Ragnarok Online: Lamina Negra

Capítulo 2: Aquela guilda problemática.


Prontera, capital do reino de Rune-Midgards.

Extremamente movimentado como sempre estava a exuberante capital de um dos três reinados construídos pelo homem, a cidade-capital de Prontera.

Ruas pavimentadas, calçadas e suas inúmeras construções de madeira e rocha, espalhadas por toda a parte dentro das muralhas da cidade. Grandes e imponentes paredes de pedra cuja sombra ofusca algumas casas por trás daquele sol de verão.

Devidamente organizados no centro das estradas de concreto, postes de luz atualmente desligados carregam consigo o estandarte que estampa o emblema do reino de Rune-Midgards. Uma homenagem clara e direta à própria dimensão de Midgard que todos chamavam de lar.

No centro da cidade, uma bonita praça construída envolta de uma fonte se mostra repleta de famílias e casais, aproveitando a brisa para colocar o papo em dia ou contar de suas aventuras no desconhecido.

Com um ambiente tão calmo e atraente, é fácil de se entender por que o local se tornou o centro comercial da cidade. Para cima e para baixo, barracas e carrinhos de venda de madeira se encontram espalhados.

— Balões! Balões coloridos por apenas 100 zeny!

Repousando acima das águas da fonte, uma grande estátua de um guerreiro barbudo brande sua lança, montado sobre um estranho cavalo de oito pernas.

Se tratava de Odin, pai de todos e deus dos deuses Vanir, erguendo a lendária lança Gungnir e cavalgando sobre seu corcel Sleipnir.

A risada de um casal preenche o ar, com o homem tendo sujado sua jaqueta de maneira desastrada e sendo caçoado pela garota.

— Você está rindo, mas esquece que é a sua semana de lavar as roupas. — Imediatamente a moça se irrita, erguendo o punho livre em protesto.

— Ah é mesmo? Então não vai reclamar se eu enfiar o meu sorvete na sua cara! — Brincando, aproximou seu sorvete do namorado, mas reparou que ele prestava atenção em outra coisa.

Virando seu olhar para o mesmo local, viu um trio esquisito caminhando para fora da praça.

Na frente, andava um jovem alto e com músculos a mostra, seus cabelos brancos como nuvem batendo abaixo dos ombros. Olhos marrons e relaxados, os braços cruzados atrás da cabeça de maneira completamente despreocupada.

— Aqueles são.. mercenários? — A garota que estava sentada bisbilhotando perguntou, seu namorado concordando com a cabeça lentamente.

Ao seu lado caminha uma incrível beldade loira trajando um manto vermelho, dourado e branco aberto na altura das coxas, seus joelhos cobertos por meia-calça branca, enfiadas em sapatilhas vermelhas.

No pano que divide as aberturas inferiores de seu vestido se mostrava estampado o sinal da cruz.

— Essa mulher é uma sacerdotisa? É tão bonita. — Pensou para si mesma, inflando as bochechas ao comparar seu corpo com o dela.

— Sim. Acho que são daquela guilda doida lá do sudeste da cidade. — Certamente não queria chamar atenção daquela trupe, mas o rapaz demonstrava dificuldade em tirar os olhos do grandalhão que vinha logo atrás daqueles dois.

O gigantesco padre de cabelo longo e laranja carregava em seu ombro direito um longo porrete de ferro, era facilmente o homem mais alto que havia visto em toda a sua vida.

— Qual era o nome.. Sanctuary, algo assim? — A namorada adicionou, sem perceber que ele não estava mais prestando atenção.

Se aqueles dois quisessem dar um soco no rosto daquele padre, a sacerdotisa loira teria que sentar nos ombros do delinquente musculoso.

— Será que está rolando alguma coisa perigosa aqui perto? — Ela diz, encostando em seu ombro suavemente com a mão e o tirando do transe.

— O quê quer dizer?

Ela deu de ombros.

— Bem, eles são mercenários não é? Espadas de aluguel. As pessoas os pagam para acabar com monstros perigosos. — A garota tentou explicar da melhor forma que pôde.

— É, mais ou menos. Até onde eu sei não é só isso, alguns buscam pessoas desaparecidas, outros vão atrás de foras da lei ou tentam resolver problemas. — Engoliu a seco de maneira apreensiva.

Ainda sim, um deles carregava uma clava de ferro do tamanho de uma pessoa e claramente não estavam ali para brincadeira.

O trio continua sua caminhada, a sacerdotisa limpando suor de sua franja dividida ao meio com uma enorme insatisfação estampada no rosto.

