Pureblood

Dezessete — Aparições e um chá perfeito.


Após telefonar para Sting sobre o ocorrido daquela manhã, certa de que ele ligaria para Lucy logo depois, Mirajane sentiu como se algum tipo de missão tivesse sido cumprida.

Podia ser intrometida, mas simplesmente não conseguia apenas observar o desenrolar da história de um possível casal que adorava sem dar, vez ou outra, um pequeno empurrão. Pensava que Sting e Lucy formariam um par lindo e era nítido o quão ambos ficavam envergonhados com a presença um do outro; com o tempo, com certeza o amor encheria seus corações e então namorariam, podendo até se casar, tendo filhinhos loiros e bonitinhos.

— Acho que estou sonhando demais... — disse Mira para si própria enquanto pegava um pijama de dentro do armarinho.

Sonhar é o que mantém as pessoas vivas, não é mesmo?

Mas eu... — a albina começou a falar e então, calou-se de súbito. Havia alguém em seu quarto bem atrás dela e não era sua irmã, tampouco sua mãe. Até então, estava completamente só dentro do cômodo... e agora alguém a respondera. Provavelmente estava ficando realmente louca, ouvindo vozes inexistentes. Ah, era só o que lhe faltava... apanhou um pijama roxo e fechou a porta do armário. Virou-se para pegar a toalha que deixara em cima de sua cama e foi como se um choque percorresse seu corpo inteiro. Mira soltou a roupa que segurava, de queixo caído. Os olhos azuis aumentaram de tamanho e a albina esquecia-se até de respirar: em toda a sua vida, jamais vira uma pessoa tão bonita. Se é que era realmente uma pessoa, com aura tão angelical e majestosa ao mesmo tempo; uma luz branca, da cor do vestido que usava a rodeava. Seus cabelos compridos e castanhos eram ultra brilhantes, caindo em ondas até os quadris. Olhos cor de violeta a fitavam em conjunto a um sorriso perfeito...

Pele morena. Cabelos de ondas castanhas. Olhos maravilhosos e violetas... um anjo de beleza invejável e impecável. Aquela garota era Cana.

Cana, a garota da qual Laxus escondia uma fotografia dentro da gaveta, e a garota que fizera Mira chorar de inveja, ciúme; Cana, o nome que Laxus às vezes chamava enquanto dormia. A garota que mesmo enterrada, conseguia provocar confusões em seu relacionamento. Cana, Cana, Cana.

— V-Você...

Alberona sorriu, exatamente como na fotografia que fora tirada num dia fresco de Verão: não fazia esforço algum para sorrir, e na realidade nunca havia pensado em qual seria a melhor versão do próprio sorriso. Era espontânea, e talvez por isso, sempre fosse a mais bela.

— Olá, Mirajane. — a morena curvou o corpo levemente em reverência. Em seguida, emitiu um riso gostoso de ouvir. — Você está com cara de quem acabou de ver um fantasma. — e riu mais uma vez da própria piada. — Ok, essa foi péssima...

A albina ficou de joelhos, abrindo a boca para falar — e desta saíam apenas monossílabas.

— Você... está... morta. — conseguiu dizer por fim, desnorteada.

Cana sorriu.

— Sim, eu estou morta.

— Louca... — falou Mirajane começando a chorar sem perceber, com medo. — Eu estou ficando louca! Eu estou tendo alucinações!

— Não, não... — o espírito a abraçou, fazendo a moça sentir arrepios percorrendo seu corpo por inteiro. Aquele toque era tão surreal e verdadeiro ao mesmo tempo que lhe causava uma imensa confusão mental. — Estou aqui de verdade... calma, calma.

A albina não conseguiu mover um músculo, sentindo de repente um medo crescente daquele ser majestosamente iluminado. Medo, medo depois de se lembrar de todas as vezes em que agradeceu por Cana estar morta. Por todas as vezes em que desejou ser tão bonita quanto ela e mordia o próprio braço de raiva.

