Ragnarok

Poções e o Guarda de Raego


Prontera estava mais calma, dessa vez não havia dançarinas nem odaliscas nas ruas, apenas um bardo tocando na praça principal para conseguir alguns trocados.

–Como foi sua aula ontem Yuuki?

–Foi ótima mãe, conheci o filho de Jhungo! –disse Yuuki com animação

–Nossa! Você vai estudar com o filho de Jhungo? – Merin surpreendeu-se enquanto varria o chão da cozinha

–Aham, ele é legal, mas se eu não tivesse tropeçado no pé do guarda e caído por cima dele, talvez ele não falasse comigo – Yuuki abocanhou o pedaço de pão que estava comendo – Onde conseguiu isso? –disse se referindo ao pão

–Um amigo da mamãe me vendeu na feira pela metade do preço, ainda tinha alguns zenys guardados – Merin pousou a vassoura – Yuuki, tome cuidado com esses guardas da realeza.

–Que guardas?

–Você não tropeçou no pé do guarda?

–Sim, mas não era da realeza, era um guarda da cidade, de Prontera... – mais uma mordida no pão

–E o guarda do filho de Jhungo?

–Raego estava sozinho, por quê? – Yuuki fez uma cara de interrogação

–Hum... Estranho, pessoas importantes assim sempre andam acompanhadas – Merin voltou a varrer o chão.

Yuuki levantou, guardou o pão dentro da mochila que até então estava vazia e colocou nas costas, pronta para ir a sua aula, desta vez não estava atrasada.

–Não vai comer o resto?

–Vou levar para comer na escola, tchau mãe! – saindo de casa, resolveu passar no centro da cidade para dar uma olhada.

A fonte no meio da praça estava cintilante e as águas bem cristalinas, em cima havia uma estátua de um cavaleiro montado, ao redor da fonte havia bancos, dois deles estavam ocupados, um banco com um gatuno que observava todos os lados, parecia analisar todos os movimentos de quem passava, e o outro com um casal de sacerdotes, pareciam rir de alguma piada muito engraçada.

Não havia nada de diferente. Então Yuuki resolveu tomar seu caminho novamente, o céu estava mais azul, o sol brilhava já bem alto, ao se aproximar da esquina que conhecera Raego, avistou alguém encostado, Não vou tropeçar no guarda dessa vez.A pessoa começou a acenar, chegando mais perto percebeu que era Raego.

– Bom dia Yuuki! – disse com um sorriso no rosto.

–Estava me esperando? – Yuuki disse se aproximando

–Sim, não gosto de chegar sozinho nos lugares – começaram a andar em direção a escola.

–E cadê seu guarda?

–Você comeu a maçã que te dei? – disse Raego mudando de assunto

–Comi sim, mas onde está o seu guar...

–Gostou? – interrompeu – No quintal lá de casa tem uma macieira muito boa, mas ainda não está dando frutos, a maça que eu te dei é dos arredores da cidade, a equipe patrulheira da cidade sempre traz quando volta de alguma missão, meu pai que pede, ele sabe que eu gosto muito...

Raego começou a tagarelar sem parar, até chegarem à escola e sentarem esperando a aula começar.

Um homem de óculos chegou, vestia um sobretudo marrom bem trabalhado com umas linhas tracejadas na vertical. Por cima uma capa azul em sua parte externa e vermelha na parte interna, sua calça era de um marrom mais escuro, quase vinho, usava botas amareladas, luvas de couro e um cinto cheio de pequenos frascos que parecia que iam quebrar quando ele andava.

Quem é esse ai? Olha os frascos na cintura dele! Vai ser nosso professor? É um alquimista! Todos se entreolhavam e cochichavam alguma coisa.

–Olá crianças, meu nome é Vergan, sou alquimista, e professor de poções de vocês, irei acompanha-los junto com a professora Naomy nesse primeiro ano, não se preocupem com os vidros, um alquimista só quebra um frasco se quiser - Vergan tirou alguns frascos de vidro do cinto e colocou sobre a mesa, eram 4, um vermelho, um amarelo, um branco, e um azul – Para que servem as poções? – fez uma analise da turma

–Para beber – disse um menino de cabelos escuros que usava óculos

–Sim... Mas porque os guerreiros bebem?

–Para ficarem mais fortes – uma menina de cabelos escuros que sempre fica perto da janela falou

– As poções também são ferramentas de combate, quando se sai de uma cidade, mesmo que seja para um lugar seguro, todos devemos ter umas guardadas, nunca se sabe o perigo que encontraremos, principalmente quando não temos um noviço, ou sacerdote conosco, é um item de socorro, tem um efeito curativo ou energético extremamente rápido, como é o caso da azul...

