Prólogo de Hans

Gulag Orkestar: Capítulo final da minisérie


"O Rei está morto... Vida Longa ao Rei...."

Era o que se ouvia nas ruas de Københavni, capital de Sydlige Øer, As Ilhas do Sul.


Hans entrou pelo Hall dos Reis, parte do conjunto arquitetônico que constitui o Palácio de Amalienborg.


Lamurias e murmúrios contidos eram tudo que se podia ouvir.


olhou em volta.


No salão corredor coberto de lindos quadros de óleo sobre tela e afrescos que iam até o teto, Jaziam seus familiares reunidos, alguns muito próximos, como as esposas de Klaus (e futura Rainha consorte), Grant e Fredbjorn, bem como suas filhas, ainda muito novas para entender.


Uma baixinha de óculos fundo de garrafa e cabelos castanhos como avelãs, com um vestido muito simples para ser da realeza, porém muito bonito para ser de uma comum, se aproximou nervosamente de Alexander que parecia estar a olhar para o nada.

Hans notou que as mãos dela tremiam enquanto esta abraçava algo parecido com um grande livro.


–Minhas condolências... Principe Alex... ahn digo, a-alteza! - Sua voz tão baixinha que quase parecia um murmúrio.


Alexander se virou e a olhou de cima abaixo.


–Quem é você? Esse espaço é apenas para amigos e familiares do falecido!


De repente ela começou a se contorcer e mudar de cor, fez uma reverência e saiu correndo com seus óculos e seu livro. Hans se perguntava como algumas pessoas conseguem ser tão patéticas.


–Tio Hans!


Era a princesa Giovanna, filha mais velha de Klaus e Emanuelle Tommaso. Ela tinha os olhos marejados . Ela o Abraçou bem forte. Pegando-o de surpresa.

Hans não era o tipo que se importava realmente com crianças, mas ele sempre teve um certo carinho por Giovanna a quem ele chamava carinhosamente min lille havfrue*1, talvez isso se devesse em parte pelo facto de o Falecido Rei Frederico ser especialmente frio e indiferente com a pequena, uma vez que de todas as suas netas, ela era a única que parecia ter herdado os olhos verdes da avó Sofia. Os mesmos olhos de Hans.


–Oh... Não chore! O que foi? Você já é uma princesinha de 12 anos, quase uma moça!


–Eu tenho 13 tio...


Hans fez uma careta.


–Ah... assim você me faz me sentir ainda mais velho!


Hans viu que se aproximavam as suas outras sobrinhas.


Frederica, segunda filha de Klaus, Isabel, filha de Fredbjorn e as mais novas Sofia, Charlote e Amélia. As filhas de Grant. A quem Hans chamava secretamente de den Pest rotter.

Um homem com um Nariz recto longo e olhos pequenos e melancólicos as observava enquanto conversava timidamente com Emma, a futura Rainha.


–Meninas, eu sei que vocês estão impressionadas, mas não chorem... Já sei, venham comigo!


Hans puxou Giovanna para uma câmara em separado onde ficava a biblioteca pessoal da família. Ao adentrar na sala viu que a baixinha de cabelos avelã que falava com Alexander estava sentada em uma das mesas aparentemente chorando.


–Bem, seja o que for não é da minha conta...- murmurou.


Hans pegou uma das escadas móveis enquanto as princesinhas o observam curiosas. Pegou um livro bem velho do alto de uma das estantes.


–Que livro é esse Tio Hans?- Giovanna perguntou.
–Maravilhas do Conto Iídiche! Viktor costumava ler para nós quando eu era mais novo que vocês!


Ele abriu e cheirou suas páginas. Hans adorava o cheiro de carvalho que exalava de livros antigos.


–Sentem-se e fiquem comportadas, o nome dessa história é A estrela que ficou!


Hans pigarreou, respirou fundo e tentando parecer o mais solene possível...


–Era uma vez milhões e milhões de estrelas espalhadas pelo céu. Havia estrelas de todas as cores: brancas, amarelas, prateadas, cor-de-rosa, vermelhas, azuis!


Enquanto o Príncipe narrava, os olhos das princesinhas começavam a secar e de suas boquinhas suspiravam pequenos Oh! e ahs! De facto, mesmo ele se surpreendeu ao ver como o velho conto judaico funcionava bem quando narrado. Logo as crianças não mais se lembravam da dor e da tristeza do mundo dos adultos.


Hans se perguntava por que sua lábia não podia trazer tal conforto para si mesmo, talvez fosse a sina de todo dom.


–Olharam então para a terra, mas a estrela verde, da esperança, já não estava só. A terra estava outra vez iluminada, com luzes em todas as janelas, porque ardia uma estrela no coração de cada ser humano...


Parou. Percebeu que enquanto narrava, a sua plateia crescera a medida que a Baixinha chorosa, o estranho homem de olhos pequenos e Emma, a futura rainha, se juntaram as princesinhas. Um dos servos do palácio parou na entrada do salão.


–Altezas, a cerimônia já vai começar. As portas da Igreja de Mármore se abrirão para as últimas homenagens da família ao Rei!


–Vamos meninas! Obrigada tio Hans!- Giovanna flexionou os joelhos enquanto segurava sua longa saia negra, sendo imitada pelas primas que saiam em procissão.


–Não tem de quê!- Hans devolveu com uma singela reverência enquanto piscava um dos olhos para a esposa do irmão. Emma sorria sutilmente para o príncipe.


–O senhor é um Grande contador de Histórias, Alteza! Possuíste a prosa de um bardo!


Hans olhou para o Homem de olhos pequenos e se perguntou a quanto tempo ele estava lá. E dando seu melhor sorriso retrucou.


–Grandes lideres e grandes mentirosos tem isso em comum... Senhor?


–Hans- respondeu o homem - Meu nome é Hans Christian Andersen, Poeta e escritor graças a misericórdia dos Céus, Alteza!


Ele inclinou a mão para o príncipe, que apenas a olhou sem jeito. Se dando conta da quebra de protocolo Andersen imediatamente recolheu a mão em singela reverência.


–Minha sobrinha ama seus livros! Pra falar a verdade a família toda! Vejo pelos seus modos que o senhor não está acostumado com os protocolos da corte...


–Sim, sou de família humilde, Devo muito do que sou hoje ao vosso Pai, que Deus o tenha em seu descanso eterno!


–Bem, lhe desejo sorte em sua prosa, que as musas lhe façam jus do nome!


Hans retirou-se da sala seguindo para fora do palácio. Andersen o seguia.


–O príncipe não vai prestar condolências ao falecido Rei?


–Não. Ele já tem os filhos dele para isso.


Franziu a testa, seus olhos pequeninos expressando confusão. Enquanto um dos Servos de prontidão a porta lhe trazia seu chapéu e o colete enquanto anunciava que a carruagem do príncipe já fora solicitada.


Hans acenou para o cocheiro e, antes de se recolher em sua carruagem, virou-se para o Poeta.


–Não me entenda mal, com o tempo o senhor irá notar que nessa família eu sempre sobrei à margem de todos!


