O Banco Vespa estava totalmente cercado, não havia como escaparem, quase todos os policiais da DPZ estavam a postos aguardando os assaltantes liberarem os reféns e se renderem.

Um estrondo seco foi ouvido e uma das portas se abriu:

— Eles querem negociar! Eles querem negociar!

A jovem lebre saiu correndo aos gritos para ser pega pelo policial Bogo.

— Acalma-se coelha!

— Mas chefe, ela é uma lebre!

— Hops?! Qual a relevância disso agora?

A jovem policial Judy Hops ainda assim fez sinal de protesto, afinal uma lebre não é um coelho, ela só desistiu mesmo quando sentiu a pata de seu parceiro dando-lhe um tapinha nas costas para que ela se cala-se.

— Eles querem um carro blindado, um um um policial em troca dos reféns e não serem seguidos por ninguém nas próximas duas horas. Sem isso, eles disseram que vão matar todos lá dentro.

Depois disso, a lebre desabou, não tinha mais nenhuma condição de falar.

— Vamos invadir!

— Wilde, que experiência você tem nesses casos? Rhinald, Sandler, levem-na daqui agora.

Wilde balançava a calda impaciente, ele não via outra opção a não ser invadir o banco e acabar logo com aquilo. Era óbvio pra ele que tudo não passava de um blefe!

— Todos aqui, DPZ Central agora!

Isso não era bom, definitivamente nada parecido com os filmes que assistia quando era criança.

Com seus dez policiais mais experientes Bogo pediu um voluntário para ser a moeda de troca pelos reféns, o chefe da policia sabia que era uma questão de tempo até que os ladrões perdessem a paciência.

Todos entroelharam-se, o silêncio só não durou mais porque a corajosa policial Hops se ofereceu.

— Hops, você tem certeza?

— É uma oportunidade única! - Ou Judy não fazia idéia do perigo à frente ou ela realmente era mais insana do que Nick pensava.

— Cenouras! Isso é loucura, como você vai enfrentar esses bandidos? Você, você?!

— Eu sou uma policial! – Evitando olhar Nick nos olhos ela apenas continuou calmamente - Desculpe chefe, o oficial Wilde não me parece preparado para situações extremas como essa.

Judy corajosamente se preparou para entrar no Banco alheia aos olhares preocupados de Nick.

"O que essa coelha tem na cabeça além das cenouras? Eles...Não...Não...Ela vai conseguir...Ela é muito melhor que qualquer policial aqui, incluindo eu que não fui rápido o suficiente pra me oferecer primeiro..."

Os grandes óculos escuros de Nick escondiam seu olhar preocupado, aquela era a primeira vez que Judy se colocaria em perigo e ele não estaria por perto para protegê-la.

— Oficial Hops, em 5 minutos o carro exigido pelos bandidos chegará.

— Sim capitão.

— Judy?

— Precisa de ajuda com o colete?

— Oficial Wilde, não obrigado!

Judy...Isso é muito mais perigoso do que você imagina.

— isso é mais perigoso do que você acha que uma coelha pode enfrentar?

As luzes das viaturas piscando estavam deixando Nick cada vez mais impaciente.

— Eu já te disse que você me ama?

— Sim, várias vezes eu já te confirmei que te amo. - Entre um sorriso e outro ela procurava manter a confiança que tudo acabaria bem. - O que houve agora? Está tudo bem, não?- Mesmo sem aquela resposta ela se segurava para não começar a bater os pés, Nick deveria lembrar dela confiante.

— Tome cuidado, Judy.

Eles se perderam naquele olhar de despedida interrompido somente pelo ronco do motor do carro que seria usado para a fuga que acabara de chegar.

— Obrigada oficial Wilde.

Sem olhar para trás a coelhinha pegou as chaves do veículo e seguiu em direção a porta do Banco.

Pausadamente os reféns começaram a sair conforme prometido e toda expectativa se concentrava naquela porta de madeira que dava passagem ao saguão principal do Banco.

Ela finalmente apareceu com os braços algemados para trás e sendo empurrada pelo que pareciam três onças encapuçadas.

A coelhinha parecia atordoada, não conseguia localizar a raposa no meio daquelas sirenes e flashes, e ela só o queria por perto.

Nesse devaneio ela tropeçou e caiu, acabou sendo repreendida com violência por uma das onças que a puxou para que ficasse em pé o mais rápido possível. Tudo que ela se lembraria nesse momento seria alguém gritando "Não Nick, não!

