Realeza em tanto

Capítulo 14


A partir daquele dia, eu e Killian encontrávamo-nos todos os dias naquele pequeno escritório com o objetivo de descobrir quem tinha envenenado Selena. Já havia passado mais de duas semanas e os nossos avanços tinham sido insignificantes, apenas a eliminação de mais alguns nomes.

Eu começava a ficar sem esperança de descobrir quem tinha feito isto a Selena. De nós os dois, Killian era o mais otimista, era aquele que, quando me via prestes a desistir, me dava ânimo para continuar porque a nossa busca não seria em vão. Eu realmente queria acreditar naquilo. Eu realmente queria descobrir a verdade mas a cada dia isso me parecia mais impossível. Não existiam provas nenhumas, não existia nada que nos pudesse levar a alguém. Se o culpado ao menos se tivesse descuidado…

–Neste momento temos cerca de cem suspeitos. – disse Killian tentando soar otimista. Boa, já nem ele acreditava que iríamos encontrar o culpado. Em sinal de desespero levei as mãos à cabeça. – Não fiques assim Alexia, nós iremos descobrir quem fez isto à Selena.

–Já nem tu acreditas nisso, Killian. – disse desesperada. – Eu não sei se algum dia descobriremos quem foi.

Já não existiam formalidades nenhumas entre mim e Killian. Após o seu pedido de amizade (parece que estamos em alguma rede social), Killian pediu-me que eu o tratasse por tu. Ao princípio foi complicado pois trata-lo por você já era algo que eu fazia mecanicamente por ele ser alguém a quem eu devo respeitar por ser o meu soberano. Mas, após algum tempo, eu habituei-me. E agora já o considerava um grande amigo.

–Não digas isso, nós vamos descobrir, eu sei que vamos. – e lá vai ele começar com o seu discurso otimista, a sério aquilo já me estava a enervar.

–Para Killian! – ele assustou-se com o meu tom de voz – Não tentes ser otimista nesta situação. Eu vou andando, a tua irmã já deve estar a perguntar-se onde eu ando.

Saí sem esperar a resposta de Killian. Como disse, certas formalidades foram deixadas de lado. Não é que eu algum dia me tenha preocupado que ele dissesse alguma coisa quando eu saía do sítio onde ele estava, visto que, já saí assim quando o agredi e quando ele me beijou.

A agressão…um simples empurrão quando ele se aproximou muito de mim. Naquela altura eu acreditava que ela era um mulherengo que se aproveitava das criadas. Como fui tola ao acreditar no que Alison dissera. Killian é um homem íntegro que jamais faria uma coisa daquelas. Apesar de dias depois, ele tenha-me beijado. O beijo…era algo que eu tinha pedido para esquecermos e Killian concordara comigo mas às vezes parecia-me impossível esquecer. Às vezes dava por mim a pensar no doce sabor a hortelã dos seus lábios. Mas não podia, este era um assunto encerrado para ambos os lados. Ele é o príncipe e eu a criada, cada macaco no seu galho.

Encaminhei-me até ao quarto de Selena. Ela já se encontrava lá. Perguntou onde eu estava e eu disse-lhe que tinha ido ver dos seus vestidos. Acho que ela não acreditou muito na minha história mas mesmo assim não protestou.

Para variar um bocadinho, Selena pediu-me que fosse buscar alguma coisa para ela comer. Assim fui até à cozinha. Ao chegar lá, procurei por Malia. A partir do dia que Selena foi envenenada, eu pedia sempre a Malia que preparasse as refeições dela. Não que eu acreditasse que qualquer um dos outros empregados tenha alguma coisa a ver com o envenenamento mas eu realmente confiava em Malia.

Avistei-a num canto da cozinha e reparei que ela não estava sozinha. Ela estava com uma rapariga loira e essa rapariga parecia que estava…a chorar? Rapidamente fui até elas pois poderia ser algo grave.

–Está tudo bem? – perguntei completamente preocupada.

–Não sei Alexia. Estávamos a falar sobre a saúde débil da princesa e de um momento para o outro a Emily começou a chorar.

Quando Malia se referiu à saúde débil de Selena eu sei bem o que ela queria dizer. Quando Selena foi parar à ala hospitalar, eu acabei por contar a Malia o que realmente tinha acontecido. Sei que agi por impulso e não o deveria ter feito mas Malia é uma grande amiga e eu sabia que ela não tinha nada a ver com isso. Ela logo prometeu que não contaria a ninguém quando viu o meu desespero por lhe ter contado aquilo acidentalmente. A partir daí, Malia tem-me ajudado a tentar descobrir quem tinha feito aquilo com Selena. E aquela conversa que ela estava a ter com Emily tinha sido propositada pois nós tínhamos combinado que ela faria isso para ver as reações das diferentes pessoas com quem falava.

Killian não sabia de nada, aliás ele tinha exigido que ninguém soubesse disto para que o culpado se sentisse mais à vontade e acabasse por cometer um erro. Acho que, se ele descobrisse que eu contei a verdade a Malia, não iria ficar muito feliz comigo.

–Eu…não devia…não…podia… – Emily soluçava enquanto dizia frases sem sentido.

–Emily. – chamei. Só agora ela tinha notado a minha presença – Acalma-te, está tudo bem. – tentei acalmá-la.

–Não está…tudo bem. – disse Emily chorosa.

–Então que se passa Emily? – perguntou Malia completamente preocupada – Podes confiar em nós.

