Nate não sabia mais o que fazer. Já tinha perdido a noção do tempo. Ligara pra Chuck em algum momento entre gritar com as atendentes mandando-as ajudar Stephanie e acabar em uma cadeira desconfortável na sala de espera. Tudo que conseguia pensar era nela, nas lágrimas de sua esposa, as mãos sujas com o sangue que escorria de suas pernas.

"Salve o nosso bebê, Nate, não posso perder o nosso menininho"

Ele não conseguia parar de pensar na grande ironia que era a sua vida. Todos achavam que nada faltava para Nathaniel Archibald: dinheiro, influência, beleza, inteligência. Mas ele sempre fracassou. Sempre que chegou perto demais do sucesso, caiu. Como Ícaro e o sol. Seu casamento era um tormento, arranjado para impulsionar sua vida política. E então Stephanie engravidou. As coisas começaram a mudar, agora eles tinham assunto, interesses em comum, e a ambição de construir uma família juntos. Finalmente. Finalmente ele conseguiria tudo. Aparentemente o universo brincou com ele, mais uma vez.

— Nate! - levantou a cabeça, que estava entre as mãos e viu seus três melhores amigos vindo em sua direção, Serena na frente, quase correndo, os saltos ecoando no linóleo - O que houve? Alguma notícia dela e do bebê?

Nate esperou até que Blair e Chuck se aproximassem também, assim não teria que repetir a história

— Estávamos em casa, ela começou a sentir dores abdominais e a sangrar, viemos pra cá imediatamente. A única coisa que o médico me disse até agora é que terão de fazer uma cesárea de emergência. Não me deixaram ficar lá com ela - sua voz soava cansada. E era assim que ele se sentia. Exausto.

— Ela vai ficar bem, eu tenho certeza - disse Blair, sua confiança inabalável, se sentou na cadeira a sua esquerda, na direita Serena já se encontrava.

— Vou descobrir o que está acontecendo - disse Chuck - financiar metade desse hospital me dá direito a algumas respostas. - Nate pensou em lembra-lo de que era o prefeito, mas sabia que era a forma de Chuck de demonstrar apoio.

Horas se passaram. Nada acontecia. A única informação que Chuck conseguiu arrancar foi de que estavam tentando estabiliza-la antes de retirar a criança, mas sabe-se lá deus o que isso significa.

— Vou buscar café - anunciou Blair, se levantando. Chuck a seguiu.

— Ei. Vai dar tudo certo. - cochichou Serena

— Como você pode ter tanta certeza, S? A gravidez sempre foi de risco. E se o bebê não resistir? E se ela não... - Nate não conseguiu terminar a frase - Estávamos começando a nos entender, e agora sinto como se estivesse prestes a perder tudo.

O dia já tinha amanhecido há algum tempo quando Dr Walsh apareceu.

— Sr Archibald, por aqui - disse, apontando para o corredor. Nate se levantou. Sentiu uma mão em seu ombro, era Chuck, ele retribuiu o olhar. - Sr Archibald - continuou o médico, enquanto seguiam pelo corredor - A situação da sua esposa era extremamente grave quando chegou aqui. Fizemos o possível para estabiliza-la para a realização da cesárea. Infelizmente ela apresentou uma hemorragia grave e não conseguimos reverter o quadro. - o que ele estava dizendo? Sthe estava morta? Nada daquilo parecia real para Nate. Walsh parou na frente de um quarto. - Perguntamos a ela se gostaria de algum sedativo, para diminuir sua dor, mas ela pediu para vê-lo. - e então ele abriu a porta do quarto.

Stephanie estava lá, mas não parecia ela. Seu cabelo estava grudado na testa devido ao suor, o rosto pálido, os lábios rachados. Por um instante ele achou que ela já tinha partido, mas então seus olhos se abriram. Aqueles lindos olhos azul escuro, que pareciam duas safiras. Ela sorriu, mas até aquilo parecia causar-lhe desconforto.

— Como você está se sentindo? - sussurrou Nate, ao se aproximar e pegar sua mão

— Não importa. Sei que é a minha hora. Não podia partir sem... sem me despedir de você - os olhos dela estavam marejados, suas mãos geladas

— Não é uma despedida. Você vai ficar bem, vamos criar o bebê juntos - Nate se sentia uma criança, negando o inegável. Se quando o médico disse que ela não resistiria pareceu mentira, agora parecia que ela já tinha partido. - Por favor, Sthe, fica.

— Sabe, Nate, se eu tivesse que voltar no tempo, faria tudo de novo. Sei que nosso casamento era uma droga, mas os últimos meses... foram os melhores... os melhores da minha vida - as lágrimas corriam por seu rosto livremente - Cuide bem do nosso menino, ok?

— Eu te amo, Stephanie - disse ele, e a beijou levemente. Seus lábios tinham gosto de sal. Ela não abriu os olhos outra vez.

Nate se arrastou pelos corredores do hospital. Não estava realmente enxergando o caminho. Não tinha visto o bebê ainda, mas isso importava? Stephanie estava morta. E ele só percebeu que a amava quando ela deu seu ultimo suspiro.

— Nate! E então? - aparentemente ele havia encontrado o caminho de volta para a sala de espera. Levantou os olhos para os três que o aguardavam. Chuck entendeu primeiro, correu para ele e o abraçou. E foi então que as pernas de Nate cederam. A dor veio de todos os lados e de todas as formas. Sem seu melhor amigo ele teria acabado no chão, aos gritos.

— Ela se foi, ela se foi -repetia ele entre soluços no ombro de Chuck. Blair abaixou a cabeça e Serena começou a chorar silenciosamente.