O carro partiu em disparada.

— Capitão essa foi a maior besteira que eu vi na vida! Eles vão matá-la!!!

Nick estava fora de si, para alguém que há alguns minutos achava que tudo era um blefe agora tudo aquilo era uma situação real que nenhuma simulação jamais havia pensando.

Ring. Ring. Ring.

Ante o olhar de repreensão do Capitão Bogo, Nick afastou-se para atender o telefone. Era melhor atender do que ganhar mais problemas para as próximas horas.

— Nick falando, bom dia Mr. Big.

A voz rouca e característica do pequeno musaranho só lhe trouxe mais preocupação.

— Nickolas, ah, Nickolas, você sabe o quanto eu não gosto que minha filha sofra. O que significa tudo isso?

— Desculpe Mr. Big, o que houve com a sua filha?

— Sua raposa sem noção...Minha filha está aos prantos na frente da TV, ela não quer a a madrinha de meu neto se machuque. Como posso te ajudar?

— Eu não sei...Eles pediram um carro...Eles me pareceram onças...Para onde eles poderiam ir?

— Um de meus informantes já está no carro, vocês são tão incompetentes que não perceberam um roedor entrado pela roda traseira...Ele nos manterá informado.

Nick desligou o telefone seco, agora se ele não morresse de culpa se algo acontecesse a Judy, Mr Big se encarregaria pessoalmente de jogá-lo no gelo.

— Cala a boca, coelha!

— Pessoal, vamos ser racionais...O melhor é se entregar...

Um dos encapuçados levantou a mão para lhe dar um tapa, mas o motorista intercedeu, não era hora de perderam a calma. O caminho estava livre conforme eles haviam solicitado, aquela coelha veio em boa hora, era a garantia que tinham para sair de Zootopia com o carro cheio de dinheiro.

— Alguém está atrás de nós?

— Não chefe, mas não podemos contar com isso por muito tempo.

— Em breve abandoremos esse carro, não se preocupe.

Enfim eles chegaram a rodovia que dava acesso a floresta de pinheiros, Judy tentava absorver cada detalhe do caminho, como se aquilo pudesse adiantar alguma coisa, naquele instante suas chances de escapar eram nulas

Nesse mesmo momento Nick, ao lado dos demais policiais, se amontoavem frente ao monitor que mostrava a posição do carro no mapa; sim, o carro tinha um localizador.

— Desça!

— Desça agora!

Sem pestanejar Judy saiu do carro, ainda lhe incomodava os braços algemados, eles andavam encapuzados e não se preocuparam em esconder-lhe o caminho.

— Malditos, eles estão trocando de carro, só pode ser isso.

— Todas as unidades, todas as unidades, repito, todas as unidades da policial rodoviária dirijam-se a interestadual 78, qualquer veículo com mais de um passageiro é suspenso.

Nick, impaciente, estava aguardando as ordens do capitão Bogo para que eles também fossem à interestadual, já haviam perdido tempo demais com aquele blablablá. E esse informante do Mr. Big, por que raios não dava notícias?

Horas antes.

— Bom dia pessoal, atualizações para o próximo final de semana... – e o Capitão Bogo anunciava tediosamente as atribuições de cada um até chegar o anúncio do baile beneficente.

— Pessoal, já temos a lista dos policiais escalados para o baile beneficente desse ano.

Todos homens, todos policiais experientes, excepto pelo oficial Wilde!

— Capitão Bogo?

— Sim oficial Hops.

— Como eu faço para parcipar do baile?

— Você pode pagar quinhentos dólares por uma dança com o oficial Wilde, ele é o mais próximo da sua altura.

A gargalhada foi geral, até Nick estava segurando-se para não cair na risada. Às vezes Judy parecia viver em outro mundo, aquele baile era uma maneira das filhas dos ricaços de Zootopia serem apresentadas a sociedade sem contar a quantidade de dinheiro arrecadada para ajudar alguma instituição de caridade.

Mesmo com a mesa escondendo seus pés, Nick podia ouvir a batida constante do pé dela, sinal que não viria coisa boa:

— Eu quis dizer se não pode haver um interessado em dançar com a primeira policial da DPZ?

— Dispensados pessoal.

