Realeza em tanto

Capítulo 12


Passaram-se dias desde que Selena foi envenenada. Nestes dias, Selena ficou sob vigilância na ala hospitalar e as únicas visitas que podia receber eram os pais e o irmão. Eu bem tentei vê-la mas não me deixaram.

A família real optou por não tornar público este acontecimento, uma opção compreensível. Todo o palácio sabia que a princesa se encontrava na ala hospitalar mas os boatos que corriam pelo palácio era que Selena adoecera.

Durante os dias que passaram não voltei a ver o príncipe Killian. Tanto eu como ele continuávamos a investigar quem tinha envenenado Selena. O facto de nós ainda não nos termos encontrado só queria dizer uma coisa, ainda nenhum de nós tinha descoberto algo sobre o que tinha acontecido. Eu andei atenta a todas as conversas que conseguia ouvir para ver se tinham a ver com o ocorrido mas não consegui descobrir nada. Sentia-me completamente frustrada por não ter descoberto nada. Pode ser que o príncipe tenha tido mais sorte, espero.

Hoje era o dia em que Selena sairia da ala hospitalar. Não sabia a que horas ela iria para ao seus aposentos por isso acordei um pouco mais cedo para dar um jeito ao quarto dela.

A meio da manhã ouço a porta do quarto abrir-se e quando me viro vejo que é Selena e o príncipe Killian. Sem me conter corro até eles e abraço Selena com todas as minhas forças.

–Fiquei tão preocupada. Pensei no pior. – sussurrei para Selena.

–Calma Alexia, não te vais ver livre de mim assim tão facilmente. – brincou Selena. Ao menos estava bem disposta.

–Espero bem que não. – sorri. Voltei-me para o príncipe. – Alteza, quais são as recomendações do médico? – perguntei.

–Repouso absoluto, só assim é que o doutor Granger deixou sair a minha irmã mais cedo. – respondeu o príncipe.

–Mas o que ele não vê, ele não sabe, não é maninho? – perguntou Selena ao irmão fazendo uma cara de cachorrinho abandonado. Algo me dizia que o príncipe não iria cair na cantiga da irmã até porque eu assisti ao desespero dele quando a irmã não se encontrava bem.

–Nem penses Selena. Espero que não seja preciso arrastar-te até à cama. – avisou o príncipe. Selena percebeu que não tinha hipóteses e que o seu irmão estava a falar a sério. Assim Selena dirigiu-se até à cama onde se sentou com cara emburrada. – Escusas de me olhar assim porque eu não vou mudar de ideias. Tens de obedecer ao que te disseram se não ainda tens uma recaída e depois voltas para a ala hospitalar.

–Tudo menos a ala hospitalar. – suspirou - Pronto Killian ganhaste, eu não saio da cama. – resignou-se Selena. Eu estava a achar piada aquele momento pois eles pareciam dois irmãos de uma família normal a discutir trivialidades. Mas eles não eram uma família normal, eles faziam parte da família real.

–Muito bem. Alexia podes, por favor, buscar água e alguma coisa para ela comer? – perguntou o príncipe.

–Claro. – fiz uma reverência e saí do quarto.

Fui até à cozinha e encontrei a Malia. Pedi-lhe uma bandeja com um copo de água, uns biscoitos e uma fatia de bolo de chocolate que notei que tinha acabado de sair do forno. Selena ia adorar. Rapidamente Malia atendeu o meu pedido com a ajuda de outros. Todos os empregados pareciam-me extremamente simpáticos e prestáveis. Não conseguia imaginar ninguém daqui que quisesse fazer mal a Selena.

Voltei com bandeja até ao quarto de Selena. Como ela estava acompanhada achei melhor bater à porta, afinal o que poderiam pensar de mim se eu não o fizesse, eu era uma simples criada. Ouvi o príncipe Killian dizer para entrar e eu assim o fiz.

Estranhei o silêncio, afinal qualquer lugar onde Selena estivesse era uma animação.

–Ela adormeceu. – esclareceu-me o príncipe. Provavelmente notou a minha cara de dúvida. – O doutor disse que era normal este cansaço. – assenti.

Coloquei o tabuleiro na mesa ao lado da cama. Ficaria para mais tarde porque se há coisa que Selena sempre tem é fome.

