Rainbow War

Ciúmes de irmão(?)


Minha garganta já estava completamente fechada de chorar em silencio. Olhá-la viva, sorrindo, como se nada tivesse acontecido fazia meu coração ficar alegre e em paz. Há muito tempo que eu perdera a esperança de vê-la novamente, mas agora com as coisas que aconteceram e com essa nova perspectiva dela aqui na minha frente, posso dizer com toda a certeza de que nada de mal acontecera realmente com ela.

– Ta olhando o quê, idiota? Perdeu alguma coisa? – disse ela, com uma voz de navalha e um olhar de víbora.

– Credo, Tati! O que foi isso? – Hugo parecia completamente espantado com a atitude dela, e eu não estava nem um pouco diferente – Você sempre foi uma menina tão gentil e legal com todo mundo, por que está agindo assim com o Jack?

– Então você conhece esse idiota? Espero que você não se misture com a laia dele! Hugo, se você vai ficar com ele, eu me retiro pra não ter que respirar o mesmo ar que este imbecil!

E saiu furiosamente de perto de nós, me lançando um olhar de metralhadora semi-automática totalmente carregada. Eu pensei que me sentiria feliz por vê-la de novo, e realmente acertei. Mas o “vê-la de novo” agora tinha o significado de “vê-la partindo”, já que ela bateu a porta com tanta força que quase partia a dita ao meio. Considerei seriamente a possibilidade de recrutar uma escolta armada da próxima vez que me encontrasse com ela.

– Caramba, Jack! Ela realmente te odeia. Eu diria que é completamente impossível fazer a Tati odiar alguém, então o que quer que você tenha feito, foi grave com certeza.

– Bem, eu não fiz nada. Mas foi justamente por não fazer nada que ela me odeia.

Hugo me olhou com uma cara esquisita e interrogativa, mas não me atrevia a envolvê-lo mais na historia do que já estava envolvido. De qualquer maneira, se ela saísse de novo, certamente seria com uma faca afiada pronta pra enfiar em algum lugar desagradável do meu corpo, e meu amor próprio falou que eu devia sair o mais rápido dali se quisesse ver o sol nascer de novo.

– Podemos conversar em outro lugar? Eu to com medo dela aparecer e tentar me matar. – tentar mentir não era a melhor solução nesse caso.

– Dessa vez, eu concordo em numero, gênero e grau. Acho que ela não vai matar somente você se sair de novo.

Levantamos-nos calmamente, espanamos o pó do corpo, olhamos um pro outro e… Partiu! Cada um por si e Deus por todos, pois saímos a correr como dois guepardos aterrorizados, e até hoje eu não sei quem entrou primeiro na casa do Hugo. Sei somente que eu desabei no chão de exausto, não de correr, mas de medo de que ela realmente voltasse pra me matar.

– O que os dois pirralhos estão fazendo? – perguntou o irmão do Hugo quando me viu deitado no chão arfando e o Hugo se apoiando na parede.

– Olha aqui, Rafael! Quando sou eu sozinho, até que eu te mando ir à merda, mas tenha pelo menos um pingo de respeito pelo meu amigo que está aqui!

– A culpa não é minha se ele veio de introsado. Quer ficar, fica! Mas tem que agüentar por contra própria!

– Vai pro teu quarto ver teus machos pelados, e deixa a gente em paz!

– Antes ver machos pelados lindos e gostosos, do que ver aquelas velhas decrépitas que você namora!

– Lave sua boca imunda pra falar da minha namorada! Quer saber? Vai tomar no cu, que eu vou pro meu quarto e ai de ti se chegar perto de lá, ouviu bem!?

Hugo atravessou a sala e foi direto para os quartos que ficavam na parte de cima da casa, subindo a escada perto da cozinha. No andar de cima, caminhou resoluto para a terceira porta à direita, abriu e revelou um quarto completamente inesperado: Apesar das cores claras da parede, cada milímetro dela estava coberto de pôsteres de bandas, cantores, jogos e, é lógico, mulheres peladas. Segura a onda, Pê-chan!

– Bonito quarto, é bem a sua cara. – disse eu.

– Valeu! Tem um quarto pra você dormir, então eu só vou pegar algumas coisas pra você e te levo lá.

E ele pegou um pijama que tive certeza que iria ficar alarmantemente curto e agarrado em mim de dentro do guarda-roupa, um lençol que deixaria meus pés descobertos e nos dirigimos ao quarto de hospedes. Mas a bela surpresa é que estava trancado, e Hugo não tinha idéia de onde tinha posto a chave. Se eu tivesse que dividir o quarto com ele, a coisa não ia prestar!