— Eu não vou te machucar, então não há o que temer.

Mirajane se surpreendeu.

— N-Não?

Cana a levou consigo assim que levantou, para que pudessem ficar face a face.

— Como uma pessoa morta poderia te machucar? — havia uma tristeza oculta no que falou com a intenção de ser engraçado. A morena riu sozinha e pôs uma mecha daqueles cabelos claríssimos atrás de sua orelha e pressionou os lábios doces e levemente úmidos sobre sua testa; uma atitude completamente inesperada, tendo em consideração seus sentimentos por Alberona até então, — raiva, ódio. Energias negativas que lhe enviava. Como podia ser tão gentil?

— P-Por que...

— Cuide de Laxus. — disse o espírito. — Você é capaz disso.

No momento, tudo o que a albina pôde fazer foi assentir com a cabeça, vendo-a se dissolver lentamente na frente de seus olhos.

— Ah, e não se preocupe. Depois de tudo, você terá um final feliz para sempre. — prestes a desaparecer, a morena continuou a frase, mas não pôde ser ouvida. — Enquanto durar...

Se não tivesse outra coisa a fazer naquela noite, Cana teria conversado um pouco mais com Mirajane; outras oportunidades surgiriam, portanto não era um problema.

Mirajane se viu sozinha no quarto mais uma vez, fitando a parede. Sua irmã mais nova, Lisanna, bateu na porta. O cômodo também lhe pertencia, mas Lisanna sempre batia na porta antes de adentrar. A mais velha não respondeu.

A menor abriu uma fresta da porta e a chamou várias vezes antes de, finalmente, entrar e ficar em sua frente.

— Mirajane! — Lisanna pôs as mãos nos quadris, no entanto, sua postura mudou ao perceber a palidez no rosto da irmã. — Mira, você está bem? Mira...?

— Sim. — respondeu a moça, falando quase roboticamente. — Quer tomar banho primeiro?

— Pode ser. — Lis deu de ombros e se dirigiu ao pequeno armário que ambas dividiam para guardar as roupas. E como possuíam o mesmo tamanho, não era raro viverem com os pijamas “trocados” ou pegarem blusas, calças e sapatos emprestados.

Lucy rezou para Deus e beijou a Howlita, desejando do fundo do coração que pudesse encontrar-se com Cana naquela noite. Precisava falar com ela, obter respostas. Até adormecer, a loira pensava em seu desejo com fé intensa, sem saber quando começou a sonhar.

Uma Olívia aparentando ter treze ou quatorze anos de idade apareceu. Agora já com uma aparência saudável e bem-cuidada, a garota ficou de queixo caído quando foi conduzida para dentro de uma mansão incrivelmente luxosa por um casal; um homem de cabelos castanhos e uma moça ruiva e adorável. Ambos vestiam-se com roupas simples e um sorriso maravilhoso no rosto, enquanto Olívia simplesmente parecia incrédula com tudo aquilo. Ela carregava uma mochila grande nas costas.

“Aqui é a sua casa a partir de agora, Olívia.” Disse a mulher ruiva. “Seu quarto é lá em cima ao lado do nosso. Venha, o decoramos com carinho e esperamos que goste!”

A cena mudou para a sra. Dragneel, possivelmente um pouco mais velha do que antes; observava escondida o casal que a levara para a casa de luxo, seus... pais adotivos?

“Honoka...” o homem de cabelos castanhos abraçava a moça ruiva, esta soluçando em prantos. Tão triste que mal aparentava ser a mesma mulher da cena anterior, com um brilho surreal no olhar e sorriso largo. “Nós dois sabíamos que seria difícil.”

“S-Sim, mas...” murmurou Honoka. “Ela me odeia, Gerald. Ela não diz, mas eu sei que não gosta de mim.”

Gerald beijou o alto da cabeça da esposa.

