Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 20: Gnomo Metálico e Gnomo Ametálico


No meio da volta para a carroça eu descobri, tarde demais, que ainda estava usando a Fúria Flamejante. O problema foi que quando eu descobri o efeito passou e eu perdi meu grande poder por algumas horas.

Olhei para trás, para verificar se ainda estava sendo seguido pelos meus colegas, e dei de cara com uma cena assustadora. A missão dizia que a montanha iria se abrir, não é? Pois então... Agora eu sei o que isso queria dizer.

Uma nuvem de fumaça negra saía de uma grande rachadura que dividia a montanha em duas na vertical. Aos poucos as duas partes da montanha se afastavam e, de dentro da montanha, ouvia-se um grito horrível, um rugido tirano que me fazia temer pela minha vida.

Sem pensar duas vezes, comecei a correr. Meus amigos também fizeram isso, pois meu irmão logo passou pelo meu lado, fugindo da aberração que vivia dentro da montanha. Claro, ele era o mais rápido, por isso conseguiu me ultrapassar. Já os outros tinham uma velocidade parecida com a minha, então não conseguiam me alcançar, mas mesmo assim eu imaginava que eles também estavam batendo em retirada.

Quando cheguei à carroça, Fear e Reaper estavam lutando contra alguns zumbis que tentavam os matar. Imaginei que de tempos em tempos alguns fracos inimigos vinham afrontar meu amigo espadachim, e esse devia fazer picadinho deles. Atirei uma esfera de fogo para queimar alguns mortos vivos aqui e ali, usei as manoplas para quebrar alguns crânios e o resto dos inimigos foi cortado ou pela espada de Reaper ou pelos machadinhos de meu irmão.

Alguns segundos depois que a breve batalha ocorreu, os outros membros do pelotão de ataque à montanha chegaram. Subimos na carroça, dessa vez eu não dirigi, e seguimos em direção ao quartel. Enquanto nos afastávamos, olhávamos para a montanha, que expelia tanta fumaça quanto um vulcão. Talvez fosse minha imaginação, mas eu vi algo voar por entre as nuvens negras. Daquela distância eu não conseguia identificar o que era, mas era possível entender a magnitude do monstro voador que surgiu de dentro da Montanha de Obsidiana. Senti um arrepio passar pela minha coluna.

Assim que a montanha parou de se abrir, parecia duas fatias de bolo. Logo eu recebi a mensagem que me parabenizava por cumprir a missão e me dava os prêmios de XP e ouro. Além disso, ele dava a pista para a próxima missão. Enquanto ainda fugíamos de medo do fenômeno doido da “Grande Abertura da Montanha Maluca”, todos leram a mensagem de finalização da missão.

— Hey galera, olhem a pista da segunda missão! — eu disse.

Surpreendendo-se com as informações, meus amigos fizeram o que eu pedi.

No dia em que a Lua brilhar em um tom verde, os alvos se reunirão, e na ruína da cidade incendiária, os heróis e os inimigos lutarão. Com a relíquia dos inimigos, o mapa encontrará, e o garoto da morte seu valor provará.

Ninguém sabia quando a Lua ficaria verde, nem quem seriam os inimigos, mas todos nós tínhamos duas certezas: as ruínas eram no país do fogo e o garoto da morte era meu irmão.

Não sei como meu irmão provaria seu valor. Ele já tinha encontrado essa montanha sozinho. Eu já tinha o visto em batalha, e ele era ótimo. O que será que aconteceria no país do fogo que iria por a prova o poder e o valor de meu irmão?

Mas os outros não pareciam estar muito preocupados com isso. Ao meu lado, Ynad e Murrada questionavam-se sobre o dia que a Lua ficaria verde.

— Talvez seja algo relacionado à radiação do planeta — disse Murrada, tentando puxar o assunto para a área de radiação, onde ele era o melhor.

— Talvez seja algum efeito arcano de algum povo... Possivelmente o da floresta, pois seus estandartes são verdes, suas plantas são verdes e tudo é verde naquele fim de mundo — disse Ynad, que já vinha reclamando há dias da quantidade de verde que existia nesse mundo.