Definitivamente o capitão não gostaria de entrar naquela discussão, a tradição do baile era que os policiais vendessem uma dança para cada garota literalmente afortunada da cidade em prol dos necessitados, talvez Zootopia ainda não estivesse pronta para uma policial feminina.

Já na viatura Hops não conseguia disfarçar o desapontamento por não conseguir ajudar de alguma maneira na arrecadação de dinheiro.

— Cenouras?

— Sim, Nick.

— Errr, se eu fosse um milionário e tivesse um filho...e, bom meu filho quisesse que você dançasse com ele para ajudar alguém que precisa, eu com certeza seria um pai muito orgulhoso pela atitude dele.

— Obrigada Nick, mas pelo visto o capitão vai demorar um pouco para entender isso...

— Garanto que até o próximo ano ele já terá mudado de idéia. Ou eu me candidato a outro departamento de polícia.

— Só não se esqueça de entregar meu currículo junto...- Ambos riram, afinal como poderiam deixar de ser parceiros?

“Todas as unidades, todas as unidades, dirijam-se ao Banco Vespa no centro, foi reportado um assalto, repito, foi reportado um assalto. Há reféns!”

Não foi preciso repetir mais uma vez, Judy já havia pisado no acelerador e ligado as sirenes!

— Oficial Wilde falando. Sim, sim, aguarde um minuto.

— Wilde, quantas vezes eu já alertei que não podemos usar o celular durante o horário de trabalho?

— Capitão, é realmente uma emergência.

Saindo de perto do capitão, afinal quanta demora para que eles saíssem da frente do banco, Nick pôde falar, mas já era tarde, só havia uma mensagem no seu celular

`Aqui é Memphis, preste atenção, deixamos a viatura na segunda saída da 78, estamos numa Van azul escuro, seguimos pela 78’

— Capitão, peço permissão para dirigir-me à 78.

— Permissão autorizada, oficial Wilde, eu vou com você.

Era tudo que Nick menos gostaria, com poderia falar com esse Memphis? Ninguém poderia descobrir que Nick tinha ligações com a máfia.

Há alguns quilômetros dali...

— Vocês vão trocar de carro de novo?

— Cala a boca, coelha!

— Chefe, por quê ainda estamos com essa coelha fofinha?

— Tem razão, se formos parados, vai dar mais trabalho explicar o motivo.

— Faça o que quiser com ela!

Os olhos de Judy se arregalaram, eles estavam armados e não pareciam nenhum pouco preocupados com o destino dela.

— Ainda não sei a melhor maneira de matá-la, por hora vamos amarrá-la naquela árvore enquanto decido o que fazer primeiro.

— Idiota, só temos o tempo de transferir esses sacos de dinheiro, não podemos perder tempo.

“Eles não vão me matar, eles não vão me matar, pensa Judy como você pode sair dessa?....Preciso do Nick aqui.”

Enquanto uma das onças se certificava que Judy estaria bem amarrada na árvore, as outras duas foram efetuar a ‘transferência ‘ entre os carros, Memphis conseguiu se transferir para o próximo carro antes que qualquer um dos dois pudesse percebê-lo.

“Nick, não posso falar.Não responda as mensagens”

“Estamos por volta do quilômetro 70, ainda na interestadual.”

“Eles a amarram numa árvore, acho que vão matá-la”

“Vou ganhar tempo, vou furar os pneus do próximo carro”

Eles ainda estavam no quilômetro 40 quando Nick conseguiu ler as mensagens.

— Chefe, será que podemos ir mais rápido?

— Wilde, eu sei como a oficial Hops é importante pra você, bom na verdade toda a DPZ. – Mesmo diante da situação, ele se sentiu na obrigação de alfinetá-lo, ou não seria o Capitão Bogo que todos conhecem - Mas nessas horas nós policiais precisamos manter a calma.

— Capitão, nós não temos muito tempo...

Mesmo sentado na viatura, Nick não conseguia controlar sua calda, era melhor arriscar tudo agora do que perdê-la.

— Capitão Bogo, a Judy está no quilômetro 70, precisamos chegar rápido lá. Não temos muito tempo.

Nick nunca saberia se a reação do capitão era fúria ou curiosidade.

— Oficial Wilde, como você pode ter tanta certeza que ela está nesse quilômetro?

— Eu tenho informantes. – O que mais ele poderia dizer?

