Queen Of Thorns

Capítulo Único


As ruas de Songak estavam cheias de barulho.

— Tem um novo Rei, — todos diziam. E logo a notícia estava em todo lugar. Mas o novo Rei não era tão especial assim. Goryeo já tivera um novo Rei antes, então a sensação de novidade já tinha meio que passado a essa altura. Na verdade, ao invés de se alegrarem com o novo monarca, havia algumas pessoas apostando em segredo em quanto tempo esse conseguiria ficar no poder antes que um irmão ou um primo ganancioso tirasse ele de lá.

Então sim, tinha um novo Rei, mas era na nova Rainha que todos estavam interessados. Afinal, havia sempre uma novidade sobre a mulher para fofocar, então as conversas sobre ela nunca acabavam.

Começou com o fato de que ela era a única. O 4º Príncipe só havia se casado duas vezes: uma com sua jovem sobrinha, que até hoje vivia no Templo Gaetaesa e só ganhou o status de Concubina Real, e depois com a dama Hae Soo (sem qualquer comoção ou estardalhaço, sem fanfarra para anunciar a cerimônia), que foi declarada Rainha apenas algumas horas após a proclamação do novo Rei.

Primeiro, foi o mistério que atraiu as pessoas. Não apenas era a única esposa de verdade do novo Rei, mas a história que se contava era que ele não tinha interesse de se casar com outra: ofertas foram recusadas e muitos homens poderosos com belas filhas foram rejeitados. Alguns diziam que era amor verdadeiro, outros murmuravam algo sobre uma manobra para colocar aqueles malditos clãs em seus devidos lugares. Mas depois que a curiosidade foi despertada, as pessoas começaram a se perguntar quem poderia ser tal mulher que conseguiu conquistar o coração e equiparar com o gênio do amado e temido cão-lobo.

Logo eles descobriram que era a mesma dama Hae Soo que tinha se casado com o 8º Príncipe Wang Wook um ano antes, e ficaram chocados ao descobrir que eles tinham se divorciado discretamente, pouco antes do novo Rei ter sido proclamado. “Sortuda”, alguns exclamavam. “Esperta”, outros diziam. Mas isso só atiçou os boatos, e as pessoas começaram a investigar mais, fofocar mais, espalhar mais histórias. E quanto mais detalhes do passado da mulher continuavam a surgir, mais a curiosidade das pessoas se transformava em admiração.

Uma nobre que se tornou uma serva, caiu para a posição mais inferior do palácio, depois se casou com um príncipe, só para se divorciar dele e tornar a se casar. E agora ela era uma rainha – a Rainha. Nem mesmo o mais criativo dos poetas e dramaturgos poderia inventar um enredo tão surpreendente!

— Tem uma nova rainha, — todos sussurravam, todos compartilhavam as conquistas da mulher. Todos recontavam a sua história e exclamavam em admiração. O fato de que uma mulher como aquela estivera entre eles até pouco tempo era algo para se maravilhar.

Para as pessoas da nação, a ascensão de uma mulher como aquela era um sinal de que as coisas estavam prestes a mudar.

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Para Park Yeon Gyu, foi o começo do seu fim.

Claro, ele ficou em desvantagem assim que seu genro ficou fatalmente doente. E sua posição foi um pouco abalada quando seu neto não foi nomeado herdeiro ao trono. Foi ruim, mas não terrível. Ele esperava esse cenário e se preparou de acordo. Ele poderia se tornar necessário, ele poderia convencer qualquer um dos filhos de Taejo a manter sua posição. Ele só precisava mencionar o nome Hubaekje, e isso já seria um argumento forte e sólido.

Ele estava se sentindo confiante. Mas então o novo Rei anunciou sua nova esposa e todos seus planos cuidadosamente elaborados se esvaíram em cinzas. Hae Soo era uma variável descontrolada e imprevisível, e ele não tinha preparado nenhuma contramedida para essa reviravolta de eventos. Se repreendendo por não ter percebido nada no comportamento da mulher quando eles conversaram pela última vez, o ministro começou a entrar em pânico.

