Proud

Capítulo 12


Niko respirou fundo algumas vezes antes de desabar no choro. Ele não aguentou a dor que se instalou bem no meio do seu peito. Os braços de Paloma te seguraram enquanto ele sentia o mundo se perder a sua volta, era uma sensação horrível, que ele não desejava a ninguém.

O choro de Niko percorria os corredores do San Magno, passaram-se horas, as pessoas se aproximavam dele pra lhe acalmar, lhe ofereciam remédios, abraços, um ombro amigo. Mas tudo que ele queria era ver seu Félix andando de novo na sua direção.

Ele segurava o terço nas mãos, querendo entender o que tinha acontecido. Os policiais se aproximaram dele e família, um deles carregava um terno de Félix embolado, o mesmo que ele tinha pegado quando saiu de casa.

_ Vocês são os familiares do Félix Khoury?

_ Isso. – Paloma respondeu.

_ O senhor Félix estava sofrendo uma tentativa de extorsão e ameaças. Antes de ocorrer o atentado, ás... – ele leu um papel que carregava. – 23:22 horas ele ligou para a Central solicitando ajuda, explicando que um rapaz foi ao encontro dele hoje de manhã e armado lhe solicitou 100 mil reais, e caso ele não lhe pagasse, a família dele iria ser morta.

_ Ai meu Deus. – Niko disse com a voz embargada. – Ele tava tão esquisito quando chegou em casa, a gente brigou... – algumas lágrimas caíram de seus olhos. – Eu... eu não fazia ideia que poderia ser isso... Por que ele não me disse nada? Meu Deus, por que?

_ O meliante está preso, o apelido dele é Anjinho, e com o dinheiro ele pretendia fugir.

_ O Anjinho!? – Pilar questionou surpresa.

_ O dinheiro... – o policial pegou o terno da mão de seu colega e ofereceu para que alguém segurasse, Maciel se aproximou e pegou. – Está todo aí. Infelizmente, ao chegarmos o meliante atirou contra ele.

_ Minha Nossa Senhora. – Niko sussurrou ao ver a quantidade de dinheiro que tinha no terno quando Maciel o abriu.

_ Meu filho... – Pilar começou a chorar. – Ele veio me pedir dinheiro emprestado hoje, era uma quantia alta, ele tava tão nervoso... Eu não pensei que era por isso, pensei que era para o tratamento do pai dele.

_ Calma, mãe. Calma, ele vai ficar bem... Vai sim.

Lutero se aproximou acompanhado dos cirurgiões do San Magno.

_ Lutero, por favor, por favor, me fala que o Félix vai ficar bem... – Pilar ainda chorava e Paloma tentava consola-la.

_ Bom... Nós retiramos a bala alojada na região abdominal do Félix, os dados foram graves, mas tudo correu bem na cirurgia. Ele está sedado e em coma induzido, ele teve uma hemorragia muito forte por conta disso, precisa de sangue. Não podemos fazer nada, Pilar, a não ser esperar que ele reaja aos estímulos. O caso dele ainda é grave e necessita de certo alerta... Eu sinto muito, vamos tentar o possível.

_ Eu quero ver ele, por favor... – Niko disse.

_ As visitas são controladas, Niko. Um de cada vez, tá?

_ Tá bom... Eu posso ir, Pilar?

_ Claro, meu filho. Vá, depois eu vou.Vamos comigo na capela, Paloma? Vamos orar pelo seu irmão.

_ Lutero... – Paloma disse. – Eu quero fazer o teste, pra saber se posso doar meu sangue pro Félix. Quero ajudar.

_ Claro, Paloma...

_ Maciel, Bruno, vão com a mãe até a capela, eu vou com o Lutero...

Niko os deixou por lá e seguiu o enfermeiro que iria lhe indicar o quarto de Félix. Ao entrar, o coração despedaçado dele terminou de se estilhaçar, Félix estava com inúmeros aparelhos ligados ao seu corpo, e sondas que levariam o alimento e o ar que precisaria. Niko se aproximou da maca, os olhos inundando de lágrimas, mal ouviu que o enfermeiro tinha o deixado só.

Ele estava com medo de toca-lo, mexeu em seus cabelos os bagunçando de leve.

_ Félix, Félix? – ele sentia o cheiro de comida vindo da cozinha. E ouvia a voz de Félix cantando.

Ele estava de frente do fogão, mexendo nas panelas, só de calça jeans, uma música saia do rádio e Félix cantava junto.

_ Quem vem com tudo não cansa, Bete Balanço, meu amor... – ele deu uma leve dançadinha, e Niko sorriu, segurando o riso. – Me avise quando chegar a hora.

