- Ei-Eixofuma? – A Rainha arqueou as sobrancelhas.

- Sim. Ela é algo como uma inconsciência.

A Rainha olhou para o seu marido e depois voltou a olhar para mim. Você pode se referir a ela como sua avó. Revirei os olhos mentalmente.

- Foxie, ela é a sua guia. – Meu avô falou.

- Minha guia? O que quer dizer?

- Foxie, querida, já faz um tempo que você sabe que a princesa da Vila da Luz. Assim como você possui uma aureola diferente, também tem uma guia.

- Uma guia? Então, vocês também têm uma?

- Não temos mais, nos despedimos deles assim que somos coroados, assim como nos despedimos das aureolas que são gargantilhas.

- Então ela vai embora?

- Sim. – Meu avô disse relutante.

- Acho estranho ela ter chegado tão cedo para você. Normalmente é um pouco antes de marcarmos a coroação e todas as pre-experiências.

Falkon se remexeu inquieto em sua cadeira.

- Ela... Ela vai embora? Porque ela veio?

- Foxie... – Meu avô se apoiou em seus cotovelos. – Sabe o que Eixofuma significa?

- Não faço ideia... Parece-me algo indígena... Não sei.

- Eixofuma é um anagrama do seu nome. Ao contrário, seria “Uma Foxie”. – Minha avó falou delicadamente.

Não esperava ficar tão chocada. Isso – de alguma maneira – significava que ela era uma parte de mim muito mais completa do que eu mesma.

- Eixo é uma subdivisão sua. Não, algo mais forte que isso. Ela sabe de tudo, do seu futuro, presente e passado, além do futuro, presente e passado dos que estão a sua volta, ela sabe tudo o que você sabe e o que não sabe. Está com você para guia-la ao caminho certo para governar tudo isso. – Meu avô apontou a nossa volta.

- Ela sou eu?

Sim, eu sou você. A nossa diferença é que eu sei toda a sua história, mais do que você precisa saber. Por isso que nos somos um pouco diferentes, eu sou diferente de você porque sei demais, disse Eio.

Eles perceberam pela minha expressão que eu e Eio tínhamos nos comunicado, pois só balançaram a cabeça. As luas começavam a surgir, elas vinham separadas e tenho certeza que no meio da noite, elas se juntariam. No momento em que o primeiro foco (Amore: HÁ HÁ) iluminou-nos, um grito ao meu lado se juntou a nos.

Virei abruptamente e vi Falkon se debater enquanto gritava. Ele caiu no chão e eu me juntei a ele. Falk tapava os olhos com as mãos, ele os esfregava e gritava.

- Falkon! Falkon! O que foi? O que foi?!

Meus avôs estavam ao nosso lado e grande parte da segurança de todo o castelo. Eu sentia o que ele estava sentindo, e isso me matava por dentro. Comecei a me debater apoiada em meus calcanhares. Apartei a mão em cima do meu peito e gritei de dor. Falkon diminuiu os gritos e tirou as mãos do rosto, revelando algo penetrantemente vermelho. Não pude ver o que era vermelho, mas o reflexo era intenso demais e chegou aos meus olhos.

Desmaiei na grama.

...

Meu corpo não doía, e não precisei fazer muito esforço para me levantar e sentar na cama. Eu estava deitada na cama do quarto de meu pai. Falkon estava sentado na beira da cama, de costas para mim, virado para a janela aberta para a varanda e o céu.

- Falkon... – Chamei com a voz rouca.

Falk virou para mim, ele estava de óculos escuros. Falkon dobrou uma das pernas e colocou na cama. Apesar de não ver seus olhos, ele parecia preocupado. Estava com uma calça jeans e uma camiseta preta.

- Fox... Como está se sentindo?

Procurei mais no fundo, os sentimentos dele. Só vi aflição.

- Aflita.

Ele recuou um pouco, surpreso.

- Eu... Ah... Isso é mais como eu me sinto...

- Eu sei.

Suavizei a expressão.

- O que aconteceu? Por que os óculos escuros? Está à noite...

