— Como estou? — Perguntei a Jimmy, diante do meu espelho do meu closet.

Ele que estava sentado na beirada da minha cama, fez uma careta.

— Ridícula. — Ele sorriu.

Retribuí o sorriso.

— Ótimo.

Certo. Eu estava como uma palhaça e não acreditava no que eu estava fazendo.

Eu usava uma saia de seda vermelho-sangue até o joelho, uma leg preta sob a saia com um casaco de tricô xadrez em tons de azul— que minha avó havia me dado no meu aniversário de treze anos — e com sandálias estilo gladiador. E vou te contar, eu estava tão cafona que me senti a própria Betty, a Feia.

— Homens como ele odeiam mulheres cafonas. Anote isso, Bells.

— Não me importo com o que os homens gostam ou não. Homem bom, para mim, é homem morto.

Ele logo entendeu a piada e nós dois caímos na gargalhada.

Prendi meu cabelo ondulado — sem o uso do secador — em uma trança e peguei minha bolsa rosa, toda peluda, que eu usava, há cinco anos, quando tinha onze anos.

— Não acredito que estou fazendo isso. Não acredito que estou seguindo seu conselho.

Ele deitou na minha cama, tranquilo.

— Acredite, pode funcionar. Acho que, na minha opinião, ele nem vai tentar te beijar. Ainda mais com essa saia de vovó.

— Jimmy! Assim também não! Vou ficar magoada! — Tentei rir para desfaçar, mas eu estava nervosa demais. — Fique comigo o tempo todo, Fields. Não desapareça. Lembre-se que esse é o seu papel. Proteger-me.

Ele sorriu e olhou para minha roupa.

— Se você estivesse normal, eu não desgrudaria de você. — Suas mãos massagearam sua nuca.

Explodi de raiva e nervosismo. Tipo, qual é!? Não é hora para ele dizer isso.

— Idiota! — Rosnei para ele. — Isso é sério. Minha vida está em jogo esta noite. Você não percebe? E a única coisa que consegue é fazer seu humor negro? Honestamente, acho que você deveria proteger alguém mais animado que eu, porque não estou nem um pouco feliz, se você quer saber.

Ele se levantou.

— Cale a boca, tudo bem? Que diabos a faz pensar que não estarei do seu lado? Não tenho nada mais importante do que fazer. Já cansei de me embebedar na beira da lareira. Não se estresse. Você já sabe que essa é minha função e eu também já sei. Fique calma e deixe tudo por minha conta. Nada vai acontecer, sua lesada. — Sua voz era grossa e furiosa, com a minha.

— Pare de me chamar de lesada, seu mal educado.

— Droga! Não dá para confiar em mim? Que diabos você está pensando?

Mordi o lábio inferior.

— Confiar em você desse jeito? Tudo bem, sem chance.

Ele se aproximou de mim, deixando seu rosto a centímetros de distância dos meus. Sua mão quente atravessou meu pescoço e apertou minha nuca.

— Confie em mim. — Sua respiração estava ofegante.

Não entendo. Realmente não entendo.

Como as mãos dele podiam estar quentes? Como?

Ele não costuma me tocar. Quase nunca. E desta vez, quando me tocou, tive a ligeira impressão de que ele iria me beijar.

Mas porque a pele dele era quente? Ele estava morto. Não havia sangue correndo em suas veias. E muito menos um coração batendo.

— Filha? Harry Blunt está aqui. — Meu pai apareceu na porta. E, logo me olhou, assustado. —O que aconteceu com você, afinal?

Jimmy, sentado na poltrona, caiu na gargalhada.

—Decidi mudar, pai. — Segurei para não rir.

— Certo. Ele está na sala de estar, com Ana. Ande logo. — Ele sorriu.

Nossa. Havia um maníaco na minha sala de estar, brincando com minha adorável irmã mais nova. Que droga.

— Você! — Apontei meu dedo indicador para Jimmy. — Não me deixe sozinha com ele nem por um minuto. Esse é seu trabalho.

— Estarei bem ao seu lado. —Jimmy se levantou e me seguiu até a sala.

Harry estava sentado no sofá, com seu topete ridículo e quando me viu indo para a porta, lançou-me um sorriso enigmático. Seus olhos azuis me focaram.

— Ah, olá. — Eu disse, tremendo toda por dentro, como um pandeiro sem barulho.

— Olá, Belatriz.

— Ele é um ótimo rapaz, filha. Confio nele. — Disse meu pai.

Quase ri. Se meu pai estivesse na minha pele, ele iria pensar muito bem antes de elogiar Harry. Também senti uma imensa fúria dominando meu corpo. Tipo, qual é? Ninguém se toca que esse cara é a pior pessoa desse mundo? Como ele pode ser tão fingido assim? Só eu tenho a noção disso? Antes dele ser um tremendo otário comigo, eu já o achava estranho.

Só que parece que aqui em casa é uma devoção imensa por ele. Minha irmã brincando com ele? Por favor, né. Ninguém merece. Parece que a única pessoa que tem juízo sou eu e ainda estou metida em uma enorme enrascada que é esse cara.

— Gostei dele. — Ana bateu palmas, enquanto mordia a cauda de sua Barbie Sereia.

Pobre Ana, tão inocente. Queria eu não precisar passar por isso. Sair com um cara idiota, ver todos a minha família venerando um idiota que os ameaçaram e eu não poder simplesmente não fazer nada. Apenas confiar num cara que se diz meu anjo, mas que tem uma palavra bastante desconfiável, já que nunca foi posto a prova e quando eu precisei para me livrar dele, ele apenas sorriu e disse que eu já tinha dado um jeito nele.

Harry se levantou e colocou o braço na cintura, para que eu colocasse o meu braço dentre o seu.

E fiz isso, para minha decepção.

Não é nenhum mistério. Eu não estava bem. Enquanto eu estivesse do lado desse cara nojento, eu estaria péssima. Digo, eu estou bem fisicamente, mas psicologicamente. Eu não sei. Ser chantageada não é a melhor forma de manter sua resiliência em prática. Eu só queria ir para esse pseudo-encontro, voltar para casa e esquecer de tudo. Principalmente de Harry.

Não é pedir muito, pois nenhuma garota merece passar por isso que eu estou passando. Respirei fundo e pensei apenas que seriam apenas algumas horas. Eu iria suportar e Jimmy estava comigo.

— Irei trazê-la bem, Sr. Keaton. E inteira. — Harry disse.

Duvido. Duvido mesmo.