adormeci.

–Adormeceste onde? – perguntou Ethan curioso aproximando-se de mim.

–Num escritório no terceiro andar. Estive ontem à noite com o Killian e acabamos por adormecer. – contei. Acho que a minha confissão ainda foi pior do que se eu não tivesse contado nada só pela cara que Ethan fez.

–Tu adormeceste Alexia? Tu sabes o que podia ter acontecido se alguém vos tivesse apanhado? – perguntou Ethan irritado. Ele já estava vermelho talvez por se estar a controlar para não gritar.

–Sim Ethan, eu sei o que podia ter acontecido. Mas não aconteceu nada por isso não vamos pensar no pior. – disse. Achei melhor não lhe contar que a Rainha quase nos apanhara. Aí é que Ethan se passava. – Ethan, eu sei que estavas preocupado e peço desculpa por teres ficado assim por minha causa.

–Pequenina, tu sabes bem que sim. Mas pronto, o importante é que vocês não foram apanhados. Anda cá. – Ethan puxou-me para um abraço que eu prontamente retribuí.

Saímos do quarto e tomamos rumos diferentes. Ethan tinha de continuar a ronda e eu tinha de me apressar para chegar ao quarto de Selena, já estava quase duas horas atrasada. Entrei sem bater, arrependendo-me logo em seguida. Quem estava no quarto era a princesa Eva e não Selena.

–Desculpe. – pedi e fiz uma reverência.

–Não faz mal querida. – respondeu a princesa Eva docemente – És a Alexia, certo? – acenei que sim – A Selena foi até à governanta para saber se se tinha passado alguma coisa contigo. Mas, graças a Deus, não se passou nada.

–Pois é. Eu só adormeci, deve ser do trabalho acumulado. – justifiquei-me – Com licença, tenho de começar a trabalhar. – disse. Era completamente estranho estar ali a falar normalmente com a noiva da pessoa pela qual estou apaixonada.

–Claro Alexia. Não te atrases por minha causa. – disse a princesa Eva. Por momentos senti-me mal. A princesa Eva não tinha culpa de nada. Ela fora obrigada a casar com um completo desconhecido e agora que possivelmente se está a apaixonar por esse desconhecido, é trocada por uma criada. Eu sei que o melhor é o Killian ser sincero com ela mas mesmo assim imagino o quanto ela vai sofrer. Uma pessoa tão doce como a princesa Eva não merecia sofrer.

–Alexia posso fazer-te uma pergunta? – perguntou a princesa chamando a minha atenção. O que é que ela poderia querer com uma simples criada.

–Claro alteza. – respondi.

–A Selena e o Killian são muito próximos?

–Sim alteza.

–Então com certeza ela saberá o que o Killian sente por mim. – disse a princesa.

–Sim alteza. – respondi levemente incomodada. Só espero que a princesa não tenha dado conta.

–Acho que lhe vou perguntar para saber se ela sabe alguma coisa. Obrigada Alexia. – agradeceu a princesa.

–De nada, alteza. – respondi.

O resto do tempo em que estivemos sozinhas, permanecemos caladas. Eu fazia o meu trabalho matinal para me abstrair do breve diálogo que tive com a princesa. Já a princesa Eva estava entretida a ler um livro enquanto esperava por Selena.

Selena demorou a aparecer. Mas quando vi a porta do quarto dela ser aberta, suspirei aliviada. Selena mal me viu, correu até mim sem se importar com a princesa Eva.

–O que é que aconteceu? Porque te atrasaste? – perguntou Selena visivelmente preocupada.

–Falamos mais tarde. – sussurrei para que só Selena ouvisse. Selena apenas concordou.

–Preciso que vás até à Genoveve, ela deve andar à tua procura porque eu disse que não sabia onde estavas.

–Está bem. Com licença altezas. – fiz uma reverência e saí.

Perguntei ao guarda que estava na porta do quarto de Selena se sabia onde se encontrava Genoveve. Ele respondeu que ela estava na cozinha e eu segui para lá. Encontrei-a imediatamente com o seu cabelo perfeitamente alinhado e farda usual de governanta. Expliquei o que aconteceu, ou seja, disse que adormeci. Genoveve repreendeu-me, disse que era inaceitável uma criada do palácio se atrasar para o seu trabalho e fez-me prometer que isso nunca mais voltaria a acontecer.

Estava pronta para voltar ao quarto quando vejo Malia a aproximar-se.

–Onde é que estavas? Eu e o Ethan estávamos completamente preocupados.

–Selena. – respondei e Malia percebeu. Eu detestava mentir para Malia mas naquele caso era extremamente necessário. Eu não podia dizer que tinha adormecido porque eu e ela dormíamos no mesmo quarto. Por isso a única solução era dizer que tinha ficado toda a noite no quarto de Selena em serviço.

Falei brevemente com Malia e depois segui para o quarto de Selena. Só esperava que a princesa Eva não estivesse por lá. A princesa Eva era uma vítima no meio daquilo tudo. Eu sentia-me mal por lhe estar a fazer isto. Eu estava a roubar-lhe o noivo. Uma pessoa inocente iria sofrer pelo que eu e Killian sentíamos um pelo outro.

Para minha sorte, a princesa Eva já não estava no quarto. Selena encontrava-se sozinha.

–Olha se não é a minha criada favorita. – cumprimentou Selena com um enorme sorriso que rapidamente desapareceu –Tu podes explicar-me onde raios é que tu estavas? – perguntou Selena furiosa.

Mais uma vez contei o que tinha acontecido. Mas, ao contrário de Ethan, Selena achou emocionante tudo o que aconteceu entre mim e Killian. Ela estava feliz por nós finalmente termos assumido tudo um para o outro.

Rapidamente o assunto mudou e agora Selena contava-me que estava a conhecer o príncipe Adam e que estava a gostar muito dele. Mas ela não conseguiu contar tudo porque alguém bateu à porta. Fui abrir. Quando abrir, só senti um pano no meu nariz que fez com que eu apagasse completamente.