Falkon suspirou. Ele engatinhou do final da cama até onde eu estava sentada. Sentou ao meu lado e passou os dedos pela minha cintura, me puxou gentilmente, apoiei-me em seus ombros enquanto ele me colocava mais perto dele, com as pernas em seu colo. Falkon colocou a mão direita em meu joelho e envolvi seu pescoço com o braço direito.

- Foxie... Você sabe que sou seu guardião e tenho... Sentimentos por você e você é muito importante para mim, sério! E... Eu sei que você talvez ache que eu sou quero te tocar e, cara, nossa, eu não sei se a culpa é minha ou é sua, dos seus genes, não que eu esteja desrespeitando sua família, mas você é muito gostosa e eu não posso evitar. - Falkon falava tão rápido que eu mal podia assimilar o que dizia.

Minha boca estava ligeiramente aberta, eu pensava em algo para dizer enquanto ele ficava falando e falando e falando.

- Ok! Falkon, eu entendi. Vá direto ao ponto.

- Ah, sim. Eu sou seu guardião, mas também sou seu caçador o que me deixa marcado... Impuro. E no momento em que começamos a nos beijar constantemente... Eu deixei de ser totalmente impuro. Quando a Lua me tocou, ela sabia que eu não era mais o mesmo. E... Fiquei marcado novamente.

Senti Falkon ligeiramente afastando o rosto de perto de mim.

- Você quer dizer que... O que você quer dizer?

- Meus olhos. Eles mudaram de cor.

A compreensão me atingiu.

- Deixe-me ver.

Levantei a mão de seu pescoço para puxar seus óculos, mas ele segurou meus dedos.

- Não. Por favor.

Eu não podia ver seus olhos, mas pela sua voz, eles deviam estar com aquele seu olhar sofrido.

Recuei minhas mãos aos poucos. Coloquei-as no meu colo e Falkon passou seu braço pelos meus ombros.

- Doeu?

- Sim.

- Eu sei, não sei por que perguntei. – Dei de ombros.

Falk deu um pequeno sorriso, me derretendo por dentro.

- Por que você não me contou sobre Eixofuma? Eu sabia que ela viria, mas não sabia que seria tão rápido.

- Desculpe-me... Eu não sabia como contar isso, parecia loucura.

- Como muita coisa aqui. – Ele murmurou.

Falkon foi se aproximando, e eu quase via seus olhos por trás das lentes, eles olhavam para os meus lábios. Sua mão em meus ombros desceu até minha cintura bem devagar, esfregando minha pele por cima do algodão. Falk passou a língua nos lábios e se aproximou mais. Torci seu cabelo em meus dedos e ele abriu os lábios para soltar o ar. Eu sentia seu hálito, e minha vontade dele era imensa.

Aproximei minha mão de seus óculos.

- Eu posso te machucar sem querer...

- Não vai me machucar. – Ele se aproximou novamente, arfando.

Falkon segurou meus dedos e os abaixou para seu peito, me distraindo, levando meus olhos para os seus lábios que quase tocavam os meus. Nós arfávamos arduamente, quando nossos lábios se tocavam, pequenos choques percorriam nossos corpos, pequenos choques que nos faziam recuar.

Falk quebrou nossa ansiedade e me beijou com força. Nesse beijo eu podia ver tudo o que eu não via em seus olhos.

As mãos de Falk subiram para os meus ombros. Fui forçada sobre o peso do beijo, a deitar na cama, com Falk em cima de mim. Ele se movia em cima de mim devagar, apenas achando uma posição confortável. Uma de suas pernas estava entre as minhas, e suas mãos ao lado de meus ouvidos. Percorri suas costas com os meus dedos e puxei sua camisa pelas costas, quase puxando totalmente.

Fomos interrompidos por alguém batendo na porta. Assustamo-nos tanto que Falkon caiu no chão, do outro lado da cama. Levantei arrumando o cabelo e a roupa e atendi a porta.

- Olá?

- Boa noite, Alteza.

- Boa noite... – Sorri.

Uma senhora carregando uma bandeja farta em seus braços, sorriu para mim. Peguei a bandeja de seus braços assim que a percebi.

- Oh, isso está pesado!

A senhora lutou comigo pela bandeja.

- Oh, não! Fique a vontade! Por favor.

