Há um ano meus pais foram vítimas de um acidente de carro e desde então fiquei sozinha. Por já ter completado dezenove anos na época, pude viver por conta própria, mas a vida não era tão boa assim no começo. Se não fosse pelos meus amigos, admito que não conseguiria suportar. Continuei meus estudos e vivo de empregos temporários, mas acredito que poderia ser muito pior. Pelo fato de ter voltado para esta cidade depois da tragédia da minha família, ainda estou me acostumando com as coisas, principalmente com essa história de duelos a cada esquina e com os anúncios diários de Seto Kaiba nos telões e televisões.

Era mais um dia voltando da faculdade quando decidi fazer uma visita para o Yugi e seu avô, mas vi uma limusine preta e reluzente estacionada em frente à loja deles. Resolvi entrar de qualquer jeito e dei de cara com um cara de casaco branco longo e cabelos castanhos com os punhos cerrados sobre o balcão.

— Uma hora ou outra eu terei minha revanche, não adianta fugir de mim.

Eu o reconheci pela voz imediatamente. Kaiba quase passou por cima de mim, mas parou por um instante ao notar meu colar. Ao notar o "congelamento" dele em ficar me encarando e observando o pingente, Yugi se aproxima.

— Esta é Luka Kamisawa, uma amiga que voltou para a cidade há um ano. – ele disse.

— Nunca imaginei que conheceria o CEO da Corporação Kaiba pessoalmente. – respondi, levando a mão ao colar instintivamente.

— Por que alguém da laia do Yugi tem um colar do Olhos Azuis?

— Foi um presente do meu avô. Ele sempre me contou diversas histórias sobre esse dragão. Desde pequena cresci com essas lendas. E admito que fico encantada em vê-lo sendo invocado em seus duelos, senhor.

— Finalmente algum dos seus amigos que tem bom gosto, Yugi. – Seto novamente olhou para mim – Talvez esse pingente esteja no lugar certo, afinal.

E dizendo isso, ele saiu. Fiquei um tempo por ali jogando conversa fora e quando saí vi que Kaiba ainda estava por ali. O cumprimentei com a cabeça antes de seguir meu caminho, porém fui impedida.

— Kamisawa, não é? – assenti – Bem, se a representação de uma fera inigualável como o Olhos Azuis está com você, imagino que suas habilidades de duelo sejam razoáveis. Quero ver o que consegue fazer.

— Lamento, mas não sei duelar.

— Seus amigos não lhe ensinaram nada?

— Não.

— Então quem sabe eu possa fazer algo a respeito. É lamentável a imagem do Olhos Azuis ser usada apenas para enfeite por alguém que não tem as habilidades dignas. Esteja aqui amanhã no mesmo horário, mandarei alguém vir lhe buscar.

Eu não tive tempo de responder, mas também o tom de voz dele implicitamente me dizia que eu não tinha muita escolha. Ouvi o tintilar de chaves e Yugi estava saindo da loja com seu avô.

— Acho que o Kaiba gostou de você, Luka.

— Do que está falando?

— Ele geralmente nunca chega perto de amadores, quem dirá mais se dispor a ensinar alguém a duelar.

— Digamos que ele está obcecado com o meu colar.

— Não parece ser só isso. Pelo menos não é o que o Faraó sentiu. Bem, o Kaiba pode ser grosso e arrogante, mas é excelente duelista. Vai ser bom para você aprender o máximo possível com ele.

— Se você acha.

Segui meu caminho de volta para casa e cuidei das minhas tarefas como de costume, mas depois me dediquei a pesquisar o máximo que podia sobre monstros de duelo para não ficar completamente boiando quando me explicassem as coisas, pois algo me dizia que o Kaiba não era do tipo melhor professor. Encontrei uma boa base e imagino que não teria dificuldade em entender o resto.