Laura podia sentir seu corpo meio dolorido e fraco. Sua visão estava turva e uma dor de cabeça a atormentava. Com dificuldade conseguiu ver que Edgar estava ao seu lado, segurando sua mão. Ela suspirou e perguntou:

— Me fala que tudo é mentira, por favor!

— Infelizmente não. O Eduardo... Ele... realmente morreu.

— Eu tinha que ter sido mais enfática e proibi-lo de ir naquela viagem idiota!

— Você não tem culpa de nada! Coloca isso nessa sua cabeça! Foi uma fatalidade que podia ter acontecido com qualquer um!

— Como vai fazer com o enterro?

— Eu acabei de reconhecer o corpo. Conversei com um amigo meu para agilizar a burocracia toda. O Eduardo precisa descaçar em paz. O enterro será daqui pouco tempo.

— Pega as minhas roupas! Vou me trocar para ir!

— Tem certeza? Você está muito fraca devido à medicação.

Laura o olhou determinada e afirmou com convicção:

— Nem que eu vá me arrastando... Mas eu vou ao enterro do meu namorado!

O sepultamento ocorreu em exatamente uma hora. Amigos, parentes e moradores da cidade de Flores assistiam as palavras do padre. Laura não acreditava no que estava presenciando. Descanse em paz, meu amor! Aos poucos o cemitério foi se esvaziando. Uma mulher vestida de preto se aproximou de Laura e se apresentou:

— Meu nome é Catarina Ribeiro. Sou agente federal.

— Posso ajudar em alguma coisa, policial? – Perguntou Laura confusa.

— Sou responsável pela investigação da causa da morte de seu namorado. Para tanto, preciso fazer algumas perguntas para você e para o seu ex-cunhado também.

— Quantas perguntas quiser! Tudo para resolver essa situação!

— Conhece algum lugar mais discreto para que possamos conversar?

— A minha casa não é muito longe daqui.

— Pode ser. — Disse Catarina, vendo Edgar se afastar. — O senhor tem que nós acompanhar também!

— Desculpe. Não sabia dessa informação. — Disse Edgar.

Os três começaram a andar em silêncio pela cidade completamente florida.

A casa de Laura era simples. Dois quartos, um banheiro, sala e cozinha pequenas. Todos os cômodos bem decorados e arrumadinhos. A professora convidou Catarina e Edgar a se sentarem. Ela ofereceu água e perguntou:

— O que a policial gostaria de saber?

— Inicialmente, vocês sabem se alguém teria um motivo para matar Eduardo?

— Não! Claro que não! — Respondeu Laura indignada. — Eduardo era muito bom! Não fazia mal a ninguém! Acreditam mesmo que alguém poderia ter planejando a morte dele?

— A pericia mais recente mostra que os freios estavam cortados.

— Que horror! Quem poderia ter feito isso?

— Essa é a resposta que iremos investigar. Temos quase certeza que a morte de Eduardo não foi mero acidente.

— Qualquer coisa que precisar, pode falar! Tenho muito interesse em saber quem é esse assassino!!

— Qualquer informação, a senhorita será a primeira, a saber. — Afirmou Catarina. — Alguma informação para acrescentar Edgar?

— Não, nenhuma.

— Assim sendo vou embora. Até breve!

Laura acompanhou Catarina até a porta e sugeriu:

— Melhor ir também Edgar! Quero ficar um pouco sozinha!

— Qualquer coisa que precisar é só me chamar! Temos que ficar unidos nesse momento tão difícil!

— Sei disso. Obrigada por tudo!

— Se cuida moça! — Pediu Edgar beijando-lhe a face.

Catarina soltou seus cabelos loiros para sentir a brisa deliciosa que a seguia. Ela encontrou Miguel encostado na parede de um beco escuro. O agente arrumou os cabelos negros e perguntou:

— Como foi lá?

— Triste! A garota está arrasada!

— Sem sentimentalismo! Quero dados!

— Segundo a namorada ele não tinha nenhum inimigo. Mas, algo me intrigou.

— Diga!

— O irmão dele!

— O que tem?

— Quando falava da morte de Eduardo... A namorada quase esperneava. Contudo, o tal de Edgar não esboçava qualquer reação.

— Acha que devemos ficar de olho nele?

— Acho! Aliás, em todos dessa cidade! — Exclamou Catarina séria. — O que meu pai disse?

— Bom, eu falei com ele todas as informações que tínhamos. O comodante pediu para que a missão 121 seja realizada.

— Missão 121? Pensei que ela nem existisse mais.

— Existe! E esse problemão vai sobrar pra mim!

— Esse tipo de missão é sua especialidade!

— Só espero que todo esse trabalho dê resultados!

Laura acordou com o barulho do despertador. Olhou para o teto branco do seu quarto. Tinha que conseguir seguir em frente. Como superar uma dor enorme dessa? Respirou mais aliviada por não ter que dar aula. Tempo para pensar sobre o que fazer da minha vida! Decidiu dar uma passeio no parque. Quem sabe assim consigo distrair minha cabeça.

O parque estava lotado. Pessoas fazendo caminhada, andando de bike ou comendo fruta direto da árvore. A grama estava bem verdinha e com flores coloridas espalhadas por todo lugar. Laura andava com passos curtos. Fazia calor naquela manhã de domingo. De repente, sentiu uma luz forte sobre seus olhos. Sua visão ficou bem embasada e acabou caindo no asfalto quente. Ao recuperar sua visão, viu que estava toda ralada. Droga!

Um homem se aproximou e perguntou:

— Está bem?

Laura, com dificuldade, levantou sozinha e respondeu rispidamente:

— Como posso estar bem se você meteu o flash da sua câmera na minha cara?

— Foi você que não prestou atenção por onde passou.

— Se tem algum culpado aqui... É você!

— Desconfia moça! — Exclamou o homem exaltado. — Não vem dar uma de vítima que não cola! Daqui a pouco vai me processar por danos morais!

— Grosso!

— Má educada!

— Não vou gastar saliva discutindo com um babaca como você! — Esbravejou Laura afastando-se.

No outro lado da cidade, o bar do Tito estava cheio como sempre. Sentado em uma mesa, que proporcionava uma bela paisagem do lago que percorria toda a cidade, Edgar conversava com Gabriel, seu melhor amigo:

— Pelo menos aqui está mais fresco! Odeio calor.

— Essa morte do seu irmão foi tão repentina!

— Verdade. Foi uma fatalidade.

— Você não parece estar tão sentindo assim.

— Estou acostumado com perdas. Já perdi meu pai, minha mãe... Já nem me choco mais com qualquer perda.

— Fala a verdade pra mim. Essa morte do Edu veio a calhar, não? Tem o caminho aberto para conquista Laura.

— Não vou mentir. A morte do meu irmão foi ruim, mas, abriu portas! Finalmente vou ter ela nos meus braços! Ninguém vai atrapalhar esse meu objetivo! Ninguém!

Laura chegou em casa com o corpo todo dolorido. Jogou-se no sofá e lá ficou por mais de uma hora. Eu mato aquele idiota! Ele ainda me paga! Pegou um retrato de Edu e abraçou. Você faz tanta falta amor! Como queria você aqui de volta pra mim!