Capítulo Único: Querido Finn

Tomei um longo e profundo suspiro antes de pegar a caneta e começar a desenhar com ela no papel. Não tinha em mente nenhuma palavra, nenhuma frase, nada. Mesmo sentindo que queria dizer tanto naquele pedaço de papel.

Queria dizer tanto pessoalmente para você, Finn. O quanto eu amo e sinto sua falta. Que não existe um aniversário seu que eu não pense em você. Que eu não lembre do seu sorriso, do seu jeito de ser, de como eu era pequena perto de você.

Um sorriso se forma nos meus lábios ao lembrar.

Sabia que no dia do seu aniversário, eu sempre deixo uma única flor no seu túmulo? Ele ficou lindo! Além de mim é claro, vários amigos nossos do McKinley High também enfeitam sua lápide com todo amor e carinho. Para você. Sempre deixo flores de diferentes cores para que fique colorido, como um arco-íris, porque eu acho que você gostaria que ficasse algo feliz. E simples. Você sempre foi um cara simples, Finn Hudson.

E você dizia que não sabia seu lugar no mundo. Se questionava para onde você iria, o que iria fazer no seu futuro. E eu tenho certeza que se você estivesse aqui conosco, estaria iluminando o caminho por onde você passasse, porque você sempre foi especial.

Sei que você iria odiar ver eu ou qualquer pessoa que você amava triste. Mas, o que eu aprendi com esses anos que passaram, é que apesar da saudade nunca passar, a dor vai ficando cada vez mais tolerável. É como se ela fosse tão presente ao ponto de virar algo costumeiro, sabe? Como se ela fizesse parte de você.

Dez anos. Dez anos se passaram desde que você, Finn Hudson, deixou a minha vida sem dizer adeus. Sem dizer para diabos onde você iria.

You took the midnight train goin' anywhere.

E, como você não está aqui, queria escrever esta carta, mesmo sabendo que você nunca vai a ler. É a primeira vez que eu escrevo.

Desde que você se foi, eu naturalmente tive outros relacionamentos. Estou casada com o Jesse St. James, e antes que você revire os olhos lendo esse parágrafo, eu sei que você não gostava muito dele. Aliás, vocês dois lutavam por mim. Porém o Jesse é maravilhoso, tem cuidado muito bem de mim, caso você esteja se perguntando. Ele me apoiou, lutou por mim, sempre acreditou em mim. Apoiou minha carreira, minhas decisões. E eu amo tanto ele. Nós achamos nosso caminho de volta um para o outro depois que você se foi, Finn.

Eu voltei ao NYADA, desistindo de um papel da Broadway, porque senti que era o certo a se fazer. Terminei meus estudos, logo depois parti para os palcos de vários musicais do mais conhecido teatro de New York.

E claro, um dos momentos mais importantes da minha vida. Finalmente, ganhei um Tony, eu sou uma atriz de musical consolidada, Finn! Eu subi naquele palco e peguei o prêmio com o maior sorriso que eu podia dar em um dos dias mais felizes da minha história. Sem você.

Muito importante mencionar que naquela época eu estava carregando o filhote Klaine no meu ventre, sim, eles são dois papais lindos! E fiquei muito feliz em realizar o sonho deles. Tenho certeza que você ficaria imensamente feliz pelo Kurt.

Um ano após isso, fiquei grávida com um bebê meu e do Jesse. Uma menina. Quando ela nasceu, eu olhei para aqueles olhinhos brilhando, aquele rostinho tão angelical e inocente, que obviamente ela puxou de mim, foi o momento em que eu não me segurei e cai em lágrimas. O instante mais feliz da minha vida, que eu mal sabia que almejava tanto. O nome dela é Barbra St. James. Por causa da Barbra Streisand, é claro. E também por ser meu nome do meio. É muito Rachel Berry nomear a filha com o próprio nome? Barbra tem 3 anos. Ela é um doce de criança. Vai ser uma estrela que nem a mãe e o pai, obviamente.

Finn, acho que estou chegando no fim da carta. Eu sei que você já sabia de tudo que eu te contei, porque você está vendo tudo daí de cima.

Não importa em qual lindo lugar que você com certeza está, sei do fundo do meu coração que você está feliz por mim. Por nós.

Você foi meu primeiro amor. Minha primeira vez. O primeiro cara que me fez sentir desejada e amada. E eu te amo por isso.

Mas tomei a decisão de parar de ir ao seu túmulo todo ano no seu aniversário, porque sinto que você faz parte de um pedaço da minha vida que ficou para trás. Acho que você entenderia minha escolha.

Com muito amor,

Rachel.

Respirei fundo novamente. Era como se um peso de uma tonelada se esvaísse de mim. Me sentia muito melhor depois de escrever a carta, de finalmente poder seguir em frente sem o Finn. É, ninguém espera a morte. Ela vem sem avisar, sem deixar um bilhete de despedida. Sei que é difícil aceitá-la, mas não temos controle sobre ela.

E as pessoas que ficam, passam por diferentes lutos. Eu não queria deixar o Finn ir, porque amava ele, e não queria que a memória do que ele era se apagasse dentro de mim, por ele ter sido uma parte tão importante da minha vida. Mas finalmente entendi que ele nunca irá embora. Finn continua aqui, vivendo dentro de mim e de todas as pessoas que amam ele e sentem sua falta.

— Hey — ouvi a voz de Jesse da porta, na qual ele estava encostado.

— Oi — disse brevemente com um sorriso triste.

Ele veio até mim e me abraçou.

— Eu sei que dia é hoje. É aniversário do Finn — ele acariciou minha bochecha, enquanto olhava para mim melancólico. — Eu sei o quanto é importante pra você. Eu sinto muito, Rachel. Você tá bem?

— Estou — sorri para ele. — Finalmente deixei ele ir. Me sinto melhor agora, Jess.

Ele não disse nada, apenas me abraçou outra vez e, ficamos por um tempo assim, até a Barbra chamar Jesse e ele interromper o abraço. Ele me deu um beijo na testa e me deixou mais um tempo sozinha no quarto.

Peguei um envelope e fechei a carta com um adesivo. Guardei a mesma no fundo de uma gaveta de papéis que eu tinha. Pensei em queimá-la, mas não quis deixar virar fumaça algo tão pessoal que veio dentro de mim.

Arrumei meu cabelo, dando uma olhada final no espelho, feliz comigo mesma. Escutei Jesse e Barbra brincando no quarto ao lado, e fui me juntar a eles.

Hoje é um novo dia.