Querido eu mesmo

Querido eu mesmo,


Querido eu mesmo,

Me sinto um pouco enjoado, quase posso me sentir entre aquelas quatro paredes monocromáticas de novo, as paredes de minha sala do segundo ano do ensino médio. Porém, não há vozes contínuas e requer irritantes, nem obrigação. Mesmo assim, é como se escrevesse um dos relatórios que eu tanto odiava, aos quais eu reprovaria mesmo tendo cumprido com o objetivo, apenas por ter uma 'ideia' nada comum quanto a como atingir o mesmo. No momento, estou torcendo o rosto, tentando me lembrar de todas as palavras difíceis que conheço, para usá-las aqui e me fazer parecer inteligente, como fazia antes. Minha sorte é que, nunca deixei de ser bom na arte de enrolar.

Mas não é como se eu tivesse mudado em algo. Na verdade, é como se eu tivesse ficado mais parecido comigo antigamente, antes do segundo ano do ensino médio. Mas não houveram grande mudanças nem mesmo nele.

Continuo pensando e observando mais que falando, apesar de não ter mais tanto o que observar, além de Komachi. Continuo fazendo a barba, que continua fina demais. Continuo magro, não há rugas na minha cara, não se passaram tantos anos para isso, não estou tão velho assim ainda; meus olhos continuam os mesmos, continuo desprezando atividade física, preferindo atividades individuais, ficar em casa, sem sol, no sofá. Meu psp continua sendo meu melhor amigo, e meus planos para o futuro ainda são os mesmos: ser uma dona de casa. Porém, passaram-se poucos anos demais desde a minha formatura para que eu me case, talvez deva esperar mais uns dois ou três anos para procurar uma mulher economicamente ativa, quando meus pais deixarem de me dar mesada e me exigirem fazer algo da vida... Que não seja ser brilhante no sofá.

Nada mudou realmente, nem me sinto adulto. É como se continuasse congelado no tempo, enquanto ele passa, e eu não vou para a escola. Porque ninguém em sã consciência iria para a escola se estivesse preso sempre no mesmo dia.

Talvez, só, aqueles que tivessem amigos dos quais quisesse ver. E esse nunca foi, nem poderia ser, meu caso.

O eu do futuro, provavelmente já casado e ocupado, cuidando de crianças, da faxina e da comida de casa, não irá se perguntar porque não estou comentando ou sugerindo algo sobre as pessoas que eu conheci no segundo ano do ensino médio, porque ele já vai saber, mesmo que tenha se esquecido o rosto deles ( diferente de mim ), que tudo aconteceu como sempre acontece: Acabou.

Assim como amizades da infância, aquelas da juventude estão fadadas a não durarem em sua maioria, também.

Você conseguiria manter um ou dois amigos no máximo. Mas claro que, uma pessoa como eu, não conseguiria nem manter a única que queria. Não que euquisesse ter mantido alguma em especial, é só que...

Eu me pergunto se o futuro eu ainda vai se lembrar, e ainda vai reparar, que algo está faltando. E eu acho que sempre vai faltar.

Hoje, exatamente hoje, Komachi se forma do Ensino Médio.

Eu tentei inventar mil desculpas para não ir, afinal, só de pensar em rever o lugar que passei esses turbulentos três anos me dava náuseas e um pouco de um sentimento que me desagrada, uma mistura de medo com alguma outra coisa asquerosa. De qualquer jeito, Komachi insistiu que eu fosse, até usou a desculpa de que eu não fui à minha formatura e ela gostaria de ter assistido, então pelo menos eu teria de ir na dela para compensar. Como um bom irmão, apenas dei um longo suspiro e assenti, aceitando. Ela, pulou alegre e até me deu um beijo na bochecha, o que me fez me sentir um pouquinho de nada mal pela má vontade com qual estou indo para o evento. Mas só um pouco, e já passou.