— Não fui feita pra caminhadas longas, um de vocês bem que podia me carregar. — Usando seus melhores olhos castanhos de cachorrinho perdido, juntou suas mãos em uma prece na direção dos dois rapazes.

É prontamente ignorada pelos dois, o padre erguendo uma sobrancelha no fundo.

— Malvados. — A sacerdotisa faz um bico, olhando para o outro lado.

— 'tamo andando a uns cinco minuto, Beatrice. — Respondeu de maneira bruta aquele com aparência de delinquente ao seu lado, os antebraços cobertos em bandagens brancas bem surradas.

— Hunf. Só por que tivemos que fazer uma viagem desnecessária no ferreiro da praça. Culpa sua, Apple. — Ela olha para trás.

O esguio sumo-sacerdote embaraça o cabelo loiro da garota na sua frente com uma mão pesada e uma risada leviana.

— Foi mal, sério. Mas os ferreiros de hoje em dia são muito molengas, eu estouro uma dessa na cabeça de alguém pelo menos duas vezes por semana. — Com um chacoalhar de seu ombro, a ameaçadora clava de ferro dá uma leve quicada ao seu lado.

Claramente os dois na frente se sentem incomodados com a imagem que os vem em mente. Levar uma pancada desse monstro na testa não faria bem a ninguém.

— Pra que você precisa disso de qualquer forma, você não é um Sacerdote como eu? — A loira o questiona.

É comum ver noviços e sacerdotes carregando porretes por aí, mas aquela arma esquisita em suas costas parecia mais uma lança com uma grande clava de aço na ponta.

Com toda a certeza precisaria ser utilizado com as duas mãos durante uma batalha.

— Já falei garota, eu sou um Sacerdote de Batalha. Provavelmente pra cada pessoa que eu ajudei, outras três eu mandei pro hospital. — O padre voltou a sorrir, mesmo sua frase sendo nem um pouco engraçada.

Retirando sua mão da cabeça da garota, a jogou ao redor dos ombros do outro rapaz, extremamente incomodado.

— Ai ai. Vocês dois novatos tem sorte, sua primeira missão terá minha honrada presença. — Fechou os olhos, brilhantes como se fosse uma estrela de cinema.

Beatrice dá um leve sorriso de nervoso, enquanto o rapaz de branco luta contra o agarrão do padre.

Alguns minutos depois estão frente-a-frente com o portão principal da cidade de Prontera, a saída sul que é constantemente frequentada por aventureiros e mercenários novatos no início de suas jornadas.

Mesmo de dentro da cidade já era possível ver alguns Porings pulando para cima e para baixo pela grama, pequenas gosmas rosadas e com um olhar fofo e inocente.

— Ah, a kafra Denise tá ali! Já volto. — Com um súbito pico de energia, a loira corre até a mulher de avental que conversava com alguns aventureiros perto do portão.

Ambos os rapazes ficam para trás, parados no meio da estrada enquanto a multidão caminha ao seu redor.

— Por que 'tu tá com a gente mesmo? Não tem mais o que fazer? — Aquele de branco questiona ao sumo-sacerdote, que o retorna com um olhar e uma jogada ombros indiferente.

O ar divertido havia ido embora junto com a sacerdotisa.

— Tem algo estranho acontecendo nessa floresta. Gente sumindo. Vocês são jovens.

— É, eu 'tô sabendo. Mas todas as outras guildas de Prontera estão ocupados com missões ou eventos longe da cidade, com certeza tu deve estar cheio de trabalho pra perder tempo com novatos como nós. — O sumo-sacerdote observa o rapaz falar com muita calma, o analisando.

Um leve sorriso de escárnio aparece em seu rosto, e ele se abaixa para encarar o outro diretamente.

— Mas que rapaz de boa índole, Elias. Tem certeza que não quer apenas me expulsar pra ficar sozinho com ela? — Sua frase imediatamente deixa o outro rapaz um pouco corado, levando a mão até a cintura.

Vendo-o puxar uma adaga de algum lugar oculto, o padre gargalha de maneira sonora enquanto desvia das facadas agressivas do mercenário. Algumas pessoas começam a prestar atenção na cena.

— E toda aquela história de usarmos nossos codinomes enquanto estamos em trabalho no campo? Tu explanou meu nome pra toda a esquina.

Girou a perna, tentando aplicar uma rasteira. Falhou.

— Ah, desculpe "Bochecha". Mas eu me recuso a usar esse codinome idiota na frente de outras pessoas.

