No sonho, Jessie caminhava em um corredor branco e dourado, com paredes estranhamente altas. Mastros cor de marfim sustentavam o teto e lustres de ouro se penduravam no alto, decorados com pedras transparentes. Jessie estava usando um longo vestido azul-celeste e seu cabelo estava preso. O corredor era repleto de espelhos. Cada um refletia uma pessoa diferente. Algumas que Jessie conhecia e outras nunca vira na vida. O primeiro espelho refletiu uma menina linda – a pele era morena, cabelos castanhos que alcançavam a cintura e seus olhos pareciam esmeraldas – ela dançava nas chamas espiraladas, com um longo vestido vermelho. O segundo espelho refletia uma mulher radiante, cabelos brancos ondulados, e trajava um longo vestido azul-real. Era a mãe de Jessie.
E agora, conforme Jessie caminhava, tudo ia congelando e papéis escritos com tinta preta caíam do teto enorme...

Seus olhos pesavam demais ao tentarem se abrir. Jessie estava com a cabeça enterrada nos braços e cochilara sobre os papéis, cujo sua primeira história estava escrita. Ela estava escrevendo um conto durante as férias, não queria que ninguém o lesse até terminá-lo. Ela esperava que essa história fosse de sucesso um dia, e que virasse um mangá e depois um anime.
Quando levantou a cabeça, percebeu que Breno - seu gato cinzento e estúpido - estava sentado sobre algumas páginas da história. Jessie quase teve um ataque cardíaco.
– BRENO GAJEEL HAPPY BELCOURT! - gritou ela, se inclinando furiosamente sobre a mesa. - Saia já daí, seu gato imbecil filho da mãe!
Breno não se mexeu, apenas miou baixinho. O gato sempre fora desobediente, desde que Jessie o encontrou frente à porta de sua casa, em uma noite barulhenta de tempestade. O nome "Breno" fora Jayce Belcourt quem escolhera, e o segundo e terceiro nomes - Gajeel e Happy - fora Jessie quem decidira. Em homenagem aos personagens do anime favorito de Jessie, Fairy Tail.
– Eu vou matar você um dia desses, sabia? - disse ela.
Breno miou mais uma vez e se foi, pulando graciosamente de cima da mesa. Jessie organizou as folhas, colocando as páginas em ordem. Ela parou quando seu celular começou a tocar. Pegou-o em cima da cadeira e visualizou quem estaria ligando. Era April.
– Oi, Appie - cumprimentou Jessie.
– Oi, Jess - começou ela. - Liguei para te lembrar de que vamos ao Veselka hoje às sete horas, okay?
– Ah, claro, claro - concordou Jess, se inclinando para trás junto à cadeira. - Me lembro disso. Tenho uma coisa sinistra para contar para você e para Casey.
– Sério? O que houve? - April pareceu preocupada.
– Está tudo bem?
Jessie assentiu.
– Sim, sim - ela se levantou da cadeira cor de marfim.
– Bem, é que ontem à noite eu vi a coisa mais bizarra de todas. Mas não ache que eu sou louca, estarei lhe falando a verdade.
– Tudo bem... - Jessie ouviu alguma coisa se chocando com outra através do celular. - ...Ai, Casey! Já chega, sossegue um pouquinho, vai!
– ...oi, Jessinha - Casey parecia ter tomado o celular de April. - Vou passar aí para irmos ao Veselka, okay? Okay!
– Mas o quê? - Jessie pareceu confusa. - Casey, espere... Onde vocês estão...?
Depois um ruído de algo se espatifando contra a parede.
– Desculpe Jess - era April, gritando no celular por causa da barulheira. - É que, estamos na casa do Ty, e a cachorra dele está fazendo a maior bagunça! - ela gritou. - Ai, Deus! Eu quase fui assassinada, seus loucos - gritou para Casey e Ty. - Vou ter que desligar. Te encontro no Veselka...
– O quê? - Jessie sacudiu o celular, e chamou: - Appie? Appie espera... - a ligação já havia caído - Mas que droga!