E fechou a porta. Enquanto via a carruagem se afastar, Andersen teve a ligeira impressão de que uma estrela faltava no céu.


Hans estava decidido. Desde pequeno sonhava com esse dia. Pensou em ir até o velório e xingar o falecido rei, botando pra fora todo o ódio que sentia. Pensou em por fogo na igreja com todos os seus 12 irmãos e parentes dentro, para assim se tornar o novo e legítimo herdeiro.


Pensou mil coisas antes de finalmente decidir por simplesmente por os pés para fora e comemorar a morte do homem que o oprimiu e amaldiçoou por anos. Ele estava livre... Livre e só, mais uma vez.


"O Rei está morto vida longa ao Rei!". Alguém gritava em uma esquina.


E Hans saiu pela noite sem destino. Percorrendo todos os Cafés, bares, teatros e cabarets de Stockholm a Nantes. Se deixando perder por ruas, becos e vielas.

Ele já não queria se lembrar, não queria se importar com mais nada. Deixar o passado pra trás.

Foi como um lapso de memoria, ele mal sabia quem era muito menos onde estava. Havia o som de risos e moças despidas dançando com rapazes embriagados, que língua falam?

Ouviu o rústico gutural de um castelhano, ou seria catalão? Das meninas, o francês e uma voz que gemia lamentos na exótica língua dos lusos o português:

Meu amor tem saudades...

Saudades d'amar!

Garrafas de vinho e absinto sobre a mesa, e o som hipnótico de uma viola, ou seriam trompetes?


Ouvia uma voz familiar cantando:

(Se você quiser saber como é a melodia acesse: Elephant Gun - Armas de Caça )


If I was young, I'd flee this town (Se eu fosse jovem, fugiria desta cidade)
I'd bury my dreams underground (Enterraria meus sonhos debaixo da terra)
As did I, we drink to die (Assim como eu, nós bebemos para morrer)
We drink tonight (Nós bebemos essa noite)


Para a sua surpresa, era a sua voz. Levantou-se.


Far from home, elephant gun (Longe de casa, espingardas de caça)
Let's take them down, one by one (Vamos abatê-los um por um)
We'll lay it down (Nós vamos derrubá-los)
It's not been found, it's not around (Não foram encontrados, não estão aqui)

Let the seasons begin (Deixe as temporadas começarem)
Ele já não estava mas lá...

Let the seasons begin (Deixe as temporadas de caça começarem)
Take the big king down (Derrube o grande rei)


Libertando seus sentimentos pela primeira vez em anos. Percebeu que estava a caminhar sozinho em uma praia deserta.

As areias, escuras como terra vulcânica, cheias de garrafas de vinho, restos de madeira nobre e barris quebrados. Provavelmente vestígios de naufrágios.


Hans não sabia se estava anoitecendo ou amanhecendo. Talvez estivesse no limiar dos tempos. Percebeu em uma de suas mãos um livro. Olhou.


Sonetos... Willian Shakespeare.


Abriu. arrancou uma das páginas. Puxou uma caneta do bolso de seu colete e escreveu alguma coisa antes de a dobrar, enfiar dentro de uma garrafa de Vinho branco e arremeça-la ao mar.


Um par de verdes olhos vãos observava o invólucro de vidro sumir por entre as marés. E sentiu que uma parte de si foi-se embora naquela garrafa.


All that is left is all that I hide (Tudo que sobrou é tudo que eu escondo)

**** ******* ******* ******** *****

Kristoff acordou, coçou os olhos.


Espreguiçou-se. Suas costas estavam doloridas, pudera, adormecera dentro do salão de conferencias do palácio de Arendelle.


Os livros abertos na mesa supostamente seriam sobre lendas e contos da Escandinávia. Se ele bem se lembrava, na noite anterior, Elsa acidentalmente condenou Hans a um congelamento mágico e... Segundo os livros que ele conseguiu localizar. Identificara apenas duas maneiras de fugir de tal agouro.

A primeira seria ser salvo por amor, amor verdadeiro. Seja lá o que isso for.

A segunda... Não, melhor não pensar nisso.


Tocou em uma corda ao lado da porta, discretamente amarrado a um sininho. Momentos depois um serviçal bateu na porta. Kris pediu que entrasse.


–Pois não, Sir Kristoff?- Ele fez um breve saudação.


–A princesa Anna já se levantou?


–Sim senhor, ela perguntou pelo senhor. Está com a Rainha Elsa em sua câmara Real.


–E enquanto ao Príncipe Willian?


–Ele reuniu-se com os membros da Marinha das Ilhas do Sul e partiu para a Floresta para ajudar nas buscas do fugitivo, senhor.


–Ótimo! Me traga uma xícara de café e Sanduíches, pois não?


–Receio que estejamos desabastecidos de café senhor...


O Serviçal parecia incomodado.


–Alguma coisa envolvendo um grupo de homens de neve que entrou na cozinha ontem e... Acabaram tomando todo o café e derretendo em cima das sacas de grãos e...


Kris não deixou que terminasse. Já estava cheio dessas coisas que só aconteciam em Arendell.


–Traga-me qualquer coisa! Traga chá, sim?


–Imediatamente sir!


Suspirou.

Virou-se para os livros e tomou um susto. Desembainhando rapidamente a espada percebeu que era apenas sua imagem no Espelho que fica em um dos cantos da sala. Moveu-o de lugar virando-o para a parede, foi quando algo o chamou a atenção.

Atrás do espelho havia uma pequena prateleira que passara despercebida por Kris, uma prateleira com alguns livros e... uma caveira?


Ficou surpreso. Não esperava encontrar algo assim no castelo dos contos de fada. Tomou o objeto nas mãos. Parecia autentico, estava com a parte superior cerrada deixando o crânio aberto como um copo ou uma taça. Kris não resistiu e começou a brincar.


Alas, pobre Yorick! Eu o conheci, Horacio!– Recitando as conhecidas palavras de A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare.


Parou quando percebeu que havia algo escrito dentro do crânio...


Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe.
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.
(...)
(Texto Extraído de Versos Inscritos numa Taça Feita de um Crânio / Lord Byron (1788-1824))


–Então o Crânio era uma taça afinal...- Kris falou para sí. -Zomba de mim até na morte Byron... Acaso eu fiz mais mal na vida de tua filha do que ti?


Kris apalpou o colete, seu uniforme era diferente do que usara na festa do dia anterior, dotado de um verde escuro com pequenos desenhos de espirais na parte anterior aos ombros.


Tirou de dentro um pequeno livro com capa de couro amarrado no meio com um laço de seda. Ele se sentou e começou a acaricia-lo, abrindo-o nas ultimas páginas. Puxou uma caneta e pôs-se a escrever...


Alguém bateu a porta. "Deixe na mesa!" disse Kris, achando se tratar do chá.


–Deixe-me entrar idiota!- Disse uma voz arrogante e familiar.


Era Nikolaus, o Orgulhoso.


Entrou empurrando o pobre serviçal antes que este o anunciasse, parecia muito irritado.


–Precisamos conversar!- Ele olhou para o serviçal que ainda se recompunha.- A sós!


Kris permaneceu sentado. Um sorriso irônico no canto da boca.