Na minha opinião, o verde era muito bonito. No Polo Norte nós não víamos verde, somente em algumas plantas da fazenda, mas não tínhamos árvores altas como as da floresta daqui. Eu não me cansava de olhar para os animais, as plantas e os rios daqui, pois no meu mundo, por causa da guerra e do descuidado dos meus antepassados, nada disso existia em grande quantidade. Principalmente no Polo Norte. Mas algumas pessoas tinham raiva da natureza, pois se lembravam de um passado horrível, onde os homens, que diziam serem os seres “racionais”, lutavam entre si por fontes de água, petróleo, terra fértil e tudo que uma época fora recurso em abundância no planeta. As guerras mais catastróficas foram causadas pela ganância dos homens, que queriam as coisas uns dos outros, mas no final ninguém ficou com nada além de miséria, pobreza e dor. Agora estamos aqui, jogando para conseguir ir morar na Lua, onde talvez tenhamos uma vida boa. Talvez.

— Vamos esperar chegar à base para discutirmos sobre a missão, pois, por enquanto, de nada adianta criar especulações — eu disse, fazendo todos ficarem quietos.

Olhando nos olhos dos meus companheiros, eu conseguia identificar uma tristeza que não existia até antes da luta contra o Barão. Não sei o que o fantasma disse para eles, mas deve ter sido tão ruim quanto o que ele falou para mim. Como podia simples palavras afetarem tanto a paz de espírito de alguém? Acho que, talvez, a fala fosse a arma mais poderosa do ser humano, podendo construir ou destruir a esperança, matar o mais bravo soldado ou faze-lo levantar quantas vezes fosse necessário. Invejo aqueles que sabem usar adequadamente a palavra, e odeio aqueles que a usam sem saber como elas podem machucar. E aqueles que usam para machucar... Bem, esses merecem todo o sofrimento do mundo.

Percebendo a tristeza nos olhos dos meus companheiros, tentei pensar em algo que pudesse animá-los.

— Parabéns galera, conseguimos! A primeira missão já foi cumprida. Agora só faltam mais algumas e nós conseguiremos nossa vaga na Lua.

— É! Nós vamos mostrar para aqueles riquinhos como se joga de verdade. Eles só nos ganham por causa das contas especiais, que nós não podemos ter. Mas no lugar disso nós temos a determinação, que vale mil vezes mais — disse Troiana, tentando me ajudar a levantar a moral.

Claro que esse não era nosso dia de sorte, pois minha tentativa de deixar todos alegres foi extinta quando a seguinte mensagem apareceu para todos em seus e-mails:

A base está sendo atacada por jogadores da Lua. Nós não temos chance contra eles. Por favor, voltem logo para tentar impedir nossa derrota.

Ass: Zoey, diplomata da S-War.

Meu irmão, que também leu a mensagem, estava dirigindo nossa carroça acompanhado de Therin. Quando entendeu que nosso grupo precisava da nossa ajuda, fez os cavalos acelerarem o trote. Mas mesmo com a velocidade aumentada nós demoramos duas horas para chegar à capital da floresta.

Longe do quartel, a cidade estava agindo normalmente. Mas quando chegamos à base militar eu quase tive um infarto. O quartel estava arruinado, assim como as casas ao seu redor. As muralhas haviam sido quebradas, o pátio interno estava coberto de estacas de ferro ou pedras cristalinas transparentes. Do lado de fora do quartel, meus colegas tentavam lutar contra os únicos dois atacantes lunáticos. Eles eram irmãos gêmeos. Pelo menos dentro do jogo eles eram, pois seus personagens tinham feições idênticas.

O primeiro, que estava lutando contra Salocin, Zoey e Dad Killer, era um gnomo vestido com uma armadura de prata. Mesmo sendo tão pequeno e fraco, ele parecia se mover com muita facilidade com aquela armadura, como se seu traje de batalha fosse quem controlasse o pequeno guerreiro. Ele usava uma maça também de prata (uma barra de ferro com uma esfera cheia de pontas). Seus cabelos eram vermelhos como morangos e seus olhos estreitos demais para se identificar a cor. Seu dedo indicador estava coberto por um grande anel (realmente o dedo inteiro estava coberto pelo anel).

Seu irmão gêmeo tinha o cabelo da mesma cor, mas se vestia de forma totalmente diferente. Ele usava uma túnica branca bordada com enfeites cristalinos. Assim como seu irmão, ele possuía um anel que cobria o dedo inteiro. Lutava usando uma lança de diamante, que usava para repelir os ataques de Supreme, Iron e Eizel (uma das duas novas jogadoras que haviam ficado para fazer a defesa).

