O dia amanheceu chuvoso na cidade de São Francisco. Era quarta feira e a população sofria com a lentidão do tráfego pelas principais avenidas que levavam ao centro da cidade.

Emma Mcdonald estava desesperada em seu carro. Já deveria estar na reunião de pauta que aconteceria nesse inicio de manhã. Havia dormido mal e perdeu a hora de levantar e isso a fez sair as pressas de casa sem nem comer nada. A cada olhada no relógio, sua cabeça doía ainda mais. Odiava chegar atrasada no trabalho, não suportaria o olhar negativo de seu editor chefe.

Respirou fundo e ligou o rádio em uma estação qualquer afim de tentar relaxar um pouco com as músicas.

Mas o que ouviu foi a faixa de noticias que davam nos intervalos musicais.

(...) parece que a vitima é um jovem rapaz de 28 anos. A pericia já está no local para coletar pistas e dados. A policia está a procura de testemunhas para que possam dizer se viram ou ouviram algo estranho na casa do rapaz. Mais informações a qualquer momento na sua rádio favorita.

Emma mordeu os lábios e se perguntou se seus colegas já estariam trabalhando para estudar mais um caso de homicídio. Pegou seu celular da bolsa e mandou uma mensagem a John, seu amigo da redação, perguntando o que já estariam fazendo a respeito desse homicídio.

Ele não respondeu.

Emma revirou os olhos e mentalizou para que tivesse um pouco mais de paciência naquele carro, já já chegaria.

Vinte minutos depois, Emma enfim chegou. Conseguiu pegar a metade da reunião. Por sorte, seu chefe havia faltado naquele dia. Suspirou aliviada. Meia hora depois a reunião havia acabado, Emma foi na direção de John para saber o que tinha para aquele dia. Seu amigo vestia uma camisa preta com uma grande estampa do filme Star Wars e usava uma calça jeans verde, com all star branco surrado.

– Bom, tem uma estória de sequestro relâmpago no subúrbio, a mulher que estava grávida de cinco crianças vai dar a luz ainda hoje e o homicídio na parte nobre da cidade. Esse você já deve saber.

– Pois é, ouvi na rádio vindo pra cá. E aí, já temos suspeitos?

– Estou recebendo atualizações aqui – olhou no celular – mandei uma equipe para filmar e cobrir hoje cedo.

– Ótimo. Vou fazer o que eu tenho pra fazer aqui. Bom trabalho!

Disse, mostrando um sorriso ao amigo.

Emma se dirigiu a sua mesa cheia de documentos e planilhas, além de um computador no centro. Começou a ler alguns textos que estavam ali no word, aguardando a revisão para publicação.

Pouco tempo depois, um colega de trabalho que estava a duas mesas distante dela se dirigiu à todos na sala de redação.

– Parece que a policia já tem um suspeito do homicídio de hoje cedo. Uma mulher. Vou mandar a foto para vocês.

Emma ouviu mas não teve tempo de parar para saber quem era a tal criminosa. Tinha muito trabalho a fazer como revisar algumas matérias. Até que ouviu alguem falar em alto e bom som um nome familiar à Emma.

Anna Rossi.

Esse nome não lhe era estranho. Fechou os olhos por um momento tentando lembrar da onde conhecia tal nome. Segundos depois uma imagem veio a sua cabeça. Abriu os olhos no susto. Não era possível, não seria aquela garota... Com a dúvida crescendo em sua cabeça, procurou nos computadores de seus colegas ao lado alguma coisa que falasse do assunto mas não encontrou. Levantou e seguiu até a pessoa que havia falado o nome. Seu colega, Harold, estava atento ao seu celular. Emma não era muito próxima do rapaz então hesitou um pouco antes de perguntar o que queria saber.

– Essa Anna é a suspeita? – Perguntou tentando não demonstrar interesse.

– Parece que sim – Harold respondeu não desgrudando os olhos do celular - me mandaram fotos da garota – sorriu de canto de boca – olha só.

Emma olhou a imagem de uma garota de cabelos curtos, sorrindo sem mostrar os dentes. Seu coração começou a bater forte demais... meu Deus! Conteve sua expressão para não demonstrar tamanho espanto. Harold passou para outra foto agora com a feição da garota séria, pálida e com expressões de cansaço. Seu cabelo castanho avermelhado estava na altura abaixo dos ombros. Parecia foto de carteira de identidade. Emma se perguntou se essa foto seria recente.

– Nossa, é inacreditável... – parecia falar consigo mesma.

– Pois é, né.

Harold mudou sua atenção para outra coisa e se afastou de Emma. Como se ela não existisse.

Se encaminhou até sua mesa se perguntando como seria possível Anna ser uma assassina. Sentou e buscou o teclado em sua frente, percebeu que sua mão tremia. Respirou fundo e digitou Anna Rossi no Google. Apareceu muitos sites de noticia já relatando o homicidio e diziam que Anna era principal suspeita. Emma clicou no site do seu próprio canal de noticias, o Today News. Havia uma nota publicada por John há 32 minutos atrás explicando o que realmente se passou por lá, segundo as informações colhidas pela policia até o momento.

"A vitima Leonard Monroe, de 28 anos, foi assassinado com três tiros - um no rosto e dois no peito - por uma pistola calibre 32. O crime aconteceu no horário de 23h da noite desta terça feira. A policia já conversou com uma testemunha que alega que uma mulher na faixa de 20 anos foi vista entrando e saindo da casa da vitima no período considerado em que a vitima teria sido morta. A casa é revestida por isolação acústica, por isso o barulho dos tiros não pode ser escutado na vizinhança.

A jovem identificada é Anna Rossi, de 26 anos, formada em História pela Universidade de Nova York. Ela supostamente tinha um caso com a vitima e já foi vista algumas vezes na vizinhança. Até agora nenhuma confirmação da motivação do assassinato e muito menos se Rossi é a verdadeira culpada. A policia investiga o caso e tenta encontrar a mulher. Os resultados da pericia para entender o que pode ter se passado naquela casa saem em no máximo duas semanas. Se você viu essa mulher, entre em contato imediatamente com a policia."

As duas fotos que Emma acabara de ver no celular de Harold, estavam na puplicação.

Emma massageava sua testa enquanto lia. Não conseguia entender o que se passava. Além do fato de Anna ser possivelmente uma assassina, agora ela se envolvia com homens?

Tá certo que fazia anos que Emma não tinha noticias de Anna. E tá certo também que nunca foram amigas. Mas durante todo o ensino médio em que estudavam na mesma escola, Anna sempre demosntrava gostar de meninas e não tinha nenhum problema de dizer que era lésbica. Toda a escola sabia. Famosa por sua opção sexual.

O que está pensando Emma? As pessoas podem gostar das duas coisas, que bobagem! E isso não importa num cenário em que ela está sendo acusada de assassinato! Assassinato! Que loucura! Pensou.

Porém desde que ouviu o nome dela, seu inconsciente a alertou de que isso não podia ser verdade. Não queria acreditar, talvez, por conta do que aconteceu anos antes. Começou a se deixar recordar de um momento que nunca mais havia lhe tomado a cabeça. Sentiu-se se arrepiar só de lembrar das imagens. E isso só a deixou mais confusa e encucada em relação a Anna.

Por que se não fosse por ela, Emma estaria morta.