Ela escolheu tudo, parecia mais empolgada com aquilo do que com o aniversário, eu ainda não sabia o que estava por vir, então nem suspeitei, só me perguntei como era possível. Seria a vontade de Komachi de se livrar do ensino médio tão grande assim? Me lembro que para mim, tanto entrar quanto sair do mesmo foram igualmente terríveis e desagradáveis. Mas voltando ao assunto, ela escolheu e alugou meu terno, escolheu meu sapato e a gravata, pôs meu cabelo para trás, e no fim me disse que eu estava tão bonzinho que eu merecia alguns pontos. Quanto tempo não ouvia isso? Nesse momento, percebi que até com Komachi estava conversando menos do que costumava, quando ia ao ensino médio. Era como se eu realmente estivesse repetindo o mesmo dia eternamente, mas isso não vinha ao caso. Eu estava compensando a negligência indo ao evento, certo?

Komachi usava um vestido de cetim brilhante, da cor azul marinho, com todos os acessórios, salto alto e maquiagem da mesma cor ou de cores parecidas. Nunca tinha a visto tão enperiquitada, então achei um pouco engraçado, mas a elogiei de qualquer forma. Era minha irmã e estava uma gracinha, mesmo que como só uma irmã mais nova pode ser.

Fomos a pé. Como todo o luxo que se era exigido. Ela falava no caminho mas minha mente estava cheia, mal havia chegado e já sentia toda a minha vida tornando-se cinza de novo, nem sépia para melhorar a situação. Até o portão daquela escola era coberto por uma nostalgia nojenta que me incomodava. Era como se o que faltava estivesse perfurando todas as minhas áreas sensíveis e eu não conseguisse encontrá-lo, porque eu não sei o que é. Mas a minha vida sempre foi vazia, muitas coisas estão faltando, mas isso é melhor do que viver um vazio superficial e que pretender fingir ser preenchido, quando não vai ser.

Quando entramos, todo aquele cenário me deu rinite mas eu ignorei. De primeira, eu não conhecia ninguém e apenas assistia Komachi cumprimentar e me apresentar para várias pessoas, até sentarmos. Depois eu vi Kawasaki, black lace, o que era plausível, seu irmão estava na sala da minha, afinal. E eu não esqueceria disso. Nós nem nos cumprimentamos, só nos encaramos por um momento e ela virou a cara, andando em frente. Eu sorri, como esperado.

Logo, tive que me separar de Komachi para a cerimônia, e me sentei bem atrás, para sair mais rápido e não chamar muita atenção. Olhei ao redor, e pude identificar duas cabeças loiras que conhecia, em lugares separados e distantes, eram Yumiko e Hayato. Pelo visto, não tinham vindo juntos. Identifica-los só me serviu para me focar em não encontrá-los de forma alguma.

Descobri que ainda sabia cantar o hino e depois, refleti como nunca havia ouvido um discurso tão falso na minha vida. Me perguntei se havia sido assim na formatura qual não compareci, mas só por eu não estar incluído em tal discurso, já o tornava um pouco mais verdadeiro. No fim, Komachi não falara nada, só buscara o diploma, e conseguirá ser radiante mesmo fazendo tal. Deixei um sorriso escapar.

Quando a cerimônia acabou, fui logo para o portão, me tocando que tinha que esperar Komachi aparecer para ir embora, o que me fez me arrepender de todas as minhas escolhas, esperando-a no portão chamava atenção demais. Tentei me esconder na parede atrás dele, mas em pouco ouvi alguém me chamar:

— Senpai!

Eu conhecia bem aquela voz, mas não queria acreditar. Me virei em susto e um vasto desespero.

— Falando com a pessoa errada?

— Muito engraçado, Senpai!

Quando a olhei, ela estava curvada, me encarando com um sorriso travesso, uma cena bem nostálgica. Iroha não havia mudado em nada, só estava com o cabelo mais longo. Ao rir, ela me deu um leve tapa e se aproximou mais. Quis morrer, era como se eu tivesse ganhado o +4 do uno de um desconhecido, desde que nunca o joguei com um amigo.

— O que faz aqui? — Ela perguntou, apoiando-se na parede comigo.

