Quando o Amor Chega

Simulação de Voo e uma doce surpresa


Wulcan estava diante da porta da Sala de Treinamento de voo. Ela e seu grupo formado por Vampira, Kitty, Bobby, Jean, Scott e Kurt adentraram e não conseguiu evitar a cara de surpresa quando viu a enorme nave ao fundo, ou ao menos o simulador dela. Se aquilo impressionava, como ela se sentiria quando estivesse em ação dentro? Quando ela foi resgatada, havia voado no X-Jato, todavia estava tão entorpecida que sequer poderia ter sido considerada uma experiência consciente, tanto que sequer se lembrou dela na conversa com Kurt um pouco mais cedo. Era diferente, ali era como se fosse uma missão, algo oficial dela enquanto mutante e identidade assumida. Sentiu quando alguém pegou sua mão.

— Wulcan, não precisa ficar com medo. Eu estou aqui. – Era Kurt com um sorriso e olhar doce. Ela sorriu timidamente de volta, ele estava se mostrando um amigo muito encantador.

Kitty cutucou Vampira e piscou o olho maliciosamente quando notou o gesto. Há muito notava mudanças positivas em seu amigo, achava que Wulcan tinha alguma coisa a ver com aquilo, percebia que Kurt estava mais sorridente, mais desinibido, seu desempenho nos treinos estavam melhores e agora aquela aula de voo vinha pra coroar.

— O que foi, Kitty? – perguntou Vampira.

— Vai dizer que não notou o quanto Kurt tem estado melhor nos treinos? Ele e a Wulcan ficaram bem próximos nos últimos tempos. Acho que ela veio pra trazer coisas bem legais pro Instituto.

— Ah, Wulcan e ele são bons amigos, eu acho muito legal que ele tenha superado a Amanda de vez e...

— Amigos... Sei. – disse Kitty com uma expressão intuitiva.

Vampira apenas meneou a cabeça, sabia o quanto a miga gostava de seu irmão e desejava seu bem, todavia acreditava que não seria algo que aconteceria a menos que ambos quisessem. E depois, Kurt devia dar um tempo pra si mesmo, focar em sua própria evolução, já tivera muitos problemas por conta do coração. Ela mesma tentava não dar vazão a certos sentimentos, sabia que a vida enquanto mutante já era difícil devido a rejeição da sociedade. A dificuldade em se relacionar devido a natureza de seus poderes tornava isso triplamente mais difícil. Embora isso não impedisse de vez ou outra imaginar como seria.

— Muito bem, molengas! Hoje vocês vão fazer um belo treino de voo! – começou Logan. – Espoletinha, você é novata, não precisa ficar com medo, embora seja o Cubo de Gelo que vá pilotar.

— Mas eu melhorei! Da última vez eu levei o dobro do tempo pra explodir com todo mundo – Bob arreganhou um sorriso maroto como se aquilo fosse uma incrível vitória. Ao passo que Wulcan arregalou os olhos de medo e preocupação.

“Meu Deus, eu vou morrer com esse maluco!” – pensou ela.

— Muito bem! Todos embarcando e pegando seus lugares. Cubo de Gelo, tome logo a dianteira na cadeira do piloto. Não esqueçam que em uma missão a primeira coisa que fazemos é apertar os cintos. Não sabemos o que vamos enfrentar, que tipo de ameaça ou ataque, é importante que estejam seguros em seus lugares.

Wulcan embarcou e de fato parecia o interior de um avião como ela tinha visto tantas vezes em filmes e seriados. Menor que o X-Jato, claro, mas ainda assim para ela possuía a sobriedade igual. Ela ficou indecisa em qual lugar sentar.

— Senta aqui do meu lado, Wulcan, somos dupla, lembra? – Ela sentou no lugar indicado por Kurt, olhou para o cinto e ficou em dúvida sobre como atraca-lo da forma correta. – Eu ajudo você.

— Não precisa, Kurt. Acho que consigo sozinha – disse ela.

O nervosismo de Wulcan era tão palpável que era possível ver sua respiração acelerada e seu peito subindo e descendo, as batidas de seu coração estavam fortes e rápidas. Mas ela conseguiu atracar o cinto e ficou estática esperando a simulação e o treino começarem.

