Rainbow War

E novamente, o desespero


Voltei pra casa um pouco cabisbaixo e blasé. O dia tinha sido frustrante, e não estou dizendo isso só porque levei uma tremenda surra de um alien que despertou ha apenas alguns dias. Isso já tinha acontecido quando eu lutei contra a Tati. Foi porque perdi o Hikari, levei uma surra do netuniano, não consegui salvar a Marie e ainda estou certo de que poderia ter morrido hoje.

Dei uma olhada no relógio e percebi que era quase seis da tarde. Eu tinha ficado umas quatro horas nessa brincadeira e sai perdendo. Se quisesse ter sucesso de novo, teria que conversar com Perla, Romolo e Nanda o quanto antes. Preciso marcar uma nova reunião e começar a organizar os planos para a revolução. Dessa vez eu tenho certeza que vou acabar com Darkshadow.

Cheguei em casa finalmente e subi pra tomar um banho. Não queria ver a cara de ninguém por um tempo, só precisava ficar sozinho. O plano falhou miseravelmente. Quando abri a porta do meu quarto, meu celular toca toda a melodia que a Avril Lavigne faz quando canta Wish You Were Here. Atendo antes que a musica me dê sensações tristes e me faça chorar.

– Alô? – perguntei, lembrando que não tinha nem visto quem era.

Jack, a Marie sumiu! – gritou a voz da Nanda no meu ouvido.

Não é preciso dizer que eu quase tive um troço com essa noticia. Fiquei tão atônito que senti meu coração parar por um ou dois segundos. Eu tinha esperanças de que Marie tivesse saído pra tomar sorvete e estivesse a salvo, mas agora minhas suspeitas se confirmaram. Marie tinha sido seqüestrada.

– Nanda, se acalma e me escuta com muita atenção. Eu descobri um novo alien hoje e tenho certeza que ele está envolvido com o sumiço da Marie de algum modo. Ele é o netuniano e controla todo e qualquer tipo de liquido. Reúna todos da equipe aqui em casa, temos que fazer uma visitinha pra alguém.

Desliguei o telefone e nem esperei resposta. Hora de tomar um banho e tirar toda essa história a limpo, se me perdoam o trocadilho. Depois de fazer toda a higiene, me arrumei e desci dizendo que ia jantar na casa de uma amiga. Mamãe não gostou muito da idéia e disse que eu estava saindo demais ultimamente. Papai me defendeu e disse que eu estava vivendo a vida como deve ser vivida, pois nunca se sabe quando vamos morrer. As vezes eu penso que papai sabe que eu sou um alien.

Pulei em Nefertite e voei até a casa de Romolo. Só dei um toque no celular dele e ele apareceu na janela. Graças ao pai não senti nada. E não precisei dizer nada. Ele só me olhou com a cara de nada de sempre e disse: “ai ai”. Em cinco minutos Romolo estava na minha garupa e nós estávamos voando para a casa de Perla. Eu esperava que Nanda desse os pulos dela pra conseguir chegar rápido.

Quando finalmente chegamos na casa da Perla, os pais dela não estavam o que era uma sorte. Ela disse que o pai estava preso em uma reunião e a mãe precisou fazer hora extra. É incrível como o destino consegue se ajeitar com perfeição às nossas necessidades. Bati na porta com Romolo aos meus calcanhares e esperei ser atendido. Perla abriu a porta e convenientemente, Nanda já estava atrás dela.

– Você veio rápido, hein Nanda? – disse eu, abrindo passagem.

– Ela já estava aqui, passamos a tarde juntas. – disse Perla.

– Sem distrações. Marie desapareceu e agora temos de ir procurá-la. Jack sabe onde poderíamos começar a procurar pistas. – disse Romolo me olhando intensamente.

– Jack, se você sabe, não ouse me esconder nada! Eu vou até o inferno pra resgatar a Marie, e ninguém vai me impedir! – disse Nanda, dura, firme e lacrimosa.

Meditei por um segundo. Contar ou não contar? Isso realmente me deixa maluco, mas eu não podia entregar meu melhor amigo de bandeja. Tenho que ser discreto e averiguar o quanto é real e o quanto é falso nessas histórias.

