Promisses From Another Life

Capítulo 2 - Não deveria ser diferente


POV’s Lucy

Ainda era cedo, mas eu já estava de pé e tomando meu banho. Queria estar ao menos apresentável quando chegasse à escola e para isso precisaria de tempo. Já tinha trocado de escola diversas vezes por causa do trabalho de meu pai, então sabia que a aparência deixada no primeiro dia seria de suma importância para todos os outros que estariam por vir.

Achei que seria um dia como todos os outros em que mudara de escola, mas algo parecia diferente dessa vez. Estava ansiosa, agitada, como se algo importante estivesse para acontecer, um encontro que havia marcado há muito tempo estava por vir e nem sabia quando, onde e com quem seria. Resolvi ignorar esse sentimento e segui como se fosse somente mais um dia comum, o que certamente seria. Afinal, o que poderia acontecer de diferente dessa vez? Todos me cumprimentariam, eu escolheria uma carteira perto das janelas para poder olhar a paisagem, faria novos amigos, etc. Nada mudaria.

Assim que cheguei na escola fui informada que a aula comera há dez minutos. Ótimo. Já estou marcada como atrasada. Peguei meus horários na diretoria e me dirigi ao local onde minha primeira aula, já em andamento, estaria ocorrendo. Já que estava atrasada, resolvi ser educada e bati na porta. Meu estomago estava trabalhando a mil por hora. “O que é isso, Lucy? Segura esse seu nervosismo”, pensava. Assim que ouvi a professora permitir minha estrada, abri a porta e, tentando aparentar tranqüilidade, entrei na sala. Dei uma boa olhada. As expressões faciais das meninas eram de puro desgosto, o que contrastava com as dos meninos, que pareciam enfeitiçados. Bastou uma rápida olhada na professora para entender o porquê. Ela era alta, seus cabelos longos de um castanho claro, olhos escuros, óculos retangulares e de armação fina, decote enorme... era BEM perceptível o motivo de toda essa animação dos garotos. E eu, toda inocente, pensando que era porque eles gostavam de biologia. Claro que tinham alguns desinteressados também. Tinha uns três mexendo no celular, quatro dormindo, e dois estavam quase se engolindo no fundo da sala, se é que você me entende.

— Seja bem vinda, eu sou a professora Evergreen, e não me importo ande, sente. Só escolha algum lugar e pare de atrapalhar minha aula. Então, os fosfolipídios se localizam na...

Localizei uma carteira perto da janela. Não era EXATAMENTE o que eu queria, mas como diria minha falecida mãe, “faz parte”.

A aula passou lentamente e eu pude observar todos ao meu redor. À minha direita estava uma garota de cabelos castanhos escuros que tentava esconder uma garrafa de vodka por dentro da minúscula peça de roupa que usava como camiseta, enquanto à minha esquerda estava uma menina de cabelos curtos alvos como a neve que não parava de desenhar em um caderno cor-de-rosa. Não gostei dela. Atrás da garota bêbada estava uma garota estranha e baixinha de cabelos azuis curtinhos e uma faixa laranja. Essa não parava de olhar pro outro lado da sala, para um dos garotos que estava dormindo, e fazia uma cara de desejo. Atrás da desenhista estava uma garota ruiva escarlate que prestava atenção na professora avidamente. Atrás da menina apaixonada estava outro garoto que estava dormindo. Tinha cabelos rosa e usava um cachecol xadrez. Por alguma razão aquela estampa fazia com que algo em mim se agitasse, como essa tal coisa quisesse sair, porém não poderia fazer isso (além das borboletas em meu estômago que começaram no momento que o vi). Isso me deixava ainda mais intrigada, parecia ter algo haver com o tal encontro desconhecido e marcado por eu mesma. E por fim, atrás da menina dedicada estava um garoto MUITO GOSTOSO de cabelos e olhos escuros. Ele estava sem camisa — Mas que peitoral hein... Meu Deus Lucy, pare com isso. Você acabou de chegar — pensei ainda com aquele sentimento de quê algo estaria para mudar, ou de quê aquela estampa comum, mas única a meu ver, tivesse relação com estas sensações estranhas que tenho tido ultimamente.