— Formatura da Komachi.

— Isso eu sei! Foi ela que me convidou, afinal.

— Ela o que?

— Oops! — Ela piscou para mim, mas mudou de assunto rapidamente. — O que tem feito da vida, Senpai?

— Nada. — Alguém me disse uma vez que minha qualidade era ser sincero, provavelmente eu mesmo. Sua resposta foi rir, eu apenas ignorei.

— Você vai para a festa, certo? Te vejo lá! — Me disse, apressada e correu para o encontro de algo, eu sequer tive tempo de responder, mas vi que ela ia ao encontro de Hayato.

Eu tentei observá-los mais um pouco, para entender se ainda se falavam, se eram namorados, mas logo percebi Komachi me chamando e tive de dar atenção a ela. Foi aí que ela me confirmou que teríamos de ir a festa, me desanimei mais uma vez. Afinal, passei adolescência inteira fugindo de festas por um motivo, esta seria minha primeira.

Era um salão enorme, estava cheio de pessoas, de todas as idades. Logo supus, com razão, que a festa se tratava de algo organizado pelos alunos e não pela escola. Suspirei, pensando como no meu lugar, eu mesmo sendo membro da turma não seria chamado para algo assim e me senti deslocado como se mais uma vez voltasse aos anos escuros de minha vida.

Fiquei em uma mesa, Komachi saia e voltava o tempo inteiro, as vezes voltava sozinha, as vezes com uma companhia que ficava por pouco tempo. Não era como se conversássemos quando estávamos só os dois de qualquer forma.

— Você já é maior de idade! Devia beber e se divertir um pouco!

— Hm... — A ignorei, observando um pouco mais a festa. — Aliás, Komachi, que história é essa de ter chamado a Iroha?

— Kyaaa! — Ela agarrou o próprio coração com uma das mãos, de forma bem dramática. — Você me pegou, onii-chan! Não fique bravo!!!

A encarei e dei de ombros. O plano dela era me devolver aquela prisão? Perdeu pontos.

— Não foi só ela que você chamou, certo?

— Kyaaa! — Ela repetiu o ato se encolhendo mais dessa vez. — Ughu... — Esse parecia um som que expressava a morte definitiva. — É pro seu bem, onii-chan! — Por fim, ela sorriu para mim, de forma meio melancólica.

— Como? Eu estou bem, adoro minha vida atual. — Antes que ela pudesse me responder, alguém me tocou as costas e eu me virei, temendo pelo meu futuro.

— Hikigaya! — Era Ebina, não havia mudado nada. — Como andas? — Foi logo se sentando.

— Ah, bem. — Eu estava aliviado que era ela, mas ainda assim...

Sua resposta foram uns risinhos.

— Quando não é você, é sua irmã me ajudando. — Seu sorriso mudou, de repente. — Graças a ela, pude reencontrar meus amigos aqui.

—Agradeça a ela... — Me virei por um momento para descobrir que ela havia me deixado. — Ah...

Ebina riu mais uma vez.

— Obrigada por tudo, Hikigaya. — Ela levantou, sorrindo uma última vez antes de se levantar e ir embora, virando-se mais uma vez por um momento. — Espero que sua irmã consiga te ajudar como você me ajudou.

Ela se foi, direto ao grupo de amigos, onde estavam todos reunidos, até Tobe, que junto de Hayato, acenou para mim. Eu, claro, acenei de volta, mas as ultimas palavras dela haviam me deixado pensativo.

Ebina era a única, de todo o ensino médio, que considerava que eu a havia ajudado... Apesar de todos os meus esforços, não que eu precisasse de créditos de qualquer forma. Decidi não pensar muito sobre isso.

Algumas músicas populares tocavam, nenhuma que eu estivesse familiarizado com, desde que só ouvia músicas de anime. Ela era alta, não conseguia ter certeza de como já havia conversado com alguém, mas para mim aquela barulheira não era diferente da normal de uma sala de aula em hora de intervalo. Preferia o silêncio, claro, mas não é como se eu tivesse conversado com alguém fora de um ambiente assim.