“Ela não te odeia.” respondeu ele. “Só precisa ser paciente, meu amor. Não tente forçá-la, porque isso só vai a afastar ainda mais.”

Lágrimas escorreram pelo rosto de Olívia ao lembrar do ocorrido há poucos minutos, durante o jantar. Mais uma vez, Honoka tentara fazer com que ela a chamasse de mãe. Olívia realmente gostava da moça e era grata por tudo o que dela recebia, porém simplesmente não conseguia dizer mãe sem visualizar uma vaga lembrança que envolvia cachorrinhos feitos de balão, e destruía ver a ruiva triste daquele jeito.

— Eu não te odeio, sra. Honoka... — sussurrou a garota para si mesma e, ao choro, trancou-se no quarto.

Lucy caminhava descalça sobre a grama baixa e bem verde, com um vestidinho branco de tecido leve; sentia o sopro do vento fazendo cócegas em seu rosto à luz do céu estrelado. Quando vivia em Rosemary, sempre ia com suas amigas — e Cana — brincar naquela pracinha. A pequena praça possuía um parquinho com brinquedos iluminados pelas lamparinas que a cada semana mudavam de cores: era divertido adivinhar qual seria a próxima combinação e quem havia pintado.

Havia um balanço com dois lugares ao lado do gira-gira; a loira avistou Cana com o mesmo vestido branco balançando-se devagar enquanto sorria para ela. Aquilo a fez apressar o passo e quando finalmente ficou em sua frente, a morena se levantou.

— Quer que eu te balance, Lucy? — perguntou ela, sorridente. — Eu sinto falta de fazer isso.

Lucy sorriu de volta, permitindo uma lágrima escorrer por seu rosto. Também sentia falta de quando achava impressionante o quão alto Cana podia fazê-la subir... e de quando riam juntas naquele mesmo parquinho. De todos os bons momentos que passaram. A loira sentou-se no banco do balanço e então, ouviu a mais velha começar a falar.

— Eu lhe mostrei coisas que foram demais pra você. — disse ela, confirmando o que Lucy já sabia: as cenas de Olívia eram um passado real que Cana a fazia ver. — E você está se perguntando o porquê. Por isso está aqui, agora.

— É tão triste... — falou a loira, angustiada. — Eu nunca pensei que uma pessoa como a sra. Dragneel, bem, pudesse ter passado por coisas tão horríveis.

— Todos nós carregamos algo conosco, Lucy. — respondeu a mais velha. Lucy engoliu em seco. — Mas cabe a nós o que mostramos disso para os outros.

A garota ficou em silêncio enquanto os cabelos louros balançavam de um lado para o outro.

— Mesmo que seja algo forte, eu tinha que te mostrar. — continuou Cana. — Você precisa entender com quem está lidando.

— É parte da... minha missão? — perguntou a loira, de olhos fechados para aproveitar a sensação de balançar no brinquedo.

— Sim.

— Entendo... — disse Lucy. — Na verdade, você sabe que eu não entendo.

A morena riu baixinho.

— E eu sei que um dia você entenderá.

Uma música agradável invadiu o ambiente, como a de uma caixinha de música. A loira sentia-se sonolenta e em paz, ouvindo a calmaria dos próprios batimentos cardíacos.

— Eu amo você, minha pequena. — ouviu antes de voltar para o mundo físico onde um dia vivera com Cana.

Após todo aquele tempo sem a sra. Dragneel, vê-la foi algo bom demais e ao mesmo tempo, deixava Lucy com um aperto no coração. Olívia era a mesma pessoa de antes e no entanto, algo parecia ter mudado na forma como a criada a via depois de compreender seu passado.

— Soube que você não se sentiu bem ontem, querida. — disse a sra. Dragneel. — O que houve?

A loira forçou-se a sorrir, triste por ter descoberto um pedaço do passado da patroa e não poder... conversar sobre isso com ela. Não podia demonstrar que sabia de algo.

— Eu só estava um pouco cansada.

