Um dia qualquer

~ 15:40 ~

— ah, sério? Não me diga.- Cacá falou irônica.- importantíssimo. Nossa, nem irei dormir direito hoje. Caramba.

— e eu achando que era importante...- Caio resmungou de braços cruzados. Alana olhou-os surpresa.

— mas é importante! Tipo, meu irmão tem uma namorada! Ah, é... Vocês não conhecem meu irmão...

— Alana, mesmo se o conhecermos, pra que tudo isso? - Cacá perguntou.- é só uma namorada, não um bicho estranho.

— e esse negócio de currículo, interrogatório, endereço, ficha criminal, informações... - Felipe enumerou.- você acha que é policial?- completou rindo.

— fala sério! - Alana ficou brava.- vocês não conhecem meu irmão. Não sabem como é.- ela cruzou os braços e ficou de costas.- da última vez que ele teve uma namorada, tipo, não fiz nada disso... E ela só queria saber, tipo, da beleza dele...

— uhum, sei.- Caio resmungou.

— é sério!- ela continuou.- mas ele gostava de verdade dela! Aí, tipo, ele ficou muito triste e deprimido e eu fiquei triste e deprimida por ele... Pensei que ele ficaria mais tempo sem namorar ninguém... Parece que não aprende nunca!

— olha, super legal você querer proteger seu irmão disso tudo e ficar triste por ele, mas assim,- Felipe explicou.- deixa ele se cuidar. Agora, vamos ver quem ganha no xadrez!

— Hey! Como assim? Eu e a Fefê nem terminamos ainda!- Cacá reclamou.- seu moleque chato! Deixa eu acabar o jogo! Não encosta! É meu!- pulou em cima do primo quando viu que ele ia remontar o jogo para o início.- Vai Fefê! Pega dele! Comigo ninguém pode, senhorzinho! Tá pensando o quê? Tá achando que é quem, hein? Aqui é Camilla falando, rapaz! Mais respeito da sua parte!

Alana suspirou sendo totalmente ignorada. A única coisa que poderia fazer era se juntar ao bololô de pernas e braços, mas preferiu pegar o baralho e embaralhá-lo, já que, pelo visto, ninguém a deixaria jogar xadrez.

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~ 17:25 ~

Alana, Cacá, Fernanda, Felipe e Caio estavam na sala, agora brincando de Imagem & Ação (não de desenhar, mas de fazer mímica). Como tinham um número muito pouco de pessoas, o jogo era individual, não em grupo. Era a vez de Alana.

Ela leu o papelzinho dela, categoria Todos jogam (palavras de qualquer uma das categorias). Quando terminou de ler ela pensou um pouco depois virou a ampulheta de cabeça pra baixo.

Começou apontando para a sua barriga.

— camisa?- Caio tentou.

— apontar? - foi a vez do Felipe.

Alana fez que não com a cabeça. Começou a puxar sua barriga por debaixo da camisa.

— camisa?- Caio tentou de novo.

— não, seu idiota!- Cacá o criticou.- se não era isso a um minuto atrás, por que seria agora?

— hã... Puxar?- Fernanda testou.

Alana balançou o dedo. Pensou no que deveria fazer e então levantou a camisa até o um pouco acima umbigo e apontou para a parte descoberta.

— camisa?- Caio repetiu só para irritar Cacá.

— NÃO!- Cacá voou em cima dele e o encheu de tapas não muito fortes.

— levantar camisa?- Fernanda tentou.

— barriga?- Felipe quis saber.

— órgãos?- Fernanda perguntou.

— umbigo?- Felipe suspirou cansado.

Alana pôs a mão no rosto em sinal de decepção. Olhou de relance para a ampulheta e viu que tinha passado da metade. Sem hesitar, começou a puxar sua barriga na parte descoberta. Fernanda e Felipe se olharam.

— hã... Barriga?- Felipe perguntou de novo.

— pele?- Fernanda também perguntou.

— elasticidade da pele?

— puxar pele?

Alana mudou de tática. Estufou as bochechas com ar e pôs as mãos do lado do corpo como se fosse barriga.

— gordo!- Felipe afirmou com convicção, mas Alana disse que não, mas estava perto.

— gorda?- Fernanda perguntou, Alana fez que quase com as mãos.

— gordinha?

— gorducha?

— obesa?

— hã... Obesidade mórbida?

O tempo acabou e Alana quase chorou.

— fala sério, gente!- ela ronronou.- Gordura! Gordura!!!

— ah, claro!- Fernanda respondeu.- é gordura e ela mostra a própria barriga! É mais fácil falar magreza!

— oxe! Como assim? Olha como tô gorda! - ela mostrou a barriga de novo puxando-a.

— Alana! Isso aí é pele, caramba!- Felipe falou.- assim é impossível de acertar! Só se você falar que é de antônimos!

— mas eu tô gorda...

— Alaninha, se você tá gorda, eu tenho que fazer uma cirurgia de redução de estômago!- Fernanda disse brava. - se disser mais uma vez que é gorda, eu vou te bater! Sério! E com força.- virou-se para Camilla e Caio.- e vocês dois! Vê se fiquem quietos! Shiu! Parem de se estapear, seus animais!

