Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 2: Bionet, fazendo crianças felizes


No outro dia eu consegui acordar antes do meu irmão. Meu cérebro queria jogar, então me acordou logo que amanheceu. Fiz o café, arrumei as roupas do meu irmão e as minhas, o deixei dormir mais uns 20 minutos, então fiz ele acordar.

Logo estávamos na porta da casa do Jeff. Dessa vez fomos os primeiros a chegar. Ele sorriu ao nos ver. Pediu para gente entrar e foi direto ao assunto:

-Sentem-se nessas cadeiras. Vocês passaram muito tempo jogando e enquanto jogam ficam num estado de coma, então irão cair no chão se não sentarem.

Nós sentamos e ele ligou a Bionet da casa. Já a senti se conectando a minha cabeça. Meus olhos eram como a tela do computador. Conseguia usar eles como mouse também. Procurei e achei o ícone do console. Conectei-me a ele e me apareceu uma lista de jogos. Todos estavam off-line. Menos um. Aquele jogo que eu e meu irmão jogamos no dia anterior. Mas não era a mesma versão. Aquele era o 2. Esse se chamava: Radiação Arcana 7. De cara notei que era uma versão muito mais avançada. Perguntei ao Jeff:

-Podemos nos logar?

-Claro. Assim que os outros chegarem eu conectarei eles também. Agora vocês sabem como funciona o jogo, então... Bom jogo garotos. Se cuidem. Daqui umas 5 horas irei mandar um aviso para vocês saírem, senão suas cabeças podem ficar cansadas demais. Esse jogo será bem pesado, nas primeiras vezes vocês ficarão tontos com a diferença quando saírem.

Ansioso, entrei no jogo. Escolhi meu personagem. Balazar. Pedia um sobrenome, escolhi Terror. Não sei o motivo, só gostei dessa combinação: Balazar Terror. Apareceu-me a opção de colocar os pontos entre força, agilidade, inteligência, etc. Dividi da forma que eu achei melhor. Depois pedia a minha espécie. Como eu já tinha jogado como elfo, que era uma das poucas espécies do último jogo, decidi que não iria repetir. Fiquei olhando todas, comparando os bônus e os problemas de cada espécie. No fim achei uma que me interessava. Demmarc. Era um homem bode, bem demoníaco, assustador. Mas seus bônus eram bons, nivelavam o que eu já tinha. Além disso, agora as espécies davam poderes. Meu poder era Fúria Flamejante. Meu personagem diminuía os golpes de fogo em 50% e aumentava o dano em 50%. Eu poderia usar isso em casos difíceis.

Depois escolhi meu posto. Na outra partida eu era mago. Mas aqui era diferente. Nós podíamos escolher um objeto daquele posto, mas poderíamos arranjar objetos dos outros postos para poder ganhar outros poderes. Mas também podíamos escolher um elemento ao invés de um posto. Como eu gostei do poder de fogo eu escolhi o elemento fogo. Talvez com o tempo eu ganhasse mais poderes. Não tenho certeza.

Apareceu-me o meu objeto de fogo. Fiquei esperando que fosse um cajado, uma espada, talvez até um arco. Mas não. Ganhei manoplas flamejantes. Isso não me parecia de muita ajuda. Por último eu ganhei algumas moedas e podia gastá-las comprando itens, mas decidi que era melhor guardar para usar depois. Entrei no jogo.

Apareci no meio de um campo destruído. Paredes quebradas, carros pegando fogo, postes no chão. Tudo era uma bagunça. Então ouvi um grito. Vinha de algum lugar logo a minha direita. Corri um pouco e descobri o que era. Era meu irmão me chamando. Gritei de volta e ele escutou. Correu até mim e nos demos oi. Tinha um pedido pra fazer a ele.

- Irmão, acho melhor nos chamarmos só pelo nome de jogador aqui. Para evitar problemas lá fora. Concorda... DarkFear?

-Concordo sim, Balazar Terror.

-Não precisa usar tudo. Só Balazar está bom.

-Pode ser, Balazar.- falou ele sorrindo.

-Você escolheu o que?

-O mesmo de ontem, gostei desse personagem. E você?

-Escolhi esse ser chamado Demmarc. E escolhi um elemento, fogo. Por isso eu tenho essas manoplas (luvas de combate feitas de ferro, usada pelos soldados medievais). E você, ganhou o que?

-Machadinhos de combate e de atirar.

-Devemos fazer o que primeiro? Eu aconselho pegar comida. Percebi que nesse jogo isso também faz a diferença. Podemos sentir fome aqui.

Só então que eu percebi. Estávamos jogando em primeira pessoa. Mas não normalmente. Os olhos do personagem eram os meus olhos, eu estava sendo o personagem. A sensação mais realista que eu já tive em algum jogo. Era como se eu vivesse a história. Belisquei-me pra ter certeza que não era um sonho. Mas era um jogo, eu não sentiria dor, não é? Não, nesse jogo nós sentimos dor. Então eu percebi que esse jogo era como viver. Não queria que meu irmão sentisse dor, eu tinha que protege-lo aqui também.

-DarkFear, se belisque.

Imediatamente ele fez o que pedi, dando um beliscão achando que não iria doer nada. Mas se arrependeu disso, pois doeu.

Então olhou para mim com uma cara de espanto. Mesmo sendo mais novo que eu e com um pensamento lógico bem fraco, ele conseguiu chegar ao que eu estava pensando. O que aconteceria se morrêssemos aqui dentro?

