Quiet.

22 - Joguinho dos apaixonados


Eu já estava preparada para a fase "estranha" do meu relacionamento com o Thai. Vejam só, eu utilizei a palavra relacionamento. Vamos definir agora o que significa "relacionamento" quando se trata de mim e do Thai. Pessoas que vivem sobre o mesmo teto sendo elas duas bolinhas de fogo que gostam de usar palavras doces como "toma no seu cu com força e me traz a panqueca" logo pela manhã e uma delas – no caso eu – está apaixonada pela outra pessoa. Agora vamos falar da palavra "estranha". O Thai – de acordo com aquele papel – me ama. Mas eu não estava preparada para lidar com o que eu estou lidando agora. O Thai não estava estranho, ele estava MUITO estranho.

Enquanto eu me enchia de felicidade comendo aquela coisa empanada na qual eu não sabia o que era e falava um monte de baboseiras como sempre, mas o Thai não fez o que ele devia fazer. Agir como sempre. Ele devia me xingar, pedir para eu calar a boca ou menos ficar resmungando, mas dessa vez ele estava me ouvindo mesmo não olhando para mim ou demonstrando atenção, eu sabia que ele estava ouvindo, até respondia algumas vezes. E pior, ele sorriu.

Sabe o que é o Thai sorrir? É fazer a bobinha da Queen aqui derreter completamente.

– Então o Random abriu o berreiro no meio da recepção – Falei dando outra mordida – Imagina o que o Taylor vai fazer quando me ver – Melhor me preparar.

– Você não devia falar de boca cheia – Ele falou tapando minha boca com o guardanapo. Isso conta como "cale a boca" certo? Estão as coisas estão voltando ao normal! – Você teve sorte que foi só uma cena, não me surpreenderia se você entrasse no avião e encontrasse o Random la dentro.

– Na verdade eu pensei nisso algumas vezes. Soube que o Chad pode conseguir uma arma também.

– No aniversario do Stevie, ele deu uma ovelha para ele.

– De onde ele conseguiu uma ovelha?

– Na verdade a pergunta seria porque o Stevie aceitou e deu o nome dela de "dona flora" – Ele disse fazendo as aspas com as mãos e imitando a voz do Stevie.

– É um bom nome – Falei tomando um gole da coca-cola abafando minha risada.

– Não se ele souber que a ovelha for macho – Ele arqueou as sobrancelhas pondo um sorriso no rosto. Ai merda. Sorri também.

O bom foi que nem tudo mudou, aquela foi a única vez que nós conversamos realmente, depois ele continuou sem me olhar e ignorar o que eu estava falando. A volta para casa foi como sempre. "Não bata o carro se for sobreviver" e a estação da rádio com as músicas mais cafonas para eu e o Thai zoar cada verso. Eu não sabia se nós estávamos progredindo. Chegamos em casa e fui a primeira a tomar banho enquanto ele fazia o jantar. Quando sai do banheiro ele entrou – na verdade, sentia que agora ele estava me ignorando. Enquanto ele tomava banho desarrumei minhas malas e o esperei na mesa.

– Não precisa me esperar – Ele disse puxando uma cadeira e sentando na minha frente. Apenas com um calção, cabelo molhado e toalha ao redor de pescoço. Sem camisa.

– A comida não desce bem se eu não estiver olhando para sua cara de babaca – Falei fitando a mesa para não olha-lo.

Que tipo de relação eu quero com ele?

– Vocês são dois idiotas – A Clair falou após minha explicação de tudo que tinha acontecido ao Taylor.

Estávamos na confeitaria no horário de almoço.

– Vem cá, por que ela está aqui? – Perguntei revirando os olhos.

– Pelo mesmo motivo que ele está – Ela mesma respondeu direcionando seu olhar ao Random.

– Esse cara roubou a namorada do Thai, não vou deixar ele roubar minha melhor amiga também – Random disse me pegando pela cintura.

– "Sua" melhor amiga? – Taylor perguntou me puxando – A única coisa sua aqui é esse bolinho.

– Quem está em crise aqui sou eu – Falei levantando a mão.

– Eu te chamei para ir na minha casa hoje depois do colégio e você disse que não. Já sabia que tinha algo de errado.

– Segura a fronha loirinho, sua namorada não ia gostar de ouvir isso.

– Relaxa loirinha, eu e a garota do Thai ali, temos uma tensão sexual.

– Tensão sexual? – A Clair gargalhou.

– É por isso que nada aconteceu quando eu vi o seu barney? – Perguntei me lembrando da cena do Random de cueca.

– Exatamente – Ele disse dando uma mordida no seu bolinho.

– Pera, garota do Thai? – Se bem que...

– Barney? – O Taylor fez a pergunta mais interessante.

– Seu amiguinho ai embaixo Tay – Falei passando o olhar pelo seu barney para ele entender.

– Você viu o – Ele pausou me dando aquele olhar para eu entender – dele?

– Tecnicamente – Dei de ombros – mas ele estava de roupa intima então segura a fronha lindinho – falei imitando a voz da Clair.

– Haha, engraçadinha – Ela riu sem graça.

– Você têm uma "tensão" com o Thai? – Taylor perguntou finalmente direcionando o foco da conversa para o que interessava. Eu e o Thai.

– Se você disser quer sim te dou esse bolinho mordido – Random falou.

– Calem a boca – A Clair falou – Já entendi que vocês estão disputando a atenção da Queen – Ela revirou os olhos – Seja sei lá por que motivo – Murmurou.

– O Thai é meu amigo – Random disse – Se vocês já estão a 6 meses morando sob o mesmo teto, e ainda não fizeram sexo, o Thai é gay – A farsa do Deniel adoraria ouvir isso.

– Ou ele não sente atração por isso – Ela me olhou de cima abaixo.

– Na verdade... Já pensamos sobre isso mas eu meio que recusei – Disse desviando o olhar.

– Recusou? – O queixo da Clair caiu – Talvez ela seja lésbica.

– Talvez seu namorado esteja bem aqui – Taylor.

– Talvez você seja ciumento – Clair.

– Talvez eu esteja de vela – Random.

– Talvez nosso turno começou e vocês deviam ir embora.

Enquanto ainda estávamos trabalhando, o Taylor conversou um pouco comigo. Resumindo ele disse, "provoque ele". Depois do turno acabar, fui na casa do Random jogar xbox e ele me aconselhou também – mesmo sendo nada bom nisso – mas a namoradinha dele chegou e eu preferi ir embora – só para não dizer que ela me expulsou. Conselhos dos Random, resumindo, "tire a roupa". O bom de chegar em casa tarde é que o Thai ia se perguntar onde eu estava, e como eu adoro a expressão que ele faz quando isso acontece.

– Ainda vai jantar? – Ele perguntou enquanto estava sentado no sofá desenhando.

– Não, já comi – Falei sentando do seu lado. Ele fechou o caderno.

– Hm – Ele olhou pro lado oposto ao que eu estava.

– Ei – Puxei seu rosto – Quero fazer uma aposta – "Provoque ele".

– Manda.

– Não importa por quais circunstancias, quem beijar o outro primeiro vai fazer tudo que o outro quiser.

– Têm certeza? – Ele mordeu os lábios.

– S-sim – Balbuciei desviando o olhar.

– Ta – Ele puxou meu queixo juntando nossos lábios – Começando agora.

Queen derretendo de novo. Ele levantou e foi em direção ao seu quarto. Peguei seu caderno e comecei a folhear as páginas.

– Por que você estava estranho hoje? – Vi o último desenho.

– Adivinha – Ele fechou a porta.

Melhor me colocar no freezer.