Raios De Luz

Primeiro Foco de Luz


Eu corria perdida por entre o bosque.

Buscava uma saída, mas a minha vontade era sentar na terra e implorar perdão. Não sei pelo o que, ou sei. Mas não sei por que tudo começou. Afinal, a razão pela qual ele caça os da minha raça, não tem nada há ver comigo... Certo?

...

Tudo começou quando eu chegava a uma nova escola em um pequeno estado dos Estados Unidos. Sou nova iorquina e vivi minha vida inteira nessa cidade a qual chamam “Big Apple”.

Eu vivo sozinha com minha mãe desde que tinha oito anos. Meu pai morreu de câncer e desde então eu e minha mãe tentamos nos virar. Eu conto tudo para ela e acho que é por isso que ela me da tanta liberdade.

Nós mudados para essa pequena cidade, por que mamãe procura pedras preciosas e segundo ela, aqui é um ótimo lugar para isso. Mas eu sempre achei, que o melhor lugar para isso, fosse a Austrália...

Enfim, essa nova escola não pedia uniforme. Era uma escola pública. Meu primeiro dia foi... Como posso descrever? Coberto de coisas normais que uma adolescente de 16 anos, que não conhece ninguém, que é antissocial, que esta totalmente perdida faz. E mais uma dose de coincidências... Ah, além de todas essas características minhas, eu sou ruiva.

...

Assim que fui acordada pela minha mãe, lembrei que não tinha separado roupa nenhuma para o primeiro dia de aula. Além de ser uma completa excluída, iria entrar no segundo ano do ensino médio e iria entrar nele no meio do ano estudantil: Janeiro.

Eu sempre fui muito objetiva em relação a roupas, mas minha mãe sempre me disse que não importa o que façamos, a primeira impressão é a que conta. Abri meu armário e pensei aquela frase que toda adolescente pensa, “Merda... Não tenho nada para vestir”.

Eu já estava à beira de ficar atrasada quando vi no fundo do armário um pedaço de cashmere roxo. Puxei a roupa e senti o toque suave de uma roupa cara. Lembrei-me do meu blazer roxo. Eu o tinha usado poucas vezes, era roxo berinjela, com listras nas bordas: nas abotoaduras, ao redor do pescoço descendo até o final na vertical e nos bolsos. Ele tinha o comprimento certo e não era muito quente nem me fazia passar frio. Coloquei minha melhor calça jeans, pus minhas botas de cano baixo e marrom, vesti uma blusa de alças preta e por cima, o blazer. Penteei o cabelo enquanto tomava o café que minha mãe tinha trazido para mim. Parei em frente ao espelho.

- Que decepção.

Encarei meu cabelo avermelhado.

Não é que eu fosse tipo a garota de “Valente”, a Merida, mas ele era de um castanho escuro tão avermelhado, que meu cabelo parecia pintado. Já tinha perdido a conta da quantidade de garotas que tinham me perguntado o número da tinta...

Minha mãe é loira, meu pai tinha cabelos castanhos escuros... E sim, já pensei na oportunidade de minha mãe pulando a cerca... Mas me senti culpada, afinal, ela era/é tremendamente apaixonada pelo meu pai.

Suspirei. Coloquei a caneca em cima da mesa e puxei meu cachecol branco da gaveta. Joguei dento da bolsa que eu usaria pelo resto dos anos de ensino médio. Transpassei-a pelo corpo e sai correndo escada abaixo, passei no banheiro e escovei os dentes, lavei o rosto. Desci escada a baixo correndo.

- Mãe, já estou indo. – Gritei do hall de entrada.

- Boa aula, filha! O dinheiro esta na mesinha.

A “mesinha” estava totalmente desmontada ao lado da porta. Nos ainda não tínhamos tempo para tirar tudo das caixas e montar os móveis na casa nova. Mas a primeira coisa que fiz ao entrar em casa, foi tirar minhas roupas e meus lençóis das caixas.

- Certo... Obrigada, mãe.

Coloquei o dinheiro no bolso do jeans e bati a porta. Peguei um ônibus até o colégio, e por sorte, esse ônibus me deixava em frente à escola. Ainda tinha neve no chão, que já fora pisoteada.

Já mencionei que era um colégio público, mas não tinha mencionado que ele era repleto de pessoas riquinhas que tinham mais de um carro na garagem? Acho que não.

Só tinha vindo do ônibus eu e mais duas garotas. Eu as segui para dentro da escola e fingi que estava muito ocupada procurando algo dentro da bolsa. Mas na verdade eu estava procurando a secretária, onde eu buscaria o número do meu armário.

Ninguém me olhava, eu era invisível. E até gostei de ter essa sensação por um tempo, afinal eu não queria que ninguém achasse defeitos em mim.

Mas eu estava feliz muito cedo. Assim que sai da secretária, com o número do meu armário anotado na mão, com o segredo bem embaixo, esbarrei em uma garota.

Ela tinha o cabelo loiro – descolorido, isso era óbvio -, a pele bronzeada de um salão de bronzeamento e olhos castanhos claros, quase amarelos. Mesmo estando frio lá fora, ela estava usando uma minissaia com uma meia calça preta. Usava botas com pelinhos e um casaco leve por cima. A roupa dela parecia um tanto quanto exagerada para a escola, e não era só eu que achava isso, todos pareciam achar, mas ninguém parecia querer encara-la. Ela tinha uma horda de seguidoras descoloridas atrás dela e não parecia muito satisfeita quando me viu.

“Merda”, pensei.

Mas assim que ela olhou nos meus olhos, suas sobrancelhas franziram e ela desviou de mim.

Suspirei aliviada. Mas não tanto, eu não era mais invisível. Todos me olhavam como se eu estivesse ali, o que seria o normal.

Um garoto com olhos verdes insanos passou por mim. Ele me encarou e desviou o olhar. Me arrepiei. Ele era muito bonito. E por sorte, estava na minha sala de geometria.

Quando entrei na sala, sentei em um dos lugares atrás da sala, o garoto sentou na minha diagonal. Não falei com ele nenhum momento da aula e ninguém o fez. Ao termino da aula de geometria, segui para a aula de filosofia, mas o professor não tinha chegado ainda. Sentei no mesmo lugar e esperei.

- Bom dia, filósofos do dia a dia. – O professor chegou anunciando.

Os alunos ficaram quietos naquele instante. Me arrepiei ao ouvir aquela voz. Eu a conhecia. Não tirei os olhos da mesa.

- Parece que temos um aluno novo...

O professor pareceu notar a prancheta com a minha ficha. Fechei os olhos com força, ele não podia ser real.

- A Srta. ...

Eu sabia que ele estava me procurando no meio da turma, sabia que seu coração batia forte, sabia que ele estava aflito.

- Fox?

“Merda”.