-Temos que falar com o Jeff. Balazar, vamos fazer os tutoriais para aprender a se comunicar com quem está lá fora.

Então começamos a olhar os tutoriais. Eu odiava essa parte, era lenta e idiota. Mas aos poucos foi ficando legal. No início só ensinava coisas óbvias, como andar, olhar, pular e lutar. Mas depois passou para as magias, algo que daqui um tempo eu poderia ter. Mas o mais interessante era o que falava sobre as armas mágicas. Descobri que minhas manoplas eram mágicas, e tentei usa-las, mas elas só brilharam em um tom laranja. Não sabia se isso serviria de muita coisa. Desliguei o efeito da arma.

Meu irmão também aprendeu sobre as machadinhas dele. As de atirar voltavam para sua mochila depois de trinta segundos. Além disso, nos achamos um mapa da região, que mostrava a localização de um mercado. Decidimos ir até lá fazendo o tutorial. Começamos a andar e aprender ao mesmo tempo.

Depois de uns 5 minutos andando nós chegamos a um pequeno amontoado de lojas. Lá pessoas gritavam falando os preços e dizendo que seus produtos eram os melhores e mais baratos. Coisa de mercador. Me dei conta que eram PNJ (Personagem-Não-Jogadores), e deviam ter mais assim. Eu já estava bem avançado no tutorial, tanto que cheguei na parte de falar com pessoas do lado de fora do jogo. Abri o menu usando controle cerebral do Bionet, escrevi uma mensagem para o Jeff, dizendo o seguinte:

Jeff, eu e meu irmão notamos que nós sentimos dor aqui no jogo caso nos machucamos. O que acontece se morrermos? Iremos morrer também? Grato, Balazar.

Então fui às compras. Eu era um dominador do fogo, mas usava armas corpo a corpo, então eu deveria ter pelo menos uma armadura básica. E lá estava, uma armadura de couro simples, que protegeria meu peito. Era o bastante para o início. Além disso, era exatamente o que eu tinha em moedas. Meu irmão também comprou uma assim, mas como podíamos customizá-las ele decidiu colocar um capuz e pintar o couro de preto. Eu coloquei um capuz também, podia ser útil, mas decidi colocar uma cor azul, gostava disso e poderia ser útil para andar na multidão. Nossa armadura ficava por cima das roupas sujas que usávamos quando começamos o jogo. Era uma roupa estilo escravo/prisioneiro. Era suja, folgada, cheia de sangue e rasgões.

Depois de comprarmos e vestirmos as roupas recebi uma resposta do Jeff, que dizia o seguinte:

Não se preocupem, se vocês morrerem no jogo só terão que esperar 1 hora pra poder voltar. É como uma morte temporária. Mas vocês terão que deslogar. E quando a doer, os golpes não doem muito, há um limite, pois dor demais pode causar problemas no cérebro. Fiquem tranquilos. Mas cuidem-se, os outros jogadores entraram e eles não têm cara que jogarão limpo.

Mostrei a mensagem ao Fear (apelido) que deu a ideia de acharmos algum lugar para passar a noite, pois já estava anoitecendo. Assim foi quando começamos a procurar um lugar para dormir.

Demorou certa de 10 minutos para acharmos. Os becos daquela pequena cidade eram como um labirinto, nos perdemos dezenas de vezes, mas pelo menos achamos um baú escondido que tinha 4 pedaços de carne assada e 2 fatias de pão (os jogos não dão muita explicação para o porque de ter um baú escondido nos corredores da cidade, nem o porque dele ter comida dentro).

A hospedaria que achamos cobrava 2 moedas de ouro por noite, mas descobri que esse jogo nos dava a habilidade de conversar com os PNJ e a dona da hospedaria aceitou dar um quarto por uma noite em troca de 2 pedações de carne assada. Tive que trocar, pois não tinha mais dinheiro.

Deitamos para seguir fazendo os tutoriais. Demorou mais uma hora para completar, mas pelo menos agora sabíamos sobre tudo no jogo, ou pelo menos tudo que o tutorial nos deixava aprender. Sabíamos a história do jogo. Fiz um resumo para explicar:

Depois de uma grande guerra, o mundo se tornou um caos. As plantas viraram mutantes, os animais viraram mutantes, os seres vivos viraram mutantes. Tudo por causa do lixo radioativo que foi espalhado pelo mundo por causa da guerra. Mas após disso tudo aconteceu o pior. Uma rocha caiu na Terra, causando uma cratera gigantesca, de onde expeliu lava e minérios pesados do fundo da terra. Além disso, a rocha trouxe outros minérios, banhados com energia arcana, junto com seres vivos que sobreviveram ao impacto. Mas a parte mais especial foram os seres divinos que vieram junto da rocha. Eles tinham poderes incríveis, fundaram religiões e outras dimensões, criaram lendas e heróis. Agora, o nosso objetivo é se tornar o Deus dos Heróis, ganhando um lugar entre os deuses e descobrindo o grande segredo deles.

A história é muito fictícia, mas é normal para jogos. Só sei que se eu puder chegar a virar um dos deuses, poderei levar meu irmão junto e talvez poderemos morar aqui dentro, desde que sempre pudéssemos ser cuidados no mundo real.

Mas isso eu não sei ainda. Só o que sei é que vou tentar zerar esse jogo, ele parece muito divertido e talvez seja o jogo mais difícil que eu já joguei.