Definitivamente alguma maldição persegue o Harry.

Em poucas palavras: Harry encontrou Malfoy chorando no banheiro, ele não gostou de ter sido pego, os dois duelaram, Malfoy chegou a gritar a Maldição Cruciatus mas Harry foi mais rápido e o atacou com um feitiço do Príncipe Mestiço que ele nem sabia para que servia e que abriu cortes fundos no Malfoy. Foi aí que Snape chegou e parece que desconfiou, porque, depois de curar o garoto, pediu para ver todos os livros do Harry. É lógico que ele não iria entregar, então pegou o do Rony emprestado, mas Snape continuou desconfiado. Resultado: Harry vai ficar detido todos os sábados do trimestre - sob a aprovação da professora McGonagall, que ele diz que nunca viu tão furiosa -, inclusive o próximo, o dia da partida contra Corvinal. E com o Snape. O Snape!

Tudo bem, eu reconheço que foram bem mais que poucas palavras. Mas não dava para evitar o turbilhão de pensamentos que passava pela minha cabeça enquanto eu, Harry, Rony e Hermione ficávamos ali, sentados na sala comunal, sabendo exatamente o que iria acontecer e sem poder fazer nada para impedir.

Não disse uma palavra enquanto Hermione, previsivelmente, dava uma bela bronca em Harry. Minha expressão séria escondia uma preocupação gigante: eu conhecia Harry muito bem para saber que ele amargaria duas vezes mais cada minuto naquela masmorra. Se tinha uma coisa que Harry detestava, isso era deixar os amigos na mão. E justo na partida contra a Corvinal, aquela que tinha exigido tanta dedicação nos treinos.

Falando sobre a partida, eu tinha agora dois problemas. Primeiro: com Harry fora, eu seria a apanhadora, e Dino teria que me substituir como artilheiro; o detalhe é que eu não tinha vontade nenhuma de olhar para a cara daquele machista. Segundo: eu jogaria contra Cho Chang, apanhadora da Corvinal, ex-namorada do Harry e minha rival por obrigação. A situação não estava lá muito boa.

Mesmo assim, eu não conseguia culpar o Harry. Tudo bem: eu sabia que o que ele tinha feito não era legal, mas ele também sabia disso. Harry não era burro de achar que fatiar alguém era um ato de coragem. Se ele soubesse o poder do feitiço, duvido que o usaria.

Era por essa e outras razões que o sermão de Hernione me irritava tanto.

_ Quer parar de falar naquele livro? - pediu Harry aborrecido, depois de meia hora de \"Eu avisei\" e \"Sabia que tinha alguma coisa errada com aquele livro\". - O Príncipe apenas copiou o feitiço! Não é o mesmo que acontecer alguém a usar! E, pelo que sabemos, ele podia até estar anotando algo que foi usado contra ele.

_ Eu não acredito - Hermione insistia em prolongar o assunto. - Você está mesmo defendendo...

_ Não estou defendendo o que fiz! - respondeu Harry imediatamente. - Gostaria de não ter feito, e não só porque recebi uma tonelada de detenções. Você sabe que eu não teria usado um feitiço daqueles, nem mesmo contra o Malfoy - concordei baixinho: era a única coisa que eu tinha certeza, mas Hermione não se alterou. - Mas você não pode culpar o Príncipe, ele não escreveu \"Experimente este, é realmente bom\"... eram anotações pessoais, não é? Não era para mais ninguém...

_ Você está me dizendo - recomeçou ela - que você vai voltar...

_ Para pegar o livro? Vou - disse Harry decidido. Eu gostava daquilo nele. - Escuta aqui, sem o Príncipe eu jamais teria ganhado a Felix Felicis. Jamais saberia como salvar Rony do envenenamento, jamais...

_ Conquistaria a reputação de gênio em Poções que não merece.

_ Dá um tempo, Hermione! - exclamei, finalmente perdendo a paciência. Não era possível que ela ficasse a noite inteira colocando defeitos em tudo. - Pelo jeito, Malfoy estava tentando usar uma Maldição Imperdoável, você devia ficar feliz que Harry tivesse um trunfo na manga!

Ele me olhou agradecido.

_ Bem, é claro que estou contente que Harry não tenha sido amaldiçoado! - retrucou Hermione ofendida. Agora ela era a vítima? - Mas você não pode dizer que aquele Sectumsempra é um trunfo, Gina, olha só a confusão em que meteu o Harry! E eu imaginaria, vendo as consequências para suas chances no jogo...

_ Ah, não começa a agir como se entendesse de quadribol - cortei antes que ela começasse a falar bobagens. - Você só vai se complicar.

Virei de costas para ela e ela fez o mesmo. Já estava furiosa o suficiente.

O silêncio ficou entre nós quatro pelo resto da noite, mas eu ainda podia ouvir a surpresa muda de Harry e Rony em cada palavra que não foi dita.

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Levantei cedo, decidida a resolver todos os problemas que ainda restavam. Encontrei Hermione pelo caminho e ela reconheceu que tinha exagerado: não adiantava brigar, ela era assim. Descemos juntas e passei a tomar medidas já que eu seria a capitã no jogo: eu mesma falei com Dino sobre o jogo. Ele parecia ter esperanças, então não foi sacrifício nenhum ser fria com ele.

Harry e eu chegamos ao acordo de que eu iria substitui-lo. O certo seria Cátia, mas a questão era que eu já tinha virado a segunda em comando ou coisa do tipo para o restante do time. Cátia não se incomodou, então eu assumi o posto.

E vou te contar, não foi nada fácil.