— É, mas deu o maior susto em todo mundo! — Mira fez biquinho e Olívia e Lucy riram.

— Ah, querida, os biscoitinhos estavam ótimos. — sorriu Olívia. — Já comi todos eles... acho que vou ter que fazer alguns exercícios. — disse de brincadeira, buscando alguma gordura em sua barriga para apertar, mas nada pôde ser encontrado.

As moças riram e daquela vez, a mãe de Natsu resolveu subir as escadas para acordá-lo para tomarem café da manhã juntos; talvez se o sr. Dragneel tivesse enviado algo mais do que uma mensagem de texto desejando feliz aniversário, Olívia teria deixado o filho dormir um pouco mais como o habitual.

Natsu esperava Lucy adentrar o quarto fingindo ser um cadáver, e surpreendeu-se ao ouvir a voz da mãe.

— Filho... — disse ela, parecendo estar ao pé da cama. Olívia riu e destapou os pés do rosado, que já sabia o que lhe aguardava.

Natsu começou a rir desesperadamente enquanto recebia as cócegas, mas isso não significa que estava achando divertido. Quando recebemos cócegas, rimos com vontade de chorar; é incrível como a sensação é horrorosa e no entanto, damos risada.

— Mãe... — dizia ele em meio aos risos. — Por f-fav...

Ria tão alto que era possível ouvir do andar de baixo.

— Acorda, meu preguiçoso! — brincou a sra. Dragneel. — Quero tomar café com você! — e atirou-se em cima dele, beijando-lhe a cabeça.

Mãe e filho desceram juntos depois do rosado lavar o rosto, e este ficou um tanto sem graça ao ver Lucy. Sentia uma estranha vontade de conversar com ela, porém havia planejado fazer isso assim que ela fosse acordá-lo.

— Bom dia, sr. Natsu. — cumprimentou ela fazendo uma tímida reverência.

— Oi. — murmurou ele, tornando a fala quase inaudível, e se sentou na mesa já dando bons goles no achocolatado que tanto amava.

Heartfilia observava, para variar, Sting enquanto limpava o vidro das janelas da mansão. Estava um pouco frio lá fora e mesmo assim, o loiro continuava com sua camiseta de manga curta. Empurrar o cortador de grama por aquele terreno extenso lhe fazia sentir calor e de vez em quando, ele — sem saber que Lucy estava olhando — erguia levemente a vestimenta, deixando seu abdômen musculoso à mostra.

Seus olhares se encontraram e não sabia-se qual dos dois estavam mais constrangidos; ambos viraram a cabeça para um lado enquanto sentiam o rosto quente. Lucy decidiu não olhar mais nenhuma vez para evitar ter pensamentos impuros e Sting não ergueu mais a camiseta, com medo de aparentar ser um pervertido que queria exibir o próprio corpo.

Depois de finalizar o serviço, a criada começaria a recolher a roupa suja para pôr no cesto e posteriormente, na máquina de lavar; pegou as de Olívia no banheiro de seu quarto e em seguida, bateu na porta de Natsu.

— Senhor. — falou Lucy baixinho assim que este apareceu. — Eu... eu posso entrar? Vim recolher a roupa.

O rosado abriu caminho e fechou a porta atrás dela; a loira estremeceu, caminhando até o banheiro e por fim colocando as roupas dentro do cesto. Quando retornou, percebeu que os olhos escuro-esverdeados a fitavam por debaixo dos cabelos róseos. Corou instantaneamente.

— H-Há algo de errado, senhor? — gaguejou, nervosa por estar sendo olhada tão fixamente. Seus olhos a deixavam tonta.

— Melhorou?

— Hum? — ela não escutara devido ao volume baixo que Natsu utilizou para falar.

— Se você melhorou.

— Ah. — Lucy olhou para o chão. — Sim.

— Hum.

Como não parecia haver mais nada para dizer, a criada andou em direção à porta segurando o cesto de roupas. Prestes a sair, Lucy virou-se de súbito para ele. Como era mal educada, pensou.