Eu tinha prometido a mim mesmo que nunca iria a uma festa assim, porque eu já sabia o que ia acontecer... Já sabia que ficaria de canto e essa sensação só era boa se eu estivesse jogado em meu sofá. Com o tempo, parei de observar para ver se tinha mais alguém conhecido, para fugir da conversa, e dos pensamentos negativos quais me lembravam das pessoas que eu queria ver, mas nunca admitiria em voz alta.

Infelizmente, para mim, eram as únicas pessoas que faziam sentido serem convidadas e era frustrante não ve-las, ainda que vê-las parecesse assustador demais. Pensamentos mais negativos que o usual me cercaram e eu cogitei beber para esquecer eles, aproveitar o que a maioridade tinha a oferecer além de sexo, mas não tinha animo para me levantar.

— Hikki! — Ouvi de repente, e ameacei a mim mesmo de estar ficando louco, mas ao atender ao chamado confirmei: essa era Yuigahama, falando no diabo... Ou pensando nele.

Senti minhas bochechas corarem, sendo que ela possuía um sorriso puramente emocionado e cabelos um pouco mais longos. Mesmo com a singela diferença, ainda era nostálgico. Ao seu lado, com braços enlaçados ao dela, estava Yukinoshita, que se assemelhava a um dejavu, sem mudança alguma, até a sua habitual falta de sorriso estava lá.

De repente, Yuigahama se emburrou e veio em minha direção apressada, deixando a outra para trás. Tremi e me levantei de uma vez só, levando um susto quando ela chegou perto demais, aproximando nossos rostos como se quisesse ter certeza que eu estava ciente do quanto a havia deixado brava.

— Não acredito que está desempregado e não está estudando nada! — Quase gritou contra o meu rosto. — Podia ter virado psicólogo! — Se afastou e cruzou os braços, com as bochechas infladas. — Ok, isso seria perigoso... Podia ter virado psiquiatra então! Ok, ok... Medicina não combina com você... AAAA! Podia ter feito qualquer coisa!

— Sim, podia ter feito qualquer coisa... E de qualquer coisa, escolhi cuidar da Komachi.

— Virasse babá então, Hikki! — Ela bateu os pés no chão, enquanto eu deixava um sorriso escapar, onde ela havia aprendido a me ofender? Isso não era de seu feitio.

— Bem, acho bem deplorável sua situação, mas devo admitir que ela combina com você. — Agora sim, as palavras vinham de alguém que combinava. Lá estava Yukinoshita, com a língua afiada de um gato.

— E você? O que escolheu?

A mais avantajada me olhou, depois migrou para a outra, que mexeu em uma das mechas de seu cabelo.

— Estou cuidando dos negócios da minha família...

— Previsível. — Soltei e talvez parecesse um pouco horrível, já que estava sorrindo. Ela deu de ombros .

— Yuigahama está terminando medicina Veterinaria.

— Sério?

— Sim! — A própria confirmou.

Depois daquilo, eu me sentei, já havia ficado em pé demais para o que eu aguentava. Para minha surpresa, elas se sentaram ali.

Por um instante, eu podia ver a luz do ambiente se normalizando, a mesa se alongando, uma breve brisa e o cheiro de chá se instalando. Eu estava na sala do clube de novo... Ou ao menos, essa era a sensação que a nostalgia me dava. Nem reparei, quando ouvi o protesto de Yuigahama.

— Komachi está preocupada...

— E por isso chamou todos os meus colegas do ensino médio para me "salvarem"?

— Você é terrível, Hikigaya. — Yukinoshita se pronunciou, suspirando.

— Eu sei disso.

— Não é assim, também... — a burra tentou intermediar.

— Você diz que está cuidando de Komachi, mas não vê que está causando problemas para ela? Se preza, ao menos, pelo bem de sua família deveria pensar no próprio futuro. Ao contrário de nós, eles devem se importar com você.

— Yukinon, calma! Não é assim!

