Quando Dois Corações Batem Forte

Pensamentos, conclusões e indecisões


– O que foi isso? – Perguntou Kory espantada – O que está acontecendo, Richard?

–Cyborg, procure a localização dessa transmissão...

–Pode deixar – Respondeu Victor, sério.

– eu explico tudo no caminho – Terminou de falar voltando-se para Kory.

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Sangue roubara seus poderes de seu sangue e além de tudo não parecia ter tido um dia tão difícil quanto o dela. Apesar de parecer um pouco cansado, Sebastian não beirava nem de longe a exaustão de Ravena, e a empata sabia que estava com uma séria desvantagem nesse aspecto.

Mas não era disso que precisava. Sabia que possuía um número bem razoável de desvantagens no momento e que não seria um problema conta-las. Precisava de vantagens, ou uma vantagem relevante poderia bastar.

Ela e Sangue estavam a alguns momentos rodando um em torno do outro em busca de uma falha, uma oportunidade ou um simples deslize, como se em algum instante uma vantagem obvia pudesse lhes ocorrer.

‘Tem que haver um ponto fraco’, Ravena pensou consigo, já quase acreditando que a batalha já havia sido perdida. ‘Não, não posso pensar assim!’, esbravejou consigo.

Enquanto tentava de todas as maneiras enxergar um ponto fraco do Irmão Sangue, Ravena quase não percebeu que o mesmo estava atacando, escapando no último segundo de um soco envolvido pela aura negra que Sangue projetava.

‘Não posso vacilar! Outra dessas pode custar o futuro de todo o planeta...’, a empata se censurou.

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Garfield se aproximou lenta e cautelosamente enquanto tentava entender o que se passava na cabeça da garota. Como podia saber a veracidade de tudo aquilo? Não seria mais uma armadilha, uma tentativa de não ser apanhada?

–Não é? – A garota tornou a perguntar, como se implorasse por um retorno. Parecia que aquele dilema lhe corroía a alma, apesar de Gar desconfiar que ela já soubesse a resposta.

–Não... Ele não vai voltar – Fez uma pausa e seu rosto permaneceu sério, quase solene – Sinto muito.

–Não como eu sinto... – A garota resmungou, amargurada.

O metamorfo ficou sem fala. O que poderia dizer? Realmente não parecia estar sofrendo como ela. Permaneceu assim por alguns instantes até que Tara acrescentou:

–Desculpe... É que dói, sabe?

Gar fez que sim com a cabeça. Ele era uma pessoa que realmente entendia o que era sofrer uma perda. Tivera tantas ao longo de sua vida... Até mesmo quando criança sofrera a perda dos pais. Talvez fizesse parte do trabalho, coisa de super-herói, sabe?

Algo ainda o perturbava. Olhou para Tara e sua dúvida tornou-se aparente e clara para si mesmo. Deveria confiar novamente naquela figura? Sabia em seu íntimo que aquelas palavras foram as mais sinceras que já ouvira da ex- titã, mesmo parecendo menos coerentes que as outras já ditas. Talvez fossem mais reais pois refletissem toda a loucura e sofrimento que se passavam no fundo de seu ser, mas não havia como saber. O fato era que tinha que fazer uma escolha, e essa escolha poderia decidir o destino de muita gente.

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Richard estava quieto, mais calado que o habitual, e só os que o conheciam bem poderiam perceber que todo aquele silencio era reflexo da grande inquietude que borbulhava em seu interior.

Já não era a primeira vez, e ele se martirizava por isso, que haviam deixado o inimigo dormir sob o mesmo teto. Havia sido um tolo, sabia disso. Deixara o inimigo real de lado para poder tomar conta de um falso problema. Tara armou a isca e ele, o “pequeno Dick”, havia mordido com uma surpreendente fome. O que o Batman diria sobre tudo isso?

Incrivelmente não estava ligando a mínima para as censuras que iria receber do mentor. Não se importaria de ser novamente taxado de criança, de irresponsável. Não se importaria com nada disso até que os dois titãs estivessem a salvo.

Seus colegas de equipe, amigos e até mesmo sua família corriam grande risco e, por isso, não tinha tempo para ficar pensando previamente em seu orgulho ferido ou em sua perda de prestigio. Tinha que salva-los a qualquer custo.

Apesar de tamanha certeza sobre tantos aspectos, Dick ainda não havia conseguido compreender toda a insanidade de Terra. Ela mencionara Slade e seu possível retorno em sua carta, mas como poderia sonhar em trazê-lo de volta? Não haviam meios bem divulgados para trazer os mortos de volta. É certo que Ravena e Jericó haviam voltado, mas os dois foram casos a parte, repletos de "poréns".

‘Só se ela rezar muito a Deus ou..’, Richard fez uma pausa e sua expressão se fechou, pensativa.

–Deixem os outros Titãs em alerta e preparem-se para chamar reforços a qualquer momento – Sua expressão voltou a ser seria e indecifrável – Podemos precisar de mais ajuda do que eu estava pensando.

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Garfield ainda pensava no que fazer. Apesar de parecer idiota, aquela decisão a respeito de Tara poderia lhe render um aliado ou uma facada nas costas. As consequências extremamente opostas lhe deixavam em uma dúvida extremamente inquietante.

–E porque eu deveria confiar em você, Markov? – Perguntou por fim, em um tom um tanto quanto incisivo.

–Não deveria... – Tara deu de ombros – Não lhe dei motivos para isso.

–Não vai nem tentar me convencer? – O rapaz fez uma expressão confusa por um instante mas logo retomou sua expressão séria de antes.

– Eu poderia dizer, mas acho que você já sabe quais são... – Tara deu um suspiro profundo – Agora o que resta é a parte de escolha. O que fazer, Rapaz-fera? – Perguntou, dando um sorriso irônico ao fazê-lo.

As palavras ecoaram por alguns instantes na mente de Gar. Ainda não tinha uma resposta para o seu dilema e o tempo ia se esgotando cada vez mais, como uma pequena bomba relógio.

Estava ainda emerso nesses pensamentos quando ouviu de longe um estrondo, algo como uma explosão ou algo do gênero. Virou-se de súbito para a direção de onde o barulho fora emitido e se deu conta que o lugar, onde o ar ainda tremeluzia com uma espécie de calor, era onde Ravena estava.

Sem dizer uma palavra e largando todos os pensamentos que lhe atormentavam de lado, correu em direção ao lugar do estrondo.