— Senhor. — com as bochechas vermelhas, deu um sorriso tão bonito que Natsu não conseguiu sequer ter uma reação. — Obrigada por sua preocupação!

O rosado não sabia, mas seu rosto havia ficado completamente corado.

— Eu não... — começou a falar com uma pontada de irritação e depois calou-se, ficando de costas para ela ao sentir um tipo de calor do qual não estava acostumado. — .

Lucy emitiu um risinho acanhado antes de sair, deixando-o a fitar a parede. Merda, merda, merda! pensava ele, frustrado por sentir que seu rosto continuava ficando quente. Não fazia ideia do que estava acontecendo consigo.

A criada quase foi atropelada por um vulto de cabelos negros na escada.

— Desculpe, querida! — gritou a sra. Dragneel, já correndo pelo corredor. — Por favor, venha aqui no quarto depois de colocar as roupas na máquina!

— S-Sim, senhora! — respondeu a garota, apressando o passo enquanto se perguntava o porquê da patroa pedir para que ela fosse em seu quarto. Mira estava mexendo no celular barato, — o que de vez em quando fazia quando não estava na hora de preparar alguma refeição —, aparentemente trocando mensagens de texto com alguém. Havia uma tristeza em seu olhar, porém Lucy estava tão avoada que mal percebeu.

— Mira, o que acha que a sra. Dragneel quer comigo em seu quarto? — perguntou a loira, fazendo Mira retornar à realidade num instante.

— Desculpe. — sorriu a albina. — Eu não ouvi o que você disse.

— A sra. Dragneel subiu as escadas correndo e quer que eu vá ao quarto dela. — respondeu Lucy.

Mirajane deu de ombros.

— Não estou sabendo de nada. Parece que você precisará ir até lá para descobrir.

Heartfilia então, bateu na porta antes de entrar.

— Pode vir, querida! — escutou a voz abafada de Olívia de dentro do quarto. Ao adentrar, viu dois conjuntos de roupas postas lado a lado sobre a cama de casal. O primeiro era uma blusa quentinha rosa-bebê com uma saia de cintura altíssima, decorada com brilhinhos discretos. A saia ia um pouco abaixo dos joelhos, e o salto alto era simples e de cor clara; o segundo conjunto era um vestido azul-claro não muito curto debaixo de um casaco bege que também possuía brilhinhos. A altura do salto era um tanto exagerada, e este parecia-se um bocado com o outro. De qualquer forma, Lucy estava encantada com a beleza daquelas roupas.

— Escolha qual roupa vai ficar melhor em mim enquanto eu falo com Mira, certo? — disse a sra. Dragneel já saindo do cômodo, sem dar quaisquer outras explicações.

Por que será que ela estava tão apressada daquela maneira? De qualquer jeito, tentava pensar em qual visual ficaria mais bonito na patroa até chegar na conclusão de que ela era elegante e bela independente do que vestisse. Porém, a criada teve a sensação de que esta não seria a resposta que Olívia queria ouvir... vamos lá, vamos lá. Precisava escolher um conjunto... ah, por que é que tinha de fazer aquilo? Particularmente, não pensava ter qualquer noção de moda; em toda sua vida, nunca tivera muitas opções de vestimenta... como saberia o que era realmente bonito e o que não era?

— Filho, se arrume rápido! — falou a sra. Dragneel, escancarando a porta do quarto ao lado. Ela já havia subido do último andar? — Sua tia está para chegar!

Ofegante, as mãos de Olívia tocaram seus ombros como num passe de mágica. A loira poderia ter sofrido uma parada cardíaca pelo susto.

— Escolheu?

— Que susto, sra. Dragneel! — exclamou Lucy, colocando as mãos sobre o peito. Olívia riu.

