Por sermos de salas diferentes, nos encontrávamos quando o sinal batia. Na maior parte do tempo, era Sanji que chegava primeiro e ficava me esperando no portão.

Ele acenava feliz, me chamando. Usava o suéter rosa de sempre em cima da camisa do uniforme. A mochila era uma pasta de couro como os sapatos, exatamente conforme a escola desejava. Portanto, não era muito diferente de mim, tínhamos que seguir as regras e nos vestíamos como os demais, mas tenho quase certeza que o suéter era um indício de sua personalidade.

Rebelde.

E Rosa estava longe de ser uma cor rebelde, eu ria quando me ligava nisso. Contudo, tenho certeza que Sanji pensou nos mínimos detalhes; caso algum garoto um dia usasse um suéter, provavelmente seria um marrom como o couro do sapato e a pasta lisa eram.

Sanji era diferente.

Se os alunos pudessem, com certeza haveria botons e chaveiros numa mochila de verdade nada a ver com aquela pasta. Tênis caro e quem sabe um brinco — confesso que as vezes tenho vontade de furar minha orelha.

— Demorou, marimo, se perdeu por acaso?

Ele sorriu para mim, tirando sarro, mas eu só pensava que era muito bonito. Aposto que ele seria o mais estiloso, do tipo que anda com fones de ouvidos.

— Você não é obrigado a me esperar.

— Te esperando? Quem você acha que é?

Ele ficava lindo constrangido também.

— Sobrancelhas, por que tá aqui, então?

— Pra eu ver sua cara medíocre quando sai dessa prisão.

Dessa vez nós dois rimos e resolvemos seguir o caminho para um lugar mais interessante. Um lugar sem uniformes e regras. Um lugar sem repressão.

E era nada convencional e até mesmo perigoso; ficar sozinho de noite na ponte da cidade observando o rio podre correndo lá embaixo. Ouvindo os carros também podres correndo na pista. O peso do corpo caindo no parapeito, a ideia de pensar em se jogar surgindo na cabeça.

Sanji apertou minha mão e eu "acordei" desses pensamentos.

Olhei para o lado, ele tinha um cigarro nos lábios. Se eu que não fumava achava um saco aguentar o tempo integral do colégio, imagina pra Sanji que era fumante e, claro, era diferente.

Destoava de todos como agora que segurava a minha mão com mais um sorriso lindo.

A ideia de se jogar sumira completamente e quando voltei a olhar pra frente, me encontrei com a lua.

Eu me ative ao rio e aos carros, mas a beleza da lua só havia percebido naquele momento.

"É contra as regras se apaixonar por um garoto?" — Passou na minha mente adolescente, entrando na puberdade.

Mas como Sanji era rebelde, ele não hesitou de me puxar para um beijo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.