Ela se levantou e se dirigiu até a sala. Sentou-se no sofá e olhou para o relógio preso no pulso. Marcavam exatamente seis e quarenta. Depois olhou para as fotos sobre a mesinha de madeira no centro da sala. Uma delas estava Maryse e Jayce Belcourt - a mãe e o tio de Jessie - no dia da inauguração da padaria de Maryse, a Belcourt's Bakery. Ela vivia criando doces e salgados para aquela padaria. Apesar de ser uma das mais famosas de Manhattan, Jessie não era rica nem mimada, como eram maioria das garotas do colégio. Jess era desengonçada perto de April e das outras garotas, vivia tropeçando e usando suas roupas largas e surradas.
Ela não tinha um pai, ele morrera antes de ela nascer. Maryse voltara a usar o nome de solteira depois da morte do marido. Mas ainda guardava as medalhas de soldado, e o cordão com as iniciais O e S. Octavian Santiago era o nome dele. Jessie voltou à realidade quando ouviu a porta se abrir e um homem entrar.
Usava roupas de policial, qualquer um que o visse levaria a atenção diretamente para o cabelo. Era de um tom branco albino que escapava da boina do uniforme azul, sua pele era branca como leite. Os olhos tinham duas cores, o esquerdo era prateado e o direito de um tom claro de violeta.
– Oi, Jessie - disse Jayce Belcourt, carregando uma caixa de papelão.
– Oi, Jayce - ela não o chamava de "tio" já fazia um ano, a pedido dele. Ele pensava que o fazia parecer velho aos vinte e sete anos. - Cadê a mãe?
Ele apontou para o lado de fora.
– Ali. Está trazendo as outras caixas - disse ele, depois de colocar as caixas que carregava no chão.
– Ah - respondeu Jessie, parecendo não muito surpresa. - Qual é a dessas caixas?
– Encomenda para a padaria - Jayce tirou a boina de policial, exibindo a cabeleira clara. - Tem protetor solar?
Jessie assentiu e apontou o aparador no fim da na sala com o queixo. Jayce localizou o protetor e avançou para alcançá-lo.
– Tenho uma surpresa - disse ele, enquanto esfregava o protetor solar em seu rosto. - Vou fazer o jantar hoje.
– Surpresa seria digerir a sua comida - Jessie fitou novamente o relógio. - Mas para a minha sorte não vou jantar em casa.
Realmente era muita sorte não ter que comer a comida de Jayce. Jessie dizia que era pior que comida de prisão, não que ela já tenha ficado presa uma vez, mas dava para perceber o gosto horrível pelos filmes. Ao passo que a comida de Maryse era divina, ela já havia feito faculdade de gastronomia e administração para criar sua padaria.
– Jayce - chamou Jessie.
Ele se virou para ela.
– Hã?
– Quem são Hamato Yoshi e Oroku Saki?
Jayce deixou o protetor solar cair, e Jessie o viu enjirecer. Estava mais pálido que o comum, a expressão cheia de espanto. Ele sabia, tinha que saber. Mas antes que pudesse se mexer alguém entrou na casa, carregando consigo mais caixas.
Maryse Belcourt era uma mulher pequena e radiante. As pessoas diziam que Jessie era bem parecida com ela, mas não era tanto. Jessie e Maryse eram parecidas nos aspectos mais óbvios: os seios pequenos e os quadris estreitos, os cabelos brancos albinos - embora os de Maryse tivessem o dobro de comprimento em comparação ao de Jess - e a palidez anormal. Jessie gostaria de ter herdado os olhos violetas da mãe, eram muito mais interessantes do que os seus olhos pretos e estranhos.
Maryse estava usando uma blusa cinzenta e jeans escuros, sandálias pretas estavam em seus pés. Sua blusa estava suja de farinha e chocolate.
– Oi, Jessie - disse ela. - Oi, Jayce.
– Oi, mãe
Jayce franziu o cenho.
– Oi, Mary - ele levantou a mão com o dedo indicador ereto.