— Ela está certa. — Assenti e me levantei, indo para fora daquele lugar, ao qual eu nunca deveria ter entrado.

— Hikki! — pude ouvir Yuigahama ao fundo, mas não olhei para trás. Fui fixamente até a saída, tentando não pensar muito, mas era impossível.

Por mais que eu odiasse admitir, nos divertimos tanto, no passado. Eu queria vê-las, mas queria ver a minha memória delas, a idealizada, que nos impediu de chegar ao genuíno.

Meu peito apertou, mais do que quando lembrava dos meus traumas de infância. Aquilo foi incomodo demais, tantos dias pacíficos sentindo falta delas, para ser sufocado pela decepção. O coração é burro, ele ânsia pelo que você mais odeia, e agora eu acho que odeio elas.

Sentei nas escadas da saída, respirando fundo e massageando as têmporas. Ia demorar para retomar a paz depois daquilo, a memória se repetiria em minha cabeça, uma tortura, um castigo por ter me aproximado de sentimentos tão superficiais.

Achei que ia chorar, tudo que eu queria era voltar para elas, ou recomeçar aquele diálogo, voltar no tempo. O cérebro gritava "você queria nunca te-las conhecido, malditas garotas gentis!", mas o peito sussurrava baixinho que as conheceria de novo, em todos os possíveis recomeços, universos, seja o que for. Cobri o rosto com as mãos e me encolhi, as lágrimas eram secas, talvez gastas dentro, amolecendo o coração que até então estava seco também.

— Hachiman?

Rápido demais, conhecia bem aquela voz, levantei o olhar rapidamente, sem pensar muito.

— É você mesmo! Continua igualzinho! — Deu uma risada adorável ao fim, puro ópio.

— Totsuka? Komachi te chamou também?

Se elas eram a realidade, a verdade, dura de engolir mas que você anseia mesmo assim; Totsuka era com certeza, a mentira, o escapismo, belo e puro. A paixão que tive nele, tão rala e sigela, era algo que me consolava, mas que eu tratava como um sonho, que não podia se realizar. Encontrá-lo fazia-me sentir como se o destino estivesse me consolando, o que me fez rir de mim mesmo.

— Sim! E chamou Zaimokuza também! — ele sentou ao meu lado. — Do que está rindo?

— Com certeza não do Zaimokuza. — Senti um calafrio, desanimando-me, enquanto ele riu.

— E então, como vão as coisas?

— Ah, bem... — suei frio, Totsuka também não...

— Komachi disse que não, mas você está feliz?

— Nunca estou feliz.

— Hachiman! — emburrou-se de repente. — Era uma pergunta seria!

— Estou bem.

— E feliz?

— Só se você estivesse na minha vida. — Disse no ímpeto, sem pensar.

— Hachiman! — emburrou-se novamente e me estapeiou o ombro. Aquele toque me emocionou inteiro.

— Desculpe, e a sua vida?

— A-Ah! Estou cursando artes cênicas...

— E o tênis?

— Não consegui jogar profissionalmente... Hehe... — ele riu de forma triste e bagunçou o próprio cabelo.

Senti a crueldade do universo sobre meus ombros, ninguém merecia mais a felicidade que Totsuka. Parei por um momento, me enchendo de revolta e pensamentos negativos, quando ouvi meu anjo falar...

— Alguma n-namorada?

Dei uma risada esquisita antes de responder, encantado pela vergonha dele misturado com um pouco de sarcasmo.

— Não. — disse ainda podre, até me tocar que Totsuka era um garoto também e podia muito bem ter arrumado uma namorada, apesar de ser uma idéia amarga. — E você? Por favor não. — deixei escapar.

Totsuka riu, da forma linda que sabia e eu sorri.

— Sabe, Hachiman...

— Hm?

— Eu posso...

— HACHIMAN! SAI-CHAN!

Eu literalmente senti o chão quebrando, e não era uma piada com o peso de Zaimokuza. Ele já havia me reconhecido era tarde demais, não havia como fugir. O desgraçado conseguia estragar todos os meus encontros com Totuka. Levantei rapidamente e gritei, voltando para a festa:

— Quem você chamou não está!

