Kira estava sem saída. Dois homens a seguravam e os outros estavam cercando-a. Ela não sabia o que iria acontecer. Talvez eles só a levassem para alguma prisão da Nação do Fogo, talvez a tirassem da cidade para matá-la ou talvez eles a matassem ali mesmo.

Com a guerra durando 100 anos, a Nação do Fogo tomou algumas medidas como a de obrigar todos os dobradores de fogo a se alistarem na guerra. Os soldados nem sempre iam para as linhas de frente ou batalha, muito eram designados para as colônias já dominadas para ajudar a manter a ordem e os que descumpriam as ordem do Senhor do Fogo Ozai eram severamento punidos. Kira não só não tinha se alistado, como havia fugido de sua Nação.

—Há quanto tempo você está na cidade? – perguntou o homem que estava a sua frente. Ele parecia ser o mais novo dentre eles. Sua roupas eram boas, Kira pensou que ele deveria fazer a vida caçando pessoas.

Sem obter resposta, ele se aproximou de Kira e lhe deu um soco no rosto.

—Responda! – disse ele nervoso.

—Vá para o inferno! - respondeu ela sentindo o gosto de sangue na boca.

Antes de receber o próximo soco, Kira aproveitou que estava sendo bem segurada pelos dois homens e chutou-o com as duas pernas, fazendo-o cair no chão. Os outros dois homens que estavam perto ficaram a postos.

—Eu avisei, Hol. – disse Alden.

Hol se levantou na intenção de retribuir o chute, mas Kira se esquivou e lhe aplicou outro golpe de luta com a perna.

Ansiosa, não parava de se mexer, deixando os dois homens que a seguravam com medo.

—Segurem-a direito!- gritou Alden.

—Nós temos que apagá-la. – disse Hol.

Alden o puxou pelo braço e lhe disse algo que Kira não ouviu. Preocupada com o que poderia ser, resolveu usar sua dominação de fogo. Sua pele ia gradativamente aumentando de temperatura e Kira pode sentir os dedos dos dois homens vacilando.

—Apaguem-na! – ordenou Alden para os outros dois homens que o assistiam.

Um deles pegou um pedaço de metal do chão e bateu na cabeça de Kira.

—Você é um incompetente. – disse Alden ao ver que o golpe apenas deixara em Kira uma marca vermelha.

Controlando sua dominação, a temperatura de seus braços já estava muito elevada e os dois capangas não sabiam como segura-la mais.

Alden vendo que faltava pouco para Kira conseguir fugir de novo pegou um pedaço de metal, e com um golpe rápido e forte, bateu na cabeça de Kira, fazendo-a desmaiar.

—É difícil fazer...

Alden foi interrompido por uma dobra de fogo que passou ao seu lado.

—Solte-a! – disse alguém nas sombras.

—Solta-la? – perguntou Alden curioso.

—Solte-a ou vão se arrepender!

—Ok, você pediu. – respondeu ele, e com um aceno de cabeça, os dois homens soltaram-na.

O corpo de Kira mal havia caído no chão e duas dobras de fogo atingiram os capangas que haviam a soltado.

Alden e Hol ficaram em posição de luta quando ouviram passos se aproximando cada vez mais deles e quando puderam ver que se tratavam de 3 pessoas, começaram a avançar para lutar, mas foram atacados com esferas de fogo.

No chão, eles puderam ver que quem os tinha atacado eram ninguém mais, ninguém menos, que Príncipe Zuko e Iroh acompanhados por um soldado com uniforme da nação do fogo.

—Vá! – disse Iroh à Zuko.

Zuko correu até onde Kira estava desacordada no chão e se agachou ao seu lado.

—Oh Kira. – disse ele ao vê-la machucada.

—Leve-a! – disse Iroh derrubando Alden e Hol.

—Mas acho que ela precisa de cuidados médicos... – disse ele preocupado.

Iroh se aproximou e vendo-a falou:

—Não se preocupe, Príncipe Zuko. Leve-a para o navio. Vou até o hotel avisar os amigos de Kira e já volto para o navio.

Zuko se levantou, pegou Kira no colo e foi em direção ao navio com o soldado o acompanhando.

—Príncipe Zuko, eu posso levá-la. – disse o soldado.

—Eu a levo. – respondeu decidido.

Zuko subiu em seu navio passando por cada olhar curioso que sua pequena tripulação dava e levou-a para seu quarto. Cuidadosamente, colocou-a na cama.