– Vamos para a casa do Hikari. Tenho certeza de que vamos achar alguma coisa lá! – falei essa olhando pro chão. Não gostei de ter de trair meu melhor amigo.

– Então o que estamos esperando aqui ainda? Vamos embora daqui imediatamente e vamos para a casa daquele desgraçado! – Nanda estava realmente irritada. Nunca a tinha visto assim.

Eu entrei na moto, e levei Romolo comigo. Nanda e Perla tiveram de usar o velho carro de Perla. O bicho é uma vergonha para todos que entram dentro dele, por isso ela o mantém escondido na garagem. Ela tem simplesmente uma Brasília 1967 verde-musgo! Antes que ela terminasse de fazer a charanga de metal funcionar, dei a partida e saí em disparada, tentando evitar ser visto com aquele carro alegórico.

Chegamos na casa do Hikari quase 10 minutos antes delas. Até que foi fácil. Agora começava a parte complicada. Quando todos estávamos juntos de novo, começamos a tentar investigar a casa dele sem atrair ninguém por nosso lado ou ser notado por alguma pessoa estranha. Se Hikari fosse mesmo o nosso Darkshadow, então teríamos poucos segundos de vida, principalmente porque começa a escurecer.

– Gente, vou dar um vôo e entrar por cima. Eu sei onde é o quarto dele, e com certeza deve ter algo por lá. Assim, vamos achar pistas mais facilmente. – disse eu.

– Ou você poderia tocar a campainha e perguntar se o Hikari está em casa. Estamos aqui fora se precisar de nós. – rebateu Romolo.

Simples e engenhoso. Esse é o meu Romolo. Não dei a mim mesmo tempo pra pensar sobre o que fazer, toquei a campainha e rezei pra saber jogar com o inesperado. Quem atendeu foi a mãe do Hikari, e agora?

– Jack! Quanto tempo, querido! O Hikari não está, ele foi até a casa de um amigo. Acho que o nome dele é Hugo. Quer deixar recado? – perguntou ela.

– Não, tia. Obrigado mesmo assim! Só avisa pro Hikari me ligar. – disse eu levando um susto tão grande que quase não soube dissimular a alegria.

Me despedi e fui contar pra galera o que tinha acontecido.

– Gente, o Hikari foi para a casa do Hugo! – disse eu ainda atordoado.

– Como isso é possível? Os dois nem se conhecem! – disse Perla.

– Não, no dia do shopping, todos nós estávamos juntos, lembram? Eu até falei que estávamos todos lá. – disse Romolo.

– É mesmo Romolo, eu nem tinha reparado nisso! Caramba, então não tem mesmo outra alternativa, realmente estávamos todos juntos naquele dia. – disse eu.

– Como assim todos nós? Eu não to entendendo! – disse Nanda.

– Nanda, Hikari, Hugo e Marie também são aliens. – expliquei.

POV Marie

Eu recobrei a consciência em uma casa mal-iluminada e não recordava de muita coisa antes disso. Só lembro de ter recebido uma visita. A visita do meu amigo, do meu amor, do meu fiel Atlantis. Hikari. Eu conseguia entender porque ele viera me buscar, mas não me lembrava de ter apagado. Eu não sou de fazer isso.

– Vejo que você finalmente acordou minha bela. Como se sente? – perguntou um homem, vindo em minha direção.

Ele era alto, negro, muito forte e musculoso, vestia uma calça jeans cortada nos joelhos e só. Seus cabelos trançados na cabeça deixavam-no parecido com um lutador de capoeira. Ele veio até perto de mim e me olhou com aqueles olhos mais negros que a noite mais infinita. Não senti medo. Algo me segurava à realidade, e eu gostava disso. Eu só espero que o efeito não acabe

– Eu estou bem, obrigada. Mas eu quero entender o que eu estou fazendo aqui. – falei um pouco incerta do que estava acontecendo.

– Calma, minha bela. Eu lhe trouxe aqui para que conhecesse algumas coisas sobre si mesma. E sobre seus amigos também. Você aceita? – disse o homem.