Primeiro, ele fez alguns cálculos apressados, tentando ver se ele podia arquitetar alguma coisa, se preparar para qualquer tipo de caos absurdo ela iria começar no palácio. Ele começou preparando novas desculpas, novas estratégias que convenceriam o Rei a não mandá-lo embora. Ele poderia até ameaçar a Princesa destronada para usá-la, ganhar alguma vantagem contra a mulher.

Mas então, um dia ele viu Woo Hee caminhando ao lado da Rainha e ele soube.

Tinha acabado. Ele estava acabado. Park Yeong Gyu já sabia que era inútil resistir, inútil lutar. Sua vida na corte de Goryeo tinha acabado, e a ascensão daquela mulher tinha sido apenas o começo.

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Para Hae Hong Ha Jin, foi um tapa na cara.

Mas ele já estava acostumado a apanhar. E ele sabia que não devia demonstrar. O líder do clã Hae não tinha discurso, não tinha declaração, não tinha comentários a fazer sobre sua sobrinha, agora aclamada Rainha. Ele também não mencionou nada das conversas anteriores com a mulher, nem mesmo para o resto da sua família.

Hae Hong Ha Jin continuou agindo como sempre agira antes da coroação: como se a mulher fosse só uma estranha.

Ele não era estúpido. Ele sabia muito bem que não tinha nada que ele pudesse ganhar de Hae Soo. Na verdade, a melhor alternativa para ele era cumprir sua promessa para sua sobrinha e não se dar ao trabalho de ajudá-la de novo. Por isso ele não iria atrás dela lhe pedir favores, e ele não se meteria na vida dela para fazer exigências, nem sequer tentaria ganhar favor com outros clãs usando a posição da mulher.

Ele ficaria quieto. Quieto como um rato. Só aproveitando o que ele conseguisse pegar dos cantos escuros do palácio.

O homem se xingou por ter tido o azar de encontrar Hae Soo naquele dia. Mesmo que aceitar o acordo dela tivesse sido o melhor para ambos, ele queria pelo menos não ter zombado dela ou feito ela jurar que eles não teriam mais laços depois daquele encontro.

Ele poderia ter tido o Rei como seu genro se não tivesse subestimado a garota. Mas agora ele só podia tentar apagar a memória dele chamando ela de inocente e burra, ignorar os pedidos dos parentes por uma explicação, ordenar sua família para manter a distância. Ele conhecia muito bem o temperamento do novo Rei para adivinhar que o homem não toleraria se o clã Hae começasse a incomodar sua esposa, e que era apenas por causa do acordo com sua sobrinha que Hae Hong Ha Jin estava vivo agora.

Afinal, desde que fossem discretos e silenciosos, os ratos sempre sobreviviam.

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Para a Rainha Shinjeong, dos Hwangbo, foi a derrota do seu clã.

Sua família vinha fortemente apoiando Wook para ser o próximo Rei e seu filho tinha planos sólidos em andamento para tomar o trono. Ela esperava pelo seu sucesso, é claro, mas ao contrário de Hwangbo Seung Woo, ela era realista e estava esperando a possibilidade de fracasso. Portanto, ela tinha outras medidas prontas, para o caso de tudo dar errado.

Ela estava pronta para deixar Wook de lado e apoiar Yeon Hwa. Afinal, sua filha era uma mulher bela e de renome, ela poderia encantar quem pegasse o trono e se tornar sua esposa. Se não, eles poderiam pelo menos pressionar o novo Rei ou o seu clã para aceitar o pedido de casamento. Levaria mais tempo, mas logo haveria um filho dos Hwangbo no trono.

Mas então ela soube qual dos príncipes fora nomeado herdeiro e aclamado Rei, e ela ficou preocupada. Então ela soube quem era a nova Rainha, e ela soube que fora derrotada.

Hae Soo tinha blefado, e Shinjeong tinha caído. Ela acreditara na determinação da garota em ir embora, mas falhara em adivinhar quais cartas ela tinha na mão. Ela falhara em ver essa reviravolta na história, e ela tinha entregado para a garota a passagem que ela queria. Em uma jogada de arrogância e descuido, Shinjeong tinha desencadeado a derrota do seu clã.