Após bater a porta, o soldado entrou carregando uma pequena maleta de primeiros socorros. Devagar, Zuko limpou o sangue que estava no rosto de Kira, e constatou feliz, que o corte era pequeno. Zuko riu pensando que o roxo que ficaria no rosto de Kira não a agradaria.

Sem ter mais o que fazer, pegou uma manta para cobri-la e antes de deixar o quarto beijou-a na testa.

Zuko estava indo para a proa do navio quando viu que Iroh vinha em sua direção.

—Já ia saber se o senhor havia voltado. – disse Zuko.

—Acabei de chegar. Ela já acordou?

—Ainda não.

—E já sabe o que vai fazer, Príncipe Zuko?

—Em relação ao que?

— A ela. – respondeu Iroh sério.

Zuko olhou confuso para seu tio.

—Ela irá conosco? – perguntou Iroh.

—Não! - respondeu o príncipe rapidamente.

—E o que pretende fazer então? Deixá-la aqui ou na cidade mais próxima?

—Eu não sei! – disse irritado.

— Então pense bem, Príncipe Zuko, pois hoje você quase a perdeu. – Iroh disse e então seguiu para seu quarto.

Zuko queria espairecer, mas lá fora sua tripulação estava curiosa querendo saber quem era a garota e quando partiriam. Sendo assim voltou para seu quarto.

Kira continuava dormindo. Zuko sentou-se ao lado da cama, querendo pensar, querendo descobrir o que fazer. Só ele sabia a falta que Kira fazia, mas ele não queria essa vida para ele, e muito menos para ela. Havia prós e contras em ela ficar no navio, mas também havia prós e contras em ela ficar em alguma cidade. Pensando no que o tio dissera, Zuko se levantou e após olha-la saiu em direção à proa do navio.

—Como ela está? – perguntou Iroh.

—Está desacordada ainda.

—Vou fazer um chá para ela tomar quando acordar. – disse ele indo para a cozinha, mas foi interrompido por Zuko.

—Espere, tenho que falar algo com a tripulação.

Zuko pediu que chamassem todos, queria falar apenas uma vez. Quando todos chegaram ele começou.

—Como todos viram hoje eu trouxe uma garota desacordada para o navio. Ela é uma pessoa que eu conheço desde criança e sim, ela ficará aqui. Ela viajará conosco. – ninguém se atreveu a dizer nada e então ele continuou. – Seu nome é Kira e eu exijo que tenham respeito por ela como teriam por mim ou meu tio! Alguma pergunta?

Sem nenhuma outra pergunta ele finalizou.

— Podem voltar ao trabalho. Nós partiremos agora mesmo para o próximo porto. Lá eles consertarão o navio.

—Príncipe Zuko, onde ela ficará? Em seu quarto? – perguntou Iroh com um sorriso curioso.

—Há um quarto com ferramentas e armas. Nós podemos colocar tudo na parte debaixo do navio. – disse ele secamente.

—Vou avisá-los para limparem e arrumarem o novo quarto de Kira. – disse Iroh alegre e então foi para dentro do navio.

Zuko voltou para o quarto mais uma vez e encontrou-a inquieta. Sua respiração estava descompassada e sua testa estava enrugada, como se estivesse com dor. Zuko se aproximou mais da cama para vê-la e ficou observando, esperando que ela acordasse ou se aquietasse, mas não foi isso que aconteceu.

Kira estava cada vez mais agitada, sons saiam de sua boca mas não formam palavras.

—Me soltem - sussurou ela.

—Kira… - Zuko não sabia o que fazer.

Ela então começou a se debater na cama, passar a mão sobre o curativo tirando-o.

— Por favor, acorde. - disse ele segurando seus pulsos e encostando sua testa na dela. - Sou eu, Zuko.

Após uns segundos, que para Zuko pareceram interminavéis, Kira se acalmou.

—Kira, sou eu. – repetiu preocupado.

Seus olhos se abriram com grande dificuldade, a dor de cabeça era quase insuportável.

—Zuko? - sussurrou ela.

—Como está se sentindo?

—Onde estou? - perguntou sem saber se estava sonhando. Zuko supostamente estaria a milhas dali.

—A salvo. - respondeu beijando sua testa delicadamente.

O navio começou a se mover, fazendo um barulho e assustando-a.

—O que está acontecendo?

—Estamos na trilha do avatar. – respondeu ele.

Com os olhos semi-cerrados, Kira sorriu.