–Ora, ora... Isso é exatamente o que eu pretendia dizer!

*************************


Na sala do trono, Anna, usando brincos e vestido verde-esmeralda com saia e espartilho simples, porem elegantes, observa de seu assento uma Rainha Elsa recomposta em sua majestade! Brincos de pérola, com um longo vestido branco rendado de algodão com rosas brancas feitas em delicada seda em uma grande abotoadura em Lápis-lazúli.


–E foi isso que aconteceu ontem, Príncipe Willian saiu para procurar Hans na floresta e ainda não retornou. Kristoff deu ordens de reforçar a segurança do palácio e se fechou na biblioteca da sala de conferências e eu tentei me acalmar revisando a papelada da Stortinget*2.


Elsa suspirou olhando o amontoado de papeis, pastas, tabelas, cartas e livros enfileirados, em uma mesa ao lado de um grande e exótico sofá de pelos de lhama próximo a uma das janelas.


–Mas, você veio me procurar por que mesmo, Anna?


Anna olhava para a irmã com olhos esbugalhados.


–?- A rainha olhava a irmã que aparentemente estava em devaneio- Anna? Você está bem?


–Ah, Elsa? Desculpe, é que está difícil até pra pensar com essa dor de cabeça!


Anna elevou as mãos à cabeça.


–Que tal pegar leve na bebida na próxima vez?


–Mas eu juro que eu não bebi, a única coisa que eu bebi foi... foi... o que foi mesmo? Enfim! Eu não acredito que aquele príncipe de meia tigela veio aqui fazer ameaças a você e ao Kriss. O Ohh...


Anna tentou se levantar da cadeira enquanto falava e de repente sentiu toda a sala do trono girar em volta de si. Cambaleou na direção da janela, mas foi salva por um monte de neve fofa que Elsa materializou no último instante.


–Cuidado Anna! Tudo bem?- A rainha levantou-se e correu para a irmã.


–Não! Eu juro que eu nunca mais vou beber! Aiai!


Elsa não pôde conter um riso ao ver a irmã fazer careta. Parecia que eram crianças de novo. Anna tapeou os ombros tirando a neve que se acumulara sobre si na queda.


–Cuidado!


–Ops!- Um pouco de neve caiu na mesa próxima, cobrindo alguns documentos. Desculpe Elsa...


–Tudo bem, é que eu trabalhei a noite toda nisso e não quero que neve derretida faça todo esforço ter sido em vão!


Anna observava a pilha de documentos, dando graças a Deus por não ser a filha mais velha e ter que encarar as responsabilidades de ser rainha.


–Como você consegue encarar essa papelada?


–E eu tenho escolha? Além do mais, eu não podia adiar... Isso é importante. É a nova proposta de reforma na lei das importações. A idéia é aumentar o nosso controle sobre o que entra e o que sai de Arendelle. Pra evitar aquela especulação de preços que tivemos durante a guerra de corso*3.


Anna pegou uma folha e tentou ler, pareciam hieróglifos. Percebeu que muitos estavam rasurados e cheios de anotações.


–Você esteve trabalhando duro heim? ^^


–Eu venho tendo uma ajuda inesperada nos últimos dias... Por falar nisso, pra alguém que vendia gelo, Kristoff é um gênio das finanças! Você acredita que quase deixamos passar uma clausula que poderia afetar o desenvolvimento de Arendell? Ele até deixou essas anotações pra eu me guiar, sabe... eu devia ter nomeado ele Secretário Chefe e não cavaleiro, heh!

–Anota... ções?


–Anna, que cara é essa? Parece que você viu um fantasma! Não me diga que ainda está passando mal?


Anna estava parada, o documento em suas mãos enquanto a rainha olhava apreensiva, antes que continuassem, Kai, o Mordomo chefe e Mestre de Côrte*4, entrou e inclinou-se.

–Princesa Anna, Rainha Elsa.

–Mestre Kai...- Elsa deu lhe permissão de falar


–O Príncipe Nikolaus das Ilhas do Sul acaba de chegar no Palácio, ele está no salão de conferências com Sir Kristoff.


Elsa Anna olhava para irmã agarrando o documento cheio de anotações feitas a mão com força, uma com uma expressão tão pálida que assustou a rainha.

–Eu lembrei sobre o que queria lhe falar...

O Sol entrava por entre as frestas da Floresta de Arendelle, descendo de sua montaria, um dos soldados do reino aborda Willian enquanto este falava com um de seus almirantes.


–Notícia dos batedores!- O homem fez uma saudação.


–Prossiga. - Respondeu o príncipe.


–Perdemos os rastros na parte baixa dos vales! Ele evitou os cães ocultando seu cheiro no rio, seus rastros estavam bem escondidos, mas acreditamos que ele ia para o Vale da Pedra Viva!

O soldado parecia cansado, mas não deixava transparecer na firmeza de sua voz, a medida que segurava firme o cabresto de seu cavalo.


–Ótimo, se ele chegar até as montanhas nunca mais o veremos! Avise os homens que vamos nos reagrupar em...


Parou, um pensamento lhe passou pela mente como um relâmpago claro numa noite escura. Algo não está certo...


–Senhor?- O Soldado perguntava se inclinado para frente.


–Não... Vamos voltar, cancele as buscas! Vamos para o Palácio de Arendelle!


–Sim senhor!


Ele bateu continência e montou em seu cavalo. O Almirante virou-se para Willian.


–Caçamos o homem a noite toda e o senhor vai cancelar as buscas? Eu não entendo...


–Aquele não era o Hans...


–Perdão?


–Acredite, eu conheço meu irmão, ele é uma víbora traiçoeira! Do tipo que age por trás dos panos! Nunca atacaria diretamente... Quanto mais armado apenas com uma pistola! Esse não é o estilo dele... A não ser...


–A não ser?


–Não... Não seria possível. De qualquer maneira, vamos voltar ao palácio e passar a limpo esta história. Eu quero saber o que Kristoff e a rainha faziam antes de serem abordados.


Mas o que o Príncipe não disse é que ele queria saber especificamente o quê Kris fazia sozinho com sua Rainha momentos depois de ele ter saído daquele jardim...

*** *** *** *** *** ** ** *** *** *** *** *** *** *** *** ***


–Vocês ficaram LOUCOS?


Nikolaus socava a escrivaninha, estava visivelmente irritado. Kris estava sentado a mesa. Uma linda posta de porcelana de Marseille fumegava espalhando o aroma de ervas pela sala do Capitão da guarda palaciana, Sir Kristoff.


–Se acalme, Klaus, assim vai derramar o chá.


–Não Fale comigo nesse tom, selvagem. Não somos iguais, entendeu?


Kris olhava frio.


–Não, não somos.


–E o que diabos vocês estavam tramando? Escute, quando você apareceu há uma semana, oferecendo a cabeça da rainha em troca do apoio dos membros do parlamento que estavam no bolso das Ilhas do sul, eu achei que você era louco! Mas agora eu tenho certeza!


–Shh fale baixo homem!- Kris olhou atrás da porta.- As paredes tem ouvidos!


