Rainbow War

Abalou, sacudiu e balançou



Fiquei totalmente apavorado com aquela visão divina e ao mesmo tempo, infernal. Sabia que poderíamos enfrentá-la nos territórios desabitados de humanos, mas no meio do shopping? Não, isso era inconcebível. Não creio que teremos que lutar no meio de tanta gente. Eu só queria que alguma coisa acontecesse que tirasse todos os inocentes do local de batalha.

Não sei se Deus ouviu minhas preces, mas do nada senti a terra tremer e o shopping inteiro chacoalhar como uma mola. Fomos todos ao chão e o pânico comeu geral. Foi um verdadeiro pandemônio: mulheres escandalosas correndo loucamente, homens tentando raciocinar, crianças chorando e sem saber o que fazer, uma verdadeira loucura! Mas pelo menos estavam todos saindo de dentro do shopping. Obrigado, Jesus!

De repente, tudo parou. Os tremores cessaram e eu pude me levantar, assim como todos os outros. O cenário era de caos: tudo vazio e quebrado ou derrubado. As vidraças tinham se estilhaçado, várias coisas tinha sido espalhadas com os tremores, e até o chão tinha se rachado. Mas o mais importante: estávamos todos juntos. Eu, Romolo, Perla, Hikari, Nanda, Marie e Hugo estávamos agrupados no chão, e fiquei feliz e preocupado ao mesmo tempo. Todos nós estávamos bem, mas como iríamos proteger três pessoas e tentar lutar ao mesmo tempo?

– Pessoal, levantem. Temos que começar a agir pra sairmos daqui. Perla, Romolo, Nanda, venham aqui já!

Todos me olharam com uma cara de puro medo, exceto Romolo que conservava a expressão fria de sempre. Sendo que ele foi o primeiro a se levantar, e ajudou as outras duas a virem. Fiquei olhando Hugo, Marie e Hikari, que mais pareciam crianças abandonadas do que adolescentes feitos. Acho que eles achavam que a gente estava tentando fugir sozinhos. Ledo engano.

– O que foi isso? Não acontecem terremotos aqui! Estamos no Brasil, pelo amor de Deus! Acham que a Jade fez isso? – perguntou Nanda que ainda estava apavorada.

– Não. Jade não tem poder de fazer as coisas tremerem. Foi alguém de fora, e mais, alguém que queria nos deixar sozinhos com ela. E podem ter certeza, logo logo Darkshadow vai aparecer. – disse Romolo.

– Esse é meu medo. Quando ele aparecer, um de nós terá que ficar para lutar contra ele. Mas ao mesmo tempo, teremos que proteger aqueles três. Sem contar que ainda temos que ter um para lutar contra a Jade. Será que damos conta? – perguntou Perla.

– Damos. Nanda pode cuidar da Jade e eu posso tentar me entender com Darkshadow. Perla e Romolo tem um nível de combo absolutamente perfeito, então seria interessante que eles ficassem para proteger o pessoal. Combinado?

O plano foi aceito por todos. Perla queria mais que tudo ficar ao lado de Hugo nessa hora, assim como Nanda desejava ficar ao lado de Marie, mas eu tenho pesadelos a ter que lutar com Romolo. Prefiro que ele fique de guarda-costas do Hikari a ter que lidar com ele numa batalha de dupla. Mas assim divididos, aproveitei para explicar a situação aos humanos que tinha ficado nos observando.

– Olha gente… É meio complicado de falar isso, mas vocês vão ter que ir embora. Nós temos um compromisso aqui e precisamos que vocês saiam em segurança para que possamos ir com tranqüilidade. Garanto que vamos proteger vocês com toda a nossa força, mas não aqui. Romolo e Perla vão levá-los até a saída enquanto Nanda e eu ficaremos aqui e enfrentaremos todo mundo. Certo?

Eles não pareceram entender nada, mas levei isso como um sinal positivo. Romolo e Perla se aproximaram deles e tentaram fazê-los levantar, sem muito sucesso. Acho que eles estavam em estado de choque.

– Gente, é sério! Vocês precisam ir, esse lugar está ficando mais perigoso a cada segundo que vocês ficam aqui dentro! Eu prometo que vamos ficar todos bem, mas, por favor, saiam daqui agora! – disse Nanda, já entrando em desespero.