–Eu não devia ter feito aquilo…mas ele obrigou-me. – disse Emily. Eu não compreendia o que ela queria dizer com aquilo e ao olhar para Malia vi que ela também não entendia.

–Mas ele obrigou-te a fazer o quê? – perguntei.

–Eu sou a causa da princesa Selena ter adoecido. – disse Emily. Olhei para Malia e ela estava com a mesma cara que eu, a cara de espanto, a cara de quem não acreditava no que acabara de ouvir.

–Foste tu que a envenenaste? – perguntei. Emily olhou para mim e a sua cara era de horror.

–Oh meu Deus! Alexia! Agora estou completamente desgraçada! – disse Emily completamente desesperada e começando a chorar compulsivamente. Provavelmente ela reconheceu-me como sendo a dama de companhia da princesa.

–Malia deixa-me falar com a Emily a sós. – disse. Malia assentiu e retirou-se – Emily acalma-te, por favor.

–Como é queres que eu me acalme? Tu vais contar tudo à princesa e eu serei presa. Ou pior, serei morta! – notava-se o desespero de Emily na voz.

–Emily, por favor, ouve-me. – ela olhou para mim. Os seus olhos verdes estavam inchados por causa do choro. Ela assentiu com a cabeça para que eu prosseguisse – Eu preciso de saber quais foram os teus motivos.

–Ele…ele chantageou-me. Se eu não fizesse isso, ele conseguiria colocar-me na cadeia. Tudo o que eu menos quero é ir para a cadeia Alexia. Por favor, eu não ia aguentar! O meu pai não ia aguentar. – Emily estava mesmo desesperada. Eu compreendia perfeitamente a sua questão em relação ao pai. Era a mesma que eu tinha com a minha mãe. A última coisa que eu iria querer, era desiludir a minha mãe.

–Mas ele quem, Emily?

–Não posso contar. Não sei o que será de mim.

–Emily, por favor, eu preciso de saber quem foi.

–Não posso, desculpa. – e fugiu dali sem eu ter hipótese de reação para a impedir.

Ao início fiquei irritada pela fuga dela, afinal eu precisava mesmo de saber quem a mandou fazer aquilo. Mas por outro lado eu a compreendia. Emily estava totalmente assustada, com medo do que lhe possa acontecer.

Com o que tinha acabado de descobrir até me esqueci da comida para a Selena. A esta hora, ela já devia estar furiosa. Deixar Selena com fome é a mesma coisa que prender um leão numa jaula, um inferno. Por isso, como vi que não conseguiria mais nada com Emily, fui até Malia que já tinha o tabuleiro com a comida de Selena pronta.

Voltei ao quarto e, como previra, Selena estava furiosa. Arranjei uma desculpa para a minha demora e Selena acreditou. Entretanto, arranjei uma outra desculpa para me ausentar do quarto por um momento. Precisava de contar a Killian o que tinha descoberto.

Fui até ao quarto de Killian, que era no mesmo corredor, e bati à porta. Thomas abriu a porta e eu disse-lhe que tinha um recado da princesa para o príncipe. Por sorte, Killian já se encontrava nos seus aposentos. Entrei e Killian pediu a Thomas para lhe arranjar algo para comer como pretexto para nos deixar a sós.

–Então minha querida Alexia vieste pedir desculpas pelos teus maus modos? – perguntou Killian sarcástico. E subitamente lembrei-me que na nossa última conversa, que tinha ocorrido há pouco mais de uma hora, eu tinha saído meia chateada.

–Para de brincadeiras, tenho novidades. – e assim o rosto de Killian, que antes estava com um sorriso, tomou um ar sério. Ele sabia a que é que eu me referia. Sabia que eu tinha descoberto algo.

–Descobriste quem envenenou Selena? – perguntou Killian esperançoso.

–Sim e não. – Killian olhou-me confuso. – Sei quem colocou o veneno na comida mas não sei quem realmente queria fazer mal a Selena.

–Como assim?

Contei tudo o que descobrira a Killian, exceto quem tinha colocado o veneno. Eu sei que, se Killian soubesse, que tinha sido Emily a fazer isso a despediria imediatamente e a mandaria para a cadeia. Mas, na minha opinião, até poderia ter sido Emily a colocar o veneno, mas a pessoa que realmente queria fazer mal a Selena não era ela mas sim uma outra. Uma outra que Emily se recusava incessantemente a dizer quem era por medo. Medo do que lhe pudesse acontecer.

–Mas quem foi a criada, afinal? – perguntou-me Killian impaciente.

–Não te vou contar quem foi porque já sei o que vais fazer e sou completamente contra!

–És completamente contra por mandar prender quem envenenou Selena? Por amor de Deus Alexia, tu não estás a medir bem as tuas palavras. - E lá iríamos nós para mais uma discussão.

–Killian ouve-me. Essa pessoa fez isso porque foi chantageada. Tu não entendes? Ela não queria fazer isso, ela foi obrigada. Apesar de ter sido ela a colocar o veneno, não era ela quem queria realmente fazer mal a Selena.

–Mas…

–Mas nada Killian. Eu quero descobrir quem foi tanto como tu mas não é a mandar pessoas inocentes para a cadeia que vamos conseguir, entendes?

–Talvez tenhas razão. – disse Killian. Aleluia ele entendeu. – Mas como pensas descobrir quem foi?

Eu não sabia o que responder a Killian. Eu não tinha ideia de como iria descobrir porque eu tinha quase a certeza que Emily não falaria.

–Não… - interrompi o que ia dizer – Eu tive uma ideia.