— tá... Quem é agora?- ela perguntou para ninguém em especial.

— eu!- Caio respondeu. Pegou o dado e jogou-o. Andou três casas e pegou uma carta. Pensou por alguns segundos, depois virou a ampulheta.

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~ 18:02 ~

Cacá, Fernanda e Alana estavam arrumando mochilas: Cacá voltaria para casa, assim como Alana, e Fernanda iria ao Castelo do Reino Doce, dar um olá para seus tios e primos, juntos com Felipe e Caio (que está voltando pra casa).

Alana colocou o resto das coisas lá dentro da mochila e olhou para cima. Cacá e Fernanda estavam conversando animadamente. Pôs a mão no bolso da calça e pegou seu celular. Duas mensagens, uma da sua irmã e outra da sua mãe. Clicou na da sua mãe.

M >> como vc tá? Se te perguntarem se pode dormir aí mais um dia eh, não, ok? Quero vc em casa as 8, ok?

Ela suspirou e respondeu:

A >> ok mami

Agora a mensagem da irmã.

S >> aqui o endereço, fofa: Reino Doce - rua Bolinho de Limão, casa 14. Vê se você não mata a coitada de susto. O que você vai fazer com o endereço dela... Só não seja pega pela polícia, tá bom? E o nome dela é Alexa, Okay? Ah, e ela mora só com a mãe. Depois te explico o resto. Beijinhos da Soraia, sua irmã linda e maravilhosa que você adora!

Alana quase riu. Essa era a sua irmã: escreve certo até em mensagem de telefone! Sem contar que é uma ótima informante.

A >> Ok! Vlw! Q dia q a Alexa vai lah em casa?

A resposta veio em poucos minutos.

S >> amanhã, às 13h e 30m.

A >> n vou ir! Diz q eu to em outro lugar, ok?

S >> Alana, Alana... Olha o que vai fazer... Que zoeira você está pensando? Vai que ela é boazinha! Você vai acabar assustando ela assim! Nem conversei com ela ainda! Só soube disso pelo Rodrigo. E antes que pergunte, sim, ele tem o endereço dela. Só porque fez trabalho em grupo na casa dela, Okay? Sem segundas intenções! Agora, vou ajudar a mami no jantar! Tchau, maninha!

A >> Tchau!

Alana bloqueou o celular, depois olhou em volta.

— Fefê, você vai dormir lá no castelo?

— não. Só vou visitar mesmo. Vou voltar tarde, mas nada de dormir. Volto lá entre 10 e 11 da noite...

— hum... Amanhã posso almoçar com você?- Alana se virou para Cacá.- e a Cacá também?

— claro! Vai ser legal!

— mas porque eu também, Alana?

— amanhã eu explico, mas... bem... Vai ser legal, vocês iriam gostar!- Alana terminou rindo.

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~ 22:41 ~

Felipe bocejou. Estavam voltando pra casa a pé. Ele se inclinou pra trás, pensando na visita. Ele tem um apego especial com Noah, seu primo, filho de Jujuba e Chama. Tirando o Leon, é seu único primo menor. Porque ele tem várias primas (nem tantas, se contar que são dois meninos e três meninas). Ele suspirou e olhou de lado para sua irmã. Ela conversava com alguém por mensagens. Olhou para o celular dela e apareceu em cima das mensagens:

— Alaninha
- Cam-Camilla

Ele sorriu. Como as três estavam sempre juntas! Cacá, ele podia até entender. Prima, amiga desde o nascimento, ser companheira 24 horas é quase dever. Como ele e Caio. Mas Alana? Conheceram-na a dias! Como alguém pode virar melhor amiga, BFF (seja lá o que isso significasse), parceira na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, em poucas semanas?

Quer dizer, se fossem meninos, dava até pra entender. Chamou o outro pro time da escola, já virou amigão, brother, parceiro. Mas meninas?! Pô, quando ele começa a entender que as garotas são mais delicadas, que se chamá-las de feias horrorosas irão se magoar, que amizades acabam por um simples "esse seu corte de cabelo ficou hor-ro-ro-so! (Porque algumas meninas tem mania de falar por sílabas)" ou um "não, acho que essa minha calça vai caber em você não. Mesmo que fosse três números maior... (Porque algumas meninas também tem mania de usar roupas das outras, como se fossem melhores)"

Sabia também que garotas ficavam mais em panelinhas. Então, com diabos a Alana foi virar melhor amiga delas em menos de um mês? Okay, talvez estivesse errado, talvez as meninas fizessem amizade fácil mesmo, talvez elas não fossem tão sensíveis assim... Ele deu de ombros.

"Desisto." Ele pensou. "Se elas são tão amigas assim, por que desconfiar? Devia estar feliz, mais uma amiga pra minha irmã! Minha também. Melhor desencanar!" E fez exatamente isso. Afastou todos os pensamentos e ficou pensando em absolutamente nada, concentrado no caminho de casa. Nem imaginaria que Alana estava fazendo o que ele fez há pouco tempo: pensar um no outro. Só que ela pensava de outra forma...