Reparei que o príncipe Killian continuava sentado na poltrona. Esta seria uma ótima oportunidade para saber se ele tinha descoberto alguma coisa.

–Alteza – chamei e o príncipe olhou na minha direção – Eu queria saber se já descobriu alguma coisa?

–Sim. Falei com o doutor Granger e ele disse-me que a minha irmã foi envenenada no dia que foi internada. Por isso decidi pedir à Genoveve a lista dos criados e guardas que trabalharam nesse dia. – contou-me o príncipe. Brilhante ideia a dele em ter pedido essa lista.

–Foi uma excelente ideia. E já conseguiu chegar a algum nome? – perguntei.

–Ainda não tive tempo de pegar nos papéis. Estive maior parte do tempo com a Selena.

–Compreendo.

–Tive uma ideia! – exclamou o príncipe.

–Diga. – notava-se o entusiasmo na minha voz.

–Nós estamos aqui os dois sem nada para fazer, certo? – assenti – Eu tenho os papéis no meu quarto. Posso ir buscá-los e juntos podemos ver as pessoas que trabalharam nesse dia.

–É isso, Alteza! Quanto mais rápido descobrirmos quem envenenou Selena melhor.

–Então eu vou só ali ao meu quarto buscá-los e já venho. – levantou-se e dirigiu-se à porta. Antes de a abrir voltou-se para mim. – Alexia queria só fazer-te um pedido.

–No que eu puder ajudar, Alteza.

–Trata-me pelo nome. – pediu e eu fiquei surpresa com o pedido dele.

–Mas…

–Sem mas Alexia. A Selena fez-te o mesmo pedido e tu concordaste. Eu peço-te o mesmo.

–Está bem Alteza. – concordei.

–Killian, Alexia, trata-me por Killian.

–Está bem, Killian. – corei e Killian sorriu e saiu.

Era a primeira vez que tratava o príncipe pelo nome e tenho de admitir que gostei do seu pedido e gostei ainda mais da forma como o seu nome soou na minha voz.

Killian não demorou muito e logo já estávamos os dois sentados a ver a lista de empregados que trabalharam no dia em que Selena fora envenenada.

Vi o nome de Ethan e lembrei-me que nesta altura ele estava provavelmente a ajudar a mãe em algo ou nos trabalhos de casa de algum dos irmãos. Sorri com a lembrança. Sei que ele está feliz por estar ao pé dos que ama. Peguei numa caneta e risquei o nome dele. Sei que ele seria incapaz de fazer uma atrocidade destas. O meu gesto não passou despercebido pelo príncipe.

–Porque riscaste esse nome? – perguntou curioso o príncipe.

–Só estou a eliminar suspeitos. – Killian fez uma cara de quem não estava a perceber o que eu queria dizer com aquilo. – Eu conheço este guarda, é meu amigo de infância e sei que seria incapaz de fazer mal a alguém. – expliquei.

–Tens a certeza? – perguntou relutante. Claro que eu tinha a certeza, eu conhecia o Ethan tão bem como me conhecia a mim.

–É uma das poucas pessoas por quem eu poria as mãos no fogo.

–Ele é um homem de sorte. – disse Killian. Ele parecia triste, não sei porquê mas parecia.

–Porquê? – perguntei confusa.

–Por ter alguém como tu. Alguém que o defende com todas as suas forças. – corei.

–Obrigada. – agradeci. Aquele momento estava a ficar completamente constrangedor. – É melhor voltarmos ao trabalho.

E assim continuamos. Só agora pude ter a percepção de quantas pessoas trabalham aqui. E nem sequer estão todas. Ao longo da lista encontrei também o nome da Malia. Risquei-o também. É verdade que não a conhecia há muito tempo mas tempo suficiente para saber que ela não seria capaz de envenenar alguém. Desta vez Killian não disse nada.

Quando estava quase a chegar ao fim da lista, deparei-me com um nome conhecido. Alison Fields. Seria possível que ela tivesse envenenado Selena como uma forma de vingança por Killian a ter tirado do seu posto? Era uma hipótese. Ela teria um motivo. Decidi partilhar a minha opinião com Killian.

–Al…Killian – ele olhou para mim - encontrei um nome que talvez nos interesse.

–Qual?

