O céu já estava alaranjado anunciando o fim da tarde quando Will, Gilan, Horace e Halt chegaram na cabana dos ladrões. Não era possível escutar nenhuma voz animada ou músicas descompassadas como da última vez em que Will esteve presente naquele lugar.

“Isso é estranho” comentou para si enquanto observava seu mestre com o cenho franzido. Halt também estava estranhando aquela situação quando fez o toque secreto na porta da cabana, que se abriu revelando os olhos negros de uma garota ruiva.

— Alderyn. – Ele cumprimentou. – Está tudo bem?

— Ah, são vocês. – Retrucou a menina, Will se lembrava dela. A garota havia mostrado relutância quanto aos dois arqueiros, porém, depois de uma breve demonstração das habilidades de Halt, havia aceitado a ajuda. – Entrem.

Os quatro entraram no aposento que estava completamente iluminado por velas quase derretidas por completo. “Há quanto tempo estão aqui?” Will questionava. Todos os ladrões estavam inclinados sobre uma mesa de madeira que continha um mapa em sua superfície. Aeron se encontrava no meio e tinha um olhar preocupado que tentou disfarçar ao reconhecer Halt e Will.

— Quem são esses dois? – Indagou apontando para Horace e Gilan. – Suponho que são de confiança para estarem aqui. Halt assentiu em um movimento breve.

— São de total confiança, não se preocupem. – Respondeu seguramente. – Mas o que houve com esse lugar?

Foi então que Will notou. O lugar estava completamente revirado, haviam armas no chão, equipamentos de treinamento espalhados por todos os cantos junto de vestimentas e velas partidas. Haviam também janelas quebradas no fundo do quarto e cadeiras sem pernas encostadas na parede.

— Fomos atacados. – Comentou Aeron tristemente. – Nós não esperávamos um ataque tão fervoroso. Perdemos muita coisa.

— Quem atacou? – Will perguntou dando um passo para frente.

— Quem você acha? – Aeron retrucou. – Malditos assassinos! Mataram um de nós esta noite, um recruta jovem. – O ladrão baixou o olhar para o mapa novamente, fechando o pulso. – E claro, levaram todo o dinheiro que tínhamos, o dinheiro dos camponeses.

Revoltada, a garota ruiva enterrou uma adaga na mesa de madeira e apontou para Halt.

— Não acham estranho isto ter acontecido depois da chegada de vocês?! Ou então...

—Alderyn. – Censurou Aeron. – Controle-se. Tudo isto era apenas uma questão de tempo para acontecer.

A garota tinha o rosto vermelho possuído pela raiva que sentia, voltou-se para o companheiro e abriu os braços.

— Muito bem, ó líder. Diga a eles da carta, então! – O rapaz hesitou e trocou olhares de censura com a menina.

— Que carta? – Questionou Will, já cansado de todo aquele mistério. Aeron retirou um pedaço de papel do bolso e respirou fundo.

— Quando terminaram de destruir o lugar e eliminar o nosso único recruta aqui presente. – O rapaz deu um rápido suspiro antes de continuar. – Eles deixaram uma carta junto ao corpo.

— E o que está escrito? – Perguntou Halt enquanto cruzava os braços.

— Ela explica detalhadamente uma missão que envolve vocês com um novo assassino chamado Henry Phoenix. O que explica o ataque, imagino que procuravam você, Will. – O jovem arqueiro baixou os olhos para o chão assentindo levemente. “Um rapaz foi morto por minha culpa? ” Lamentou em silêncio. – Porém, o que mais nos chamou a atenção foi a seguinte parte: “[...] É uma pena que seus amigos tenham que sofrer apenas pelo simples fato de vocês, jovens ladrões, não saberem escolher melhor aqueles que o cercam. Halt e Will não são boas companhias para vocês agora, a não ser que queiram continuar a ver seus companheiros morrerem…”

— Espera aí! – Interrompeu Horace, que desde que entrou na cabana parecia se sentir desconfortável. – Vocês vão mesmo dar ouvidos para um bando de assassinos psicopatas? Eles matam os seus amigos e nós que somos as más companhias?!

— Eu ainda não terminei. – Retrucou Aeron com um olhar fuzilante no guerreiro que gesticulou para que o rapaz prosseguisse. – Bem, como estava dizendo: “[...] Por meio desta carta, proponho um acordo muito simples: Entreguem-me o garoto amanhã ao meio da noite no exato ponto marcado no mapa, completamente desarmado e com as mãos amarradas. Se assim o fizerem, posso garantir, que vocês jamais terão outro problema conosco...”

— O que?! – Interrompeu Horace novamente. – Vocês não podem estar realmente considerando fazer isso! Vocês perderam a razão?! Como é que...

