Querido Amigo - CIP

Capítulo Único - Querido Amigo


Querido amigo,

As coisas estão cada vez mais confusas pra mim desde o dia do jogo de Verdade ou Consequência. Eu achei que ia melhorar quando todo mundo voltasse a falar comigo, mas só ficou pior.

Patrick está um caco desde a briga com o Brad e só consigo olhar pra ele e pensar o quanto continua lindo. Tão lindo quanto estava quando disse “eu te desafio a beijar a garota mais bonita dessa sala nos lábios. E note que eu disse claramente ‘garota’ e não ‘pessoa’. Porque vamos encarar os fatos, eu ganharia de todas vocês, vadias” e sem querer eu pensei “isso é verdade”.

Mas o problema de verdade aconteceu ontem. Patrick precisava conversar, sabe? Falar com alguém sobre o termino com o Brad de forma real. No começo parecia que ele estava me levando para algum lugar para distraí-lo e por fim começou a me levar para lugares onde eles dois se encontravam, por último paramos no gramado dezoito do campo de golfe que é no alto de uma colina.

Havíamos comprado uma garrafa de vinho tinto com uma carteira de identidade falsa, sentamos na grama e apenas ficamos bebericando, passando de um pro outro. Lá pela metade da garrafa, Patrick disse. ― Charlie, você já ouviu falar de Lily?

― Quem? ― Respondi.

― Lily Miller. Não sei qual era o verdadeiro nome dela, mas era conhecida como Lily. Ela era veterana quando eu era segundanista.

― Acho que não.

― Pensei que seu irmão tinha lhe contado. É um clássico.

― Talvez.

― Muito bem. Me interrompa se você já conhecer a história.

― Tudo bem.

― Então, Lily chegou aqui com aquele cara que era protagonista em todas as peças de teatro.

― Parker?

― Isso, Parker. Como você sabe?

― Minha irmã teve uma queda por ele.

― Perfeito! Parker e Lily chegaram aqui uma noite. Eles estavam tão apaixonados! Ele chegou a interpretar para ela ou coisa assim. Eles tinham uma canção. Algo parecido com "Broken Wings" ("Asas feridas"), da banda Mr. Mister. Não sei bem, mas espero que seja "Broken Wings" porque assim a história ficaria perfeita.

― Continue ― Eu o estimulei.

― Tá bom. Tá bom. Então eles estavam saindo há um bom tempo, e acho que tinham feito sexo antes, mas estavam saindo para uma noite especial. Ela preparou um pequeno piquenique e ele levou um rádio portátil para tocar "Broken Wings". Depois de comer, eles começaram a se agarrar. O som tocando e eles estavam a ponto de "chegar lá" quando Parker se tocou de que tinha esquecido as camisinhas. Estavam os dois nus nesse gramado. Os dois se queriam. Não tinha camisinha. Então, o que você acha que aconteceu?

― Não sei.

― Eles fizeram no estilo cachorrinho com um dos sacos de sanduíche!

― NÃO! ― Foi tudo o que eu pude dizer.

― É! ― Foi a réplica de Patrick.

― Meu Deus.

― Pois é. E você? Tem alguma história pra contar.

― Ah, eu não sei.

― Vamos lá, Charlie. Só uma lenda urbana.

― Bom... Na quarta série, tinha essa garota, a Stacy Fabray, que já tinha seios e tudo, sabe?

― Pequenos, mas promissores. Entendi.

― E ela gostava de deixar alguns garotos sentirem.

― Essa é a sua lenda urbana?

― Sim.

Patrick deu um sorrisinho malicioso que me fez sentir estranho por um segundo, então perguntou. ― Você chegou a tocá-los?

Provavelmente eu fiquei muito, muito vermelho. Nem consegui dizer nada, só balancei a cabeça.

― Claro que não. ― Ele continuava sorrindo e eu ainda estava com aquela sensação estranha. ― Você ficou quieto no seu canto. Depois foi pra casa, ouviu Asleep e escreveu um poema.

Ri junto com ele e o silêncio dominou por um instante até que ele voltasse a falar. ― Bom, eu tenho mais uma. Havia um garoto... Mais gay do que pode imaginar. O pai do garoto não sabia disso... Então uma noite, ele entrou no porão quando devia estar viajando... E encontrou o garoto com outro garoto. Então começou a bater nele. Mas não do tipo tapas, bater pra valer. O namorado dizia “pare! Está matando ele”. O filho gritou “saia”. E, depois de um tempo, o namorado... Sai.

Eu não soube o que dizer e achei que Patrick não precisasse disso naquele momento, ele só presava de alguém que o ouvisse. Ele estava sério, mas depois de uns minutos se forçou a sorrir de novo e começou a falar outra vez. ― Mas sabe, isso é bom. Porque agora sou livre. Posso achar o amor da minha vida a qualquer instante. As coisas vão mudar agora e isso é bom. Eu só preciso conhecer um cara legal.

Foi aí que ele se virou pra mim e me beijou.

Eu meio que entrei em choque por um segundo, que foi só o tempo que o beijo durou. Assim que ele se afastou, eu quis voltar a beijá-lo, mas ele se agarrou ao meu peito e começou a chorar repetindo “me desculpe, me desculpe”.

Eu sabia que se fizesse alguma coisa com ele nesse momento de fraqueza, estaria me aproveitando e eu nunca me aproveitaria de um amigo, então só o abracei e disse “tudo bem, não tem problema”.

Demorou até o nascer do sol para que Patrick voltasse ao normal e conseguisse me levar pra casa.

Entende a minha confusão? Estou apaixonado pela Sam e tenho esses sentimentos e sensações quando estou perto do Patrick. Talvez eu esteja apaixonado por ele também. Essa é uma péssima hora pra isso.

Só espero me manter sob controle daqui pra frente.

Com amor,

Charlie.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.