Apenas ouvi Totsuka rindo e era tarde demais, Zaimokuza havia enlaçado meu pescoço com um braço.

— Hachiman...! Eu senti tanto sua falta...!

— Eu estava feliz sem te ver.

— Tão... Sincero... — ele me soltou, eu cambaleei, quando olhei para trás, estava em uma pose derrotada, com Totsuka lhe afagando as costas. Morri de inveja.

— Ah! Hachiman! — Totsuka chamou. — Zaimokuza vai publicar uma novel!

— É o que?! — o universo só podia estar de brincadeira.

— Se chama "minha comédia romântica jovial está errada como esperado"! — Zaimokuza que disse, com as lentes brilhando.

— Mas que título merda.

— Hachiman...! — os dois disseram juntos.

Zaimokuza falou mais um pouco sobre sua novel, qual tinha um protagonista muito merda, apostei que era self-insertion. Ele quis entrar para comer, e eu disse que iria embora ali mesmo, me despedindo dos dois.

Minha cabeça estava cheia, só queria ir para casa, mas nem podia ir sem Komachi... Refleti então, Komachi estava fazendo aquilo por mim, eu devia a agradecer a ela apesar da situação desagradável que passei, ela não tinha culpa da perversidade do universo, e nem de ter o irmão que tinha.

Um irmão que nunca poderia ter algo genuíno.

Andei apenas um pouco quando senti algo puxar minhas costas, suei frio e virei já gritando, me perguntando se ia apanhar:

— Não tenho nada pra te dar!

Só para me deparar com Totsuka e corar arduamente, que assaltante mais meigo...

— Pode me levar se quiser. — soltei mais uma vez.

— Está falando sério?! — ele parecia bravo, se aproximando emburrado. Ele nunca havia me perguntado aquilo antes e fiquei indeciso... Eu estava? — Eu estou cansado disso, Hachiman! Disse que só seria feliz comigo na sua vida, então por que não me trás para ela?

— A-Ah... — meu coração disparou, não sabia o que fazer, nunca tinha pensado seriamente sobre aquilo, e meu cérebro estava meio atrofiado com o meu estilo de vida. — Não sei...

— Não sabe...? Eu sabia...

A cara desapontada dele me foi como uma facada e engoli um enorme seco. Caramba, era difícil pensar sobre aquilo seriamente, parecia que havia algum bloqueio em meu cérebro para romances, mas... Eu sentia que não podia deixar aquilo passar.

— T-Totsuka, quer sair comigo?! — quase gritei.

Ele cruzou os braços e me encarou, nunca me senti tão domado.

— Você tem certeza disso?

— Você está me deixando confuso...

— Hachiman, se você quer sair comigo de verdade e não só como uma piada, tem que me provar.

Eu fiquei meio em choque, com cara de palhaço, pensando no que fazer. Ok, eu queria algo genuíno, me cuidei tanto para não me apaixonar por Yukinoshita ou Yuigahama, mesmo acabando, sem querer, sentindo algo ainda mais forte por elas... Que não me protegi contra Totsuka. Não conseguia pensar em desculpas como sermos ambos homens, isso não importava, mas eu sabia de uma coisa: se queria ser verdadeiro com Totsuka, para finalmente ter algo genuíno, euprecisava me resolver primeiro.

Não, não estou falando de estudar ou arrumar um emprego, o eu do futuro sabe que eu não iria contra nossa filosofia. A questão é, eu precisava falar com Yuigahama e Yukinoshita para poder seguir em frente.

— Eu vou te provar, mas antes tenho que fazer uma coisa. Tudo bem?

Ele me assentiu, com um sorriso meigo. Instintivamente, eu corri de volta para a festa, parecia épico, mas eu cansei e desacerelei o passo. Sinto muito, Totsuka, esse é o seu futuro namorado... De repente, estava andando até lá ofegante.

Assim que entrei, encontrei Zaimokuza, com a boca cheia.