O simulador fechou a porta dando a entender que o voo começaria. Bobby tomou seu lugar e começou a seguir as instruções que Logan começou a dar do lado de fora do simulador com um microfone. Ele até que começou bem, Scott também auxiliava como podia complementando o que Logan dizia do lado de fora. O início se mostrara tranquilo com Bob decolando e mantendo a direção firme.

— Até aqui tudo bem. Acho que vou sobreviver – disse Wulcan pra si mesma.

Todavia a decolagem era apenas uma parte do treino, se manter estável na simulação era o ponto alto que precisava ser feito. De repente as luzes começaram a piscar e a sala inteira adquiriu um ambiente como um céu nublado.

— Mas o que é isso? – perguntou Bobby.

— Vamos, Cubo de Gelo! Ou você acha que o céu sempre vai se manter azul e ensolarado pra você o tempo todo? Mantenha a posição e estabilidade! Seus companheiros dependem de sua boa direção!

Bobby começou a suar frio, ele já tinha certa experiência, além das simulações ainda tinha uma certa traquinagem que fez com seus colegas quando pegaram o X-Jato escondido, todavia aquilo foi mais sorte do que propriamente treino. Todavia já que ele havia começado, havia de terminar e tentaria dar seu máximo. Além da ilusão de céu nublado, alguns ruídos começaram a ecoar, como um barulho de turbulência e ventos fortes. Raios começaram a iluminar a cabine e no interior do simulador, causando certa apreensão em todos. Por mais que soubessem que não era real, as simulações realizadas nas salas de treino podiam ser bem realísticas. Tudo projetado para que eles soubessem o que enfrentariam na vida real.

As coisas ficaram piores quando todos no interior do simulador começaram a ouvir uns zunidos, como se algo estivesse se aproximando em alta velocidade. Curioso como são os sentidos, seus olhos podem estar vendo algo e dependendo de como é feito há a nítida impressão de que é real. O simulador de voo da mansão deixava qualquer 3D no chinelo.

Tanto que o objetivo era levar todos ali ao mais alto grau de adrenalina que apareceram pontos vermelhos no visor, posteriormente foi nítida a visão de dois mísseis projetados, tudo com intuito de forçar Bob a tentar um desvio em voo.

— Logan, acho que não vou conseguir! – gritou Bob.

— Você consegue, garoto! Lembre-se que seus colegas dependem de sua direção.

— Bobby, mantenha a calma. – Começou Scott – Lembre que você está pilotando, é só virar o controle e desviar.

Wulcan ouvindo e vendo tudo aquilo ficou mais apreensiva do que estava. Percebia que Bobby estava nervoso, e as ilusões pra parecer que estavam sendo atacados não ajudava nenhum pouco. Ele tentou desviar dos misseis, um deles vinha na direção deles bem de frente, Bobby conseguiu explodi-lo, todavia havia outro que parecia ser mais rápido. Nisso ele fez algumas manobras evasivas que acabaram virando o avião de um lado para outro. Os colegas gritaram com os solavancos. Wulcan por outro lado estava apreensiva demais pra não perceber um pequeno clique na trava de seu cinto. Quando Bobby fez a manobra para o outro lado e o avião praticamente virou de cabeça para baixo, Wulcan foi arremessada de seu assento, ao que parece a trava de seu cinto não havia sido travada até o fim e com o violento solavanco ela foi lançada de sua cadeira, passou por cima de Kurt e caiu no chão do corredor do simulador.

— Socorro! – gritou ela

Apesar dela estar caída, os solavancos continuavam e ela por mais que tentasse se levantar era sempre lançada de encontro ao solo, se contundindo nos braços e rosto.

— Lembre-se que isso é uma simulação, mas deve ser encarada com seriedade! – Gritou Logan – Lembre-se que Bobby é o piloto, mas todos vocês são responsáveis por todos

— Ahhhhh – Wulcan rolava de um lado para o outro. Jean ia se adiantar e com seu poder deixa-la fixa no chão, mas Kurt se adiantou.

— Wulcan! Eu ajudo você! – ele se teleporto até onde ela estava e a abraçou com força, Wulcan sentiu-se envolvida pelos braços de Kurt e por impulso o abraçou também, de modo que não havia espaço algum entre eles. Nesses rápidos segundos Bobby conseguiu explodir o segundo míssil e estabilizou o jato.