Puxei a bandeja de suas mãos delicadas.

- Obrigada. – Sorri.

- Obrigada, Alteza... – A senhora parecia sem graça. – Espero que aproveite a ceia.

- Sim, com certeza. Muito obrigada e boa noite!

A senhora puxou a porta sorrindo e voltei para a cama com a bandeja nos braços. Falkon sentou-se no chão e levantou o pescoço.

A badeja era grande demais para aquela pequena senhora trazer; Havia tantas comidas em cima que eu fiquei um pouco perdida. Uvas, pedaços de maça, jujubas, queijos, pães, doces e uma jarra de suco enfeitavam a bandeja. Provei as uvas e estavam tão doces, pareciam ter acabado de serem colhidas e eu não desconfiava disso.

Rapidamente, Falkon estava na cama em frente a mim e a bandeja entre nós.

Comemos tão rápido que ficamos com um pouco de sono. Tudo era adocicado no ponto certo, talvez fosse o Sol que fizesse tudo tão bom.

- Melhor tirar isso daqui. – Disse Falk pegando a bandeja depois de um longo bocejo.

Deitei de costas na cama e me espreguicei. Fechei os olhos brevemente e ouvi Falkon colocar a bandeja em cima da mesa. Ouvi mais um bocejo e abri os olhos quando Falk não veio deitar ao meu lado.

- Falkon?

Ele estava indo em direção à porta quando eu o chamei e ele se virou.

- Sim?

- Aonde você vai?

- Dormir, eu acho.

- Mas onde?

- No quarto ao lado. – Falkon apontou.

- Não... Durma comigo. – Ruborizei um pouco.

“Por que eu estou vermelha? Ele é meu namorado!... Certo, Eio? Nós estamos namorando, não é?”. Mas Eio não respondeu.

- Tem certeza? – Falk passou a mão no cabelo.

- Sim.

Rolei para o lado perto da janela e Falkon sentou ao meu lado. Ele me olhou nos olhos enquanto se aproximava e plantava um pequeno beijo nos lábios. Acabou cedo demais e ele sentou-se novamente. Levantou da cama e eu ia protestar até vê-lo começar a apagar todos os abajures ligados. Depois que fiquei no breu, sentei-me na cama e comecei a tatear por todos os cantos, procurando por ele. A seguir de um farfalhar de lençóis, achei uma camisa de algodão, subi os dedos até encontrar uma clavícula.

Aproximei os joelhos do corpo dele e subi as mãos por seu pescoço. Falkon não respirava, e eu também não queria fazer nada que pudesse interromper o momento. Puxei seu rosto para próximo do meu e antes que eu pudesse beija-lo, Falk me beijou com força. Ele puxou meu corpo para baixo do seu e passou suas mãos pela minha cintura até meu quadril. Gemi um pouco alto demais quando seus lábios encontraram meu pescoço.

Falkon se afastou de mim lentamente e eu abri os olhos, deixando-os se acostumarem mais com o escuro do quarto.

- Acho melhor... Acho melhor pararmos por aqui.

- Sim... Acho melhor.

Falkon puxou minha saia para baixo e saiu de cima de mim. Deitou-se ao meu lado e se apoiou em um cotovelo.

- Você me deixaria tentar algo?

- Qualquer coisa.

Eu parecia muito menos nervosa do que estava ao responder.

Ouvi o cabelo de Falkon balançar e depois o som de algo sendo colocado sobre a madeira do criado mudo. Falk voltou a se aproximar de mim e lentamente, deitou sua cabeça no meu peito. Tentei acalmar meu ritmo cardíaco, ciente de que ele podia ouvi-lo.

- Obrigada.

Ainda estática, abracei os ombros de Falkon e virei a cabeça para seu corpo abaixo de mim.

Depois de a respiração de Falkon ficar constante e suave. Adormeci também.

Tive um sonho. Apenas um. Tenho certeza.

Nele, eu estava em um enorme campo de trigo. Eu corria de algo ou alguém e apesar de estar com uma expressão divertida, eu estava assustada. Depois de um tempo perdida, minha expressão começou a ficar assustada também e depois que não sabia mais do que estava correndo, entrei em pânico.