–E mesmo assim participei do seu joguinho, deixei você me fazer de idiota frente de todos pra que me vissem deixando a festa e ninguém me associasse ao ocorrido, pra quê? Vocês ferrarem tudo?


Kris Respirou fundo e começou a se servir de Chá com leite.

–Desde quando Nikolaus precisa de ajuda pra ser feito de idiota?- Murmurou.


–Quer dizer que o nosso trato acabou?- Perguntou Kris enquanto aspirava ao aroma das ervas.


–Acabou? Acabou? Como você quer que eu apoie Hans como o novo Regente quando ELE é o procurado por tentar assassinar a Rainha! Seus imbecis!


–Algumas coisas não foram como o planejado. Houveram... Interrupções inesperadas...


–E agora?


Kris sorveu vagarosamente o chá.


–Sabe, o segredo do bom chá é a temperatura em que é servido. Aprendi isso no tempo que passei em Londres. O bom chá é aquele que nem é tão quente a ponto de lhe queimar a garganta, nem tão frio a ponto do amargor ser percebido pelo paladar...

Nikolaus já perdia a paciência.


–Do que diabos você está falando?


Kristoff levanta e anda até a porta, deixando um irritado e levemente confuso Nikolaus para trás. Este levanta e se vira.


–O que você pensa que está fazendo, onde pensa que vai?


–Eu vou cuidar da minha vida Nikolaus!

Kris o perfura com o olhar. Sua voz era firme porém com um leve tom de ironia.

– E você vai enfiar esse seu rabo afetado entre as pernas e ficar de bico calado sobre nossa pequena conspiração, senão eu vou garantir que você tenha o mesmo destino que seu irmão Hans!


–Como você ousa me ameaçar? seu verme...


–Eu não estou te ameaçando mocinho, acredite, eu sou seu único amigo! Se eu quisesse, mandava te prender sob a acusação de calúnia, conspiração e traição!


–S-seu... Idiota! seria sua palavra conta a minha! E você está tão envolvido nisso quanto eu!


–Aí é que você se engana, min kære*5...


–Eu sou o Chefe da guarda, pessoa de confiança da Rainha e Noivo da Princesa! Uma pessoa que todos conhecem amam e confiam! Você é um rufião arrogante de terra estrangeira, a quem todos vêm como um oportunista interesseiro e cujo irmão já tentara matar a rainha DUAS vezes...


Nikolaus tremia, não sabia o que dizer, quem era esse homem? Esse selvagem carregador de gelo! E como ele conhece tanto assim de intriga palaciana a ponto de conseguir chantagear a ELE, um príncipe, em seu próprio jogo!


–M-maldito! Isso não vai ficar assim... meus irmãos não permitiriam Arendell pagará por essa traição!


–Mas seus irmãos não estão aqui estão? Ah Príncipe Willian, claro! O tolo que está tão perdidamente apaixonado pela rainha que provavelmente faria qualquer coisa para permanecer limpo aos olhos dela, mesmo que isso significasse negar apoio ao próprio irmão. Um irmão notavelmente famoso por ser orgulhoso, ambicioso e volta e meia envolver-se em polêmicas e escândalos!


Kris estava com um sorriso cínico no rosto. O 3° príncipe foi pego de surpresa, Ele sabia que era verdade. William estava enfeitiçado pela bruxa da neve, esse foi o principal motivo de Nikolaus não ter revelado nada ao irmão sobre o acordo que articulara com Kristoff.


–Como eu dizia Nikolaus, vou cuidar de minha vida e quanto a você Príncipe...- Kris fez uma singela reverência e piscando um dos olhos disse.- Confio na sua discrição.


Kris abriu a porta e deparou-se com Anna parada do lado de fora, os olhos azuis grandes e expressivos olhando os dele.


–Atrapalho?


–Ahn? Anna? De forma alguma, o Principe já estava de saída! Não é mesmo?


–É... Sim, eu já estava indo... Princesa!


Nikolaus parecia derrotado, uma caricatura da figura arrogante da noite anterior. Anna o observou sair cabisbaixo. Kris tomou a palavra.


–Mas então... Desculpa eu não ter aparecido, é que com tudo que aconteceu ontem eu fiquei realmente muito ocupado! O Príncipe Nikolaus veio se informar sobre o que aconteceu. Eu acho que ele se sente mal por aquele papelão de ontem e...


–Kristoff...- Anna cortou, estava séria- A minha irmã me contou tudo. Você foi muito heroico! Eu não acredito que tudo isso aconteceu enquanto eu dormia...


Kris a pegou pelas mãos delicadamente.


–Tudo bem! É melhor assim, além do mais, não acho que você vá querer ver a cara daquele panaca do Hans de novo, né? Não depois de tudo que ele fez contigo? - Kris pensou e com um sorriso acrescentou - com a gente?


Disse enquanto se aproximava, suas mão nas mão dela, seus olhos cor de mel se aproximando dos azuis dela. Tão próximo a ponto de ela sentir o aroma de chá que exalava dele. Anna sorriu.


–Veja pelo lado bom, se não fosse por ele talvez tudo tivesse sido diferente conosco, já pensou nisso?


–Em nós dois? Eu penso sempre!


–Rsrs! Seu bobo. Sabe, lembra da noite em que a gente se conheceu e você me salvou daquele urso castanho, aquilo também foi tão heroico...


–Por você eu faria tudo de novo!


Anna congelou por um instante, como se tivesse visto uma assombração. Olhou as mãos de Kristoff segurando as suas.

Luvas... Ele usava luvas.


–Kris a minha irmã pediu para lhe chamar ela disse que era sobre ontem...


Kris ficou sério por um momento. Alguma coisa estava errada.


–Ah! A Rainha Elsa? Será que ela tem alguma pista sobre o paradeiro de Hans?


Ambos seguiram para fora da sala. Anna estava estranhamente quieta.


Enquanto passavam pelo Mezanino do Hall de entrada, Kris percebeu que a Rainha Elsa o estava esperando entre o tapete da Porta e a Escadaria Nikolaus estava parado ao lado dela com uma expressão de surpresa. Viu seus homens da guarda palaciana se posicionarem perto das portas das salas e janelas próximas. Anna sorria, os olhos marejados de lágrimas.


–Que bom que você se lembra da noite em que você me salvou do Urso, Kris...


As lágrimas desciam pelas bochechas rosadas a medida que ela se esforçava pra falar.


–Excepto pelo facto de não ter havido urso algum. Só lobos... Lobos entre nós.


Kris ficou parado. Congelado. Os guardas se entreolhavam. Não era uma situação muito usual, e olha que eles já viram muita, muita coisa estranha acontecer no palácio de Arendelle. A Rainha era a mais assustadora com os olhos brilhantes apontados escada acima. Elsa abriu a boca.


–Quem, ou o que é você Doppelgänger*6?. E o que você fez com Kristoff?


Kris continuou parado. Processando a situação. Sem virar-se para confrontar Anna perguntou.


–Como?


–Você soube representar bem. Mesmo com o refinamento e tudo o mais você soube nos iludir muito bem. Só houve um pequeno detalhe que você deixou escapar.