– T-tudo bem, mas pode me dizer o seu nome? O meu é Marie. – disse eu.

– O meu é Darkshadow. Pode me chamar de Dark, para abreviar. Posso me sentar aqui do seu lado? – perguntou ele, e aí lembrei de ter deitado em um sofá.

Me afastei um pouco e dei espaço para ele. Ele se sentou e olhou para cima, e ficou a contemplar o teto, como se enxergasse outras eras que já foram mais felizes que essas. Eu não podia adivinhar o que estava pensando, mas a quase lagrima em seu olho me fez pensar que era feliz e triste ao mesmo tempo. Ele, por fim, me olhou e disse assim:

– Você gosta de ser que você é? E gosta de seus amigos? Da Nanda? Já pensou que isso torna você especial? – perguntou ele.

– Todos somos especiais de alguma forma, eu, você, todos nós. Mas o que isso tem a ver?

– Acho que você sabe do que o Hikari é capaz, não é? Você tem habilidades similares, e é por isso que você está aqui. Ele te trouxe porque eu pedi. Fiquei com vontade de conhecer aquela que consegue… Bem, vamos deixar isso de lado. Não é importante o que você faz. Mas é importante com quem você quer estar.

– Eu quero estar com meus amigos de verdade. Quero evitar que vocês machuquem mais uns aos outros. Se eu puder evitar que isso aconteça, então eu assim o farei. Eu sei o que você quer Dark, eu sei porque estou aqui. Mas não posso trair a Nanda mais uma vez. Eu não suportaria.

– Marie, eu não estou falando de traição. Você leva as coisas muito a sério. Mas você sabe tão bem quanto eu que uma verdadeira batalha se aproxima. Não será nem de longe uma guerra épica, mas com certeza vamos precisar vencer como se fosse uma.

– Prefiro me manter imparcial – disse eu, olhando para baixo.

– Nós dois sabemos que você não vai poder fazer isso, Marie – disse uma voz que eu conhecia, e que em segredo, estava desesperada para ouvir.

– Atlantis! – pulei do sofá e procurei pela origem da voz e o vi saindo de uma porta vestindo uma calça de moletom branca.

Correi ao seu encontro e o abracei bem forte. Beijei-o com desespero. Doía ficar longe dele, e doía ainda mais ficar perto. Eu queria morrer agora, para não sofrer mais com esse inferno. Eu tinha que fazer minha escolha, mas não conseguia abrir mão de nenhuma alternativa. Atlantis deu um ganido e eu me afastei dele rapidamente.

– Desculpe, ainda não estou acostumada com isso! – disse eu, olhando pra baixo novamente.

– Não tem do que se desculpar está tudo bem! Eu não me machuco com isso. – disse ele, olhando para o lado. – Marie, fica comigo!

– Eu não posso! Eu tenho a Nanda e não posso magoá-la! Ela não merece isso!

– Eu mereço? – perguntou ele, e eu fiquei estática. – Marie, eu mereço passar por isso? Eu sei que você ama a Nanda, mas eu não represento nada na sua vida? Por favor, se for isso, me avise! Assim eu continuarei te amando, mas sem a mínima esperança de ficar com você. Eu sei do seu inferno, também tive o meu!

– Atlan… Não, Hikari, eu te amo! Mas não consigo magoar a Nanda. Eu simplesmente não me perdoaria se isso acontecesse. Mesmo que ela me fizesse algo terrível, eu não seria capaz de fazer mal a ela.

– Eu também disse a mesma coisa para tentar salvar o Jack. Agora cabe a mim matá-lo. Não podemos protegê-los pra sempre, Marie. Você, mais do que ninguém deveria saber disso.

Eu me sentia pressionada de todos os lados. Minha cabeça martelava e gritava frases que eu compreendia e não entendia. Tudo girava e eu tentava manter na minha cabeça o foco da realidade e que eu conseguiria driblar todos os problemas. Não dava certo. Cada vez que eu tinha esse tipo de pensamento, ele se estilhaçava como se um martelo acertasse uma taça de cristal. Comecei a chorar e me afastei dele sem saber o que fazer.

