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Capítulo II


Entramos no carro e eu esbarrei em um porsche amarelo saindo do estacionamento, espero que não tenha arranhado muito.

– Você é uma vergonha para o departamento de trânsito – falou Sheldon me encarando com os olhos apertados.

– Querido, se você não quiser caminhar até sua casa, sugiro não dar nenhuma opinião como eu dirijo ou deixo de dirigir.

– Certo, vou omitir sua falha com um sorriso crítico construtivo – falou, puxando os lados da boca para cima – no mundo dos emoticons eu seria o J .

Ficamos alguns minutos em silêncio, enquanto eu tentava por meus pensamentos em ordem. É claro que o uísque não estava ajudando em nada. Eu tinha que me concentrar em dobro, ou triplo, na estrada, sinaleiras e placas.

– A julgar pelo enrijecimento dos seus músculos faciais, e pelo número anormal de vezes que você pisca os olhos, diria que não está conseguindo se concentrar na estrada. Confere? – começou Sheldon.

– Sério? – respondi, sem a mínima vontade de começar uma conversa civilizada.

– Partindo deste ponto, então eu também diria que essa dificuldade de concentração provém de um estado de cansaço repentino, ou que você tenha ingerido uma boa porcentagem de álcool nas últimas 2 horas. Confere?

– Você quer saber se eu bebi? EU BEBI SIM! Seu nerd abestalhado, frio e calculista! – rosnei, perdendo a pouca paciência que eu mantinha.

– Então você está dirigindo alcoolizada. O que significa que eu tenho 69% de chances de sair desse carro direto para um caixão, onde vão abrir meu corpo e doar meu cérebro para um museu de ciência. Que ótimo. – falou, usando o sarcasmo que aprendeu comigo.

– Cala a boca!

– Que medo. Quem sabe você não coloca uma música para se distrair mais ainda Penny?

– Sheldon, não me irrita... Eu to te avisando...

– Não, eu faço questão – ele apertou o play do meu rádio e aumentou todo o volume.

[Play – Give your heart a break]

– Sheldon você tá querendo me enlouquecer hoje né? – quando eu terminei a frase que percebi que ele estava com metade do corpo pra fora da janela, acenando para os carros na contramão.

O dia em que nos conhecemos, você me disse que nunca se apaixonaria.

Agora que eu entendo você, eu sei que era apenas medo.

E agora aqui estamos, tão perto e tão longe. Eu não passei no seu teste?

Quando você vai ver que, querido eu não sou como o resto.

Não quero partir seu coração, quero dar um tempo a ele.

Eu sei que você está assustado, é errado.

Não quer cometer um erro.

Você tem apenas uma vida pra viver, e não há tempo pra esperar.

Então me deixa dar um tempo ao seu coração.

– Meu Deus Sheldon! Você andou bebendo?? – gritei, apertando o volante com força. Esse comportamento dele não é normal, a única explicação é ele ter bebido ou eu estar imaginando situações aqui.

No domingo você foi pra casa sozinho.

Havia lágrimas nos seus olhos.

Eu liguei para o seu telefone, querido, mas você não atendeu.

Querido, tente entender...

Não quero partir seu coração, quero dar um tempo a ele.

Eu sei que você está assustado, é errado.

Não quer cometer um erro.

Você tem apenas uma vida pra viver, e não há tempo pra esperar.

Então me deixa dar um tempo ao seu coração.

– Eu acho que o cuba libre virgem que eu pedi não era tão virgem! – gritou ele, ainda pra fora da janela – oh, perdi a cabeça pra uma vadia!

– Caralho Sheldon! Sai daí antes que tu caia pra fora animal – tentei puxa-lo pelo braço, mas ele era mais forte que eu e resistiu.

Quando seus lábios estão nos meus

E nosso coração bate como um só

Aí você escapa pelos meus dedos

Toda vez que você foge.

Segurei o volante com uma mão e me inclinei na direção dele, tentando forçá-lo a entrar, mas ele apenas me ignorava.

– Por que você tá fazendo isso sua peste?

– Pergunta retórica? Por que eu não vou responder. Que tal você me esclarecer o porquê me trouxe pra essa festa?

– Sheldon Cooper, não me faça parar esse carro!

– Não vai responder? Eu respondo. Você ficou constrangida de ser uma das únicas entre suas amigas que é totalmente um fracasso, e para amenizar, ter um ‘noivo’ ou um acompanhante qualquer, a faria se sentir melhor. E pelo mesmo motivo você me beijou na frente daquelas pessoas, para fingir ser algo que não é.

Agora ele já tinha entrado e estava me encarando com uma cara vitoriosa.

– Não é isso, seu estúpido!

– Então é o que? Não vejo outra explicação plausível. Ou vai dizer que da noite pro dia você se apaixonou por mim?

– Sheldon eu...

– Penny, não ouse...

Um barulho de buzina muito perto e uma luz cegou meus olhos. Senti meu corpo ser jogado pra todos os lados, junto com estrondos pavorosos.

E em seguida tudo ficou escuro.