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Na manhã de segunda, Ana acordou se sentindo realmente mal, e decidiu que não iria a faculdade naquele dia. Assim, a garota permaneceu deitada na cama enquanto Christian se arrumava para o trabalho.

A morena virava de um lado para o outro, sentindo o corpo pesado e a bile subindo o tempo todo.

— Você está muito pálida - Christian comentou enquanto dava o nó na gravata.

— Eu estou...

"Bem" seria a próxima palavra, porém a garota não conseguiu pronunciá-la ao que correu para o banheiro, vomitando o nada que tinha no estômago.

Christian foi atrás, observando a garota de joelhos em frente ao sanitário, tendo apenas ânsias, por não ter comido nada ainda.

Ele foi até ela, acariciou seu cabelo, abaixando-se ao seu lado, fazendo carinho em suas costas. Os olhos da garota estavam marejados pelo esforço, assim como o rosto estava vermelho.

— Vou chamar um médico - Christian informou quando a garota recostou a cabeça em seu peito, num gesto de que as ânsias haviam parado.

— Não, não precisa - reclamou ela. - Deve ser só uma virose - disse, levantando-se.

Christian a segurou quando a mesma se desequilibrou.

— Ana - disse numa advertência.

— Eu só fiquei tonta, nada demais. Levantei muito rápido.

— Ah, é? Acha que eu não vi você ficando tonta ontem também? Ou que você vomitou todo o jantar antes de dormir?

Ana corou, ainda sendo segurada por Christian.

— Eu não gosto de médicos, okay?

— Ninguém gosta, Ana, mas tem alguma coisa errada com você e só um médico pode descobrir - explicou ele gentilmente à ela.

Ana suspirou e foi até a pia escovar os dentes, assim que terminou, Christian tratou de levá-la de volta para o quarto, colocando-a na cama.

— Christian, você precisa ir para a empresa - tentou ela quando o marido pegou o telefone.

— Você é mais importante - rebateu ele, achando o número do Dr. Maison em seu celular.

Ela lhe sorriu e se levantou, indo até ele.

— Você também é importante para mim - murmurou contra seu peito, aproveitando o cheiro bom e limpo que vinha do banho recém tomado e do terno.

Christian passou um dos braços por ela e ela viu ele prestes a apertar o verde no celular, pronto para acionar o médico.

— Não, por favor, Christian, não chame um médico. É exagero. Deve ter sido só alguma coisa que eu comi. E ontem eu fiquei tonta depois que eu desci as escadas, eu desci muito rápido e havia acabado de acordar. E a mesma coisa agora. Por favor. Eu estou bem.

Christian a encarou, ainda tentado a ligar, não confiando nela.

— Eu vou dormir mais um pouco, e quando eu acordar vou estar melhor ainda, prometo.

Ele suspirou, derrotado.

— Gail vai ficar de olho em você, e eu vou deixar claro que se você vomitar de novo ou ficar tonta, qualquer coisa, ela vai chamar o médico - disse ele.

— Tudo bem.

Christian segurou o rosto de Ana entre as mãos e a beijou delicadamente, logo a colocou na cama e beijou sua testa, em seguida saiu do quarto, deixando-a dormir mais um pouco.

Ele desceu as escadas e explicou à Gail a situação assim que a mulher disparou em perguntas por Ana não ter descido junto a ele como sempre faziam. Naquela manhã, ele teve que tomar café sozinho.

Em momentos assim que Christian percebia que adorava ter Ana no apartamento, o que era uma mudança drástica, pois sempre gostou da casa só para si. E agora se sentia um pouco perdido quando Ana não estava por perto, como se de repente não soubesse onde ficava nada, sentindo tudo completamente vazio nos enormes cômodos.

Era um pouco clichê, como aquela frase "você dá valor quando perde". Era dramático pra caramba também, pois a garota estava no quarto no andar de cima e não há oceanos de distância.

Mas foi assim, sem ter ela por perto no café da manhã, sentindo a falta que ela fazia, que ele percebeu o quanto ela era tão mais e mais para si. Era uma revelação tremenda, que tirava o seu fôlego, porque - droga! - ele nunca imaginou, nunca sequer pensou que poderia sentir aquilo, aquela necessidade toda por alguém. Mas estava acontecendo, era uma intensidade sobre humana sentir todo aquele turbilhão.

Era amor.

Não era só paixão. Era amor de verdade. Aquele sentido em todos centímetros do corpo.

Nos últimos quatro meses ele conheceu Ana, ele se apaixonou mais por ela e se sentiu incrível com aquilo.

Nada era realmente perfeito. Nenhum relacionamento é. Mas era constante, o sentimento era constante, tudo com eles era. Tudo era real e intenso, nunca tendo brechas para dúvidas.

Era uma quantidade enorme de sentimentos e emoções que o surpreendia cada vez mais, os sentimentos o sufocando com a intensidade, sua força, a necessidade de serem expostos para fora, provarem sua existência.