Quando o sinal bate, indicando a hora do almoço, três aulas depois, a garota desenhista da qual eu não gostei se levanta e sai sozinha e o garoto de cachecol continua dormindo. Razões desconhecidas me incitavam a ficar ali observando o tal rosado dormir pacificamente, esse sentimento estava começando a me incomodar, queria apenas esquecer isto o mais rápido possível. Enquanto isso, a garota bebum, a estudiosa, e o gostosão vêm me chamar para almoçar. Eu aceito sem hesitação. Teria de começar a fazer amigos logo.Mesmo que sentisse que éramos amigos há muito tempo, sentia ter intimidade com eles. Sem sentido estes meus pensamentos. Apenas aceitei.

Fomos até um pátio aberto, onde mais pessoas se juntaram a nós. Alguns rostos me traziam imagens estranhas e ao mesmo tempo familiares à minha mente, já outras faces apenas me traziam o sentimento de novos amigos e talvez até novas possibilidades, o que me animava no momento.

— Então, Lucy, você já conhece o colégio? A gente pode te mostrar se você quiser — o deus grego, Gray era o seu nome, me perguntou. Quase derreti. Quase.

— Olha... Como eu cheguei meio atrasada eu só conheci a nossa sala, então seria ótimo se alguém me ajudasse — disse já empolgada em ter um tour com esse garoto, quem não gostaria? Estava decidido, começaria a chamá-lo de “Deus Gray Grego” a partir de agora.

— Deixe com a gente, gata. Erza! — chamou Gray, atraindo a atenção da ruiva estudiosa. – Você sabe onde tá a Levy e o Lança-chamas? — ao ouvir “Lança-chamas”, as borboletas voltaram ao meu estomago, que, novamente, resolvi ignorar sabendo que os motivos para aquilo acontecer eram praticamente nenhum.

— A Levy deve estar tentando acordar ele — a garota respondeu. — Ele tem sorte de ter aquela baixinha... Se não tivesse já teria se metido em muita coisa pior do que uma bronca do professor

— Eles são muito íntimos? — perguntei não me sentindo bem quanto a isso. Não entendia esse incomodo que estava sentindo, tudo estava sendo estranho demais no dia de hoje.

— Eles são melhores amigos, se conhecem desde pequenos — foi Jellal quem respondeu, era um rapaz de cabelos azulados que não saía do lado de Erza. O sentindo de quê aquilo me parecia muito familiar voltava à tona, de alguma maneira eu os via como um casal muito belo. — Ela já o livrou de muitas.

— Ele não fica uma semana sem ir para a detenção... Problemático. — disse o Deus Gray Grego, acabei de perceber que este apelido é idiota demais, acho que vou voltar a chamá-lo apenas por Gray mesmo.

Enquanto Gray falava não percebia que, ao longe, uma garota de cabelos azuis o observava muito atentamente — "Estranha" — pensei com aquele mesmo sentimento de Dejá Vu na cabeça, tudo aquilo parecia já ter acontecido, só que de uma maneira diferente.

— Vamos então. Temos vinte minutos pra te mostrar tudo — ele levantou-se e ofereceu sua mão me dando ajuda. Aceitei com um sorriso nos meus lábios. Ao mesmo tempo em que isso me alegrava não parecia certo, parecia que eu estava traindo alguém que eu nem sequer sabia o nome. Aquele sentimento de culpa começava a crescer em meu coração. Estranho. Muito estranho.

~ Quebra Tempo ~

— Desculpe professor! Eu acabei me perdendo na volta do almoço! — eu disse entrando na sala, rapidamente me dirigindo à carteira em que tinha sentado antes. Por que eu tinha inventado de ir ao banheiro mesmo? Não importa. Pelo menos a matéria não tinha sido dada ainda, mas o constrangimento de ter que passar na frente de todos sozinha fora punimento o bastante.

A sala estava igual, tirando o fato que o garoto sentado atrás da baixinha, que eu deduzi que fosse a tal de "Levy", estava acordado. E me encarando — "Legal... Outro estranho" —pensei. Esse tal estranho não parecia ser tão desconhecido, talvez pelo fato da estampa de seu cachecol me trazer reações estranhas, ou talvez porque já tinham me falado dele na hora do almoço.

Durante o intervalo entre as aulas eu conversava com meus novos amigos, então me apresentaram ao rosado (como se mais alguma apresentação fosse necessária depois dos relatos que me deram sobre ele e sobre a azulada).