Errou mais uma facada direcionada ao abdômen.

— Meus amigos que me chamavam assim, seu boneco de posto! Nem fui eu que inventei isso! — Puxou uma segunda adaga de algum lugar, e deram inicio a uma completa coreografia de circo no meio de uma via publica.

A única coisa que conseguiu foi levar um puxão de bochecha do sumo-sacerdote em meio aos seus rodopios, atingindo apenas o vento.

— Não se preocupe, a última guilda que deixou a capital para fazer missões lá fora foi a Last Warriors ontem a noite. Ainda não deu tempo do trabalho acumular sobre nós. — Foi dizendo em meio a cada manobra evasiva que completava.

Ainda mais furioso, as tentativas de esfaqueamento continuam aumentando de volume até que um guarda os chama atenção, batendo um grande escudo com o símbolo de Rune-Midgards no chão.

— Sanctuary, é? Tinha que ser vocês. — O homem de armadura e capacete se debruçou sobre o enorme escudo que havia plantado no pavimento, os encarando.

O rapaz de branco se desculpa, coçando a cabeça meio sem jeito. Mas tudo que tirou do padre foi apenas um peteleco na testa de seu elmo e um sorriso de deboche.

Já estamos indo, ô seu guarda. Não precisa nos prender. — Carregando o jovem junto consigo, foram de encontro à sacerdotisa.

Suspirando, o guarda de armadura pesada os acompanhou pela metade do caminho e depois voltou para seu posto no portão principal.

— Esses mercenários são folgados. Acham que são grande coisa, mas nós é que tomamos conta da cidade no fim do dia. — Resmungou com cara de poucos amigos.

Do outro lado do portão, seu companheiro de cabelo espetado e tapa-olho roncava de pé em plena luz do dia e sem preocupações, recostado à uma enorme alabarda em seu braço.

A sacerdotisa sorriu com uma bolsa branca em mãos. Havia uma cruz vermelha estampada no lado, como se fosse um enorme kit de primeiros-socorros.

— Olha, Bochecha, tirei da kafra aquela bolsa que te falei mais cedo!

Ele ergue uma sobrancelha, enfiando a cara na bolsa da sacerdotisa.

Com um olhar orgulhoso, a garota começou a relatar sobre uma enorme lista.

— Como a gente vai pra floresta, trouxe repelente, um mapa, uma corda, spray de cabelo, uma leva de roupa, um laço bonitinho que comprei em Izlude..

Continuou falando mas o rapaz não estava prestando atenção, ao invés disso ergueu seu nariz levemente como se fosse um animal farejando alguma coisa.

Não demorou muito para o sumo-sacerdote chamado de Apple reparar.

— Algo errado?

O mercenário de cabelo branco saiu em disparate, e o sumo-sacerdote foi logo atrás. Agarrou a menina distraída diretamente pela gola de seu manto.

— ..um porta copos e-Kyah! — Beatrice solta um suave grito ao ser puxada como um boneco de pano.

Andaram por pelo menos uns dois minutos à esquerda, dentro da floresta nos arredores de Prontera e seguindo a muralha da cidade. Logo depois começam a andar em linha reta no meio das árvores.

— Sangue. — Disse o rapaz que os guiava, empurrando um galho pra fora do caminho.

Chegando a uma pequena clareira, a cena a seguir faz a sacerdotisa levar uma mão à boca imediatamente.

O cheiro nauseante de sangue, o odor impuro de um corpo cuja carne foi violada de uma dezena de maneiras diferentes. Beatrice vomitava em um arbusto no fundo.

— Mas que porra aconteceu aqui?! — Incrédulo, o rapaz de branco observava o compacto campo de batalha que aparentemente havia se formado no local. Cortes enormes destroçavam o solo, grama cortada espalhada por toda a parte.

Pelo menos duas árvores haviam sido derrubadas, uma terceira estava tombada e escorada nos galhos de outra.

Rastros de sangue dançavam à esquerda e direita, como se uma criança tivesse tentado pintar um quadro com tinta vermelha pela primeira vez em sua vida.

— Tem pelo menos uma vitima. — O sumo sacerdote se aproximou de uma das árvores caídas, seguindo o rastro de sangue e se ajoelhando perto de algo.

Ao segui-lo, deram de cara com um corpo estraçalhado. Parecia que alguém havia enfiado um ser humano em um liquidificador, o ligou por apenas um segundo, e o jogou para fora meio moído.