— Hachiman!

— Agora não... — disse ofegante e passei direto.

— Hikigaya, até que enfim! — Era Hayato e o ignorei também.

— Senpai!

— Hikitani!

Ignorei todos até encontrá-las falando com Hiratsuka, fui a frente delas, sem educação alguma e as abracei, em silêncio.

— Me solte. Agora. — Yukino falou de forma ameaçadora, fazendo Yuigahama hesitar em me abraçar.

— Eu sinto falta de vocês. — disse e então fui soltá-las, mas Yuigahama me segurou.

— Hikki... — a voz chorosa.

Fiquei sem saber se as abraçava de novo ou saia, foi quando senti Yukinoshita puxar minha orelha.

— pervertido, nojento. Estávamos preocupadas com você.

— Yukinon! — Yuigahama advertiu. — Não é melhor ser mais doce...?

— Ele gosta de apanhar.

— É verdade. — Acrescentei.

— Você vai dar um jeito na sua vida? Ou eu vou ter que dar? — A de cabelos negros indagou e eu dei uma risada sarcástica.

— Falamos disso depois, agora tenho que começar a namorar! — Inflei o peito, me exibindo para elas e então saindo lentamente.

— Hikki!!!

— Então ele também? — Yukinoshita questionou, até vê-lo indo até Totsuka. — ...Eu vou ter que dar um jeito na vida dele, mesmo...

— D-Deixa ele, Yukinon! — A garota corou arduamente e foi empurrando a amiga.

Quando vi que Totsuka havia me seguido, sorri, mas ele não estava com uma cara muito boa. Meu coração apertou, mas por um momento eu pensei que poderia ser minha primeira dr e fiquei um pouco empolgado.

— Totsuka?

— Eu vi! — ele cruzou os braços.

— ? O que? Ah! — ao me tocar, corri. — Eu estava reatando os laços...!

— Todo mundo deve achar que foi uma declaração...

— Desculpe...? — eu estava realmente arrependido, em partes.

— Tudo bem...

Depois disso o assunto acabou e ficamos parados, envergonhados, sem dizer nada. Na minha cabeça, eu ia voltar, beijar Totsuka e fazê-lo meu, mas de repente parecia tão difícil. Você, eu do futuro, já sabe como tudo isso termina, mas me diga... Você ainda se arrepende de não ter tomado iniciativa? Nah, aposto que não, nós nos conhecemos, afinal. Lembro que naquele momento, eu pensei em como não me importaria com o desfecho se tivesse Totsuka, mas ninguém estava fazendo as coisas funcionarem.

De repente, ouvi mastigadas e percebi Zaimokuza ao nosso lado, já fui o almadiçoando por pensamentos, cedo demais.

— Já começaram a namorar?

Corei como o inferno, enquanto Totsuka riu.

— Estamos, certo, Hachiman? — encarei ele, que me sorria de forma tão doce quanto uma armadilha para formiga, fiquei em transe e apenas concordei, corado.

Só acordei quando Zaimokuza nos abraçou.

— QUE! — tentei me soltar, enquanto Totsuka ria.

— Vamos comemorar! — ele nos apertou mais.

— Com licença, vamos comemorar também. — Yukinoshita se intrometeu, com Yuigahama enlaçada em seu braço.

— Eu também! — Iroha se aproximou correndo e então me olhou com desdém. — Não acredito que virou homo, Senpai!

— Sai, você não. Vai atrair aquela escória de riajuus. — fiz xô com as mãos. Iroha inflou as bochechas, enquanto pude ouvir os outros e até Yukinoshita rindo.

— Temos que esperar a Komachi-chan! — Yuigahama lembrou.

De qualquer jeito fomos indo a mesa, beber, minha primeira vez com álcool.

Você, do futuro, deve lembrar o quão feliz eu estava naquele momento. Eu sabia que o universo não era tão bom, e que aquela era uma felicidade passageira, mas eu quis esquecer aquilo só naquele momento.

Mas me diga: Você se arrepende?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.