Depois de uma noite maravilhosa com ele, tinha chegado o grande dia, o grand finale como Félix adorava dramatizar. Félix se queimou com algo e soltou um gemido, se virando e encontrando Niko na porta da cozinha.

_ Ai, CRIATURA! – ele colocou a mão no coração. – Que susto! Carneirinho! – ele foi até a mesa pegando os ovos que tinha deixado lá.

_ Sabe que é uma visão e tanto te ver cozinhar?

_ Uma visão engraçada, digna de Zorra Total né? – ele riu.

_ Ainda mais sem camisa e com esse cabelo.

Félix despejou os ovos na frigideira e os mexeu com uma espátula.

_ O que tem o meu cabelo? – ele passou a mão pelo cabelo bagunçado.

_ Não! – Niko se aproximou dele. – Não mexe, eu gosto dele assim...

_ Assim? Feito um ninho? Ai, Carneirinho, é ridículo. – ele revirou os olhos.

_ Você queimar os ovos... – Niko pegou a espátula da mão dele.

_ Estava tudo bem até a hora da bela adormecida chegar e meter os cachos dourados no meio do meu café da manhã...

_ Seu café? – Niko o olhou.

_ Nosso, nosso café. – Félix sorriu.

_ Pena que a bela adormecida não foi acordada com um beijo. – Niko reclamou e Félix riu.

_ Ah, Carneirinho, que drama. – ele se aproximou do noivo e lhe deu um beijo. – Bom dia.

Niko sorriu sem graça.

_ Bom dia.

_ Você termina? Eu vou tomar um banho... – ele foi até a porta da cozinha, enquanto Niko ainda terminava de mexer os ovos.

_ Niko? – ele olhou para Félix que tinha parado no meio do caminho.

_ Que foi?

_ Eu mal acredito que vou me casar com você hoje... – ele sorriu.

_ Seu bobo! Tenho certeza que vai ser o melhor dia da minha vida.

_ Não, não, é o dia mais feliz da minha vida. Eu nunca me senti tão feliz. – ele sorriu mais uma vez e saiu, deixando Niko na cozinha.

Niko mexia nos cabelos de Félix, os deixando do jeito que ele adorava. A garganta tinha um nó gigante, ele pegou na mão de Félix com cuidado, e a apertou.

_ Félix... – ele disse com a voz embargada. – Eu sei que você tá me ouvindo... Eu estou aqui com você, meu amor... Por que você fez isso? Nós poderíamos ter resolvido da melhor forma... Eu não quero te perder... – ele começou a chorar de novo. – Não me deixa, eu preciso de você. O tempo todo. Eu preciso de você. Seus filhos, nossos filhos precisam de você...

Félix tentava se arrumar mesmo com todo o barulho das pessoas passando por dentro de sua casa, ele não conseguia se concentrar nem para fechar os botões da camisa.

_ Eu devo ter pintado a Santa Cruz de rosa choque... – ele resmungou.

Nunca tinha se sentido tão nervoso na vida, o casamento seria em menos de uma hora, sua família já tinha chegado e sua mami poderosa que cuidava de tudo agora, na ausência dele. Ele se lembrou do dia do casamento com Edith, e em como ele estava enganado, pensava que a amava. Não se comparava nem um pouco ao que ele sentia naquele momento. Alguém bateu na porta.

_ Entra, entra, criat... – ele parou ao ver Jaime vestido com o terno cinza escolhido por Niko. – Jaiminho?

A criança fechou a porta e se aproximou de Félix.

_ Você quer ajuda, pai?

_ Pai? – Félix sentiu o coração disparar, era a primeira vez que ele o chamava assim.

_ É, agora que você vai casar com o Niko, você não vai ser meu pai também? – ele sorriu para Félix.

_ Claro, claro, Jaiminho. – ele abraçou a criança em um abraço apertado, os olhos molhados pela emoção.

_ Você tá nervoso, né? – a criança riu ao ver a cara dele.

_ Um pouco. Um pouco. – ele disse sem graça.

_ Eu tenho certeza que o pai Niko não vai fugir. – Félix sorriu novamente.

_ Pega a gravata, Jaiminho. Vou te ensinar a dar um nó em uma.

Niko ficou ali, até que se acalmou, e tudo que restou naquele silêncio foram os barulhos das máquinas, ele prestava atenção naquela que indicava os batimentos cardíacos de Félix. Ele apertou a mão dele de novo.

_ Eu vou ficar aqui, não vou sair daqui até você acordar. Eu não vou sair do seu lado... – Niko disse com firmeza na voz.