Eles pareceram acordar com esse comentário e Hugo se agarrou no pescoço de Perla enquanto Hikari se levantou e segurou um dos braços de Romolo. Mas Marie ficou parada no chão olhando pra Nanda com ares de choro. Acho que ela era a passiva. Epa! FOCO, JACK, FOCO! Enfim, Nanda foi até ela, agachou-se ao seu lado e disse.

– Você precisa ser forte, minha linda. Precisa ser muito forte, mesmo! Eu prometo que vou voltar para você, não importa como. Com certeza, eu vou voltar para os seus braços!

Marie engoliu o choro com esse comentário e se levantou. Olhou para todos nós e disse:

– Não importa como, vocês têm que cumprir suas promessas! Não se esqueçam que estaremos lá fora para cobrar cada uma de suas palavras!

Ela segurou a mão livre de Romolo todos os cinco correram para a saída mais próxima. Queria ter ido com eles para me certificar que todos estariam bem, mas era hora de ficar e enfrentar certas garotas.

– Tati não está fazendo isso porque quer, mas mesmo assim não vou pegar leve com ela. E você também não deve pegar leve com Darkshadow. Ele é o verdadeiro culpado de tudo isso e vai ter que pagar.

Nanda estava certa. Tinha algo que me incomodava nisso tudo, mas deixei para o final do dia. Olhei para o bracelete no meu braço direito e percebi que Nanda já tinha ativado o dela. Vi a imagem dela tremular e aparecer uma linda japonesinha com cabelos negros com franjinha, a pele parda, os olhos puxados e negros, e uma boca bem delineada. Só agora reparei no que ela vestia: sandália rasteira, saia de hippie estampada e uma blusa preta básica.

– Você vai conseguir lutar com essas roupas? Não tem medo de aparecer sua calcinha?

Em resposta, ela levantou a saia e pude ver um short preto nas pernas lindas dela. Menina precavida. Enfim, ativei meu bracelete e fui procurar os cacos de um espelho pra me olhar. Nanda veio me seguindo, provavelmente para retocar a maquiagem. Andamos alguns momentos em silêncio até chegarmos ao banheiro, aí ela me perguntou:

– Acha que Jade está escondida aqui?

– Eu nem tinha pensando nisso, estava querendo mesmo era um espelho para saber como eu fiquei com esse disfarce.

– Aff, seu Jack! Que coisa mais besta!

Ignorei esse comentário e entrei no banheiro pronto para ver meu reflexo, mas me surpreendo com alguém do outro lado do espelho me encarando bem diferente de mim: era mais alto, tinha cabelos negros e lisos compridos até quase o meio das costas, uma barba negra e macia, pele clara e olhos de um azul tão profundo que se tornavam violeta. Gostei de mim mesmo, e poderia ter continuado a me admirar ali, mas o grito de Nanda me fez despertar para a realidade.

Sai correndo do banheiro, com medo de que ela tivesse encontrado Jade e entrasse em um combate de vida ou morte sem que eu estivesse por perto para auxiliar. Sabe como minha imaginação é fértil, né? Mas quando eu cheguei, apenas me deparo com ela em cima de um banco, olhando horrorizada para um lugar no chão. A principio imaginei que as portas do inferno tinham se aberto e ela tinha visto a cara de Lúcifer. Mas era pior, muito pior! Ativei minhas asas e voei até ela o mais rápido que consegui e tirei nós dois daquela zona de perigo.

– Essa foi por pouco. – disse Nanda ainda tremendo um pouco. – Promete que não vai me deixar sozinha outra vez!

– Jamais, até porque eu tenho tanto medo quanto você… Mas vamos procurar logo pela Jade, e acabar logo com isso.

Não era de meu comum ter medo, mas dessa vez o caso era grave! Enfim, fomos caminhando pelo shopping e percebendo que cada vez que passávamos por um lugar, ele parecia menos habitado do que o anterior. Acho que ela estava brincando de labirinto com a gente, sem contar que ela podia sentir nossa energia e tentar evitar um encontro frontal.

Andamos por mais algum tempo até que começamos a pensar que Jade poderia ter ido embora. Não encontrávamos nada por onde quer que passássemos, e era cada vez mais difícil definir um caminho a seguir. Se ela se escondesse nas lojas de departamento, seria o fim de tudo. Eu provavelmente me perderia experimentando algumas coisas bonitinhas renovar o visual. Qual é? Também sou gente, poxa!