Anna puxou um dos documentos que trazia da mesa de Elsa. Kris olhou a folha cheia de anotações.


–O que tem isso? Até um cortador de gelo como eu sabe que Arendelle vai continuar no atraso se cobrarmos o mesmo imposto elevado sobre ferramentas do que cobramos de bens manufaturados e artigos de luxo! Trabalhadores e operários precisam de ferramentas pra trabalhar, sabia?


–Não é isso. Você não entendeu nada...


Anna puxou e mostrou para Kris outra folha de papel, essa de aspecto surrado e desgastado. Suas lagrimas caiam fazendo brotar pequenas manchas sobre o papel.


–Você soube disfarçar tudo, menos sua caligrafia... que é impecável!


–Ora Anna, isso não prova...


–Anna levantou a mão.


–Eu ainda não acabei... Se você fosse o meu Kris, se lembraria disso.- Ela levantou a folha- A carta que você escreveu no dia que me deixou, antes de ficar semanas sumido... Uma carta cheia de rasuras, uma carta cheia de garranchos...


–Anna...


–Uma carta... escrita com a mão Direita!


Kris calou-se. Não havia nada que ele pudesse dizer.


Olhou para a sua mão esquerda.


Sorriu.


–Ora ora ora... Brilhante!


Batendo palmas, caminhou vagarosamente na direção da princesa. Os guardas se puseram a frente, protegendo-a.


–Você é mais esperta do que aparenta, Princesa Anna. Vejo que a menina sonhadora e hiperactiva, que eu conheci aquele dia no cais, cresceu e amadureceu.


Aproveitando esse momento de distração. Kris, movendo-se como uma cobra que dá o bote, agarrou e desembainhou a espada de um dos sois guardas que escoltavam Anna. Enquanto desembainhava a outra da própria cintura.


–Surpresa!


Com um movimento de suingue cortou metade do bigode do outro guarda, desestimulando este a puxar própria a espada. Girou mais uma vez as duas laminas posicionando-as no peito dos dois guardas e empurrando-os para trás até que se despencassem pela escada derrubando no caminho sete outros guardas que já subiam para enfrenta-lo.


Virou-se para Anna, que estava encolhida.


–Eu não tenho medo de você!


Kris deixou cair as duas espadas no chão, segurou-a pelos ombros e sussurrou em seu ouvido.


–Se quiser saber o paradeiro de seu noivo, encontre me no Vale da Pedra Viva.


–Você não vai a lugar nenhum! Gritou a Rainha Elsa invocando um pilar de gelo debaixo de seus pés e elevando-o em um arco por cima da pilha de guardas caídos subindo em direção de Kris- Fique longe de minha irmã!


–Eu adoraria ficar e conversar, mas acho que tenho um compromisso marcado.


Disse isso e saltou pelo apoio da escada, voou por cima da cabeça de todos agarrando no lustre de cristais no alto do Hall. Balançou e, pegando impulso, se projectou através de uma das janelas quebrando-a e caindo em cima de uma carroça com feno do lado de fora do palácio. (Assassins Creed Style)


Levantou-se e limpou os ombros. Ouvia os gritos dentro da construção. Precisava agir rápido. Olhou para o estábulo, e sorriu mais uma vez.


Os portões se abriram para receber Príncipe Willian e sua comitiva que chegava das florestas quando todos foram surpresos por uma tropa de cavalos que estourou pelo pátio do palácio.


Os funcionários e soldados corriam para tentar apanha-los mas muitos fugiram pelo portão principal, assustando a montaria de alguns dos homens de Willian e fazendo-os cair.


Willian se esforçava para se manter.


–O que está havendo?


–Alguém soltou os cavalos nos estábulos! Eles estão fugindo!


Os portões do salão de entrada do palácio se abriram e ele viu Elsa e Anna. Anna tinha os Olhos arregalados e Elsa levava uma mão a boca. Willian desmontou e correu para se juntar a elas.


Olaf, que saboreava um bolo de creme num pratinho de porcelana, via todo o corre-corre de uma varanda. Sorriu e comentou consigo mesmo.


–Pff! Esse povo precisa fazer alguma coisa sobre essas portas abertas.

No meio de toda bagunça, ninguém prestou atenção nos cavalos que fugiam, todos pareciam estar sem cavaleiro, e ninguém percebeu Kristoff pendurado na cela. De cabeça pra baixo na barriga de um deles.

Anoiteceu no Vale da Pedra Viva. O som do trotar das patas de Sven ecoava pelo chão pedregoso seguido do estalido ruído produzido quando o corpo de Hans caiu sobre um punhado de galhos secos.


Hans permaneceu caído. Inerte, encolhido de frio. Sven baixou a cabela e lambeu sua face. Seu rosto estava gélido.


Hans abriu os olhos devagar. Acariciou a cabeça peluda da Rena.


–Eu estou bem, amigão. Só um pouco... cansado.


Ele se levantou e abraçou o pelo quentinho do amigo. Olhava as pedras roliças em volta de si. Qualquer observador ordinário as tomaria por simples rochas, mas ele não. Ele as conhecia cada uma pelo nome. Mas e elas? Seriam capazes de reconhece-lo?


–Alto quem vem lá!


Uma delas pulou se transformando em um troll.


–Oi gente! Que alívio poder estar em...


Várias pedras começam a cerca-lo. Duas passaram por dentre suas pernas desequilibrando-o.


–O-Oh! Calma pessoal, Sou eu!


–Intruso!
–Invasor! O que você faz aqui?
–M-me deixem explicar, eu...


Várias pedrinhas o cobrem se transformando em um montinho de trolls caídos por cima de Hans. Sua expressão era de desconforto, estava cansado e com frio e os Trolls do vale não ajudavam muito na sua situação. Percebeu que os pés de um deles estava com uma mancha amarelada fosforescente.


–Ué, Cliff, você ainda não conseguiu tratar essa micose de liquens do pântano entre os dedos?


–Unh? Ah, isso? Eu estou testando uma pomadinha à base de enxofre que... Peraí, você sabe meu nome?


Nisso, todos os Trolls se assustaram e saíram de cima dele.


–É o que eu venho tentando explicar... Eu...


–Vejam! Ele veio com o Sven! O que foi Sven? Esse homem te machucou?


A rena mexia a cabeça em um movimento de negação enquanto Mama Bulda lhe examinava os chifres. Nesse momento uma pedra maior se transforma em Pabbie, o rei dos trolls. Ele olha para Hans e diz.


–Que tipo de magia estranha está agindo aqui?


–MAGIA NÃO, VELHO TROLL!


Gritou uma voz familiar por entre as brumas do bosque. Os Trolls viram assustados a figura de um homem se formar da escuridão. Era Kristoff, mas sua expressão era diferente da que estavam acostumados, seu sorriso tinha algo de... sombrio.


–Magia não... ciência!


Hans encarava Kristoff que se aproximava por entre os Trolls sem sequer olhar para eles. Hans perguntou primeiro.

–Como você me encontrou?


–Ora, isso foi fácil.- Kris respondeu olhando em volta.- Cortadores de gelo tem fama de serem solitários homens das montanhas... Mas a verdade é que eles são homens muito apegados a família. Especialmente nas horas mais críticas. E... Que bela crise de identidade nós temos aqui hein?