Se apenas a serva não tivesse se matado, Shinjeong poderia tê-la usado para descobrir algum podre de Hae Soo e descreditá-la na corte. Se apenas a menina estúpida tivesse escrito uma carta menos incriminatória, então seu filho não teria sido envolvido na conspiração contra o Rei, e os Hwangbo não teriam perdido seu favor.

Mas esperar que as coisas tivessem sido diferentes era uma tolice, Shingjeong sabia disso muito bem. O melhor que ela podia fazer era se sentar e observar, manter a discrição e ficar na sua. Os Hwangbo já tinham perdido a luta.

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Para Wang Wook, 8º Príncipe do clã Hwangbo, foi como uma flecha atravessando seu coração. Ele mal teve tempo de registrar um golpe antes que o próximo viesse, mal tinha tratado uma ferida antes que outra começasse a sangrar.

Ele estava marchando da terra de seu clã para Songak quando um mensageiro chegou de sua mãe, anunciando os eventos que levaram ao seu divórcio. Demorou alguns minutos para ele entender direito o que o homem dizia, mas quando ele entendeu, ele ficou confuso. Ele tinha achado que eles tinham finalmente feito algum progresso, que Soo finalmente entendera o porquê dele ter feito o que fizera, que ela estava pronta para reavivar o relacionamento. E agora ela tinha deixado a residência Hwangbo, carregando os papéis de divórcio.

Demorou algumas horas para ele tentar racionalizar o motivo dela, o que ele fizera de errado... Não, tinha sido o Rei. Era a única explicação que fazia sentido. O Rei tinha assinado o decreto de divórcio e Soo estava sozinha, com medo demais para contestá-lo. Ela temera pela vida de Wook, e sabendo que ele não cumpriria o decreto – ele colocaria sua vida e sua posição em risco por ela – ela convencera sua mãe a aceitá-lo e Seung Woo a assinar a carta de divórcio. Ela só estava tentando protegê-lo.

“Não importa”, ele pensou. Ele logo seria coroado Rei, ele poderia consertar a situação e eles poderiam se casar de novo. Seria fácil. Ele encontraria um jeito de contornar o problema e eles seriam felizes, que nem eles tinham sido antes. Mas assim que ele chegara a essa conclusão – sua mente mais calma depois do momento de pânico – outro mensageiro chegou.

Wook e seus soldados ainda estavam na metade do caminho quando o homem veio, arfando e sem fôlego, e contou para ele que o 4º Príncipe Wang So acabara de ser declarado e aclamado como Rei.

Ele perdeu o equilíbrio de novo, seu mundo inteiro virando de cabeça para baixo com o curto anúncio. Porque agora todos os anos de planejamento cuidadoso tinham sido arruinados. De novo. Mais um irmão se aproveitando do terreno que ele preparou.

Foi mais difícil aquietar sua raiva de So por ter roubado o trono do que sua raiva de Yo por ter feito ele se divorciar de Hae Soo. Mas como antes, ele conseguiu. Algumas horas respirando fundo eram o bastante para ele retornar ao seu estado frio. Isso não era o fim, ele se reconfortou. Ele já estava esperando há mais de cinco anos, ele poderia esperar mais alguns. E seu quarto irmão era um rei que ele iria gostar de derrubar.

O problema era Hae Soo. Ele tinha certeza que So ia tentar capturá-la. E quando ele falhasse em persuadi-la a ficar com ele, ele iria intervir e não deixaria Wook se casar com ela. Ele teria que falar com Hae Hong Ha Jin, convencê-lo, propor um acordo para que ele a protegesse. Assim, Soo estaria à salvo, longe das garras do seu irmão.

Wook suspendeu suas tropas e se preparou para retornar para casa, já fomentando seu novo plano para tomar o trono, já calculando suas jogadas, listando quais pessoas eles precisariam ter como aliadas e quais ele teria que descartar. Quando ele pisou em Songak, ele já tinha um rascunho do que faria, e ele se sentia confiante. Ele caminhou com tranquilidade até os portões do Cheondeokjeon, não se importando com os olhares na sua direção.