–Alison Fields. A rapariga que inventou aquela história consigo. – disse. Lembrei-me do momento em que ouvi Alison contar à Yara toda aquela história mirabolante na qual eu acreditei.

–É uma questão a ponderar, mas acho que poderá não ser ela quem procuramos. – abri a minha boca em sinal de espanto.

–Porque a exclui assim tão rapidamente? – perguntei indignada. Ela tinha inventado uma história sobre eles os dois como é que ele ainda a podia defender?

–Porque ela sabe que poderá perder o emprego. E, além do mais, se ela realmente quisesse algo comigo, não seria matando a minha irmã que conseguiria.

–Mesmo assim acho que é uma pessoa que devemos investigar. – disse decidida.

–Para quem a defendeu no outro dia e pediu para que não a despedisse, estás muito convicta que poderá ter sido ela. – Killian sorria de lado. É impressão minha ou ele está a divertir-se com o que eu estou a dizer. É da possível assassina da irmã que estamos a falar!

–Desculpe mas eu no outro dia não a defendi, simplesmente pedi para que ela não fosse despedida por causa da família dela. Aposto que eles precisam tanto do dinheiro como eu para a minha. – falei completamente chateada – É melhor voltarmos ao trabalho. – e voltei a olhar para as folhas.

–A tua família precisa muito do dinheiro? – perguntou Killian curioso. Só me apetecia responder que eu precisava do dinheiro para levar a minha mãe e os meus irmãos para longe do meu pai, mas isso era algo que eu nunca contaria a ele.

–Sim precisa, como qualquer outra família de Lusitana. – respondei seca. Ainda estava ressentida por Killian ter defendido Alison. – Vamos continuar a ver as listas.

Não falamos mais nada. Mantivemo-nos em silêncio, cada um concentrado nos pedaços de papel que tinha à frente. Ao fim de algum tempo terminamos. Cada um eliminou as pessoas que achava que não seriam capazes disto. Mas mesmo assim ainda ficaram muitos nomes para investigar.

–Alexia. – voltei-me para ele e os nossos olhares encontraram-se.

–Diga. – ainda se notava na minha voz que eu estava ressentida por ele ter excluído Alison tão facilmente.

Killian parecia incerto sobre o que ia dizer mas acabou por falar.

–Selena falou-me de uma conversa que teve contigo sobre não se querer casar por obrigação e sim por amor. – estou com a sensação que esta conversa não vai acabar bem.

–Sim é verdade e eu concordo plenamente com ela.

–Eu queria pedir-te que, caso isso aconteça e ela tenha de se casar por um casamento arranjado, a convenças a não fugir. – pediu.

–É o que ela quer e eu como amiga só tenho que a apoiar. – Selena é minha amiga e eu irei sempre apoiá-la - Toda a gente deveria se casar por amor e não assim. É cruel.

–Não é cruel, é necessário. – explicou o príncipe como se fosse óbvio.

–Killian, eu vou dizer-lhe uma coisa. Se há coisa que uma pessoa precisa é de amor e sentir que a pessoa que estará para sempre a seu lado a ame.

–O casamento dos meus pais foi arranjando e eles amam-se. – disse Killian. Era um bom argumento mas mesmo assim não chegava para me calar.

–Por sorte eles apaixonaram-se. Mas isso nem sempre acontece. O amor é algo que acontece espontaneamente, não é algo forçado. Nós devemos ser livres para escolher quem amar.

–Mesmo assim, por exemplo, é um dever que eu tenho para com o meu povo casar-me com a princesa de Galiza. – notei que Killian não estava nem um pouco entusiasmado com esse casamento.

–Killian vou dizer-lhe o que disse à sua irmã. Nós no amor temos de pensar na nossa felicidade. Ao casar-se com uma completa estranha correrá o risco de ser infeliz para o resto da vida. É isso que quer? – perguntei. Estava estampada na cara de Killian a completa confusão que as minhas palavras fizeram.

–Não, claro que não. - concluiu.

–Então arrisque. Lute pela sua felicidade. Não tenha medo do que os outros possam pensar. Você pode estar com quem quiser, basta querer. – Killian aproximou-se de mim fazendo com que as nossas caras ficassem a meros milímetros de distância e fez a última coisa que eu esperava que ele fizesse. Beijou-me.