Era difícil de se distinguir com todo o sangue, mas parecia ser um adolescente coberto de bandagens pretas de cima a baixo. Seu cabelo escuro estava tão sujo de sangue que era mais fácil dizer que era ruivo.

— S-S-Será que um monstro o atacou? — Gaguejou Beatrice, limpando algumas lagrimas de nervoso de seus olhos.

— Impossível. Que criatura selvagem capaz de fazer isso estaria escondida assim tão próxima da cidade? — O sumo-sacerdote a respondeu, olhando a cena do crime com um olhar extremamente sério.

O outro garoto observava o corpo, seus olhos pareciam tão vidrados na carnificina em sua frente que era fácil o confundir com um manequim.

— Acho que é um pouco de mais pra essas crianças. — Refletiu em sua mente o mais experiente do trio, com um sorriso triste em seu rosto ao se erguer.

Dando uma última olhada no defunto, reparou no que achava ser o seu braço segurando dois objetos como se sua vida dependesse disso. Mas não parecia ter muita importância.

— Iremos relatar isso pra Ordem dos Cavaleiros, tudo bem? Vamos voltar por enquanto. — Disse com um braço de consolação ao redor da sacerdotisa, que parecia desamparada com tudo aquilo.

Antes de irem embora, o rapaz de cabelo branco notou com o que o defunto estava agarrado e se abaixou próximo ao corpo para recolher.

Segurando os objetos em meio a todo o sangue, pela sensação em suas mãos acreditava se tratar de um par de espadas, completamente envoltas em grossas bandagens e ataduras.

Algo o segurou firmemente.

— O quê?!

Os sacerdotes se viraram imediatamente ao ouvir o urro de susto do outro mercenário, apenas para ver que o corpo ensanguentado havia se atirado pra cima dele.

— KYAH! Um morto-vivo?! — Desesperada, a menina puxou um porrete de ferro sabe-se lá de onde e escondeu-se atrás dele.

— Saia de perto dele! — Erguendo o porrete sobre seu ombro, uma aura divina de luz clara se envolveu na arma do padre. Com a mão livre, puxou o rapaz para longe do corpo, mas estavam bem grudados e não achou uma brecha para o golpear diretamente.

Pareciam estar disputando pela posse daquela coisa. Com um chute desengonçado, o sumo-sacerdote o separa da criatura ensanguentada, que rola para longe novamente com sua posse em mãos.

Completamente imóvel mais uma vez.

Alguns segundos de silêncio se passam, e era possível escutar alguma coisa.

— Por Odin. — A menina reza, escondida atrás do maior do grupo.

— Eu.. acho que ele 'tá vivo. — Rapidamente se aproxima o mercenário de cabelo branco, tomando cuidado para não tocar naquela coisa de antes.

O virando de frente, era possível ver que seu torso se movia de maneira sincronizada com sua respiração abafada.

— Vivo?! Vivo como? Ele está todo torto, e tem esse banho de sangue por toda a parte! — A sacerdotisa sai de seu esconderijo e corre para perto, quase tropeçando em um buraco no meio do caminho.

Erguendo as mãos sobre a vitima, uma luz verde cobre suas mãos.

— Cura! Cura! — O ferido é imediatamente coberto com uma luz, sobreposta por outra luz. Uma magica o envolve de maneira solene, tentando fechar seus ferimentos.

— Será que todo esse sangue é só dele? — Elias ouve o sumo-sacerdote sussurrar para si mesmo, mas finge não escutar.

A pessoa tosse sangue para o alto, sujando o cabelo loiro da sacerdotisa. Por incrível que pareça, ela pouco se importa.

— Ele perdeu muito sangue, minha magia de cura não vai ser o bastante. Nós vamos ajudá-lo, não é?! — A garota se vira, desesperada e com a bochecha suja com o sangue de outra pessoa.

Os rapazes se olham, incertos a principio, mas logo concordam com a cabeça.

Mar.. co.. — A voz fraca do rapaz expirou, delirando em frente a morte e erguendo um braço torto pelo ar.

A loira tapa sua boca com a mão, tendo que impedir o feitiço por um segundo para o acalmar.

— Não faça esforço! Você está bem agora. Pode descansar. — Disse com uma voz doce, limpando o rosto dele com a manga de seu manto.

— Um anjo.. valquíria..?

Seu olho sem brilho e escuro observou o rosto embaçado de sua salvadora, ponderou por um segundo, e se fechou mais uma vez. O braço caindo de maneira fria para o lado.

— Entendo. Acho que eu.. morri...

E foi a última coisa que pensou antes de cair em um sono profundo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.