Dando apoio do jeito que podiam, Santerlock, Ked e Polaca atiravam magias de cura ou golpes explosivos. De tempos em tempos, eles bebiam poções para recuperar a mana perdida.

Saltei da carroça gritando ordens:

— Murrada, flanqueie o gnomo de branco pela direita. Troiana, fique na frente do Santerlock, pois alguns ataques estão o atingido. Fear, suba naquela árvore e ataque por cima.

Os gnomos logo ficaram com dificuldade para lutar, pois estavam acostumados a lutar contra uma equipe desordenada. Mas eu era o general e tinha que arrumar a bagunça que essa batalha estava. Não demorou muito para que os gêmeos percebessem que era eu que estava dando um jeito de ganhar a luta, então virei o foco dos ataques.

Primeiro uma estaca de ferro acertou minha coxa esquerda. Eu não vi ela chegar de tão rápido que ela foi arremessada pelo baixinho de armadura. Depois, minhas mãos foram acorrentadas ao chão por algemas de diamante. Possivelmente os gnomos controlavam metal (minérios metálicos) e cristal (minérios não metálicos). Isso daria trabalho, pois eu não tinha muita habilidade contra esse tipo de elemento.

Vendo que eu estava com problemas, Therin veio me ajudar. Ele gritou o nome de uma magia e eu me teletransportei dez metros para a direita, do lado do mago velho. Depois disso ele me jogou uma poção de cura e criou um fraco campo de força para deixar eu me recuperar. Eu tirei a estaca de prata da minha perna e tomei a poção.

— Você sabe comdar esse grupo, então não os deixe na mão. Dar-te-ei proteção enquanto você diz o que eles devem fazer. Hoje não será seu dia de lutar, mas sim de comandar. Tu deverás se concentrar somente nisso, senhor Terror.

— Muito obrigado, Therin.

Usufruindo da barreira de mana que Therin criou entre mim e os gnomos, comecei a gritar para meus colegas uma série de comandos. Fear fez galhos caírem na cabeça dos lunáticos e atirou rajadas de areia do seu bom e velho anel, que ele ganhou lá no deserto. Iron atirava rajadas de pregos no gnomo de cristal, que se defendia usando uma placa de diamante de quase dois metros, criada por pura magia. Supreme se transformava em um relâmpago e cruzava o campo de batalha, eletrocutando os inimigos.

Em determinado ponto da batalha eu percebi que os gêmeos seguravam, cada um, dois sacos cheios de moedas de ouro nas costas. Possivelmente eles atacaram nossa base para roubar o ouro, mas sua missão tinha ficado difícil demais.

O exército da floresta tentava ajudar, mas seus soldados eram varridos facilmente do campo de batalha, somente com o estrondo dos ataques. Mesmo assim algumas flechas e lanças atingiam os pequenos inimigos, que pareciam não ligar muito para esses fracos ataques.

— Fear! Venha cá! — eu gritei para meu irmão, que pulou de uma árvore, aterrissando do meu lado.

— Sim, irmãozão. O que precisa?

— Use a sua habilidade de investigação e descubra o nível e os valores de força, agilidade, vitalidade e outras coisas sobre os gêmeos. Eles parecem estar sofrendo muito com nossos ataques.

— É pra já — disse o pequeno espião, que parecia grande quando comparado aos gnomos.

O ladino olhou fixamente para os inimigos, um de cada vez. Segundos depois ele soltou um sorriso torto e me disse:

— Tenho más notícias, irmão. Eles estão no nível 29 e sua barra de vida está agora em 341, para o guerreiro de prata, e 298, para o mago de cristal. Eles possuem defesas altíssimas, o que faz nossos ataques causar baixos danos. Além disso, os dois possuem os anéis de seus determinados elementos completos, com todos os subníveis possíveis. Olha que os anéis de cristal e metal são os que mais possuem subníveis.

— O que acha que pode afetá-los? — perguntei enquanto tentava formar um plano.

— O cara de metal tem fraqueza a fogo, gelo e ar. Já o de cristal tem fraqueza a escuridão, tecno e metal.

— Então nós podemos...

Não terminei a frase. Meu cérebro estava a mil por hora, criando planos de luta. Eu não era tão bom jogador quanto meu irmão, mas às vezes tinha ideias tão boas que meu irmão nunca conseguiria pensá-las.

— Fear, preciso que você peça ao Ninja Turtle para que use o poder de escuridão no guerreiro de metal.

— Mas quem tem fraqueza à escuridão é o jogador de cristal.