— Muito bem, Cubo de Gelo! Estão todos bem?

— Nem todos Logan! Wulcan foi arremessada – Disse Scott.

Após a finalização da simulação todos correram pra ver se Wulcan estava bem, Kurt se recusava a soltá-la até que percebeu que a simulação tinha de fato terminado. Quando a soltou, percebeu que havia certo inchaço no lado direito de seu rosto.

— Wulcan! Você precisa ver isso! – adiantou-se Kitty. – Se machucou em mais algum lugar?

— Acho que não... – embora ela estivesse bem dolorida, não percebia nenhum ferimento físico.

Todos desceram do simulador e Logan correu para Wulcan.

— Espoletinha, vá para a enfermaria ver essas contusões. Acho que o treino de hoje foi válido, o Cubo de Gelo não explodiu todos vocês e ainda desviou dos mísseis. E o Duende... cadê o Duende? Bem, ele teve raciocínio rápido em ajudar a colega.

— A culpa foi minha, Professor. Ele quis me ajudar com o cinto de segurança, mas eu achei que podia me virar sozinha. No momento dos solavancos ele soltou e fui lançada.

— Certo Wulcan, mas o importante é que ele como sua dupla soube agir rapidamente. Estão dispensados por hoje e você vá na enfermaria tomar um medicamento e ver essas contusões.

Wulcan se dirigiu a enfermaria, o Professor Hank lhe deu alguns analgésicos e recomendou que antes de dormir colocasse uma bolsa de gelo sob a contusão no rosto. Kurt havia desaparecido. Ela jurava que ele estava atrás dela após a simulação quando todos desceram, todavia ninguém o viu. Ela queria ter a chance de agradecer pelo seu gesto de salvá-la. Aquele abraço... Não lhe pareceu apenas um salvamento, era como se ele quisesse protege-la, bem, eles se protegiam durante os treinos, mas... foi tão aconchegante de qualquer forma.

Ela se dirigiu até seu quarto e colocou os analgésicos que o professor lhe receitara em cima do criado mudo, queria tomar um banho e comer alguma coisa, tanta adrenalina lhe deixara exausta. Até que ouviu o barulho de “bons”

— Kurt! Você sumiu, o Professor Logan perguntou por você...

— Wulcan, me desculpe! Eu devia ter verificado se seu cinto estava corretamente atrelado, se eu tivesse feito isso você não teria se machucado.

— Não precisa se desculpar, você me ajudou e me salvou! Se agarrou a mim pra me proteger e...

Wulcan não pôde esperar que Kurt a abraçou de novo, dessa vez tão ou até mais forte que no treino do jato. Aquela sensação de conforto e aconchego voltou, ela estava um tanto confusa, eles eram amigos, parceiros de treino, apenas isso... Apenas isso? Ela se sentia segura com Kurt, claro, com todos do Instituto, mas com ele havia um carinho, eles sempre estavam juntos e ele lhe era gentil. Quer dizer, Kurt era gentil com todos... ou será.... não, ela devia estar maluca.

— Wulcan... eu acho que você se tornou muito importante pra mim – começou ele – Você mudou a vida de todos aqui, me ajudou a superar meu estado depressivo, esteve ao meu lado, é divertida, uma boa amiga, é ótimo estar com você... – ele pegou nas mãos dela.

— Kurt, eu... também acho ótimo estar com você – ela sorriu timidamente e os olhares deles se encontraram. Kurt não soube bem o que estava sentindo, mas algo dentro dele o impulsionou e mesmo com toda a insegurança, ele o fez.

Diante do sorrio tímido de Wulcan, ele a olhou nos olhos, foi se aproximando dela até que seus lábios se encontraram. Ela por sua vez estranhou, mas não o repeliu, aquela ternura voltara e ela se sentiu novamente segura. Além do fato de que estava gostando muito daquele beijo, isso com certeza.

Eles se abraçaram apertado e ela tocou os cabelos de Kurt, ele envolveu a cintura dela puxando-a para mais perto. O tempo parece que parou ali e nenhum dos dois podia negar...