Tive que fazer dois ou três treinos sozinha, porque Hermione avisou - e Harry concordou, meio chateado - que o time precisaria se acostumar antes com a minha estratégia de jogo. Tudo bem: eu tinha aprendido quase tudo com o Harry, mas eu não era o Harry. Eu era Gina Weasley, e eu era diferente dele. Nem tão diferente, como dizia Rony, mas ainda assim...

Além disso, tinha que motivar a equipe. Ninguém estava lá muito satisfeito e todos tinham medo de acontecer de novo a tragédia do jogo contra o McLag... quer dizer, contra a Lufa-lufa. Me saí bem nas três primeiras horas, mas no restante dos dias eu mal conseguia sorrir. As coisas não caminhavam muito bem para o time da Grifinória.

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E o grande dia chegou.

Inacreditavelmente, eu tinha dormido muito bem. Acordei cedo, levantei, pus as vestes, desci e já tinha tomado metade do café da manhã quando Hermione se sentou ao meu lado, surpresa.

_ O que deu em você, Gina?

Sacudi os ombros.

_ Sei lá. O jogo teve efeito contrário em mim hoje.

Hermione analisou, pensativa.

_ No fim das contas, isso é bom - concluiu ela por fim. - Acho que seus jogadores vão precisar de ânimo.

Meus jogadores?

_ Eles não são meus jogadores, Hermione - comentei, franzindo a testa.

_ Obedecem a você, é o mesmo - disse ela se servindo de torrada.

Hermione e quadribol não devem ser misturados de jeito nenhum.

_ OK, então - disse, cortando o assunto. - É melhor nos apressarmos.

Descemos em direção ao gramado. Para a minha surpresa - afinal, faltava meia hora para o começo do jogo -, todos já estavam ali, voando. Quando me viu, Coote mergulhou e pousou bem na minha frente.

_ Olá, capitã - disse ele com um sorriso nervoso demais para ser sincero. - Estamos fazendo um treino pré-jogo.

_ Sei, sei - falei, fechando a expressão numa careta de desgosto. - Só que agora não é hora para treino.

O sorriso de Coote sumiiu completamente.

_ Mas, Gina...

_ Só porque vocês passaram cinco dias sem o Harry vocês já esqueceram de tudo o que ele ensinou? - a essa altura Cátia e Peakes já tinham descido para me ouvir. - Primeiro: não se exibe a qualidade da nossa equipe antes do jogo. Essa é a parte do durante. Segundo: vocês têm que se preocupar com o emocional. Treinos antes do jogo nunca são bons para os nervos. Por isso, chega - e completei, alteando a voz. - Demelza! Rony! Dino! Desçam aqui já!

Rony parou de resmungar na hora quando olhei para ele. Olhando bem para toda a equipe, fiz a pergunta mais básica da história do quadribol.

_ Quem aqui não tomou café?

Eles se entreolharam com caras culpadas.

_ OK, descanso. Nada de treino, e pra mesa do café agora!

Não sei como, mas eu consegui empurrar os cinco com a ajuda de Cátia. Ainda tiveram os resmungos, mas um feitiço do Silêncio resolvia o problema. Suspirei de alívio quando vi um pouco mais de cor naquelas caras.

_ Agora vamos voltar para o treino...

_ Nem pensar, Ronald - cortei. - Quantas vezes eu vou ter que repetir?

_ Mas, Gina - chamou Peakes. - Para vencer a partida...

_ Precisamos treinar - completei. - E nós já fizemos isso. Treinamos. O time da Grifinória vem se dedicando desde o último jogo, toda semana. Não há necessidade de treinos de última hora.

_ Mas nossos treinos... - protestou Rony.

_ ... foram ruins? É, eu sei - afirmei, encarando-o. - E sabe por que? Porque tivemos medo. Porque ficamos convencidos de que sem o Harry não podíamos vencer. Mas nós podemos - falei convicta, encarando cada um naquela mesa. - Não temos como contar com nosso capitão e melhor apanhador, mas podemos vencer esse jogo porque somos uma equipe. Porque Harry nos treinou para isso. Ainda somos o orgulho da Grifinória, e a Grifinória quer ver esse orgulho arrasando lá fora.

Satisfeita com as expressões animadas dos jogadores, brinquei.

_ O problema é que se o orgulho ficar aqui comendo até a hora do jogo, não vai nem sair do chão. Vamos, para o campo!

Saímos os sete, bem mais confiantes que antes. Até Rony ria, dando um soco no ombro de Dino. Nem mesmo o som ensurdecedor da multidão arrancou o sorriso de certeza do rosto do time da Grifinória.

Não tinha percebido quanto tempo tínhamos ficado lá dentro. O tempo que restava era nada mais do que cinco minutos. Corri para o vestiário, passei as vestes por cima da cabeça e apanhei minha vassoura.

_ Prontos? - perguntei, eufórica.

Já podia ver sinais de nervosismo de novo.

_ Relaxem - disse em alto e bom som. - Nós vamos conseguir.

E saímos os sete ao sol da manhã. Madame Hooch já nos esperava. Ela tornou a pedir um jogo justo e se preparou para soltar a goles.

Naquele segundo antes do jogo, olhei para a multidão atrás de mim. E fui tomada por uma emoção muito forte. Eu fazia parte do time da Grifinória. Eu era a esperança de todos ali. Eu teria a responsabilidade, ou parte dela, de vencer aquele jogo.

Não pude evitar olhar também na direção da masmorra fria onde eu sabia que Harry estava encarcerado. E a emoção se tornou ainda mais forte. Eu não podia errar agora.

Ouvi o apito de Madame Hooch. A partida começara.

Firmei o pé no chão e olhei para cima.

_ Essa é por você, Harry.

E me lancei na direção do sol.