— Eu sei, mas... Faça isso, você verá.

Sem perguntar mais nada, meu irmão foi acatar minhas ordens.

— Therin, preciso que faça o gêmeo de cristal ficar de costas para o outro gêmeo.

— Está bem. Mas e minha barreira? Não posso mantê-la ativa de longe.

— Não irei mais precisar dela. Agora vá, preciso que você distraia o inimigo.

Sem esperar resposta, eu corri em direção a Iron. Ela estava atirando pregos de aço no gêmeo de cristal, que parecia não dar importância para a rajada, mesmo sendo o elemento que tinha vantagem contra cristal.

— Iron, tenho um pedido especial para você.

— Sim general. Fale.

Falei no ouvido dela o que ela tinha de fazer, pois estava com medo de que os gêmeos escutassem. As orelhas pontudas dos gnomos podiam significar boa audição e eu não estava com vontade de testar isso agora.

— Isso é um plano meio louco, mas quem sabe de certo — disse a dama de ferro.

— Vou te gritar quando for para você fazer o que deve — eu disse antes de correr para começar o meu plano ,superhipermega, falível.

Corri até ficar entre os dois gnomos, que estavam a uns quinze metros de distância um do outro. Constantemente Supreme passava por ali, então a distância entre os gêmeos só aumentavam, pois eles não queriam ficar no caminho do dragão de relâmpago.

Estalei os dedos e meu plano começou. Primeiro Therin começou a distrair o gêmeo de cristal, que estava na minha direita. Usando uma rajada de mana, Therin causou danos relativamente altos, principalmente pensando que os inimigos quase não perdiam vida. Depois disso estalei os dedos novamente e vi o Tartaruga usar a magia muito irritante de cegueira no gêmeo guerreiro.

— Meus olhos! — gritou o inimigo atingido, mostrando que a magia havia funcionado. — Steve, eu fiquei cego.

— Desculpe Lion, eu estou ocupado — respondeu o mago de cristal.

Lion atacava para todos os lados, tentando atingir alguém. Eu fiz sinal para que todos parassem de ataca-lo e focassem os golpes no Steve. Agora era minha vez de agir.

Preparei uma esfera de fogo, aquela mais comum, que eu tinha no início do jogo. Mas como eu sabia condensar meus golpes, fiz essa simples esfera em combustão crescer e se tornar dez vezes mais forte. Mirei atentamente no Lion, para que eu não errasse o golpe. O cego cambaleava alguns metros para lá, alguns metros para cá, mas não se movia para muito longe de onde estivera sempre lutando. Gritando, atirei a bola de fogo no inimigo.

Lion não fazia ideia de onde os inimigos estavam. Por causa disso, quando foi atingido por mim só teve uma opção: atacar-me. Furioso por estar cego e ter sido atingido pelo elemento que tinha vantagem sobre metal, Lion preparou uma rajada de estacas de ferro. Como se fosse uma metralhadora, ele atirou mais de cinco estacas por segundo.

Eu não precisava temer, pois tudo fazia parte do meu plano. Como Lion não tinha uma mira perfeita para me atingir, eu pude pular para fora da linha de tiro facilmente. Então, enquanto as estacas voavam, Iron usou uma habilidade que ela vinha treinando comigo há algum tempo: controle de metal. Isso permitia ela mover coisas feitas de metal, mas só um pouco, pois ela precisava dos subníveis para poder controlar totalmente um determinado tipo de metal. Mas mesmo assim ela conseguiu redefinir a rota das estacas. O GPS das estacas mostrava que o alvo agora estava a quinze metros de Lion, exatamente o local onde Steve estava.

Um grito apavorante cortou o ar quando as estacas perfuraram o corpo do gnomo. Uma estaca não causaria muito dano, mas Lion tinha preparado no mínimo umas vinte. Sangue escorreu pelos buracos dos ferimentos, Steve caiu na grama, inconsciente, Lion se desesperou ao ouvir seu irmão gritar.

— Irmão, o que houve? Responda-me irmão.

