Eduardo andava pelo escritório acariciando todos os moveis. Tanto tempo longe daqui e tudo está do jeito que eu deixei. Ele sentou-se na cadeira e começou a analisar alguns papeis da finança. O Edgar só fez merda mesmo! Até empresa entrar nos eixos vai demorar mais de seis meses. Jogou os papeis em cima da mesa com força e olhou o retrato de Laura que ele sempre deixou em cima do armário. Suspirou profundamente. Como fui idiota! Voltei com a ilusão de que depois desses meses a minha vida continuaria a mesma. Tenho que seguir em frente! E vou conseguir. Seus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta. Ele pediu que a pessoa entrasse e se surpreendeu com quem era:

— Renata!

— Estou atrapalhando?

— Claro que não. Sente-se, por favor.

— Obrigada. — Agradeceu Renata sentando. — Quis ver com meus próprios olhos que você estava realmente vivo. Não acreditei quando o boato começou a rolar pela cidade.

— Muitos não acreditam ainda. Eu ando pelas ruas e ainda tem gente que reza o pai nosso. — Comentou Eduardo rindo. — Aos poucos a população acostuma com a ideia.

— Está se adaptando com facilidade? Deve ter sido um choque grande para você. Ficar em uma tribo por tanto tempo e depois voltar para cidade.

— Estranhei no inicio sim, mas, acostumei até com facilidade. Mesmo estendo lá eu nunca me desliguei daqui. Principalmente pela Laura. — Respondeu Eduardo tristemente.

— Então já ficou sabendo da Laura e do Miguel, né?

— Já sim. Eles foram os primeiros com quem conversei.

— O que pretende fazer em relação a ela?

— Deixa-la em paz. Eu senti muita raiva de inicio por ter sido trocado. Contudo, depois percebi que era muito egoísmo da minha parte. Eu nunca poderia obriga-la a me esperar. E fico feliz que ela tenha arranjado alguém que goste dela.

— O Miguel gosta mesmo da Laura. Até festa surpresa ele preparou. A Laura tem sorte! Sempre arranja homens que gostem realmente dela. — Comentou Renata. — Você é um cara bonito e bem sucedido! Com certeza vai encontrar alguém.

— Quem sabe? Se tem uma coisa que eu aprendi com tudo que aconteceu é que tudo é possível!

— Tenho que ir. — Disse Renata levantando-se. — Fiquei feliz de ver que você esta tão bem!

— Obrigado pela visita. Volte sempre que quiser.

Renata fechou a porta e sorriu. Eduardo parecia mais lindo do que o habitual. Ela, Eduardo e Laura eram colegas desde pequenos. Passaram todo o ensino fundamental e médio juntos, separando-se apenas quando foram para a universidade. Renata sempre foi apaixonada por seu colega de infância. Contudo, sabia do amor entre Eduardo e Laura e por isso nunca demostrou. Preferiria ter amizade dos dois a arriscar tudo por um amor não correspondido. Só que agora tudo era diferente. Laura estava apaixonada por Miguel e Eduardo estava sozinho. Essa é a minha oportunidade!

Laura acordou com um barulho que vinha do outro lado da rua. Ela levantou e foi até a sala em busca de Miguel. Ao encontra-lo, perguntou:

— Que barulho todo é esse?

— Parece que temos um novo vizinho.

— E precisa fazer esse barulho tudo? Já não fui com a cara deles.

— Para de ser implicante. — Pediu Miguel rindo. — Aliás, você os conhece.

— Como?

— Os nossos novos vizinhos são o senhor e a senhora Ferreira.

— Está falando de Sebastião Ferreira? Aquele latifundiário que tem defendendo uma completa caça aos índios na mídia?

— Exatamente!

— Belo vizinho esse. — Afirmou Laura ironizando. — Sabe por que ele veio para Flores?

— Ouvi boatos de que ele comprou algumas terras. Aí está decido em investir aqui.

— Só espero que ele não exceda os territórios dele. Porque essa região é cercada de reservas ambientais, arqueológicas e indígenas. Se ele colocar um pé nesses lugares... Vai arranjar uma briga feia comigo!

— Relaxa amor! — Exclamou Miguel a abraçando. — Ele não vai fazer isso! Além do mais, esses investimentos vão trazer progresso e lucro para a cidade. Flores tem passado por sérios problemas financeiros.

— Foda-se! O progresso não pode vir à custa da destruição do meio ambiente e dos povos que já sofrem tanto com a marginalização e a pobreza, como os indígenas. Se você quer justificar os atos desse seu novo amiguinho... Fique a vontade! Só não venha com esse papo para mim! — Disse Laura se afastando e voltando para o quarto.