–Hans o encarava com uma expressão de ira.


–O que você quer de mim, patife? Você já me tirou tudo que eu tinha. Minha vida, minha identidade... meu amor...


–Ora, eu? Eu queria apenas saber o que você acha, agora que você sabe o que é viver e padecer na pele de Hansel Westergärd den Sydlige øer! É seu nome, sabia?


Kris começou a circular Hans, falando alto para que todos os Trolls ouvissem.


–Diga-me como é? Ser o homem mal? Ser o Homem triste? Por destes olhos esmeralda? Diga-nos digníssimo príncipe como é ser odiado por todos? Como é ser condenado a viver de mentiras? Porque isso é o que é ser quem você é.


Parou de falar quando percebeu quem um dos trolls pequeninos olhava fixo para os olhos de Hans, alguma coisa neles lhe era familiar.


–Kris? É você aí dentro?


Cliff correu para olhar.


–Kris?


Todos os Trolls do vale começaram a apalpar cheirar e até morder (auch) Hans. Quando Mama Bulda e Cliff pararam em frente a ele. Os olhos de Bulba estavam enormes e Hans podia se ver através do reflexo deles, como se fossem um espelho. A luz de seu cristal mágico pulsante como um coração que bate.


–Fofinho?


Lágrimas começaram a rolar do rosto dela. Quando ela viu os olhos verdes dele se encherem de lágrimas. Mama Bulda o abraçou enquanto ele chorava e balbuciava.


–Eu... Eu tive tanto medo. Tanto medo...


–Shh... Tudo bem, fofinho. Tudo bem. Eu vou cuidar de você, lembra?


Um a um, hesitantes, inseguros... Os Trolls do Vale foram se juntando em volta deles, suas pedras mágicas brilhando cada vez mais forte. Kristoff sentiu uma lágrima descer bochecha enquanto observava quieto aquelas criaturinhas cercando Hans.


Pabbie sentou do lado de Kristoff. E observou a cena.


–Quem diria?- Disse o rei dos trolls- Nesse mundo ha Sentimentos que não podem ser ditos. E coisas que não podem ser vistas, senão pelo coração.


Cliff foi o primeiro a reconhecer. Ele abraçou Hans junto com Pabbie e logo foi acompanhado por todos os Trolls do Vale. Kris com os olhos carregados de lágrimas, percebeu que alguma coisa naquela cena o lembrava de uma certa noite debaixo das estrelas, onde 13 príncipes chorões abraçaram um velho Rei, ou melhor dizendo, 13 filhos abraçaram um pai...


E respondeu ao velho Troll, sem se desviar da cena.


–Pois é. Parece que o essencial é invisível aos olhos.


–Alí!


Gritou uma nova voz. Kris se virou e viu Anna parada olhando por sobre a colina. Elsa e Willian apareceram em seguida sem entender direito o que viam.


–Anna?


Hans olhou por entre seus amiguinhos de pedra. Ergueu-se e foi até a princesa que, receosa, deu um passo para tras. Willian não saia de perto de Elsa. Que mechia a boca mas não ouvia as palavras saírem.


Permaneceram quietos.


No céu as nuvens se abriram para a luz da lua. Havia um brilho pálido por sobre o Vale da Pedra Viva.


Kristoff, ou o que quer que tenha assumido a aparência dele, tirou do bolso uma pequena esfera de cristal e começou a gira-la por entre os dedos.


–Sabe, quando eu estive na Prússia, eu conheci na cidade do Porto de Hammonia*7 esse velho louco chamado Herr. W. Wilhelm. Que tinha essas teorias sobre uma nova área das ciências metafísicas a que os alemães andam chamando pelo nome provisório de psicologia. É horrível, eu sei, espero que arranjem um nome melhor. Enfim ele tinha essa teoria maluca sobre como a alma humana pode ser afetada pelo processo de mesmerização*8. E que o Fluido etéreo era a própria essência da mente humana, da qual o corpo é mero receptáculo.


Ele percebeu que sua plateia o olhava sem entender nada, menos Willian. Ele já estava acostumado a esse jeito pedante de falar. Teve de aturar isso por muitos anos em casa.


–Eu sei... Eu sei que é difícil de entender... Confesso que eu mesmo tive minhas dificuldades no início, O velho louco disse que tinha inventado esse prisma, feito de um cristal raro que teria o que ele chamava de poder de ressonância, parecia um bom papo de charlatão para mim, mas depois que eu ví ele usar essa belezinha, hehe. Soube imediatamente que era uma oportunidade única.


–E então? Aonde você quer chegar com toda essa asneira?- Perguntou Willian já sem paciência.

–Ora irmão, não é óbvio? Eu adquiri a habilidade de possuir o corpo de qualquer um através do poder desse artefacto.- Olhou para Hans que estava com os olhos arregalados. Mas infelizmente existiram alguns efeitos... colaterais.


–Isso é muito perigoso criança! Você brincou com forças que não entende.


Advertiu Pabbie o rei dos Trolls, Kristoff de de ombros.


–Que diferença faz se o importante é que funciona! Ciência. Velho Troll, é a nova Magia! Graças a ela eu tive uma porta aberta no palácio de Arendelle. Para ter uma vantagem contra a magia de Elsa e mais uma vez tentar completar meu plano.


–Tudo isso para usurpar meu trono? Você mentiu, manipulou e arriscou a vida das pessoas que eu amo por ambição?


Elsa estava enervada. O gelo que se formava no musgo em volta da rainha ilustrava sua ira crescente. Kristoff não pareceu se importar.


–Ambição? Não Rainha Elsa, ambição não... Vingança!


Se aproximou de Hans, os troll o olhavam desconfiados e assustados. Levantou o rosto do príncipe e olhou sua face iluminada pala luz do luar.


–Graças a vocês minha desgraça teve início. Vingança era a forma mais proeminente de responder a altura!


Hans ebofeteou a mão de Kris, tirando-a de seu rosto. Ele se levantou e encarando-o começou a esbravejar.


–Olha o que você nos fez? Olha o que você se fez! E isso não vai parar aqui não é? Provavelmente você vai tentar nos chantagear agora, estou certo. Ameaçar me deixar morrer nessa carcaça congelada emquanto você se diverte as nossas custas.


Kris ergueu o orbe de cristal.


–Se você quiser eu quebro isso e apresso as coisas agora!


Anna gritou!


–Não!


E correu na direção de ambos. Kris a confrontou.


–Ah! A princesa apaixonada vai salvar seu amante com o poder do amor verdadeiro! Sim, diga-me Anna, Elsa... Kris olhou para o príncipe Willian- Por acaso vocês podem amar de verdade um homem cujo o rosto sempre os fará lembrar da desgraça? Um homem cujos olhos sempre os farão lembrar do quanto são fracas e manipuláveis?


Anna abraçou Hans.


–Sim! Ainda que você o transformasse num sapo eu o amaria!


Anna.