A aula explicativa foi bem interessante, as poções vermelhas, amarelas e brancas são de cura, a mais fraca é a vermelha que cura ferimentos leves, arranhões, cortes pequenos e a mais poderosa é a branca, cura ferimentos profundos, mais graves e até feridas infeccionados, a azul é energética e dá estamina, os magos adoram elas, porque conseguem soltar mais magias sem atingirem o seus limites.

O laboratório estava um pouco escuro, Vergan ensinava como fazer as poções básicas, para isso era necessário, uma garrafa de poção, uma vasilha de mistura e de acordo com a cor da poção uma erva do mesmo nome, a azul precisava apenas de um item a mais, que era o scell (uma cristalização encontrava em monstros), ele apenas fez uma demonstração e distribuiu um kit de alquimia para cada aluno. Como dever de casa pediu que cada um preparasse uma poção e trouxesse na próxima aula, Raego ficou com uma erva amarela e Yuuki ficou com uma erva vermelha.

A aula terminou mais tarde por conta da experiência no laboratório, o sol já estava começando a descer, quando Yuuki sentou embaixo de uma árvore ao lado da escola para comer o restante do seu pão. Raego logo se aproximou e sentou ao seu lado.

–Vai fazer o que amanhã, já que não haverá aula? – disse Raego olhando para o horizonte

–Vou tentar fazer essa poção que o professor pediu – Yuuki comia o pão o mais rápido possível

–Você já foi à praça do portão sul?

–Não, nunca sai dos portões – disse terminando o pão.

–Podemos tentar fazer lá, tem umas árvores legais lá perto da praça, podemos sentar na grama e fazer a mistura.

–Adoraria, mas não vou correr o risco, ainda não usamos e nem sabemos usar armas, e se aparecer um mostro? –Yuuki cruzou as pernas e virou para Raego

–Ah... Meu guarda vai estar lá, nada vai acontecer, e além disso, lá só tem Porings e Lunáticos, são bichos fracos e nem mexem em você se você não mexer com eles.

–AAAAHHH, então você tem um guarda ! hahahaha – Yuuki riu

Raego ficou um pouco sem jeito, tinha esquecido que não queria que Yuuki soubesse que anda com alguém para protegê-lo, isso o faz parecer fraco.

Raego levantou-se – SIM, TENHO UM GUARDA! Mas não faz diferença se eu não o tivesse, posso me defender sozinho, ele só anda comigo porque é o jeito! – disse em voz alta mas estava corado de vergonha.

Yuuki parou no meio do riso sem entender muito bem e ficou quieta olhando-o entre a raiva e a vergonha. Os dois ficaram se encarando por um momento, sem reações.

–Err... Desculpe, é que eu pareço fraco com um guarda me seguindo para todos os lados... – Raego sentou no chão rapidamente ainda corado e olhando para baixo.

–Não precisa se desculpar, nunca pensei que você fosse fraco, e muito menos por isso! – Yuuki ia encostando a mão nos ombros de Raego de forma consoladora quando outra mão encostou primeiro.

– Oi Raego! – disse a menina de cabelos escuros que senta na janela

–Olá – disse virando-se para ver quem tocava seus ombros

–Meu nome é Shamya Gino, prazer – esticou a mão para cumprimentá-lo.

Raego cumprimentou a menina.

–Queria muito conversar com você, já li bastante sobre o seu pai, tenho admiração por ele, e você com certeza será tão bom quanto ele, ou ainda melhor! – a menina estava animada – você já está indo para casa?

–Eu... –Raego olhou para Yuuki

–Ótimo! Podemos subir pelo mercado, vi uns livros sobre alquimia muito legais hoje de manhã, queria que você visse, e minha amiga já foi, então poderíamos ir juntos hoje! – Shamya agarrou no braço de Raego, que estranhou um pouco a reação de felicidade da menina.

– Amanhã a gente se vê então Raego, já estava de saída – disse Yuuki um pouco sem jeito. – Tchau Shamya, tchau Raego – Yuuki não teve resposta da menina que apenas a olhou de soslaio e puxou Raego, já caminhando.

Raego tentou dizer alguma coisa, mas já estava longe demais, ao dobrar a esquina viu um cavaleiro com um símbolo da realeza no peito, e logo percebeu que olhava para Raego e o vigiava, mas mantendo-se o mais distante possível, andando em passos lentos. A então esse é o guarda de Raego... mas porque será que ele parece se esconder?