Félix sentou em uma das mesas próximas a janela, observando lá fora. Sua vida tinha mudado tanto, há um ano ele nutria um ódio imenso dentro de si. Um dia chegou a pensar que aquele ódio jamais ia sair do seu peito, mas então, ele conheceu o amor, por sua segunda mãe, Márcia. E aquele frio dentro do peito derreteu lentamente, depois ele conheceu o perdão, o arrependimento por tantos erros que tinha cometido, mas jamais pensou em conhecer o amor verdadeiro. Mas tinha encontrado e juntamente encontrou um melhor amigo, um companheiro pra vida, seu Carneirinho.

Niko tem sido a cereja do bolo na sua felicidade, tinha conhecido o perdão da sua mami poderosa, até mesmo da irmã, e agora ele sentia uma felicidade tão grande por tê-lo ao seu lado que mal cabia em um só sorriso, por isso, ele vivia com um sorriso idiota na cara. Mas, a história deles era tão cheia de turbulências, ele mal conhecia o que era ciúme, mas agora vivia com ciúmes de qualquer um que chegava perto dele.

Félix acordou de seus pensamentos com o cheiro do café forte, Niko deixou uma xícara na frente dele.

_ Peru, Félix?

_ Você disse que sempre quis conhecer o Peru. – Félix deu de ombros, com aquele sorriso idiota na cara.
_ Você é um bobo! – Niko riu e deu um tapa de leve na mão dele.
_ Que foi? Se você não gostou a gente pode voltar agora, Carneirinho.
_ Não, não é isso...
_ Eu percebi que você ficou a viagem inteira preocupado com alguma coisa. O que se passa debaixo desses cachinhos dourados, hum? – Félix segurou na mão dele, mostrando confiança no olhar.
_ Não é nada. Não...
_ Olha se for com os meninos que você está preocupado, acredito que mami poderosa e seu gatão, juntos com vovó, estão cuidando muito bem deles. – Félix soltou da mão dele, e pegou sua xícara quentíssima e bebeu um gole do café.
_ Não, Félix, eu to meio preocupado com o Eron... – Niko falou mais baixo a última parte com medo da reação que ele teria.
_ Preocupado com aquela LACRAIA? – Félix bateu a xícara na mesa. – Eu devo ter feito uma rave nas catacumbas pra te ouvir dizendo isso, agora, hoje, nessa viagem, Niko! Niko!
_ Calma, Félix! – Niko olhou ao redor, envergonhado com a atenção que Félix chamou pra eles. – Eu sabia que você ia ficar nervoso, mas calma, não é nada de mais... É que você sabe que o Eron tá junto com o André né?
_ Sei, e quero que ele pegue esse bofe e suma da sua vida! – Félix ainda estava nervoso, só a simples menção do nome daquela lacraia de olho multicolorido o deixa assim.
_ Ai, Félix! Você não me deixa nem explicar! Minha Santa Virgem, me dá paciência. – Niko deu uma olhada para o céu, e logo depois para Félix.- Você não precisa ficar com ciúmes, Félix! Eu to com você e não com ele, eu escolhi você. Não foi? – E sorriu quando viu que conseguiu arrancar um meio sorriso de seu marido.
_ Foi! Foi. Mas eu odeio essa lacraia! Você sabe disso, e ainda fica falando com esse....
_ Eu tive uma história com ele, é natural que ainda tenhamos uma amizade.
_ Ah, é. Muito natural. Eu devo ter salgado a Santa Ceia!! Sério, Niko? Ele só te fez sofrer, te trocou por aquela lambigóia de cílios falsos, quis tirar o teu filho de você, e você ainda pensa em uma amizade com ele?
_ Tá bom, Félix, não te falo mais nada também! – Niko se irritou, e ficou calado por alguns minutos, apenas tomando o café e olhando a decoração do local.

Félix se acalmou e se arrependeu no momento seguinte de não ter deixado ele falar.

_ Tá bom, Carneirinho. O que tem a lacra... o Eron, o que tem ele?
_ Ele acha que o André tá traindo ele. – Niko parecia genuinamente preocupado, e Félix se divertiu, batendo de leve na mesa.
_ Bem feito, BEM FE-I-TO!
_ Félix!
_ Desculpa, Carneirinho. Mas é bem feito mesmo! Ele te traiu também, ou essa cor do seu cabelo te vez esquecer isso?
_ Não, mas... Ele parecia tão triste.
_ Olha, eu também, viu? Veja minhas lágrimas de tristeza escorrendo no meu interior, fiquei muito triste por ele, nossa! Sinceramente...
_ Félix...
_ Não, Carneirinho. Eu não vou permitir que você estrague nossa viagem falando dessa lacraia ordinária! Por favor! Vamos! Ainda temos muito que ver do Peru. Vamos, termine esse café!

Niko aprendeu a lidar com o jeito de Félix, e no fundo sabia que tudo aquilo era ciúmes, e se ele tinha ciúmes era porque gostava dele. Bem no fundo, ele gostava de provoca-lo, gostava de vê-lo bravo, todo nervosinho, porque via no jeito dele que ele o amava. Félix te amava e nada mais importava pra ele. Ele se importava tanto, que ele te deu de presente de aniversário essa viagem, só porque comentou uma vez em uma brincadeira que sempre queria conhecer esse lugar. Terminou o café e se levantou atrás de Félix que tinha ido pagar o pedido deles.

Ao saírem no tempo gelado, Niko foi atrás de Félix que andava a passos rápidos, e segurou em sua mão.

_ Ei...

Félix freou os passos ao sentir a mão de Niko segurando na sua, ele podia sempre ficar nervoso, mas um simples toque dele o fazia se acalmar.

_ Hm?
_ Você sabe que eu te amo, né? – Niko deu aquele sorriso bobo dele, e Félix revirou os olhos quase rindo.
_ Quem não me ama, criatura?
_ Modesto. Eu amo você e não vou deixar qualquer coisa estragar nossa viagem, tá bom? – Niko levou a mão pro rosto de Félix, fazendo um carinho de leve e ele fechou os olhos.
_ Tá bom, Carneirinho. Vamos, que Cuzco nos espera. – Félix entrelaçou os dedos no dele e saiu em direção a feirinha de artesanato.
_ Vamos, que eu ainda tenho muito dinheiro pra gastar.
_ Eu devo ter sambado no Santo Sepulcro.