Laura, Eduardo e o cacique saíram da oca e foram até a entrada da aldeia. Uma caminhonete grande e luxuosa estava estacionada. Um homem gordo saiu do carro com certa dificuldade. Os três reconheciam aquela imagem. Laura deu um passo a frente e perguntou desconfiada:

— O que faz aqui seu parasita?

— Não mudou nada mesmo... Laura. A mesma pirralha prepotente e sem educação de sempre.

— Cala a boca! Me responda! Te fiz uma pergunta!

— Vim aqui para negociar. Isso é crime?

— Negociar o quê? — Perguntou o cacique dando também um passo a frente.

— Ora, as suas terras! Estou disposto a dar o valor três vezes maior do que elas valem. Para que viver essa vida tão sofrida se com o dinheiro vocês podem ter a vida que quiserem?

— Nossa terra e nossa cultura não estão à venda! Seu dinheiro aqui não vale nada!

— Por que vocês gostam tanto de complicar a vida?

— Já ouviu o líder, Sebastião. Não tem mais nada para fazer aqui. — Disse Eduardo com raiva.

— Dessa vez a vitória vai ser minha!

— Não mesmo! — Exclamou Laura rindo. — Você sempre perdeu para mim nos embates que temos. E essa vai ser só mais uma perdedor!

Sebastião conseguiu sentir seu rosto ferver de raiva. Que garota prepotente e irritante! Como tenho vontade torcer aquele pescoço até quebrar! Ele colocou a mão na arma que guardava de trás da calça. Mas, logo retirou a mão de lá. Esse não é o momento certo. Sebastião não retrucou Laura, apenas entrou na caminhonete e foi embora. Eduardo olhou para Laura e advertiu:

— Não é bom irrita-lo dessa maneira. Ele tem o pavio muito curto.

— Se você tem sangue de barata... Ótimo! Eu não tenho!

— Você realmente mudou pouco! — Afirmou Eduardo rindo.

— Foi um prazer conhece-lo. — Disse Laura cumprimentando o líder indígena. — Mas temos que ir agora.

— O prazer foi todo meu senhorita. — Disse o cacique. — E novamente obrigado pela ajuda.

— Se cuide! — Exclamou Edgar abraçando o indígena.

— Você também meu garoto.

Os dois se despediram e logo depois entraram no carro e já estavam rodando de volta para a cidade. Laura continuava a observar de forma encantada a cidade. Ela voltou sua atenção para Eduardo e disse:

— Agora entendo porque você está com tanta vontade de proteger aquele povo. Eles te têm como um filho.

— Não é só por isso. — Complementou Eduardo. — Eu costumava só olhar para mim mesmo. Sempre queria que minhas vontades fossem atendidas imediatamente. Só que lá na aldeia eles me ensinaram muito. Eles têm um senso de comunidade e de respeito ao próximo que falta na nossa sociedade. E esse cultura tão rica tem que ser preservada.

— Muito legal da sua parte. Todos são muito simpáticos.

— Como não ser simpático com uma ruiva tão bonita e gente boa como você?

— Faz isso só porque sabe que fico corada rápido! — Exclamou Laura rindo envergonhada.

— Por isso mesmo!

— Seu bobo!

— Sou um bobo muito charmoso.

— Eu diria um bobo que dá pro gasto.

— Assim fico ofendido.

— Tão sensível você! Alguma notícia da Renata?

— Eu liguei mais cedo para ele e está tudo bem. Aliás, ela mudou muito.

— Por que diz isso?

— Ela era mais tímida e muito insegura. Agora ela é uma mulher de atitude e está muito mais confiante na tomada de decisões. E mais linda ainda!

— Senti um cheiro de romance no ar.

— Eu não vou mentir. Ainda gosto muito de você Laura. Mas, acho que estou começando a ter a capacidade de me interessar por outras.

— Com o tempo tudo melhora. Você e a Renata têm tudo a ver! Meu total apoio vocês já sabem!

— Obrigado! Onde e deixo?

— Pode ser no colégio. Vou aplicar prova daqui a pouco.

Sebastião chegou em casa extremamente irritado. Encheu o copo de uísque e ainda com as mãos tremendo, bebeu alguns goles antes de sentar no sofá. Eleonor, sua esposa, se aproximou e perguntou:

— Não conseguiu convencer o cacique a ceder as terras?

— Pior que isso. Aquela Laura e seus amigos estavam lá. Com certeza fizeram a cabeça daquela aldeia. Eles estão agindo rápido! Não posso ficar para trás!

— O que pretende fazer?

— Vou apostar tudo que tenho nesse jogo! Já avancei muito para desistir agora. E prometo que acabo com essa briga. Vai ser um golpe fatal para aqueles ativistas de merda.