— Oficial Wilde, espero que seu informante seja uma fonte lícita e não esteja envolvido no assalto ao banco....

Antes que Nick pudesse retrucar, o capitão resolveu dar-lhe um voto de confiança através do rádio:

— Atenção todas as unidades, atenção todas as unidades, há indícios que a policial Hops e os meliantes estejam na altura do quilômetro 70. Precisamos cercar a área. Atenção todas as unidades!

— Obrigado chefe... – Nick respirou aliviado enquanto ajeitava seus óculos.

Alguns quilômetros a frente Judy se contorcia tentando alcançar algo que a ajudasse a se soltar, as onças estavam ocupadas tentando trocar os pneus que misteriosamente murcharam.

— Vamos seguir no carro anterior chefe, vamos gastar tempo demais trocando esses dois pneus.

— Esse carro já está visado, precisamos desse aqui...Rápido, rápido.

Era tudo que Memphis queria ouvir, rapidamente o roedor foi até Judy, eles precisavam ganhar mais tempo e a única opção era soltá-la daquelas cordas, eles precisavam chegar até a estrada.

— Shshshshshiiiii.

Judy respirou fundo para não gritar, o que aquele rato estava fazendo ali? Antes que pudesse pensar em alguma outra pergunta ela pode sentir suas mãos e corpo livres das cordas.

O pequeno roedor a puxou para que saíssem dali o mais rápido possível, era questão de alguns segundos para que os bandidos notassem sua ausência.

— Por quê paramos?

— Quieta coelha...Precisamos alcançar a rodovia, só que eu estou na dúvida agora qual caminho seguir...Rápido, por aqui.

— Mas quem é você?

— Não importa quem eu sou, o que importa é que você tem amigos que se preocupam com você.

“Mr Big, só pode ser alguém dele...”

Eles ainda estavam perto o suficiente para escutar uma das onças gritando pela ausência dela, tudo estaria perdido se ela encontrasse alguém para denunciá-los.

Judy girava o máximo que podia suas orelhas tentando localizar algum barulho familiar que os levasse a rodovia o mais rápido, era uma corrida contra o relógio. As onças tinham o olfato aguçado e poderiam percebê-la antes que ela os sentisse chegando.

— Para aqui chefe, para aqui nessa curva, aqui é o quilômetro certo.

— Oficial Wilde, se você estiver errado estará fora da corporação!

“Tudo que eu preciso é mais pressão agora...” – Nick desceu apressado da viatura, como locáliza-los?

“Pensa Nick, pensa...”

De repente, Nick se lembrou de algo que era uma das suas brincadeiras favoritas quando era criança, esconde-esconde...Ele sempre achava seus amigos pelo cheiro, afinal mesmo no mundo de Zootopia ele nunca havia deixado de ser um predador.

Tentando lembra-se do cheiro de Judy, só lhe vinha a cabeça o quanto ela era importante para ele, jamais seria uma presa, jamais...Quantas vezes gostou da sensação dela apoiada em seu ombro no cinema ou quando lhe incentivava a não desistir dos treinamentos pesados da DPZ? Era sua única companheira de verdade, não que não tivesse amigos, mas Judy nunca lhe pedia nada em troca além da sua companhia.Nesses devaneios ele permanecia calado mirando os pinheiros à sua frente, só conseguia sentir o frescor das folhas dos pinheiros até que...

“Judy!”

— Chefe, ela não está longe, venha!

— Pegue isso Oficial – Para surpresa de Nick era uma arma com tranquilizantes.

— Coelha intrometida...Onde você está? Antes eu ia lhe dar um fim rápido, agora quando lhe encontrar você terá muito tempo para lembra-se de mim.

Memphis olhava preocupado para Judy, não podiam falar, se o vento virasse novamente ou seriam percebidos pelos cochichos ou pelo rastro que deixavam...Não podiam estar longe.

Judy escutou um barulho abafado, uma buzina, era um caminhão! Agora ela sabia em qual direção seguir. O vento virou.

— Parada coelha! Parada senão atiro! Onde você pensa que vai?

— Se você atirar todos os policiais que estão cercando a região virão até você! Vai atira!

— Atrevida.

Memphis se escondia atrás de uma das pernas dela, petrificado pela audácia daquela coelhinha.

— Vai, atira! Quer que eu grite? A-ti-ra!

Os berros de Judy também atraíram as outras duas onças. Agora ela estava sob a mira de 3 revolvéres.