Ele tentava apenas lutar contra aquilo, fingir que não se importava com os próprios sentimentos querendo se exibir por aí, ele tentava não cair naquela ladainha toda de si mesmo, mas ele sabia que não conseguiria por muito tempo, sempre soube. Quando ela sorria para ele era como se ela em si, em pessoa, fosse a sua felicidade... Ah, aí ele já estava perdido. Ele podia sentir que estava dependente, malditamente dependente da garota.

Christian xingou mentalmente.

Ele estava tão ferrado com tudo aquilo que preferia nem continuar a pensar sobre.

Assim ele foi para empresa, e com apenas duas horas de trabalho, no meio de uma reunião com acionistas da Tailândia, Taylor o interrompeu, informando que Ana havia desmaiado em casa e estava sendo levada para o hospital.

Christian entrou no quarto em que Ana estava e encontrou a garota sentada na cama, Gail ao seu lado segurando sua mão e sorrindo para a menina.

— Sr. Grey, que bom que chegou - Gail o cumprimentou, afastando-se um pouco para que Christian ficasse ao lado de Ana.

— Como você está? - ele questionou a garota, segurando sua mão e sentando na beira da cama ao lado dela.

— Bem, não foi nada - a morena respondeu.

— Isso é o que o médico vai decidir.

Ana revirou os olhos.

— Foi só um desmaio, nada demais, eu disse para Gail não ligar par ao Taylor, mas ela não quis me ouvir - reclamou a garota.

— E ela fez certo em não te ouvir, é o que eu tenho que começar a fazer também. Imagina se você estivesse na escada, ou no banho e ninguém estivesse no quarto, podia ter se machucado de verdade.

Ana suspirou baixinho. O exagero era tanto que a garota apenas ficou escutando o outro, sem argumentar pois sabia que Christian não a escutaria.
Não demorou muito e o médico estava de volta com os resultados de seus exames, o sorriso no rosto mesmo que profissional.

Ele se apresentou à Christian, e deu "olá" novamente para Ana e Gail, que logo saiu para deixar o casal a vontade no quarto, e Ana pôde ver Taylor quando a porta se abriu.

— O que ela tem? - Christian perguntou impaciente, agora de pé ao lado de Ana.

A morena apertou sua mão num pedido de "fique calmo" ao qual ele nem se importou em olhar para ela.

— Não se preocupe, Sr. Grey, não é nada grave - o médico tranquilizou.

— Então...? - o outro continuou impaciente.

— Todos os exames estão okay. Apenas uma novidade para contar - o médico sorriu largo. - A Sra. Grey está grávida de nove semanas e meia - declarou, com certeza parecendo mais feliz do que o casal.

Ana arregalou os olhos e Christian realmente pôde sentir seu coração falhar.

— Grávida? - foi Ana quem questionou com espanto. - Tem certeza?

— Absoluta - o médico respondeu.

— Mas... Mas eu menstruei - disse ela, sem entender.

— É algo interessante, algumas mulheres realmente sangram no começo da gravidez, o que faz ser difícil de desconfiarem se não forem os sintomas - explicou o médico.

Ana engoliu em seco.

— Mas isso não é normal, é? - Christian perguntou, a preocupação sobressaindo ao choque.

— Não, um padrão não é. Mas não é perigoso. É só uma resposta do corpo da Sra. Grey que ainda não percebeu a evolução.

— Ta... - Christian suspirou. - Mas e o desmaio? E ela se sentindo tão mal? Ela está bem?

— O desmaio foi só uma queda de pressão, o que deve ser acompanhado de perto, claro. A pressão é algo realmente perigoso no estado em que a Sra. Grey se encontra. Os enjôos também são normais, ainda mais os matinais, assim como a tontura por momentos repentinos - explicou o médico pacientemente.

— E isso não prejudica o bebê?

— Não, na verdade é causado pelo bebê, afinal é um ser humano sendo criado dentro dela. O corpo dela está se adaptando, os enjôos geralmente passam a partir da décima segunda semana.

Ana continuava calada, escutando com atenção o médico, mas longe ao mesmo tempo.

A morena tinha sua mão - por reflexo - repousada em sua barriga - totalmente lisa ainda - e os pensamentos embaralhados que só.

Ela estava grávida.

Grá-vi-da.

Havia um bebê dentro dela. Um serzinho que ainda estava sendo formado e seria dela. E um dia seria uma pessoa como ela.

Deus, uma pessoa estava dentro de sua barriga.

Ana sentiu o peso do mundo sobre si de repente, constatando toda aquela informação, tendo a ciência do peso da responsabilidade que tinha em seus ombros com aquele serzinho dentro de si. Ela sentiu o mundo trincar, mas não sentiu medo. Não. Longe disso. Ela se sentiu assustada, sim, mas de uma forma boa. Seu coração já nem sabia mais o que era ser coração, ela só sabia que ele havia pirado de vez.

Em seu monólogo interno, ela nem percebeu o médico se despedindo, apenas ouviu a porta se fechando, fazendo Christian e ela estarem sozinhos com aquela notícia sobre suas cabeças.

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