Kris olhou para o casal sem expressar reação. Havia algo engraçado em ver Anna e Hans abraçados e com os olhos cheios dagua... É talvez com o tempo ela até acabasse aprendendo a amar seu homem. Mesmo que preso no corpo de quem ela mais odiava.

Mas isso não era o que ele havia planejado. Hans vai ter o fim que deseja, não o que merece.


–Vamos acabar logo com isso! Aqui Anna, segure essa bola de cristal entre eu e ele. ABSOLUTAMENTE não olhe para ela, entendeu?


–O que você esta...?


–Eu estou te devolvendo seu amado, não está vendo? Agora você aí.
Ele apontou para Hans.


–Aconteça o que acontecer, não tire os olhos da esfera, não é muito complicado não é. Afinal, já fizemos isso antes.


Ele fez que sim, e ambos ficaram parados. Olhando para a pequena esfera que reluzia nas mãos de Anna. Permaneceram assim por minutos. Parecia uma eternidade. Os Trolls olhavam apreensivos. Elsa se aproximou para olhar mais de perto.


De repente, ambos os rapazes caíram desmaiados. Anna Amparou Kris, e Elsa segurou Hans. Eles estavam inertes. Pareciam mortos.


Pabbie exclamou.


–Não pode ser!


–O que foi? Perguntou a rainha.


–As almas deles... As almas desprenderam dos corpos, estão flutuando acima de vos.


Os humanos não podiam ver, mas Pabbie enxergava perfeitamente. A alma de Kristoff se desprendera do corpo de Hans e flutuava brilhante com sua forma fantasmagórica acima do corpo.

A alma de Hans também surgira do corpo de Kris, mas havia algo errado. Ela não tinha a forma do príncipe, mas a de uma criança. Pabbie viu que o espirito de Hans não brilhava como o de Kris, pois se tratava de uma alma estilhaçada. Havia sinais de uma maldição antiga e perigosa que havia maculado seu coração.


–Não pode ser. Por dentro ele ainda é um garotinho. Sua alma não consegue evoluir. Alguma coisa bloqueou sua luz... Não. Eu sei o que há com esse rapaz.


Pabbie reconheceu o ponto obscuro, menor que uma semente de mostarda. De repente tudo fazia sentido.

Os espectros desceram de volta a seus respectivos corpos. E lá permaneceram.


–Anna ele está respirando! Disse a rainha que ainda segurava o corpo de Hans.
Ele também Elsa.- Respondeu a irmã, sem largar de Kristoff.


Elsa sentiu as mãos de hans tocarem seu rosto. Ele permanecia de olhos fechados e com o rosto umedecido. Seus lábios mexiam devagar.


Pabbie se posicionou entre elas. Fechou os olhos pensativo. Para tratar de uma maldição tão pesada, meios naturais não bastam. E abrindo sua boca, o velho Troll recitou os seguintes versos.


–Quando eu era menino...


–falava como menino... pensava como menino... discorria como menino,


–mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.


–Porque agora vemos por um espelho sombrio, mas logo veremos face a face...*9

Hans abriu os olhos e enrijeceu o corpo. Olhou para o velho Troll e completou com os versos...

–Agora vejo em parte, mas então veremos face a face. E então conhecerei como também sou conhecido.*9


E subitamente tossiu, algo brilhante pulou de sua garganta. Um pequeno ponto reluzente semelhante a um caco de vidro.


–Eu não esperava que você viesse Anna... Disse Kristoff abrindo os olhos e sorrindo para a princesinha que o abraçava.


–Kris... é você? Ela se esforçava para não chorar.


Kristoff se ergueu devagar. Olhou para os Trolls que se aproximavam, olhou nos olhos de Cliff e Mama Bulda. Ergueu um braço para Sven que olhava desconfiado, mas se deixou tocar. E mexendo a sua boca Dublou o falar da rena com a própria voz.


(Voz do Kris) -Como eu vou saber que você é você?


A rena se assustou. Ergueu a cabeça. Sorriu e correu para afagar os pelos do pescoço no peito do amigo.


–Opa! Calma amigão! Sou eu... Sou eu...


–Hans?


Hans se assustou ao ver que estava nos braços de Elsa. Levantou-se e afastou um paço.


–Sim Rainha Elsa. Sou eu... Mais uma vez.


–Você nos devolveu o Kris!- Todos olharam para eles.- Eu não entendo...


Ele sorriu com ironia e piscou um olho. Afinal, o caminho para o inferno é cheio de boas intenções.


–O que foi? Será que um homem mal não pode realizar um ato de bondade pra não cair na rotina?


–Não, não você Hans!- disse frio o príncipe Willian.


–Will, às vezes eu queria ser o monstro que você pensa que eu sou. - Hans Retorquiu.


–E você é! Uma víbora traiçoeira como você não faria nada sem ter segundas intenções. Você não entende valores como amor ou amizade.


–E por acaso você entende Will? Caindo de quatro por uma pessoa que você mal conhece. Você vê a Rainha da Neve, não a mulher! Tem uma visão romântica de ideal feminino e fica tentando projetar isso como se fosse real. E vamos falar de amor e amizade então... Por que não revela pra sua amada rainha o irmão amoroso que me ignorou por dois anos! E que fingiu que eu não existia. Que dizia que eu não merecia por os pés em casa nem olhar você nos olhos, o irmão que me...


–Você matou a mamãe!


Hans silenciou. Willian, como sempre, apelou por tocar sua ferida mais profunda.


–Sim will. Ela morreu dando a luz a mim. Mas você pelo menos tem lembrança dela. Eu NUNCA a conheci. E Papai me atormentou por ANOS dizendo o quanto sentia falta dela e o quanto ele odiava vê-la em mim, lembra?


Hans olhou para Elsa, cujos olhos tremiam. Aquela não era o tipo de relação que ela esperava que irmãos fossem ter. Mesmo ela que cresceu quase sem contacto com Anna.


–Eu por outro lado conheço bem essa rainha. Eu estava lá quando tudo começou, lembra? Eu ví a torre de cristal. Eu estava lá quando você quase matou dois homens. Você nunca deve ter notado, mas foi a primeira vez que tentei te matar.


Elsa estava aflita. Aquelas não eram lembranças fáceis de lidar. Mas ela nunca percebera que as intenções de Hans fossem essas desde o início. Não com o que ele disse. E por que agora ele está revelando essas coisas?


–E o que eu te disse era verdade. Não seja o monstro que eles pensam que você é. Você se sabota tentando esconder seus sentimentos, tentando ser aquilo que acha que os outros esperam. Não Elsa, eu estudei você durante esses anos, você nasceu para ser uma Rainha! E eu me orgulho de ver o que você se tornou. Você merece o lugar de eleita da minha vingança.


–Vingança?


–Sim, e assim foi durante muito tempo. Eu vaguei pelo mundo sem saber o que fazer de mim. A necessidade de vingança foi o que me trouxe de volta. Quando perdi tudo, ela me manteve de pé. Foi o que me motivou a fazer tudo o que fiz. Foi o seu maior presente para mim.


Hans se aproximou de Elsa, Seus olhos verdes fixos nos dela. Sua voz era firme e veloz, seu falar se intensificava a cada palavra. Suas mãos vagarosamente se posicionavam nas dela, subido pelos braços a medida que ele pronunciava essas palavras.

