Rainbow War

No dia seguinte...


Hoje eu acordei, e pensei que tudo o que tinha acontecido ontem tinha sido um sonho, ou mesmo um delírio. É, foi isso mesmo que aconteceu, eu delirei legal ontem por causa do suco de pimenta, acho que vou seguir o conselho do Hikari.

Como já é de hábito, me arrumei e fui pra escola bem disposto e alegre de poder viver uma vida normal como eu sempre quis. Mas minha ilusão durou muito pouco, porque como sempre, tem sempre que ter uma pessoa mais realista do que você pra te acordar pra vida real (mesmo que o real seja o irreal). Mal eu chego na escola e Romolo me aborda com uma corrente de ouro no pescoço e me diz assim:

– Jack, você tem o numero do Kahel? Eu não anotei ontem.

Eu fico dividido entre desmaiar e xingar todos os nomes sujos do mundo. Não tinha sido um delírio, porque senão Romolo teria sido o primeiro a me cortar o barato, e se ele não estava fazendo isso era porque tudo tinha sido real, e se tudo tinha sido real, isso queria dizer que eu tava fudido.

– Não foi um sonho, não é? Era tudo real, não era?

Os olhos de Romolo, tão tranqüilos e tão firmes me diziam tudo que eu precisava. Diziam que nunca havia sido um sonho, mas que os amigos que tenho nessa enrascada também nunca tinha sido um sonho. Ele estaria comigo até o dia em que Darkshadow nos matasse e mesmo assim, ainda lutaríamos juntos com todas as nossas forças.

– Você não precisa lutar. Pode se esconder em algum lugar seguro até que ele seja derrotado, e eu posso pedir que alguém te proteja – Romolo tinha o velho sorriso irônico e sincero no rosto – Mas eu quero lutar. Quero mostrar pra ele que posso defender aqueles que amo.

Novamente tínhamos um contato visual muito forte entre nós e eu começava a me perguntar o que faríamos a seguir se estivéssemos sozinhos, quando uma voz grita:

– Jack! Cara, aonde você se meteu? Eu te procurei ontem a noite inteira pra te dizer um negócio e não te achava em lugar nenhum desse mundo!

– Oi, Hikari – geralmente, Hikari me animava muito, mas dessa vez, ele meio que me deixou aborrecido – O que você queria me contar?

– É um negócio meio pessoal, sabe? Queria conversar com você em particular sobre isso.

– Sei! – e ainda revirei os olhos – Podemos conversar agora se você quiser. Você nos dá licença, Romolo?

– Claro. Até mais Jack, e foi um prazer Hikari – e saiu pela tangente da situação (sem a corrente de ouro no pescoço).

Eu voltei a olhar pra cara de Hikari sem saber direito o que eu faria se tivesse de ouvir uma das loucuras que ele geralmente tem pra contar. Eu não estava com muita paciência, e isso poderia ser potencialmente perigoso pra ele.

– Jack, eu andei pensando um pouco sobre o que você me disse na aula de geometria de ontem e eu cheguei a conclusão de que é possível sim a existência de aliens, e para provar tudo eu acabei verificando alguns fatos interessantes. Eu te mostro na sala.

E do nada ele se foi, com o vento veio e com o vento partiu. Mas quem vai partir alguma coisa agora era eu! Quando eu o visse de novo, iria fazer questão de quebrar a mesa na cabeça dele. Se bem que eu deveria era me preocupar com a minha cabeça, porque eu estava olhando e calculando os passos de Hikari e uma coisa bateu na minha cabeça, e quando eu me virei pra ver o que era (ignorando o galo que ia cantar até de noite na parte de trás da minha cabeça), vi uma bola de futebol que devia ser de algum dos meninos mais novos, e vi um garoto caminhando na minha direção. Não sei o que foi, mas ele me chamou a atenção.

– Desculpa cara, foi sem querer. Meus amigos têm os pés meio furados e não sabem chutar uma bola! – essa parte foi dirigida a um grupo de outras crianças que ficara mais atrás – Machucou muito?

– Não, to legal – a vírgula deveria ou não existir? Eu tinha minhas duvidas – Normal, eu também não sou muito bom no futebol.

– É, coisas assim é só com treino e habilidade mesmo. Mas tu ta legal mesmo, né? Não tem nada doendo aí e nem vai reclamar pra ninguém, né?

– To legal, relaxa! Valeu, por perguntar. Qual é o seu nome?