O terceiro golpe veio quando ele finalmente se encontrou com sua mãe e ela relatou todos os eventos que tinham acontecido no palácio depois que ele fora embora. Ele ouviu com calma, casualmente bebendo uma xícara de chá. Mas então ela suspirou e lhe contou as notícias sobre a nova Rainha. E assim que as palavras chegaram até os seus ouvidos, seu coração começou a sangrar.

Seu coração estava sangrando, com certeza. Uma dor tão profunda e tão aguda no seu peito só podia ser porque seu coração estava sangrando e ele estava morrendo.

Ele já se sentira assim antes, no dia que Oh Sanggung morreu. Ele se sentiu assim quando deu as costas para Hae Soo e a deixou para trás. Um vazio se espalhando pelo seu peito quando ele a viu escorregar entre os seus dedos. Ele estava sentindo tudo isso de novo, toda a força o deixando enquanto ele escutava as palavras de sua mãe.

Wook não sabia como ele tinha chegado em casa. Sua mente ficou em branco em algum momento, e quando ele voltou a si, ele já estava sentando em seu escritório, encarando o nada à sua frente.

Demorou um pouco mais para ele se recuperar dessa. Ele passou alguns dias com seu coração doendo, temendo o pesadelo que Soo deveria estar vivendo agora, longe dele. Ele lamentou ter falhado em protegê-la mais uma vez, por não ter estado ao lado dela quando ela precisou. Mas ele logo se fortaleceu, se preparando para resgatá-la e trazê-la de volta para o seu lado. Então ele saiu de sua casa, emergindo das sombras de sua tristeza, só para sofrer mais um baque.

Em nenhum de seus cenários previstos, nem mesmo em sonhos, ele esperava isso. Ele não tinha se preparado para a nota suicida de Chae Ryung que denunciava os seus crimes. Depois disso tudo desmoronou. A investigação só o implicou ainda mais, nada que sua família fizesse para limpar seu nome funcionava. Ele passou dias ajoelhado no pátio que dava na escada do Cheondeokjeon, no mesmo lugar que Hae Soo protestara pela vida de Oh Sanggung, e ele esperou que ela viesse para o seu lado, que ela implorasse por sua vida, que ela pelo menos lhe oferecesse um tipo de apoio.

No fim, ele deixou o palácio com sua vida, mas sem nem sequer um relance dela.

Quando a notícia do seu exílio chegou, seu coração já estava entorpecido. Todos os cacos do seu coração estavam cravados tão fundo no seu peito que uma flechada a mais não fazia diferença para ele.

Agora ele estava amaldiçoado. E ele estava completamente só, sentado num quarto frio e vazio, coração sangrando. Condenado a jamais vê-la, e nem o trono.

Condenado a carregar para sempre seu coração quebrado e estilhaçado.

Enquanto isso, fora de suas muralhas, o povo celebrava sua nova Rainha.

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Para a mulher em questão – Hae Soo – no entanto, foi um resultado calculado. Foi fruto de anos de sofrimento e meses de cuidadosa manipulação. Foi a recompensa por toda a dor que ela tinha passado, a rebelião de uma antiga ferramenta que se virara contra aqueles que queriam usá-la. Foi a chance de mudar as vidas de muitos outros – figuras esquecidas pela História – e evitar que eles sofressem as coisas que ela sofrera.

Era o final de conto de fadas dela. O final que ela já tinha começado a acreditar que só existia nos sonhos.

Para o marido dela, no entanto, era só mais um motivo para sentir orgulho dela. Mais uma coisa sobre sua esposa para ele se gabar.

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Tinha um novo Rei em Goryeo. Mas esse Rei estava aos poucos se tornando mais notório graças à sua Rainha e não à sua reputação de cão-lobo. Porque tinha uma nova Rainha em Goryeo. E essa Rainha, sem apoio porém intocável, já era famosa pelos seus belos espinhos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.