Oh furiosa!
Sois tu Vingança!
E esta paixão peço-te
De teu peito não espezinheis.

Trovão argento!
Sereis tu o sol sem dia?
Verão invernal!
Sede liquida morte fria!

Deixe ir
Por dentre lábios
Versos contritos
Corações gélidos

Pouco sabe quem és
E menos ainda que podeis ser
Dos homens terror?
Dos homens Poder.

Espelho cruel tu sabeis
Mostro o Monstro que sou
Refletido por teus cristais
De Ser de não-ser.

Tu es minha morte!
Mais vale deixar-se correr o risco de teus lábios gélidos beijar.
Do que pelo verme se deixar beijar as carnes flácidas
Da minha carcaça podre que ele há de jubilar!

E dizendo esses últimos versos a beijou. Deixando todos boquiabertos. Ninguém esperava aquela cena toda!

Hans descobriu que os lábios da Rainha da Neve de nada tinham de gélidos, ao contrario eram cálidos e macios ao toque. E para sua surpresa, ele não morreu congelado no momento seguinte.


Precisou segura-la com força, ela estava sem folego, de pernas bambas. Ele virou-se para o Príncipe Willian, que ainda estava em choque com a situação, e lhe falou com um sorriso maroto.


–E Will, o primeiro beijo dela... é meu!


–Hans...


O príncipe estava com uma sombra nos olhos...


–EU VOU TE MATAAAAR!

E correu desembainhando a espada em direção ao irmão. Que largou a rainha, agachou e apanhou uma pedra e simplesmente a arremessou na testa do irmão. Fazendo-o dar um pirueta e cair de costas no chão enquanto todos os Troll exclamavam um Ooooh!.

Hans passou por ele e piscou um dos olhos.


–Sinto muito Will... Piratas não jogam limpo.


–Não foi o seu primeiro beijo foi? Perguntou à Rainha Elsa um menino troll rechonchudo e enxerido.


–Ah, que? N-não de forma alguma.


–Você ficou vermelha!


–Oh Elsa!- Exclamou Anna sem acreditar.


–Os melhores beijos são os roubados!- Disse o menio troll antes de levar um pescotapa de Mama Bulda e rolar ladeira abaixo. Ela se aproximou de Elsa.


–Você está bem querida?


–Estou.- Elsa olhou para Hans, ainda com aquele sorriso, ele debochadamente balançou as sobrancelhas para ela. Seu! Como você ousa! Eu vou...


–Vai fazer o quê? Me transformar numa estatua de gelo? Adivinha só! Você já fez.
Hans sorria. Todos se lembraram que seu coração estava congelando e em breve ele iria ter o mesmo destino de Anna. Kris perdeu a paciência.

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–Seu doente! Porque você está fazendo isso? Não tem medo de morrer?


Hans caminhou até a borda da ladeira. Observou o Vale. A Luz do luar iluminava as brumas baixas dando um aspecto bonito e desolado ao lugar. Hans virou-se e com um sorriso solene anunciou.


–Eu serei um monumento de mim mesmo!

E todos ficaram parados, olhos arregalados, tentando entender o que ele queria dizer.


–Eu que fui chamado por muitos Nomes! Hans, o Príncipe, Hans o Gentleman, Hans o Esquecido, O ninguém!
–Eu, Que fui muitos homens! Cortador de Gelo! Lobo da Estepe! Pirata! Heroi, bandido e traidor!


–E que, acima de tudo, fui só. E só eu apenas.


Todos olhavam para ladeira. Hans tremia. Seus olhos brilhavam na noite.


–Eu escolhi voltar para essa carcaça condenada por minha única e espontânea vontade. Vocês podem se contentar com a tumba e os vermes. Mas eu quero mais!


–Eu já tinha chegado a conclusão de que esse plano de vingança não teria futuro afinal... Então decidi que se tivesse que ser meu fim seria da minha maneira!


–Alem do mais, Elsa, alguma vez duvidou que as coisas entre nós poderiam acabar de outra forma senão em morte e decepção?


A rainha não respondeu. Sentia que já não havia nada a ser dito. Se aquele patife queria que tivessem pena dele, não seria ela a derramar uma lágrima. Além do mais. Isso tudo aconteceu por culpa dele.

Hans olhava para Kris e Anna.


–Anna, tem uma coisa que eu preciso que você faça, por mim.


–Eu?


Kris se pôs a frente da Princesa.


–O que você está tramando Hans?


–Calma, calminha Kristoff. Já chega de beijos por hoje eu só preciso que ela pegue esse livrinho que está no bolso de seu colete.


Kris ergueu uma sobrancelha. Apalpando seu colete sentiu o objeto. Tirou o examinou. Era um pequeno diário, com capa de couro e um laço de seda amarrando.


–O Nome dela era Condessa Aurora Byron. Mais conhecida como Lovelace. É alguém com que eu... me envolvi, alguém de quem eu muito tirei sem compensar nenhuma de suas expectativas. Eu sei que você entende bem essa situação Anna.


–Mais do que gostaria, Hans.


–Portanto, confio em tí para devolver esse bem a ela. Ah, e seja discreta, ela é uma mulher casada.


–Mais alguma coisa?


Hans parou e olhou para o lado pensativo. Suas mão envolviam seu tronco, ele estava com frio. Muito frio.


–Não, só isso, o que eu tinha que dizer para ela, deixei por escrito.


Ele olhou para Elsa, que segurava o Príncipe Willian, ainda desacordado.


–Ah, e Elsa!

Elsa enrubresceu mais ainda ao responder.


–O que foi seu... Cafajeste?


–Cuide bem dele, sim? É um miolo mole sonhador, mas no fundo tem um bom coração.


–O quê?


Hans disse isso com um sorriso descontraído nos lábios. O olhar perplexo de Elsa foi a última coisa que ele viu antes de congelar na frente de todos.

Anna, Kris e Elsa não conseguem conter a tristeza que a visão daquela criatura sombria lhes causava.


Flocos de neve começavam a cair.


Pabbie olhava a estátua de gelo que já fora um homem. Os Trolls unidos catavam uma canção triste.

"Eles a Chamam Noite, Eles a Chamam Noite"

"E Eu, a Conheço Bem!"


–Descanse em paz, Hänsel, filho de Fred. Que a sua alma destroçada possa um dia vir a saber o que é o amor...


E ergueu num dedo, o pequeno ponto reluzente semelhante a um caco de vidro.

Em algum lugar da Escandinávia.

Existem lendas não escritas.

Que falam de um príncipe encantado.

Para sempre encarcerado em uma prisão de gelo e solidão.

Pois seu coração nunca conheceu o amor verdadeiro.

Essa é a história de...

Hans.

Muito Obrigado por lerem minha historinha! Por favor leiam a continuação em: Hans...


Epilogo:
Dias atuais:
Em uma Praia ensolarada, crianças brincam na areia sob o som de gaivotas e o quebrar das ondas. E pequenas mãos femininas pegam uma velha garrafa de vinho branco coberta de corais e com uma folha de papel dobrada dentro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.