— Desculpe, desculpe. — disse. — Eu estou com muita pressa porque a Umizinha virá daqui a pouco para tomar chá e eu havia me esquecido completamente, que coisa horrorosa! Ah, Umizinha é a esposa do irmão do Igneel. Ela é simplesmente um amor! Espero estar pronta para quando ela chegar... hm, você já decidiu meu look?

— B-Bom, não ainda... — respondeu a loira, zonza pela rapidez das palavras da patroa.

— Eu vou tomar um banho bem rapidinho enquanto você decide, ok? Ok. — Olívia trancou-se no banheiro, ligando o chuveiro logo em seguida. Lucy respirou profundamente.

Por fim, a sra. Dragneel acabou vestindo a blusa rosa-bebê e a saia com brilhinhos. Estava tão impecável que Lucy não pôde compreender o motivo da patroa ainda querer se maquiar. Com um visual daqueles, mal se reparava em maquiagem... bom, ao menos ela. Não sabia como era Umi, tia de Natsu.

— Então como estou? — disse Olívia brincalhona, girando sem sair do lugar.

A criada bateu palmas.

— Está maravilhosa, sra. Dragneel. — a patroa riu e decidiu verificar como Mirajane estava preparando o lanchinho na cozinha; a loira ficou encarregada de saber se Natsu já estava pronto ou não, considerando que Umi podia chegar a qualquer momento....

O rosado surgiu no corredor, fechando a porta atrás de si. Jeans escuros, suéter cinza e sapatos bem engraxados. Os cabelos continuavam bagunçados, porém não cobriam-lhe os olhos; olhos que encararam Lucy. Ela corou e sentiu-se tonta quando ele passou por ela exalando um cheiro gostoso de perfume masculino.

— Que cheiro bom... — pensou alto e quando se deu conta de que Natsu ouvira, pôs as duas mãos na boca, envergonhada. O rapaz virou-se e se aproximou dela, paralisada. Natsu se curvou como que para que Lucy sentisse seu perfume um pouco melhor e inalou o cheiro doce de seu pescoço.

— E aí?

— É-É muito b-bom... — tagarelou a loira. — M-Muito bom mesmo, o-o senhor está de parabéns... — e desejou ter ficado calada.

— Hum.

Natsu desceu as escadas e deixou-a ali, petrificada pelo o que havia acabado de acontecer.

A sra. Umi McGarden era absolutamente perfeita. Cabelos castanho-claros e encaracolados nas pontas, olhos azuis tão claros que aparentavam ser de um tom mais cinzento. Era tão fina quanto a sra. Dragneel, segurando a pequena xícara de chá como se estivesse bebendo-o com a rainha da Inglaterra.

— É muito gentil de sua parte ter vindo me visitar, Umizinha. — sorriu Olívia.

— Sem problemas. — respondeu Umi, sorrindo somente o necessário. — E desculpe por ter vindo sozinha. Haru está em viagem, Levy estava tão ocupada com seus estudos que não quis que se desconcentrasse. E deixei Wendy com a babá, ela está um pouquinho doente.

— Não precisa se justificar. — a patroa de Lucy riu. — Mas é uma pena, sinto falta de Haru e minhas sobrinhas, são tão fofas! Levy está se esforçando bastante, não?

— Sim, isso deixa Haru e eu muito orgulhosos. — a sra. McGarden mordiscou um biscoito. — E você, Natsu? Como está na faculdade?

— Uma maravilha. — respondeu ele, sem grosseria em seu tom de voz, porém havia um sarcasmo oculto.

— Que bom, querido. Estou certa de que você terá um futuro tão brilhante quanto o de seu pai.

Se pudesse, o rosado reviraria os olhos até que pudesse enxergar o próprio cérebro.

— Desejam mais chá, senhores? — perguntou Lucy com doçura, segurando o bule. Seu olhar se encontrou com o de Natsu e ela o desviou de imediato, corando.

— Sim, obrigada. — respondeu Umi, olhando-a vez ou outra como se fizesse uma análise mental de sua aparência. — Como se chama?