— Quer saber chefe, que se dane! Não escuto policial nenhum aqui por perto, vamos atirar logo e ir embora daqui!

Judy estava perdendo a respiração, que seria melhor – dar-lhes as costas e sair correndo ou esperar que nenhum deles tivesse boa pontaria? Duas onças abaixaram a guarda, a terceira mirou e:

“Bang!”

— Hã?! O que é isso?

O tiro passou à esquerda de Judy, quando ela criou coragem de abrir os olhos tudo passou tão rápido, uma das onças segurando Nick pelo colete a prova de balas o jogando com violência contra uma árvore, Chefe Bogo gritando que estavam cercados, as armas caindo ao chão, Memphis desaparecendo assim como havia aparecido e Nick desacordado. Nick desacordado.

— Atenção! Atenção, interestadual 78 quilômetro 70 precisamos de uma ambulância, repito precisamos de uma ambulância. Oficial desacordado.

Judy não conseguia se lembrar de muita coisa, já estavam na ambulância, ela sentada enquanto Nick seguia imobilizado na maca, ele havia gemido algumas vezes mas ainda não havia aberto os olhos.

— Nick, que loucura foi essa? Como você teve coragem de se jogar na frente daqueles bandidos?Obrigada, acho que estou viva graças à você... – Seus olhos começaram a lacrimejar, por que raios ele não acordava?

Zootopia nunca pareceu tão longe por aquela rodovia.

— Oficial Hops, chegamos ao hospital. Preciso que você faça uma avaliação para termos certeza que está tudo bem. O oficial Wilde está em boas mãos.

Vendo que não tinha muita opção ela concordou em deixar a ambulância em direção ao consultório médico enquanto Nick seguia para outra equipe médica.

— Sim oficial, pode entrar. – A enfermeira abriu a porta do quarto, ela correu em direção a cama.

— Nick! Você está melhor?! Que houve? Eles quebraram seu braço?

— Está tudo bem Cenouras, calma, só acho que você vai precisar de outro parceiro por um tempo. Pelo que o médico me explicou ficarei imobilizado por algumas semanas.

Ela se aproxima meio que sem jeito, segura sua pata para agradecer, afinal não havia outra pessoa no mundo que arriscaria tudo para ajudá-la.

— Cenouras...Coelhos são tão emotivos...Eu vou ficar bem,bom, eu vou ficar bem depois que meu corpo parar de doer...Não sabia que onças eram tão fortes...

— Desculpe...

— Posso te perguntar uma coisa?

— Sim...todas...

— Será que eu vou ficar elegante com uma tala com o uniforme de gala da policia pro baile beneficente?

De volta a realidade, Judy afastou-se de Nick pra concordar que ainda com o gesso ele ficaria muito bem apresentável. Ambos sorriram.

Após uma semana eles voltariam a se encontrar na porta do anfiteatro Central de Zootopia, mesmo sob os protestos de Judy a raposa preferiu ficar em sua casa sob a ponte com a ajuda de Fennick, assim pode ter certeza Judy também descansaria.

Com tudo isso, Nick também havia ganhado seus minutos de herói, durante toda a semana ele foi destacado pela coragem em arriscar a própria vida por um colega policial, que virada para um malandro de rua pensava sozinho em sua casa... Agora frente a frente, Nick e Judy entraram alinhados com todos os outros policiais. Todos os afortunados de Zootopia já os aguardavam para o baile.

Dança a dança o capitão Bogo anunciava que alguém havia requisitado algum dos oficiais pela quantia de quinhentos dólares zootopienses, todos os oficiais do batalhão; menos Judy que permanecia sentada tentando disfarçar o tédio, ela fôra dispensada do baile e ainda assim havia feito questão de participar, queria seu amigo se portaria e; enfim ele era realmente bom nisso, ao vai e vém da dança conseguia manter todas as suas acompanhantes sorridentes com o que conversava.

Não havia um vestido de gala para policiais femininas, Judy vestia um uniforme semelhante ao de Nick, tentava disfarçar por debaixo da mesa a impaciência que tudo aquilo lhe causava através de seus pés, tinha dúvidas se era saudável permanecer no baile, a cada nova acompanhante de Nick ela não sabia o que lhe incomodava mais: os sorrisos de cada garota ou o fato de ninguém em Zootopia lhe pedir uma dança em pról dos necessitados.