— Horace. – Alertou Halt. – Paciência. Rapazes, eu tenho certeza que podemos utilizar toda esta situação a nosso favor. – Declarou o arqueiro erguendo as mãos.

— Tem mais um detalhe na carta. – Aeron voltava a falar. – E eu acho que fará mais sentido para vocês do que fez para nós: “[...] Não posso deixar de declarar que enquanto escrevo estas palavras estou muito bem acompanhado. Sempre soube da fama de Araluen em criar jovens donzelas adoráveis e de muita classe, eu preciso reconhecer. É melhor tomarem uma decisão depressa pois não sei por quanto tempo ela ficará conosco...” Por acaso algum de vocês conhecem uma tal de Alyss?

Will ficou sem chão, aquelas últimas palavras foram como um soco no estômago, por um momento se tornou completamente incapaz de respirar. Como Henry teve a coragem de se aproximar de Alyss? O que estariam fazendo com ela? Será que a torturavam? Estaria com dor? O que Will fazia enquanto tudo isso acontecia? Reclamava de uma pequena dor no ombro? O rapaz conseguia sentir o suor frio escorrer de sua testa e seus olhos começarem a se encher de lágrimas só de pensar no que sua namorada poderia estar passando enquanto ele não estava por perto. Apoiou suas mãos nos joelhos tentando buscar algum fôlego.

— Will... – Gilan se aproximou, colocando-se de joelhos próximo ao rapaz. – Vamos resgatá-la, ela vai ficar bem.

Horace estava em estado de choque com a notícia, tinha os olhos fixados em Aeron, como se estivesse esperando que o rapaz anunciasse que tudo aquilo era apenas uma brincadeira de mal gosto. Para a sua infelicidade, não foi o que ocorreu. Halt manteve seu olhar baixo, estava incapaz de encarar seu aprendiz agora, sentia que cada sofrimento que Will passava naquela missão, era um peso a mais em suas costas.

— Bom... – Aeron voltou a dizer. – Acho que não preciso de uma resposta. – Declarou jogando a carta para o lado. – Isso é tudo.

Alderyn se posicionou ao lado de Aeron e com um tom autoritário tomou o controle da situação.

— Escutem, eu não sei quem é essa garota, mas claramente é importante para vocês. Por este motivo precisamos de um plano eficaz para salvá-la e acabar com esses assassinos de uma vez por todas! A vida de ninguém mais será desperdiçada por causa deles, isso sim, eu posso prometer. - Os quatro levantaram seus olhares para a menina de cabelos vermelhos e assentiram.

— Claro. – Halt concordou. – Porém, antes de pensar em qualquer coisa, precisamos sair daqui. Este lugar deixou de ser seguro.

E assim, um rapaz de cabelos negros, pele escura e olhos amendoados deu um passo à frente.

— Há alguns quilômetros, existe um lugar perfeito para nos reunirmos. Fica abaixo de uma grande laranjeira beirando à um rio, é bem escondido, não acho que teremos problemas.

— Ótimo, Finn. – Afirmou Aeron. – Faça um sinal no mapa deles para nos encontrarmos lá amanhã de manhã, acho que todos nós merecemos um descanso. Reunião encerrada.

Enquanto todos saíam da cabana aos poucos para seguirem de volta à suas casas, Will apenas sentou-se encostando em uma árvore tentando conter as lágrimas e a raiva que sentia dentro de si. Até que Halt se aproximou sem dizer uma palavra. Ambos, aprendiz e mestre, ficaram em silêncio sentados lado a lado pensando em tudo que havia acontecido. Até que o arqueiro mais jovem quebrou o silêncio.

— Eu sabia disso, Halt. – O mestre observava Will com o canto do olho. – Eu sabia que todos esses problemas terminariam nela. – O garoto se permitiu deixar uma lágrima escorrer pelo seu rosto. – E mesmo assim, eu não estava por perto.

O arqueiro mais velho apenas abaixou a cabeça e respirou fundo.

— Você não tinha nada a fazer. Era inevitável. Eu sabia, você sabia e ela também sabia. – Halt buscou forças de seu interior para conseguir olhar para seu aprendiz que se esforçava para segurar o que sentia. – O que importa é o que faremos agora, entendeu? Vamos encontrar um modo para salvá-la e acabar com tudo isso. – Will apenas fez um rápido movimento com a cabeça sem tirar o olhar do chão. – Mas eu vou precisar que você seja forte, do começo ao fim. Então seja o que for que você tiver que fazer para isso, faça.

Will já tinha olhos vermelhos e a respiração trêmula, ao escutar aquelas últimas palavras de seu mestre ele conseguiu entender o que ele dizia. Sem precisar de muito esforço, se deixou levar pela sua dor e chorou por Alyss.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.