Desde que tudo aconteceu naquele dia que o Hikari tinha ido a minha casa me contar sobre o plano dele, minha vida estava afundando cada vez mais em um grande buraco de areia. Mas pior do que isso, esse buraco estava sugando cada vez mais da minha alma e minha vida que antes era pacata, agora estava do avesso e de pernas para o ar. Queria que não fosse eu, mas não tinha outro jeito. Eu seria o Eixo do Perdão. E eu, somente eu, daria um fim a toda aquela história.

– Que bom que entendeu isso, querida. – disse outra voz, dessa vez, voz de mulher. – É bom ver que você entendeu nosso ponto de vista. Você poderá ser esse Eixo do Perdão, como se auto-intitula. Não se preocupe de como eu sei isso, foi apenas um passarinho que me contou.

– Eu me lembro de você! – disse eu, olhando intensamente para a garota de cabelos castanhos e ondulados, com rosto de fada e olhos de esmeralda. – Você estava no shopping no dia do terremoto!

– Sim, eu estava lá e você me viu. Mas mais importante que isso é que você aceitou entrar na nossa equipe. Não é? – perguntou ela.

Eu teria dito “não exatamente, senhora”, mas minha boca agiu livremente e disse “sim”, e eu pareci muito confortável com a idéia. Na verdade, ela estava penetrando dentro da minha mente e me fazendo pensar que sim, eu seria o Eixo do Perdão, que eu seria aquele que terminaria o conflito e que salvaria todos. Mas salvar de que? Da morte? Da guerra? A salvação é um conceito etéreo.

– Ótimo, que bom ter você conosco. Você sabe o que queremos? Sabe o que fazemos? – perguntou ela.

Novamente eu disse sim. Mas dessa vez, eu tinha algo novo correndo em minhas veias. Adrenalina? Talvez. Sei que eu me sentia muito bem, muito forte. Quase tão poderosa quanto à garota a minha frente. Eu sabia que queria experimentar esse poder em alguma coisa ou em alguém. Mas quem?

– Então porque não vai treinar um pouco com Nanda? Ela parece ser um alvo perfeito.

O nome dela me chamou de volta à realidade.

– Eu nunca faria mal nenhum à Nanda. Nunca! – disse eu, porém sem firmeza.

– Mesmo sabendo que ela te trai descaradamente? – perguntou ela.

– O que?

– Isso mesmo! Ou você acha que ela se reúne com o Jack a toa? Eles têm um caso e já é de bastante tempo. Ela sempre foi uma grande mentirosa que te passou pra trás com cada homem que deitou na cama dela. Ela te traiu com todos e todas que encontrou, mas com o Jack é “especial, é mágico, é diferente da Marie” como ela mesmo fala! Você vai mesmo defender alguém assim? – perguntou ela, olhando nos meus olhos.

Meu mundo caiu! Ou melhor, foi destruído. Eu não conseguia entender direito o que tinha acontecido ali, mas percebi que minha vida inteira tinha sido enganada. Ela representava todo o meu mundo, e agora eu descubro que meu mundo se abriu pra todo mundo? Eu não consegui agüentar essa. Mas diferente da minha reação normal, que seria me acabar de chorar, outra coisa aconteceu. Algo melhor.

Meu coração se encheu do mais puro ódio! Ódio da Nanda, e principalmente do Jack! Ele estava roubando a Nanda de mim e isso eu não perdoaria. Eu o mataria, fria e cruelmente. Depois seria ela. Eu farei com ela todos os horrores que esta terra já viu e tenha certeza de que a deixarei viva para sofra por este mundo todo. Serei sempre a sombra do pior pesadelo que ela já teve!

Meu ódio ganhou uma dimensão tão intensa que pegou Darkshadow desprevenido e o fez tremer muito. Eu sei a dor dele. Eu faço as pessoas sentirem essa dor quando merecem, mas agora eu farei com que aqueles dois sintam dez… Não, cem mil vezes mais! E quem entrar em meu caminho será aniquilado. Nada vai deter o meu objetivo! Eu juro pela minha alma que matarei Jack e Nanda, e todos aqueles que tentarem me impedir!