A loira demorou a perceber que estavam falando com ela.

— Meu nome é Lucy, senhora. — disse, fazendo uma reverência. — Estou ao seu dispor.

— Ela é bem-educada, Olívia. — comentou a mulher, bebendo um gole do chá. — E pelo o que vejo, faz um bom serviço.

— Sim, sim. — respondeu Olívia com um sorriso. — Ela é uma boa garota.

A loira sorriu consigo mesma, feliz por ser elogiada pela sra. Dragneel. Gostava muito dela e era bom saber que o sentimento era mútuo. E depois, tentou imaginar como seria a filha de Umi, Levy; prima de Natsu e muito amiga de Scarlet. Vez ou outra, escutava aquele nome, porém nunca conhecera Levy... será que era como a mãe?

Enquanto isso, o rosado evitava fazer uma careta ao tomar um pouco do chá. Definitivamente, aquela bebida não era sua favorita. E Olívia o incentivava a beber um pouco mais, pois segundo ela, fazia muito bem para a saúde. Ok.

— Lucy, querida, pode servir um pouco mais para Natsu? — pediu a sra. Dragneel, estendendo-lhe a xícara. A criada estava sem o bule, o que era um pouco estranho.

— Sim, sim... o-oh, que descuido o meu! — Lucy tentou agir naturalmente. — Me esqueci do bule na cozinha. Vou buscá-lo, sim? — e rapidamente, foi até a cozinha com a xícara do rapaz nas mãos.

Mirajane estava terminando de misturar o achocolatado em pó com o leite utilizando uma colher e a loira sentia-se uma total criminosa.

— A sra. Dragneel irá ficar brava se descobrir que fizemos isso... — disse ela, amedrontada.

— Vai nada, vai nada. — respondeu Mira, colocando um pouco do achocolatado dentro da xícara com o maior cuidado. Parecia um ser maligno. — Olívia só está forçando ele a beber chá porque está com Umi, e ela acha essencial tomar chá todos os dias. Pela carinha que o bebê fez, ele não vai aguentar muito mais. Leve lá, por favor.

— T-Tomara que não desconfiem... — murmurou a loira, nervosa. Discretamente, se aproximou da mesa enquanto as duas mulheres conversavam e colocou a xícara na frente de Natsu.

Senhor... a ideia foi de Mira. — sussurrou, e saiu devagarinho. Quando o rosado notou que o que havia dentro da xícara não era chá, sentiu uma imensa vontade de rir mas não podia fazê-lo. Sorrindo internamente, evitou tomar tudo de uma vez para não levantar suspeitas.

Flare Corona colocara na cabeça que seu namorado gostaria muito mais dela se percebesse que ela possuía excelentes dotes culinários. Nunca preparara nada na vida e como dispensava ajuda de Yukino, parecia que a cada tentativa o bolinho ficava ainda pior. Flare imaginava que assim que recheasse-o um pouco com maconha, certamente o gosto ficaria melhor, mas não podia testar a teoria em seu cobaia também conhecido como Rogue Cheney. O guarda-costas que tanto odiava e agora era obrigado a experimentar aqueles pedaços de Inferno.

— Eu vou enfiar esse negócio na sua garganta, você ouviu? — rosnou Flare enquanto tentava fazê-lo provar de mais uma tentativa.

— Desiste de cozinhar! — respondeu ele, segurando-a com seus braços altamente musculosos, típicos de um guarda-costas. — Esses bolinhos são horríveis, ho... — a ruiva aproveitou-se do momento em que ele abriu a boca para falar para jogar o doce ali dentro, conseguindo se desvencilhar de seus braços.

— Engole! — e cobriu a boca dele com ambas as mãos para que ele não pudesse cuspir. Rogue franziu as sobrancelhas, furioso. Mal via a hora daquela estúpida desistir de fazer algum doce que prestasse para agradar Natsu Dragneel, outro idiota.