Quando ele me olhou nos olhos, eu entendi o que chamara minha atenção: não era a pele branca, não era o cabelo militar, não era a magreza e a pequenez dele. Eram os olhos. Olhos negros como a noite, ou quem sabe até mais. Olhos tão negros que eu poderia pentear meu cabelo neles se eu quisesse.

– Hugo. E o seu?

– Meu nome é Jack. Muito prazer, mas a gente se fala outra hora. Quando bater o recreio, você me espera na pracinha perto das árvores, pode ser?

– Na hora, pô. Te vejo lá.

E dessa vez fui eu que me afastei.

Quando entrei em sala, tivemos horário de espanhol e depois deveria ser gramática, mas a professora faltou, e então tivemos um horário vago e foi nessa hora que Hikari me chamou pra conversar sobre o que quer que ele tenha descoberto.

– Olha, só toma cuidado pra não pirar, ta legal?

Depois de ontem, então eu nem imaginava nada que pudesse pirar mais a minha cabeça do que ela já estava pirando. Entretanto é sempre bom continuar com o show.

– Pra começar, qual foi o dia que você nasceu?

– 16 de fevereiro de 1995.

– Pois justamente em janeiro desse ano, foi relatado o surgimento de ÓVNIS por todo o país, como uma chuva de meteoros e muitos dizem que alguns fragmentos da chuva de meteoros caíram na Terra, e fizeram crateras em locais estratégicos.

Olhei pra ele enquanto ele pegava o notebook dele e me mostrava alguns arquivos, sites, vídeos, fotos, depoimentos e muito mais falando sobre a tal chuva de meteoros. Mas não parou por aí.

– Também foi relatado o desaparecimento de algumas crianças. Bebês que tinham sido seqüestrados e tinham desaparecido do mapa estavam voltando a aparecer. Consta que um dos bebês desaparecidos era o filho de um mês do casal Tommy Rich e Gabriela da Silva. Seus pais, tinham um filho de 1 mês que foi seqüestrado no dia 17 de março e passou algum tempo desaparecido até ter sido encontrado no dia 26 de maio do mesmo ano.

“E não foi só você. Muitas outras crianças também foram seqüestradas mas o caso mais comentado foi o seu, pelo modo como foi executado e também por ser o filho de um imigrante inglês. Outras crianças também tiveram o mesmo tipo de seqüestro que você teve mas não teve o nome divulgado e acabou por ficar no escuro, mas consegui também extrair o nome de mais três bebês, três garotas pra falar a verdade: Marie Solaria de Oliveira, Tatiana Christine Sanches, Fernanda Luna Freitas. Todas elas foram seqüestradas quando completaram um mês de vida e reapareceram após algum período de sumiço. O caso mais grave foi o de Fernanda, pois ela ficou desaparecida por 3 anos e quando surgiu uma possível criança correspondente, a mídia fez uma confusão gigante noticiando impropérios sobre a situação.

Porém, como tudo tem uma exceção, lembra que eu te disse sobre a chuva de meteoros? Todos os bebês que foram seqüestrados reapareceram depois da chuva de meteoros, exceto dois. Marie foi um desses bebês e o outro eu não sei que foi, mas eles nasceram depois da chuva de meteoros, mas o processo se repetiu com eles. Quando completaram um mês, foram seqüestrados de dentro de casa, de noite e só foram devolvidos depois de algum tempo, mas tempo o suficiente para a mídia cair em cima dos casos. Nenhum dos casos recorrentes foi grave e nenhum deles terminou de forma trágica, mas todos eles estiveram interligados com a chuva de meteoros, porque as crianças próximas aos locais onde os meteoros foram encontrados.

E pra concluir a minha pesquisa sobre a existência dos aliens, o que você me falou realmente pode ser comprovado por um vídeo amador que foi feito na praça abandonada perto do centro da cidade. Eu não tenho muita certeza se é real, porque não pude analisar o vídeo com a devida atenção e sinceramente eu não imagino como seja real, mas algumas coisas chamaram minha atenção para o caso dele poder ser verídico: a primeira, foi a questão da data, não daria tempo de fazer uma montagem tão bem feita assim e a segunda foi a questão das personagens. Olhe você mesmo.”

E ele me mostrou um vídeo amador de uma batalha se desenrolado na praça abandonada que eu tinha ido visitar Kahel ontem, e a surpresa maior: eu aparecia em alguns ângulos bastante bons de me observar com minhas asas de fogo a todo o vapor. E nessa hora, eu estava realmente a todo o vapor, mas agora eu estava praticamente precisando de fraldas pra trocar só de medo de ele mostrar aquilo pra mais alguém ou de cair na net. Que vida dura a minha.