Finalmente a última dança, chefe Bogo pediu que todos os oficiais retornassem a seus lugares para ouvir o discurso de encerramento e agradecimentos pelo esforço da corporação em prol dos necessitados. Nessa hora Judy podia alfinetar Nick pela noite cheia que ele estava tendo.

— Noite ocupada, hein? Imagina se você estivesse com os dois braços livres raposa astuta..

Nick apenas se virou para olhá-la com seu já conhecido sorriso...Melhor que não comentasse nada, não, melhor seria que ele falasse algo:

— Noite ocupada, mas ainda não acabou, quem sabe eu consigo uma última acompanhante mais interessante que todas essas outras que já dancei, todas elas tão fúteis...Quem sabe?

— É quem sabe... – Judy franziu o nariz, afinal de contas por que aquilo lhe incomadava tanto.

— Shhhhhhhh....

— Oficial Garramansa, sua acompanhante solicita sua presença por quinhentos dólares para a última dança da noite... – Garramansa saiu todo feliz para encontrar sua parceira de dança..

Cada um dos oficiais foi sendo chamado e se posicionando com sua acompanhente para a dança. Enfim aquele tormento terminaria para Judy, só faltava um nome a ser chamado: Oficial Wilde

— Oficial Hops, seu acompanhante solicita sua presença por mil dólares para a última dança da noite.

— Oficial Hops?

A coelha olhou para os lados, afinal que brincadeira seria aquela? Não havia a mínima graça em ser alvo de uma piada de última hora. Como não havia como desacatar seu chefe, ela se dirigiu a pista de dança.

— Tenho a honra de sua companhia?

— Niiickkkk?

— Shhhhshiiiiii...

— Mas como você fez isso? Você é louco? Onde você conseguiu tanto dinheiro?

A música começou e a raposa como boa dançarina guiou Judy para os passos que ele dominava tão bem...Judy acabou por se acalentar em Nick o suficente para escutá-lo cochicando sobre suas orelhas:

— Não se preocupe,eu não peguei dinheiro com o Mr. Big para isso...Eu tive que comprar a minha dança comigo mesmo por quinhentos e mais quinhentos pela sua dança...Só que a minha viagem para o Havaí vai ter que esperar mais um tempo...Gastei todas minhas economias nessa música...

— Nick eu não sei o que dizer...Obrigada...

— Shh...Cuidado com meu braço...

— Desculpe...Eu não sou boa dançarina...

— Só deixe eu te levar Cenouras...Por favor, não faça mais nenhuma loucura como a da semana passada...Eu tive tanto medo de perder você....

— O medo nos paraliza...Você não me deixou...

— Eu tenho medo agora....

— Você me ensinou a não ter medo de você...Eu que sou a presa, lembra?

Nick fechou os olhos, bem na verdade que há muito tempo ele que se tornara uma presa...

A música havia acabado, e eles continuavam dançando alheios aos olhares espantandos dos demais até que o Capitão Bogo se viu forçado a pedir mais uma música para distrair a todos no salão.

— Acho que começaram outra música...

— Eu nem sei o que tocou primeiro, se trocaram a música ou é a mesma...

— Cenouras...Judy...Amanhã seremos perturbados até o infinito....Mas eu não estarei na DPZ com esse gesso...

— Eu não me importo...

Nick beijou-lhe a bochecha, era melhor que saissem dali...Sua cabeça rodava...

Sem se despedirem, saíram as pressas...O ar frio da noite lhe refrescavam as idéias....e as patas unidas aqueciam suas vidas.

— Você não precisava pagar mil dólares para dançar comigo...Mas eu amei... – Ela abaixou a cabeça sem graça, se ele não dissesse nada em retribuição voltariam ao ínicio como em tantas outras vezes.

O silêncio era o mesmo de tantas outras vezes também.

— Nick...

— Sim...

— Ainda com medo?

— Eu tinha menos medo no salão...Dançando...

— Dança comigo então...

A dança sem música virou um abraço forte de um caminho sem volta, meio sem jeito meio sem graça Nick correspondeu as insistências de Judy por aquele afago que ambos esperavam a tanto tempo.

Ele sorriu.

Ele iria levá-la pra casa, não podia correr o risco de perdê-la. Ela não recusou, apenas segurou mais firme sua pata para que não se soltassem.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.