Eu podia entender como Lion devia estar se sentindo. Ouvir o grito de desespero do meu irmão seria muito apavorante, principalmente se eu estivesse cego. Com pena, preparei uma esfera de fogo frio para atingir o guerreiro cego, mas o inesperado aconteceu. Uma das estacas que não conseguiu atingir o gêmeo de cristal acabou acertando o Tartaruga, que controlava o efeito de cegueira. Como ele estava ferido seriamente, o efeito passou e Lion pode enxergar a cena horrível de Steve desmaiado no chão. Furioso, mas com medo, Lion correu até seu irmão, soltou as bolsas de ouro de ambos os gêmeos, colocou seu irmão no ombro e tentou correr. Por um minuto ninguém foi atrás dele, pois estavam preocupados com o Tartaruga, que havia sido atingido no pescoço. Se ele não fosse curado logo, poderia morrer, pois a garganta é um ponto vital, o que significa que se continuar ferida irá causar muito dano.

Therin e Fear foram até mim e me tiraram do transe. Eu estava assustado com o que meu plano acabou causando, tão assustado que esqueci que tínhamos de dar uma lição no inimigo, que tentou afrontar a S-War.

— Irmão, temos que perseguir o inimigo. Mas não vamos usar uma carroça dessa vez.

—Perseguir? Ah, sim. Entendi. Mas o que vamos usar então? — perguntei intrigado depois de sair do transe em que estava.

Fui respondido por Therin, que conjurava uma magia que parecia muito poderosa.

— Balazar, eu não sou só um mago. Eu controlo também os poderes da natureza e, fundindo a magia com a natureza, eu consegui isso.

Um feixe gigante de luz desceu dos céus e deu forma a três ursos tão bem vestidos de armaduras quanto o gnomo de metal.

— Ursos vestidos para a batalha? — perguntei confuso.

— É que eu tinha a magia: conjurar soldados. E também tinha a magia: conjurar ursos. Então juntei as duas quando passei para o nível 11 e agora posso usar esses Soldados Ursos. O bom é que a armadura deles é perfeita para montar. Eu posso conjurar até cinco deles antes de ficar sem magia. Mas não vamos perder tempo, monte neles, vamos perseguir esses gêmeos.

Eu montei no meu urso que, por mais assustador que fosse, era dócil. Corri para dentro da mata, por onde os gêmeos estavam fugindo.

Achei que seria fácil alcançá-los, mas quando vi que o gêmeo consciente tinha roubado um cavalo para poder fugir mais rápido, mudei de ideia. Controlados por Therin, os ursos aceleraram, perseguindo o cavalo marrom que Lion tinha conseguido. Seu irmão, Steve, estava balançando sentado atrás de Lion, que tinha usado uma corrente de ferro para amarrá-lo a sua cintura. O cavalo deixava uma nuvem de poeira por onde passava, levantando folhas e pedras também.

Therin constantemente tentava acertar o inimigo, atirando rajadas de mana, Eu às vezes conseguia me equilibrar o bastante para atirar um bola de fogo, mas não conseguia uma mira muito boa por causa do sobe e desce da cavalgada (ou seriaursorada, porque é cavalgando em um urso. Desculpe, eu sei, é uma piada muito ruim).

Depois de perseguir Lion por alguns minutos, minha bunda já estava doendo. Mas pelo menos agora estávamos próximos. Therin controlava alguns cipós para atrasar o cavalo roubado, então, aos poucos, nós conseguiríamos alcançar o inimigo.

Claro né, hoje não era meu dia de sorte, então...

Quando nós estávamos a dez metros de distância de Lion, minha visão subitamente escureceu. Eu não senti mais o sobe e desce da cavalgada (não usarei aquela piada de novo, não se preocupem), não senti mais o ar da selva no meu rosto, ou meus chifres constantemente acertando os galhos baixos.

Era como se eu estivesse de olhos fechados. Então me forcei a tentar abrir os olhos. Consegui! Ó meu deus, eu consegui abrir os olhos, parabéns para mim mesmo.

Minha visão estava muito turva. Meus olhos doíam com a luz da lâmpada. Demorei alguns segundos até entender que eu tinha saído do jogo. Devagar, olhei para os lados. Jeff estava do meu lado, olhando para mim.

— Ufa! Ainda bem, você acordou. Não se levante, você tem que ficar alguns minutos esperando sem fazer nada, pois senão pode ter algum problema grave no cérebro.

Eu não estava entendendo porque tinha saído do jogo. Eu não tinha pedido para isso acontecer. Mas algo me dizia que tinha alguma coisa errada. Jeff parecia muito preocupado e eu não estava sentindo meu corpo. Aos poucos, de cima para baixo, comecei a formigar.

— Cara, tenho que te contar uma coisa — disse Jeff. — Uma coisa muito assustadora e importante.