— Natsu, Lucy. Lucy, Natsu — Erza cumpria as formalidades como a menina estudiosa que era deveria fazer. O nome dele... Verão, certo? Sim, o nome dele significa “verão” na língua japonesa, que fato mais interessante.

— É... Mas se você o chamarele de Lança-chamas, Maçarico ou Boca de Fogão, ele também entende — Gray fez a piada passando o braço pelos meus ombros de uma forma íntima. Percebi uma pontada de ciúmes por parte de Natsu, o que achei estranho, afinal, tínhamos acabado de se conhecer. Dia estranho. Pessoas estranhas. E para completar um garoto com o nome de “verão” tendo ciúmes de mim. Mamãe estava certa, nada neste mundo faz sentido.

— Mas por que eles te chamam assim? — perguntei a Natsu, mas foi Gray quem respondeu animado, tive pena do rosado que tentava falar em vão.

— É que uma vez esse babaca decidiu que iria comer uma Trinidad Scorpion, uma pimenta super forte, e depois não aguentou. Ficou correndo dizendo que ele estava pegando fogo. Eu ri demais. Depois disso ele ganhou esses apelidos. Ninguém mandou ser idiota — dizia entre risos. Ao imaginar essa cena até mesmo eu soltei uma leve risada, queria ter estado aqui para presenciar.

— Falou o cara que não consegue ficar mais de cinco minutos vestido — disse um pouco incomodado, pelo jeito não queria passar uma má impressão para mim, o que com toda certeza era anormal.

— Mas aí ta a diferença entre nós, meu irmão. A minha mania é uma coisa que as garotas gostam — a resposta de Gray fez Natsu ficar emburrado. Sua vontade de querer parecer melhor que o deus grego parecia crescer a cada momento, o que eu achava não ser a cara dele (a meu ver o rosado deveria ser alguém que não se importava muito com status).

— Stipper.

— Incenso.

— AH! MAS VOCÊS NÃO VÃO COMEÇAR COM ISSO DE NOVO NÃO É? - o berro da ruiva faz os dois estremecerem e se encolherem. Eu estranhei o modo como a cena pareceu familiar, era como se eu já tivesse passado por isso milhares de vezes, mas ainda não me dera conta. Como se eu soubesse que eles iriam se abraçar como melhores amigos, olhar para ela e dizer "Aye". Eu estava sentindo falta de algo do qual nem mesmo me lembrava — “Muito bom. Agora eu to ficando louca" — pensei.

Então, subitamente, Gray e Natsu se abraçam e murmuram um "Aye" baixinho, mas o suficiente para eu ouvir e ficar espantada. Agora além de louca sou vidente. Isso poderia vir a ser uma fonte de dinheiro eficiente no futuro. Manteria a ideia de ganhar alguns trocados assim em aberto.

A aula termina uma aula depois e, após me despedir de todos, vou para casa pensando nos amigos que fiz.
Não sei por que, mas parecia que eu já os conhecia de longa data e que tínhamos passado muito tempo juntos. Eu tinha a nítida impressão que aquela garota de cabelos brancos curtos gostava, não, amava Natsu e não entendia por que isso me incomodava.

Ao chegar em casa me dirigi direto para meu quarto, joguei minha mochila em um canto qualquer e me joguei em minha cama. Enquanto refletia sobre os ocorridos do dia, dormi. Sonhei sobre um sorriso. Ele era lindo, contagiante, confortante e tudo ao seu redor se iluminava de uma forma inenarrável. Esse sorriso irradiava calor e eu estava pegando fogo, meu coração estava batendo fortemente. Eu já tinha sentido isso, mas a memória me faltava, o que não acho possível, pois esse sentimento é do tipo que você leva até para a outra vida. Tentei identificar quem era a pessoa que seria capaz de fazer alguém sentir arrepios com tanta facilidade, mas não conseguia mover meus olhos. Não por estar paralisada, mas sim porque não tinha mais nada para eu focar meu olhar. O sorriso era suficiente se eu pudesse observá-lo para toda a eternidade.

Então a frustração tomou conta de mim. Eu queria mais daquele calor, eu PRECISAVA mais daquele calor. Era vital para mim. Calor... Verão... E subitamente Natsu veio parar em minha mente com seu cachecol xadrez, o que não fazia nenhum (ou talvez todo) sentido no sonho em que um sorriso aconchegante me apareceu.

Então acordei.