– Achei que esse quarto estava destrancado! – disse Hugo tão surpreso que eu fiquei surpreso por ele ficar surpreso – Peraí que eu vou dar um jeito nisso!

E desceu emanando uma aura absolutamente demoníaca. Eu já podia ver o resultado disso tudo, e eu não queria perder nada! Desci o mais silenciosamente que pude e me escondi o bastante pra que nem Hugo nem Rafael vissem que eu estava observando o maior quebra-pau que eles armavam:

– E O PROBLEMA É MEU QUE A CHAVE TENHA SUMIDO?! – gritava Rafael adoidado – TE VIRA PRA ENCONTRAR A PORCARIA DESSA CHAVE ANTES QUE EU TE META UM BOGUE!!

– SE VOCÊ TIVESSE PEITO PRA ME METER PELO MENOS UM TAPA, EU NEM FALAVA NADA! MAS VOCÊ É UMA PUTA COVARDE!!! – berrava Hugo quase explodindo de raiva – ME DÁ LOGO A PORRA DA CHAVE!!!

– QUE VOCÊ É BURRO DE NASCENÇA EU JÁ SABIA, MAS NÃO SABIA QUE VOCÊ ERA SURDO!! A CHAVE NÃO ESTÁ COMIGO!!!

– SEU IDIOTA, SÓ TEM NÓS DOIS EM CASA! SE EU NÃO PEGUEI ESSA CHAVE, ENTÃO ELA ESTÁ COM VOCÊ!

– OLHA AQUI, SEU PIRRALHO DESGRAÇADO, QUEM MANDA NESTA PORRA DE CASA QUANDO PAPAI E MAMÃE NÃO ESTÃO SOU EU, ENTÃO TRATE DE ME RESPEITAR! VOCÊ NÃO TEM MORAL PRA ME ACUSAR DE ROUBAR ESSA COISA!!!

– EU RESPEITARIA UMA MOSCA MAIS DO QUE VOCÊ! VOCÊ SE ACHA UMA GALÁXIA, MAS NÃO É NEM UM METEORO! ME DÁ ESSA CHAVE AGORA!!!

– EU JÁ FALEI QUE NÃO TÁ COMIGO, FEDELHO! VAI EMBORA E ME DEIXA EM PAZ!!!

– EU NÃO SOU CEGO COMO VOCÊ, EU TÔ VENDO A CHAVE DENTRO DO TEU BOLSO DAQUI! EU VOU FALAR PELA ULTIMA VEZ, ME… DÁ… ESSA… CHAVE… AGORA!!!

Caracas, doido! Eu vou deixar de assistir vale tudo e comprar meu ingresso pra dormir todo dia aqui na casa dele. O quebra-pau foi tão forte que eu já nem sei mais quem tava gritando com quem. Sei somente que, no final Hugo saiu da cozinha segurando uma chave e com uma cara de assassino. Achei por bem próprio não perguntar se eram assim todos os dias.

– Eu odeio ele! – disse Hugo enquanto subíamos as escadas – Todas as vezes que eu trago um amigo pra casa, ele se comporta dessa maneira ridícula. Parece uma criança carente de atenção, eu não entendendo!

– Vai ver ele tem ciúmes de você – disse eu sem pensar muito nas conseqüências.

– Não sei. Talvez sim, talvez não. Só queria entender o porque que ele teria ciúmes de mim.

Chegamos novamente ao quarto de hospedes, e dessa vez, com possa da chave, abrimos a porta e revelamos um quarto branco e azul com moveis de madeira e uma cama de casal bem espaçosa. Pelo visto eu ia aproveitar a noite.

– Você já tem tudo o que precisa. Quer jantar? – perguntou ele.

– Tudo bem, obrigado. Qual é o cardápio?

­– Miojo!

Quando finalmente consegui terminar de entrar no quarto depois de comer um miojo, fiquei pensando se algo mais poderia dar errado. Foi aí que eu me lembrei que não tinha uniforme pra entrar na escola amanha cedo. Eu estava mais que fudido. Mas não era hora de se preocupar com isso, era hora de dormir e esquecer a maioria dos meus pesadelos.

Consegui dormir um sono tranqüilo, e nem me importei de estar dormindo só de cueca. Afinal, o pijama de Hugo ficou tão apertado que parecia que eu vestia um conjunto de roupas de ginástica femininas. Nem lembro direito do que sonhei, mas me lembro mais ou menos de que acho que era alguma coisa com o Rafael, irmão do Hugo. Engraçado, né? Essas pessoas que conhecemos a pouco tempo mechem tanto com a gente que até sonhamos com elas.