Após o mesmo pesadelo de sempre invadir seus sonhos, Kira ficou deitada na cama revivendo seu sentimento de impotência. Igual ao pesadelo, ela não pode fazer nada quanto ao assassinato de seu pai, mas diferentemente da cena que sempre via em seus sonhos, ela não estava presente quando seu pai fora assassinado.

— Segunda feira, você poderia não existir! Com essas palavras, Kira se levantou para tomar banho e se arrumar para trabalhar.

— Mas já? – perguntou Zhen , recepcionista do hotel em que ela morava.

— Já... Preciso repor alguns mantimentos, não podemos deixar os clientes com fome, não é?! – perguntou ela sorrindo.

— Claro que não. É onde eu almoço!

— Então, pelo seu bem, aqui estou eu, em pé as 6 hrs da matina. – disse rindo.

— O chefe não acordou ainda, acho melhor você levar a cópia da chave do restaurante. Kira pegou as chaves e saiu em direção à rua.

— Você podia fazer batata dorê hoje. – disse Zhen alto.

— Vou pensar no seu caso. – respondeu Kira e saiu para fazer as compras.

A cidade em que morava, uma colônia da Nação do Fogo, não era muito pequena, mas havia poucos restaurantes, e Kira fora arrumar emprego num dos mais tradicionais da cidade. O Restaurante era do próprio hotel, o que lhe rendeu um ótimo desconto no quarto, fazendo com que o seu salário fosse suficiente para manter outras despesas.

Ela gostava da cidade, era bom poder ver todos vestidos com roupas da Nação do Fogo, de certo modo isso a fazia se sentir mais confortável, mas o que ela realmente gostava era de sair alguns quilômetros da cidade, onde fazia aulas de defesa pessoal. Já havia mais de um ano que não fazia uma dobra de fogo, e teria que saber se defender.

Após as compras, voltou ao restaurante que já estava aberto e deu as chaves para o Sr. Feng antes de se enfiar na cozinha e fazer seu trabalho. Com o fim do horário de almoço, Kira tirou seu avental de cozinha e colocou um uniforme de garçom e foi para balcão. Havia acabado de receber por um café servido quando ouviu:

— Ora. E não é a Kira!

— Comandante Zhao, Você aqui de novo. - disse ela o cumprimentando.

— Como vai? – perguntou ele pegando em sua mão.

Tirando sua mão da dele, ela serviu o café respondendo: - Vou bem e o senhor?

— Estou melhor no presente momento.

Tentando não rir da elaborada frase perguntou: -Aceita um pedaço de bolo?

— Você quem fez?

— Sim, senhor.

— Então sim. - Com o pedaço de bolo servido, ele continuou a falar. - Eu gosto daqui.

Sem saber se queria ou não responder, Kira só sorriu.

— Queria poder vir mais para cá.

— Como se o senhor não viesse. – disse Kira ironicamente.

Zhao riu e continuou – Mas para sua infelicidade, eu ficarei fora por algum tempo.

— Por que? – perguntou ela.

— Uma missão da Nação do Fogo. Viajaremos para o oeste.

— Deve ser bom ficar em alto mar. – pensou ela.

— É sim, mas não por mais de cinco meses.

— É, aí não. – disse ela rindo enquanto lavava os copos da pia.

— Quando eu voltar, quem sabe você não me conta o nome do homem que roubou o seu coração, para que eu possa pega-lo de novo.

— Você não desiste não é? – perguntou Kira rindo tocando seu colar.

— Não. Pode ter certeza que volto para perguntar.

Forçando um sorriso ia começar a arrumar o balcão quando Zhao a pagou.

— Fique como o troco. – Zhao pegou sua mão novamente e a beijou dizendo: - Até breve. – então saiu.

Kira o achava insuportavelmente metido e irritante, mas como seu sustento dependia de sua gentileza, ela o travava normalmente.

Ao final de seu expediente, Kira voltou para seu quarto e tomou banho para voltar e jantar. Cansada por ter acordado mais cedo que o normal, já estava indo para seu quarto quando ouviu a voz de Zhen .

— Obrigada pelas batatas!

Mal deitara na cama e adormecera. Teve um sono tranqüilo até que um sonho diferente a fez acordar assustada. Os raios de sol enchiam o quarto e ela enxugou a testa repleta de suor. Ela sonhara com ele. Zuko.

Já havia passado 2 anos desde que saíra da capital da Nação do Fogo, e havia muitos meses que não sonhava com Zuko. Dois anos se passaram e ele não havia aparecido. Certamente não a estava procurando. Certamente já havia se esquecido dela.

Ficou na cama, mexendo em seu colar, até que levantou e foi se arrumar para o trabalho. Cumprimentando Zhen que já estava na recepção, ouviu a voz do chefe.

— Kira.

— Sim?

— O Sr. Yin está com problemas na família e não poderá trabalhar hoje. A senhorita poderia fazer a jantar hoje?

— Hm, sim. Acho que sim.

— Ótimo. A senhorita trabalhará até o almoço e depois voltará para o jantar.

— Tarde de folga? – disse ela sorrindo.

— Meia tarde.

— Já é algo. – riu.

— Até mais tarde.

Com o almoço feito, o Sr. Feng a dispensou e ela rumou para o hotel. Zhen estava conversando com uma hospede então subiu para o quarto para tomar um banho relaxante. Quando desceu, foi para o lado da amiga no balcão. Já iam engatar uma conversa quando viram um senhor entrando.

— Boa tarde. – disse ele simpático.

— Boa tarde. – responderam.

— Quero um quarto, por favor. – pediu ele e depois fixou seu olhar em Kira.

— Para quantas pessoas? – perguntou Zhen.

— Para mim e meu sobrinho. – respondeu ele sorrindo bondosamente.

Kira olhou para onde o senhor inclinara com a cabeça e viu um rapaz encostado na entrada. Ele estava coberto por um capuz preto. Mal dava para ver seu rosto.

— Kira? – perguntou Zhen , atraindo novamente o olhar do senhor para ela quando respondeu:– Sim?

— Poderia ver se o quarto 14 já está limpo?

— Claro.

Kira subiu as escadas enquanto ouviu Zhen pedindo para o senhor preencher o formulário. Cinco minutos depois ela estava de volta.

— Um minuto, vou pedir para levarem suas malas para o quarto. – disse Zhen saindo da recepção.

Sem graça com os olhares do senhor, Kira começou a mexer nos papeis aleatoriamente.

— A senhorita conhece bem a cidade? – perguntou ele.

— Um pouco.

— Saberia informar onde há um bom restaurante para fazermos as refeições?

— Mas é claro! – respondeu Zhen chegando. – O restaurante do hotel é ótimo.

— Então creio que já temos onde comer também.

— E o senhor está com sorte hoje. Vai comer uma das comidas mais gostosas na janta.

— Ah é? E quem é o cozinheiro? – perguntou ele.

— Cozinheira. – respondeu ela apontando para Kira.

— Então provaremos seu jantar. – disse ele sorrindo.

— Fico feliz. – respondeu Kira.

— E qual vai ser o cardápio de hoje? – perguntou Zhen .

— Por que? Está com vontade de comer algo hoje? – perguntou Kira rindo.

Ela pode perceber que o rapaz que ainda estava encostado na parede estava observando-as com certa curiosidade.

— Não seja má! – disse Zhen rindo.

— Nunca sou. – respondeu piscando para a amiga.

As malas já estavam sendo levadas para o quarto quando o senhor se despediu.

— Espero que gostem da estadia. – disse Zhen.

— Ah, ao que parece meu sobrinho vai gostar desse lugar mais do que ele imagina.