Cora II + Epílogo

"Eu estava caminhando tranquilamente pelos corredores do meu castelo. Vestia um vestido rodado bege cheio de babados, muito diferente dos que eu costumava usar, que normalmente eram em tons escuros e lúgubres.
Com passos decididos, eu sabia exatamente onde estava indo. Me dirigi a um grande salão, que me era muito familiar. Claro, afinal, era onde eu passava o meu tempo livre com Regina, cultivando nossa relação de mãe e filha. Hoje, porém, aquele salão estava mais alegre e tumultuado do que nunca.
Zelena também estava ali. Seus cabelos estavam cuidadosamente penteados e arrumados, e ela usava um vestidinho amarelo. Era um pouco mais velha e consequentemente mais alta que Regina, também muito arrumada com um vestidinho cor de rosa.
As minhas duas filhas corriam e saltitavam pelo cômodo, brincando de algo que já não me pertencia, por isso nem me dei o trabalho de tentar entender. Mesmo sendo diferentes em diversos quesitos, elas brincavam em harmonia, com sorrisos enormes em suas faces.
A euforia de Regina era praticamente tangível, tamanha era a sua empolgação por ter alguma amiga para poder brincar, se divertir e compartilhar momentos felizes. E a alegria de Zelena era inegável. Era claro que o pai adotivo dela não a deixava brincar muito, e eu duvidava que ela alguma vez tivera uma amiga antes. A jovem estava bem diferente da menina insegura vestindo trapos que eu havia encontrado algum tempo antes. De repente fiquei muito feliz em ter tirado-a de lá.
As duas crianças estavam tão entretidas com a brincadeira que demoraram alguns instantes para perceber a minha presença.
– Mamãe! - Exclamou Regina, quase sem fôlego, quando finalmente me avistou. - Que dia maravilhoso, não é mesmo?
Concordei com a cabeça, senti um sorriso se formar em meu rosto. A mais jovem correu para os meus braços e foi recebida com um abraço. Zelena veio logo depois, tomando como incentivo meu olhar carinhoso, que antes ninguém além de Regina recebia. Puxei a garota delicadamente para que se juntasse ao nosso abraço em grupo.
– Nós te amamos, mamãe. - Disse Regina, tanto por ela quanto Zelena. Aquele ato fez brotarem lágrimas em meus olhos.
"Elas me amam", repeti em minha cabeça.
Ali, com as minhas duas filhas nos braços, me senti a pessoa mais feliz do mundo. Nós nos amávamos, e elas eram tão amigas quanto duas irmãs poderiam ser. A amizade delas era genuína e inocente, e a paz reinava entre todas nós."
Acordei repentinamente, ainda com lágrimas nos olhos. Mexi meus braços, mas as minhas filhas não estavam entre eles. Continuei a chorar, mas agora de tristeza. Tudo não passara de um sonho delirante.
Ali estava eu, inconsolável e incapaz no Submundo, a terra dos que têm negócios inacabados, enquanto minhas duas filhas estavam no Mundo Superior, se odiando e causando guerras por minha culpa.

Epílogo (P.O.V. Narrador)

Ser um rei ou rainha é um trabalho mais árduo do que aparenta ser. Não é apenas viver com luxo, cercado de servos e recebendo os impostos. É se dedicar inteiramente ao seu reino, deixando seus próprios interesses em segundo plano. É ter a honra de representar um povo. É fazer sacrifícios sem pestanejar, pois essa é justamente a sua função. Eles têm uma obrigação para com o reino e as pessoas que vivem nele.
Muitos reis e rainhas querem saber apenas do poder e das riquezas. Só se importam com seus desejos pessoais, se aproveitam de sua posição sem se importar com todas as milhares de pessoas que estão sendo prejudicadas com a sua decisão de negligenciar seu nobre ofício.
É clara a diferença entre esse tipo de autoridade hipócrita e os verdadeiros reis e rainhas, que cumprem seu trabalho com responsabilidade e compromisso.
Estes vão se destacar, por exemplo, em tempos de guerra, quando o reino mais precisa de um líder. Eles irão liderar a batalha com toda a sua alma, instigando seus soldados a seguirem-o. Os verdadeiros reis e rainhas irão revelar a importância daquela luta, e mostrar a todos que estão dispostos a serem os primeiros a caírem por aquela causa, que estão dispostos a fazer isso pelo bem maior.