– Eu não sabia que tinham mais caixas.
– Essas são as últimas.
Jessie se levantou.
– Mãe, vou ao Veselka daqui a pouco, tudo bem?
Maryse assentiu.
– Sem problemas. Mas não esqueça de passar protetor.
Jessie fez que sim com a cabeça. A vida dela era quase resumida nisso, passar protetor de uma em uma hora enquanto o sol estivesse no céu. Tinha que estar com paletó e blusas de mangas longas durante o dia, andar com guarda-chuva. Tudo isso a fazia parecer estranha. Além disso, seus olhos eram ridículos; negros e mesmo se ela ficasse com a cabeça paralisada, eles ficavam se movimentando horizontalmente. Tudo culpa de seu maldito albinismo!
Maryse e Jayce foram até a cozinha preparar o jantar. A distância, Jessie ouviu alguns sussurros. Ficou atenta para escutar.
– ...Ela me perguntou quem eram Hamato Yoshi e Oroku Saki - era Jayce.
Maryse arregalou os olhos.
– Por Deus! Onde acha que ela pode ter visto? - ela estava preocupada.
Ela os conhece? pensou Jessie, assustada.
– Não sei - ele semicerrou os olhos, parecendo pensativo. - Ontem à noite, ela nos contou que havia testemunhado um ataque do Clã do Pé no metrô. Será que Oroku estava lá?
– Provavelmente não. Ele sempre deixava seus trabalhos aos soldados. Não acretido que tenha mudado muito desde aquela época.
– Mas eu a ouvi falando com Casey sobre uns justiceiros que os salvaram! O que você acha?
Maryse pensou.
– Talvez Hamato formara seu próprio Clã durante esses quinze anos! Não sei ao certo - disse ela. - Mas seja como for não podemos contar a ela sobre o Clã Hamato, nem sobre a Corporação...Você sabe.
Jayce fez que não com a cabeça.
– Já está na hora de ela saber a verdade. Vai ficar escondendo sobre o pai dela a vida toda? Sobre o que ela realmente é? O que nós somos!
– Ela não está pronta, Jay! - Maryse parecia aflita. - Ela vai querer ir atrás dele se eu contar a ela. E ele não vai fazer nada senão matá-la! Além disso, ele acha que ela está morta!
– Você que não está pronta... Se Jessie descobrir por si própria, vai te odiar, Mary.
Maryse suspirou.
– Eu sei, eu sei - ela desviou o olhar para o chão. - Mas se o Conselho descobrir que eu a escondi por todos esses anos...
– Vai vir atrás dela. É isso mesmo!
Jessie foi até a cozinha, confusa e espantada. O que a mãe estava escondendo? Sem dúvidas, eram coisas importantes que Jessie deveria saber há anos. E ela os escutou falando sobre o seu pai, mas o que ele tinha a ver com isso?
– Mãe?
Maryse rapidamente se virou e forçou um sorriso.
– Filha? - ela se aproximou do balcão na cozinha. - Você não ia no Veselka?
Jessie assentiu e ouviu uma batida na porta. Pegou o paletó e a bolsa marrom no cabide perto da porta. Abriu a porta e encostado na parede, estava Casey. As mesmas roupas surradas e rasgadas de sempre, os cabelos negros pouco longos e o lenço na cabeça.
– Oi - disse ele. - Está pronta?
Jessie fez que sim com a cabeça.
– Ahã... - encarou a mãe.
Maryse forçou mais um sorriso.
– Tenham uma boa noite, crianças - e a empurrou para fora de casa, fechando a porta após isso.
Casey fitou a porta se fechar e deu de ombros.
– Que sinistro - argumentou. - Desde quando sua mãe está assim?
Jessie fez uma careta, indicando que não sabia responder. Ela rapidamente o puxou pela manga da camisa para a calçada.
Estava apressada e espantada, Casey estranhou o comportamento da amiga.
– O que foi? - quis saber ele.
– Te conto no caminho - Jessie o puxou para a rua. - Agora, vamos!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.