– Jack! – disse Nanda, me fazendo ficar automaticamente alerta.

Olhei para onde ela olhava e pude vislumbrar vultos. Mas não eram vultos muito bons de ver. Eu conhecia todos os dois: um vulto preto, com uma camisa de Marylin Manson, e outro vulto com uma legging preta, sandália de salto e uma bata tomara-que-caia branca. Perla e Romolo! Quando nos demos conta da verdade, desembestamos até eles para saber se estavam bem, e o mais surpreendente: Hikari, Hugo e Marie estavam totalmente desaparecidos.

Isso era revoltantemente preocupante! Eles estavam fora de combate e os outros poderiam estar em qualquer lugar, menos sem segurança. Quando chegamos até eles, nem tivemos coragem de tentar acordá-los, pois pareciam mais mortos do que outra coisa. Olhei ao redor para ver se encontrava alguma pista do paradeiro do pessoal, mas só pude me deparar com o nada. Até que ouvi uma risada escandalosa percorrendo os corredores e dando um arrepio na espinha de todos nós.

– Pobre, pobre, pobre de vocês! Não conseguem proteger seus amigos e agora não podem fazer mais nada a respeito. Apenas sentem-se e apreciem o espetáculo.

– Por que isso não me parece algo positivo? – perguntou Nanda, cobrindo minha retaguarda.

E do nada, uma explosão de energia verde faz o teto desabar em cima da gente. Vi os pedaços gigantescos de concreto caírem na nossa direção, mas Nanda deve ter pensado mais rápido, pois senti o vendo se agitar ao nosso redor e criar um tornado que levou os pedaços de concreto para longe. Mas não era o bastante. Peguei-a, e voei para Romolo e Perla, para levá-los a um lugar seguro. Agora que eu sabia onde Jade estava, a batalha ia começar nem que seja na marra!

Deixei os dois desacordados dentro de uma loja de sapatos e voei com Nanda até a praça de alimentação. Não a encontramos pelo shopping porque ela nunca tinha saído de lá. Mas agora era hora de acertar umas continhas. Quando chegamos até a praça de alimentação, pude vê-la claramente: Jade, em todo o seu esplendor. Agora eu entendia. Nós não a vimos pelo shopping porque ela nunca tinha saído da praça. Tinha apenas se escondido.

– Bem vindos! Achei que jamais conseguiriam chegar aqui! Já estava ficando entediada. Vamos brincar? – perguntou ela, caminhando em nossa direção.

– Pode apostar que sim! – falou Nanda, e partiu para o ataque.

Jade criou uma bola de energia e jogou contra Nanda, mas ela desviou e criou um tornado ao redor do corpo que sugou a garota dos olhos verdes. Mas ela lançou um laser contra a coreana, que pegou em cheio. Acionei minhas asas e saí voando na direção da Jade, e quando pude chegar bem perto, larguei um chute nela. Nanda se levantou do chão e lançou um tornado que pegou certeiro na Jade e a jogou para o outro lado da praça.

– Bom trabalho! – gritei lá de cima, mas ela não deve ter ouvido direito e foi direto pra cima dela. – Nunca interrompa duas mulheres brigando.

Desci e fiquei esperando para ver os resultados. Acho que eu mesmo não tinha vontade de brigar contra Jade depois que a Nanda pegou a causa. Acho melhor ficar dando back-up e vigiando caso Darkshadow apareça de repente. Só que do nada, um raio laser de energia gigantesco tentou atingir a Nanda, mas ela se defendeu criando um tornado ao redor do corpo que fez a energia ir toda pra cima.

– Elas lutam muito bem, não é mesmo? – perguntou alguém do meu lado.

– Muito. É totalmente impossível prever os movimentos, achar uma brecha, qualquer coisa… Tanto na porrada quanto nos poderes, as duas são incríveis – respondi.

– Quem você acha que ganha? – perguntou o cara.

– Difícil dizer. Jade é letal quando está próxima. Sua capacidade de absorver a energia do oponente é impressionante, mas de longe, ela apenas machuca. Já a Nanda é diferente: ela pode ser letal tanto de longe quanto de perto. O problema dela é usar o vento na medida certa. Mas confio nela, e tenho certeza que ela é capaz de ganhar.

– E se não houvesse nem vencedores nem perdedores? – agora eu olhei pra ele. Quase tive um infarto ao ver Darshadow do meu lado, olhando para a briga com ares de interesse.